The Innocent Can Never Last escrita por Clarawr


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Oi, putada!!!!
Eu sei que demorei, mas eu também avisei que ia demorar. Então, cá estou eu, finalmente postando. Dei um basta nessa minha vida atribulada e tirei mais um tempo para sentar a bunda na cadeira e escrever.
Esse capítulo saiu de primeira, eu acabei de terminá-lo, o que significa que pode ser que ele não esteja muito bom na questão da gramática/erros de português. Além do mais, ele é um dos Capítulos Que A Clara Se Odeia Por Ter Escrito, então deem um desconto. Eu não estava afim de relê-lo, muito menos de reeditá-lo.
Eu espero que vocês gostem, mas vocês não vão gostar. Com vocês, Capítulos Que A Clara Se Odeia Por Ter Escrito, parte 2/3.
Recado nas finais (como sempre '-')!!!!!!! Não se esqueçam de passar lá.



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Levo alguns preciosos minutos no chão até conseguir desenterrar a cara das minhas pernas, e mais outros minutos extras para conseguir me colocar de pé e voltar caminhar. Minha perna ainda está formigando e eu percebo imediatamente que caminhar novamente vai ser um suplício. Se andar não fosse algo tão básico e primitivo quanto falar, eu provavelmente teria de ser carregada agora.

A dormência em minhas pernas parece ter migrado para minha cabeça e pensar se torna tão impossível quanto voltar a andar. Meu cérebro gira, meus neurônios trabalham a todo vapor, mas mesmo assim algo parece enevoado. Alguma conexão em minha mente se rompeu, impossibilitando-me de tomar alguma decisão, por menor que seja, ou de tentar me preparar para o que me espera, o que quer que seja.

É engraçado que eu sinto uma necessidade alarmante de traçar um plano, fazer alguma coisa, mas a verdade é que isso não faz o menor sentido, simplesmente porque – e eu preciso enfiar isso na cabeça de uma vez por todas. – eles vão fazer o que quiserem comigo independente de qualquer tentativa minha de conter os estragos.

É inútil, na verdade. Eu deveria parar de tentar mudar o mundo. Eu preciso parar de tentar me jogar contra esse muro. Eu não vou conseguir movê-lo.

Encontro a porta secreta que liga o corredor do gabinete de Snow ao prédio do Centro de Treinamento e é nesse momento que eu me dou conta que - não sei como muito menos porque, já que há poucos segundo atrás eu mal era capaz de me pôr de pé. - estou correndo. Atiro-me dentro do elevador parado no térreo e acabo dando com a cara no espelho grudado na parede em frente à porta.

Minha aparência nunca esteve tão ruim. Minha cara continua sem nenhuma cor, uma prova de que o sangue ainda não voltou a circular direito. Meu cabelo está desgrenhado em volta de meu rosto e meus olhos parecem ferozes e assustados. Eu estou parecendo um animal acuado, pronto para atacar qualquer um que venha me tocar. Reconheço esse semblante. É exatamente assim que eu estive durante grande parte dos meus Jogos.

Não acaba nunca. A cada dia que passa, eu tenho a certeza mais forte de que nunca saí da arena de fato.

Respirar que é bom, nada. Parece que eu estou sem renovar o estoque de oxigênio para os pulmões há séculos. Puxo o ar pelo nariz, mas parece que ele se embola e fica entalado em algum ponto do caminho até o pulmão.

E eu achando que o pior dia de minha vida havia sido a morte de Roger. Se nesse dia eu surtei, os acontecimentos de hoje vão acabar é me acarretando um enfarto.

Meus dedos ainda não pararam de tremer, mas eu me obrigo a apertar o sétimo botão do painel. Meu indicador escorrega pelo botão 4 e o número parece brilhar, chamando minha atenção, gritando para que eu o aperte. Eu daria tudo que possuo para míseros cinco minutos de conversa com Finnick sem colocá-lo em risco. Mas infelizmente eu não tenho essa opção. Ele poderia me ajudar a decifrar o código da ameaça de Snow, além de, quem sabe, aliviar um pouco da pressão da culpa e do desespero que se retorcem na boca do meu estômago.

A porta se fecha e eu observo e numeração do painel aumentar gradativamente à medida que o elevador sobe. 2; 3; 4; 5, tento não pensar que acabei de deixar Finnick no andar de baixo; 6; 7...

Desembarco e escancaro a porta de meu quarto. Entro e dou uma porrada na porta atrás de mim, pulando imediatamente em minha cama enquanto enterro a cara no travesseiro.

