Anjos Caídos escrita por Alexia Dankan


Capítulo 9
Ok. Vamos.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/391631/chapter/9

Eu estava jogada na cama de Mi-cha, quando Julia entrou. De alguma forma, ela sabia que eu estava la.

Julia: Então a queridinha tem um namorado? E nunca contou isso pra ninguém? Parece que isso vai ser interessante.

Levantei num pulo.

Meiling: Nã-não é o que parece!

Julia: É isso que vamos descobrir.

Ela saiu correndo, e eu fui atrás dela. Ela foi até o comodo da casa onde os parentes mais velhos estavam. Todos os primos e inclusive Mi-cha, estavam lá.

Julia: EI! POSSO CONTAR UMA NOVIDADE?

Eu a puxei pelo braço com uma mão e tampei sua boca com outra. Todos olharam assustados. Eu não me tinha dado conta que todos estavam lá. Comecei a encravar minhas unhas no braço dela. Não fiz nada que ela não merecia. Os pais dela me fizeram solta-la, e depois foram reclamar com os pais de Mi-cha sobre mim. A mãe de Mi-cha mandou eu ficar no quarto de Mi-cha, sozinha, mas eu fiquei espiando a festa da escada, um lugar que ninguém me veria.

Os pais de Julia começaram a demonstrar um certo ódio por mim. Pelo visto, Julia herdou isso dos pais.

Pai de Julia: Viu? Eu estava certo. Essas crianças pobres sempre são assim. Não importa se são adotadas ou não. Isso está no sangue.

O pai de Mi-cha, mesmo numa briga, mantinha seu tom de voz calmo. Não demonstrava raiva ou preocupação.

Pai de Mi-cha: Ela nunca foi assim. Com certeza sua filha deve ter feito algo para irrita-la.

De uma coisa eu já tinha certeza desde que havia visto a mãe de Julia pela primeira vez: Ela ama uma briga.

Mãe de Julia: Não sei não viu. Acho que se você não ficasse ensinando essas coisas de moleque pra ela...

A mãe de Mi-cha permanecia sempre calada.

Pai de Mi-cha: Não é porque sua filha é uma garota mimada, que Meiling também deve ser. Foi ela que quis aprender a lutar, eu só a ensino.

O pai de Julia começou a rir ironicamente.

Pai de Julia: Claro, porque se alguns vagabundos da escola dela resolverem bater nela, com certeza ela vai conseguir atacar eles em vez disso.

Pai de Mi-cha: Eu não a treino para atacar, e sim para se defender. Se então alguns vagabundos como você mesmo diz, resolverem ataca-la, ela vai apenas se defender e se afastar. Ou você acha mesmo que eu deveria instrui-la a machuca-los até sangrar?

Todos olharam para o pai de Julia, que estava em pé, com um copo de cerveja na mão. Era um homem gordo. Nem um pouco atraente.

Pai de Julia: É... Você não me convenceu. Vamos concordar com uma coisa: mulheres não foram feitas para lutar. Isso é coisa de homem. Eu acho que você não deveria perder seu tempo, ainda mais com uma criança.

Pai de Mi-cha: Pouco me importa o que você acha.

Após terminar a frase, o pai de Mi-cha pegou sua xícara de chá e tomou um gole. Aquilo parecia ter sido um tipo de sinal para encerrar aquele assunto.

O pai de Julia foi até a piscina e ficou lá. Subi até o quarto de Mi-cha, já que dava pra ver parte dessa área da janela dela. Aquele cara realmente me dava nojo. Percebi que ele ficou lá até escurecer, e só saia para pegar mais cerveja. Quando escureceu, a mãe  de Mi-cha foi até ele.

Matthew: Acho melhor não conversarmos sobre isso aqui.

Fomos todos pra minha casa, em silencio. Ninguém arriscou uma palavra sequer. Quando chegamos, fomos todos direto para o meu quarto. Joguei minha mochila na cama, e me sentei na cadeira de balanço que tinha no canto do quarto.

Meiling: Comecem.

Mi-cha encarou Matthew, esperando que ele falasse. Matthew suspirou e começou a caminhar lentamente pelo quarto.