Como ter de lidar com as inúmeras possibilidades de punições futuras é infinitamente mais desesperador do que a punição em si, eu faço o que sempre fiz nos momentos onde eu não sabia o que me vinha pela frente, ou quando qualquer restinho de esperança que eu pudesse alimentar já tivesse acabado: sento e me concentro no momento futuro onde o suspense era acabado. Um dia eu vou saber o que eles planejaram para mim. Em um futuro próximo, o mistério será revelado. E mesmo que no momento do castigo eu deseje vorazmente voltar à época em que eu não era obrigada a cumpri-lo, saber o grau exato dos estragos é sempre melhor do que ter de conviver com a dúvida. Não há nada mais torturante do que a espera, pelo menos para mim. Por pior que seja o que vem depois, ainda é menos agonizante do que especular. Então só o que me resta é tirar a força necessária para agüentar os próximos dias do pensamento de que, em breve, não terei mais de carregar esse peso.

A verdade é que não faço ideia de quanto tempo eu fico atirada na cama tentando não enlouquecer, mas o sol já caminhou um quarto do céu quando eu recebo uma nova visita.

Meu coração perde uma batida e eu sinto meu corpo todo se resfriar na fração de segundo seguinte à batida na porta. Bom, eu tenho meus motivos. Da última vez que bateram nessa porta, fui levada para ser ameaçada pelo presidente do país. Mas dessa vez, ainda bem, quando abro a porta não sou surpreendida por um uniforme branco. É só Finnick vindo me ver.

– Oi. – Ele diz, enquanto me segue para dentro do cômodo Apesar de toda a minha preocupação, eu consigo sentir que tem algo errado com ele. Eu estou com a cabeça cheia, mas reparei mesmo assim. O que quer que tenha acontecido, deve ter sido grande.

– Tudo bem? – Pergunto, cautelosa. A verdade é que a visita de Finnick veio a calhar. Eu vou poder me distrair tentando resolver seu problema e talvez esqueça um pouco o quão fodida eu estou.

Ele assente, mas eu ainda consigo ver uma sombra de preocupação em seus olhos.

– Eu vou te perguntar de novo, mas antes vou te dar um tempinho para você decidir se vai mentir de novo ou me contar qual é o problema de verdade. – Ele sorri para mim, mas o sorriso logo se desfaz. Espero alguns segundos, como prometido, e repito. – Tudo bem?

– Tudo bem, sim. – Ele repete e eu bufo, exasperada. Por que ele não desembucha logo? – Eu só vim para cá para fugir de alguém chato que vai me procurar lá no meu quarto. Ninguém vai desconfiar que eu estou aqui, então eu vim.

Finnick não está mentindo, não exatamente. Mas ele ainda está escondendo algo. Há algo atrás dessa história, exatamente do mesmo jeito que havia diversas coisas por trás de todas as afirmações que ele me fez no dia que fui ao seu quarto após a morte de Roger. Não se trata de quem vai procurá-lo em seu quarto. Se trata do que vai acontecer caso essa pessoa o encontre.

– Alguma fã? - Indago, tentando sondá-lo.

Ele suspira.

– É. – Ele responde. É estranho ver Finnick assim tão monossilábico e desanimado. Geralmente eu sou aquela que está sentada chorando as mágoas e ele é aquele que está do meu lado fazendo as vezes de psicólogo.

– Eu achei que você gostasse de ser assediado. – Digo, mas decido que essa vai ser minha última tentativa de arrancar algo dele. Não posso fugir de meus próprios problemas às custas de fazer Finnick reviver coisas dolorosas para ele. Todos nós temos nossos problemas.

– Eu não escolhi ser assediado, Johanna. – Ele responde impacientemente e de alguma forma um ponto se liga ao outro no meu cérebro, finalmente.

Ele não é o garanhão da Capital porque quer. Ele não escolhe se aproveitar de sua beleza. Alguém está se aproveitando dela por ele, muito provavelmente ameaçando-o – exatamente como estou sendo ameaçada nesse momento. – para que ele aceite ser explorado.

– Então... – Eu hesito, ciente de que tinha prometido para mim mesma não fazer mais perguntas. Entretanto, agora eu não posso mais deixar essa revelação passar batida. – Por quê? – Eu pergunto.

Ele revira os olhos. Sei que estou indo longe demais. Mas de repente – se ele parar de ser tão teimoso e aceitar que eu sou capaz de ajudá-lo de alguma forma. – eu posso fazer alguma coisa.

E lá vou eu, mais uma vez, tentar me jogar contra o muro.

– Porque não depende só de mim. – Ele responde, simplesmente. Eu duvido muito que a ponta de mágoa que estremeceu sua voz no fim da sentença tenha sido apenas imaginação minha.