Matthew: Pode-se dizer que... nós três não precisaremos frequentar as aulas por um bom tempo...

Meiling: Como assim?

Matthew: Ok. Vou tentar ser objetivo.

Ele foi até a sacada e pegou uma das cadeiras de lá, e colocou no meio do quarto. Mi-cha se sentou na cama.

Matthew: São poucas as pessoas que nascem abençoadas. As pessoas abençoadas são um tipo de anjo. Existem quatro tipos de anjos: Os anjos puros, que a maioria chama de anjos do bem. São pessoas inocentes, que mesmo vivendo com as impurezas do ser humano, conseguem manter sua inocência, sua pureza, e suas asas brancas. Os anjos malignos, que são os anjos do mal. Mas não são demônios, como a maioria pensa. São exatamente o contrário dos anjos puros. Possuem as asas negras. Alguns anjos malignos conseguem se tornar demônios, mas são poucos. Azazel foi um que conseguiu. Os demônios possuem um grande poder, e enormes asas negras. Os anjos incertos são conhecidos apenas por aqueles que possuem o dom da magia. Podem se tornar anjos puros ou anjos malignos, sem ninguém saber. Uma de suas asas são brancas e a outra negra, como as minhas. E por fim, os abençoados. Ah sim, estes são muito raros. Possuem um enorme poder, e possuem enormes asas brancas. São o contrario dos demônios.

Ele me encarou com um olhar sério.

Matthew: Meiling, você é uma abençoada. E se nós não formos embora logo, é capaz de você e outras pessoas que não tem nada a ver com isso serem prejudicadas.

Meu cérebro ainda estava tentando assimilar todas as informações. Eu realmente achei interessante a proposta. Mas eu sabia que isso não iria acabar bem.

Meiling: Mas... Eu não posso... Nós não podemos deixar a escola assim. Nós vamos nos formar esse ano! Eu não vou abandonar o meu futuro por algo que... E Mi-cha? O que ela vai dizer para os pais? 

Eu me levantei.

Meiling: E pra onde vamos afinal? Como eu sei que você não está mentindo? Como eu sei que você não vai...

Ele me interrompeu.

Matthew: Eu já falei com o... com os pais de Mi-cha.

Mi-cha pareceu ter ficado surpresa.

Mi-cha: Já? Mas como você...

Matthew ignorou a pergunta que Mi-cha iria fazer. Ele também se levantou.

Matthew: Nós não podemos ficar aqui. É muito fácil para Azazel ou Nick acharem qualquer uma das duas. Nós iremos para um lugar escondido, onde eu vou treinar as duas. Alem do mais, você precisa de algumas coisas para poder lutar contra Azazel.

Meiling: Mas eu não quero lutar contra Azazel!

Matthew: Você não tem escolha.

Me calei por um momento.

Meiling: E o colégio?

Matthew: Achei que não iria perguntar. Meu pai e a diretora eram melhores amigos desde  a infância. Ela sabe de tudo sobre ele, inclusive que ele era um anjo. Ela entendeu o problema. Quando voltarmos, só precisaremos atingir as notas, como alunos normais, para poder se formar.

Fiquei pensativa por um momento. Ele realmente havia pensado em tudo.

Meiling: Quando nós vamos?

Os dois sorriram.

Matthew: Eu preciso passar em casa para pegar algumas coisas... É tempo suficiente de você e Mi-cha pegarem algumas coisas também. Principalmente armas.

Mi-cha se levantou.

Mi-cha: Então... nos encontramos aqui em meia hora?

Todos concordaram com a cabeça. Matthew e Mi-cha foram para suas casas. Tomei um banho rapido e vesti meu agasalho que não usava fazia tempo, mas servia direitinho, junto de uma regata preta. Calcei meu tênis mais confortável. Peguei uma mochila velha, que eu tinha guardada apenas para as raras vezes que eu dormia na casa de Mi-cha. Coloquei tudo o que Matthew havia me dado dentro dela. Armas, livros... tudo. Coloquei  também uma garrafa d'água. Por fim, vesti minha luva e levei minha mochila até o jardim da minha casa. Sentei lá e fiquei esperando Matthew e Mi-cha. Matthew chegou pouco tempo depois.