Eu o olho por alguns segundos, mas ele continua encarando obsessivamente os dedos que repousam no lençol de minha cama. Não vou mesmo conseguir arrancar nada dele hoje. Talvez não consiga nunca.

– Bom, pode ficar aqui o tempo que precisar. – Eu digo, recostando a cabeça no travesseiro e chutando os sapatos até ficar descalça. Estou tão cansada... Todo dia por aqui algo de novo me acontece e eu fico me sentindo um trapo. – Preciso dormir uns três dias seguidos. – De preferência, três dias seguidos onde eu não corra o risco de ser executada pelo governo nacional. Mas deixo essa parte de fora, obviamente.

Eles não vão me matar enquanto Finnick estiver aqui – assim espero. -, então eu acabo aproveitando esse tempo para cochilar um pouco. Quando acordo novamente, já está de noite e eu estou sozinha em meu quarto. Tropeço em meus pés enquanto caminho pelo quarto e abro as cortinas, dando de cara com a Capital artificialmente iluminada e colorida. Levanto um pouco a cabeça e miro o céu, as pequenas estrelas me saudando. Todo esse céu que me recobre agora é o mesmo me recobre no Distrito 7. É o mesmo que me recobriu quando minha mãe me pegou matando aula. O mesmo de quando eu fui sorteada na Colheita. O céu é o mesmo. Mas eu sou outra, inteiramente mudada.

A floresta é onde eu me sinto em casa de verdade. Meu quarto abarrotado lá no sete é meu lar de fato. Faz tanto tempo. Eu me sinto como se estivesse fora há milênios. Eu não achei que fosse mudar mais do que o quanto mudei durante meus Jogos, mas acho que finalmente entendi o sentido da frase “Nunca diga nunca.”

Passo na sala de jantar e pego algo para beliscar, já que não tenho sentido muita fome ultimamente. De lá, sigo de volta para o sétimo andar, direto para a sala de TV. É meu turno.

Abro a porta com o cotovelo, já que minhas mãos seguram um copo de suco de laranja e uma porção de batatas fritas. Sento no sofá e começo a comer distraidamente, preparando-me para o trabalho exaustivo que é ficar completamente focada na vida de outra pessoa.

Se da última vez que eu estive aqui Liz passou o tempo inteiro escondida nos buracos mais recônditos da arena, hoje ela vai ser obrigada a seguir caminho. Ela não tem um lugar de pouso, um acampamento montado, então é obrigada a estar se movimentando constantemente tanto para achar alimento como para não abrir brecha para possíveis inimigos.

Então, um canhão soa e Liz mexe a cabeça de um lado para o outro rapidamente, como se o som contivesse alguma indicação de onde a morte havia acontecido, uma pista sobre a localização dos inimigos. Então eu me desvencilho um pouco do pensamento obsessivo de salvá-la e paro para avaliar seu estado nessa altura do campeonato. Liz está muito magra. Seus olhos estão rodeados por olheiras fundas e as íris cor de mel perderam o brilho. Seus olhos cansados denunciam que a fadiga não é só física, mas também mental. Nesse ponto do jogo, você se perde. Você fraqueja. Você desiste. É muito fácil pôr tudo a perder agora no final.

Ela pendura o machado no cinto e o coloca debaixo da blusa, fechando a jaqueta por cima. Bebe um gole da garrafa de água que tem – milagrosamente – conseguido manter cheia e solta um suspiro pesado. Acho que ela está sentindo a mesma coisa que eu. Uma tremenda vontade de desistir. Mas não podemos, e não estamos fazendo isso por nós mesmas. Estamos fazendo isso pela promessa que fizemos uma à outra. Eu prometi que não ia desistir dela. Ela me prometeu que não iria fraquejar. E cá estamos nós duas, desistindo e fraquejando, mantidas nesse jogo não por algum motivo egoísta que envolva nossas próprias vidas, mas pelo juramento que fizemos. Eu não desisto única e exclusivamente por causa dela, e ela não vai desistir única e exclusivamente por causa de mim. No fim, ainda esperamos que o esforço final valha a pena.

Ela começa a andar, ainda seguindo uma rota em diagonal pelas lápides, buscando outro buraco que ainda não tenha sido sua moradia. Enquanto ela anda, reconheço algumas áreas da arena, o que demonstra que ela está andando em círculos. Depois de meia hora, ela para e observa as árvores ao seu redor. As copas são bem cheias e o tronco é bem alto. Vejo seus olhos iluminarem-se com alguma súbita inspiração e ela caminha cuidadosamente ao redor das árvores do corredor onde se encontra.

Liz apóia um pé cuidadosamente no tronco da árvore e agarra um galho razoavelmente grosso alguns metros acima. Ela fica parada, agarrada na árvore, sem saber os onde colocar os pés para continuar subindo. Ela tenta impulsionar o corpo para cima com os braços apoiados no galho, mas tudo que consegue é se desequilibrar e escorregar em direção ao chão enquanto segura o tronco na tentativa de evitar a queda.

Passo os próximos vinte minutos assistindo Liz tentando se refugiar na árvore. Devo admitir que a ideia foi boa. Entretanto, não tem como ter muito futuro se Liz não é capaz de escalar. Mas seria um bom esconderijo, de qualquer maneira.

Por fim, ela desiste de subir e resolve continuar caminhando, porque o tempo desperdiçado se arrebentando na árvore seria mais do que suficiente para ela encontrar uma nova toca. Lizzenie volta a andar, desbravando a arena e depois de uma hora encontra um cantinho que parece promissor. Ela tira a tampa da garrafa de água novamente e a encosta nos lábios, mas algo distrai sua atenção e seus olhos vagam para algum ponto acima de sua cabeça. Eu não consigo escutar o que lhe distraiu, mas imediatamente me sento perfeitamente ereta de frente para a TV.

Sua pequena mão desliza imediatamente para o machado encoberto pelas roupas e seus olhos giram freneticamente para encontrar a origem do som. Então, um corvo corta o ar e pousa na árvore de frente para onde Liz está encostada. Ela franze o cenho e aguarda alguns segundos, esperando que alguém apareça. Mas a única que coisa que acontece é o vôo de um segundo corvo, que para e pousa exatamente ao lado do primeiro.

Imediatamente, as aves começam a cantar em sintonia. Não, não é bem um canto. Estão as duas grasnando, fazendo uma sequência de sons desconexos, sem nenhuma harmonia ou ritmo que lembre o canto de algum pássaro respeitável. E enquanto eu ouço aquele som, sinto todos os pêlos de meu corpo se eriçar e uma sensação angustiante se forma e ganha força em meu íntimo. É provável que eu esteja enlouquecendo por causa da pressão, ou talvez seja só o clima fantasmagórico da arena que me cause esse pânico, mas minha intuição geralmente é certeira e não é agora que eu vou ignorá-la.

Após o primeiro momento do choque, Liz se dá conta de que ficar observando os pássaros não vai ajudá-la em nada. Mas no segundo em que ela dá o primeiro passo, algo se move no chão a seus pés e ela cai. Ela tenta levantar-se, mas o que quer que esteja a seus pés se mexe novamente e ela é lançada de encontro ao chão argiloso de novo.

Mas que porra é essa? Eu penso, a ponta do desespero começando a vibrar dentro de mim.

Outro corvo vem voando, mas dessa vez ele não vem sozinho. Junto com ele, só que na terra, um grupo de animais vem caminhando, abrindo caminhos pelos corredores de lápides.

Bestantes. Percebo, apavorada. Por que eles estão mandando bestantes? O que os Idealizadores estão querendo fazer?

Dou uma checada nos animais. Tamanho aproximado de cachorros, mas eles possuem caudas e orelhas de esquilos. Um deles retorce o focinho, deixando à mostra as impressionantes presas pontiagudas. Todos estão encarando Liz, seus olhos grudados nela, sem nem escorregar para o que há em volta. Ela é o alvo. Eles foram mandados para atacá-la, o que deixa claro que eles não são o tipo de bicho que apóiam a causa “se você me deixar sossegado, eu te deixo sossegado.”. Se ela não correr, eles vão atacá-la. Se ela correr, eles vão atacar também. É o típico caso “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”

Consigo vê-la olhando para trás, avaliando suas possibilidades de fuga, porque embora seja uma causa perdida – eu consigo sentir que Liz já calculou que é muito provável que ela não consiga ser mais rápida que os bichos. -, é impossível não fazer nada com a adrenalina correndo pelo seu sangue e impulsionando seus membros para a reação conta o perigo.

Devido ao tempo perdido na caminhada a procura de abrigo, ela conhece a área relativamente bem. Ela sustenta o olhar dos bichos por mais um fração de segundo – provavelmente decidindo por onde irá correr após sair em disparada. –, vira para trás e começa a correr enlouquecidamente.