Matthew: Preparada?

Apenas concordei com a cabeça.

Meiling: Mi-cha não deveria ir com a gente. Ela vai se machucar.

Matthew: Mei...

Meiling: O que?

Matthew: Ela cresceu.

Ficamos em silencio até Mi-cha chegar. Quando ela chegou, nós dois nos levantamos.

Matthew: Agora, me sigam.

Obedecemos. Ele nos guiou até o bosque. Por um momento, eu achei que nós íamos ficar lá, até que ele foi até a borda do pequeno rio e retirou um cristal. Ele analisou o objeto por alguns segundos, e depois jogou de volta no rio. O cristal bateu numa pedra e se quebrou ao meio. Um redemoinho formou-se no rio, e dele saiu uma luz azul celeste, que formou um portal. As pedras do fundo do rio formaram uma ponte simples.

Matthew: Vamos.

Matthew foi caminhando sobre as pedras e entrou no portal. Eu e Mi-cha fizemos o mesmo. O portal se fechou assim que Mi-cha entrou. 

Era uma floresta bem grande. Muito fácil para nos perdermos. Ficamos caminhando por umas duas horas, e já estava ficando escuro. 

Matthew parou.

Matthew: Aqui. Eu acampava com meu pai aqui.

Ele ficou pensativo por um momento. Ele colocou sua mochila no chão e começou a tirar as peças para montar uma barraca. Depois que tirou, jogou sua mochila pra mim e Mi-cha.

Matthew: A barraca de vocês está ai. Se virem.

Eu e Mi-cha nos entreolhamos. Colocamos nossas mochilas no chão, e tiramos as partes da barraca que Matthew disse que seria nossa. Ele terminou de montar a sua bem rapido, e em seguida, ficou sentado, apenas observando eu e Mi-cha tentando montar. Depois de varias tentativas que terminaram em fracasso total, eu e Mi-cha resolvemos colocar em pratica o mesmo plano que usavamos quando eramos crianças, quando não queriamos fazer algo.

Meiling: Cansei.

Matthew começou a rir.

Mi-cha: Não ria.

Ela pegou uma das partes da barraca e deu para o Matthew. Eu e Mi-cha sentamos uma de cada lado de Matthew.

Matthew: O que vocês querem que eu faça com isso?

Mi-cha: O que você acha?

Meiling: Queremos que você monte, é obvio.

Ele começou a rir ironicamente.

Matthew: Não. A barraca é de vocês, se virem.

Nós nos levantamos e pegamos todas as coisas da barraca e colocamos em volta dele. Pegamos nossas mochilas e nos isolamos na barraca dele. Ficamos lá mais ou menos uma hora, e quando saímos, nossa barraca era a melhor. Ele estava deitado dentro dela, mas o expulsamos aos chutes. 

Resolvemos não jantar. Ninguém havia levado comida, e estávamos cansados demais para procurar. Fomos todos dormir, já que, de acordo com Matthew, o dia seguinte ia ser puxado demais.

Acordei de madrugada. Mi-cha dormia como uma criança. Resolvi sair da barraca para tomar ar fresco. Vi Matthew encostado numa arvore. Estava perdido no meio de seus pensamentos, preferi não interromper. Fiquei sentada do lado de fora da barraca alguns minutos, comecei a analisar Matthew, que não havia notado minha presença. Ele... estava chorando?!

Meu amigo ainda me esperava na esquina. Fomos conversando até a sorveteria, e depois fiquei pensativo. 

Amigo: Ei. Cara. Que foi?

Matthew: Hã?

Amigo: Tava pensando no que?

Droga. Eu não conseguia tirar o que aquela garota, Meiling, havia falado. Mas porque?

Matthew: Em nada. 

Amigo: Acho que você está apaixonado.

Matthew: O-oque?

Amigo: Você tem uma namorada e nem me contou.

Matthew: Ela não é minha namorada! Eu nem gosto dela!

Amigo: Aham tá. Ei, bora lá naquele lugar perto da tua casa, jogar uma bola?

Pensei em recusar, mas se eu recusasse com certeza iria ficar pensando no que ela disse o dia inteiro.

Matthew: Bora.

Fomos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anjos Caídos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.