Um som muito parecido com um engasgo escapa de minha boca e quando dou por mim, já estou de pé com a cara grudada na TV. Minha respiração se acelera e eu consigo sentir uma mistura de coisas me queimando por dentro. Enquanto Liz corre, a percepção do fato me atinge como um tiro: Ela não vai sobreviver. Não importa se ela correr o mais rápido que suas pernas agüentarem, ou se ela conseguir se esconder no buraco mais recôndito de toda a arena. Eles vão caçá-la. Os bestantes só vão ser retirados da arena quando matarem-na. Consigo ver Snow ordenando o chefe dos Idealizadores. Consigo ver as exatas palavras que saíram de sua boca. “A pequenininha, do 7. Eu não a quero viva.”. Eu sei que ele confiou no chefe dos Idealizadores para que ele inventasse a morte mais lenta e dolorosa imaginável para Liz. Quem mais teria tanta criatividade criar essas atrocidades? Eles são especialistas em arquitetar a morte de crianças. E eles são especialistas em entreter o público. O que quer que venha a acontecer aqui, será sangrento, porque é disso que o povo gosta. Além do que, tenho certeza que foi isso que Snow mandou que ele fizesse.

Liz ainda está correndo quando o chão desaba sob seus pés pela terceira vez, derrubando-a. Ela enterra as unhas no solo, tentando se equilibrar novamente, mas eu também sei que se ela se levantar um milhão de vezes, eles a derrubarão um milhão e uma. Eu consigo ver o medo em seus olhos, o desespero diante da morte. A angústia de ver que nenhuma de suas tentativas de sobreviver está dando certo. Eu consigo ver cada um desses sentimentos passando por seus olhos, apreciar cada nuance, ver o medo se transformando em pânico, que vira pavor, que se transforma em desespero até que ela perde a cabeça e solta um grito, após ser derrubada pela quarta vez seguida.

Então, quem perde a cabeça sou eu. Engasgo novamente com o ar que agora parece ser insuficiente e grito para desobstruir a garganta. Ela vai morrer. Depois de tudo, ela vai morrer. Eu sinto cada célula do meu corpo gritar para que eu saia da sala, advertindo-me que não se responsabilizam pelo que venha a acontecer ao meu psicológico caso eu fique e veja o pior acontecendo de fato; mas eu não consigo sair, não há escolha. Ao mesmo tempo que sinto o impulso de desaparecer, estou congelada, impossibilitada de fugir. Aprisionada a minha própria desgraça, pode-se dizer assim.

Um dos animais a alcança agora e morde seu tornozelo. O grito da menina de 14 anos corta o ar estagnado da sala e eu sinto como se o som tivesse saído de mim. Ela vai morrer, Johanna. Não há nada que você possa fazer. Mas o pensamento não impede que o desespero me sufoque. Não há mais nada que você possa fazer. Vejo Liz se debatendo, apesar de nenhum outro do bando tê-la alcançado, e eu me dou conta de que – como o que está ruim sempre pode piorar. – há algo de venenoso na mordida desses bestantes. Ela bate o tornozelo contra o chão, se debatendo e gritando, como se sua perna estivesse em chamas. Sinto meus olhos molhados, as lágrimas correndo, sinto cada parte do meu corpo protestar como se eu tivesse levado uma surra, mas continuo ali, firme, parada como um pedaço de madeira, assistindo a morte de Lizzenie enquanto ela ainda não acaba.

Como um último ato instintivo de sobrevivência, ela tenta se arrastar. Mas outro bicho se aproxima e a ronda, como se ela fosse uma presa e ele estivesse decidindo por onde iria começar e devorá-la. Na verdade, acho que é exatamente isso que ela é. Então, ele solta um rosnado ameaçador e tudo que Liz consegue fazer antes que ele feche os dentes em seu braço é se encolher junto à lápide mais próxima e fechar os olhos.

Eu vejo cada um deles fechar seus dentes nos pequenos membros da garota uma vez. E depois, eu os vejo repetir o processo. Eles não a mordem no tronco, porque parecem saber – de uma forma maligna e doentia. – que se atacarem-na lá ela morrerá mais rápido. Eu vejo seus gritos se transformarem em suspiros e seus suspiros se transformarem em arquejos agonizantes. Eu a vejo sendo arrastada de um lado para o outro, porque os felinos gostam de brincar com a comida antes de devorá-la. Eu vejo seu sangue se derramando no chão. Eu vejo até quando ela puxa o braço para junto do corpo uma última vez, tentando se livrar das investidas do bando.

E, por fim, tremendo e arquejando, eu ouço o canhão e assisto o corpo despedaçado de Lizzenie Pillz ser retirado, pedaço por pedaço, pelo fantasmagórico aerodeslizador que recolhe os corpos daqueles que perderam a vida nos Jogos Vorazes.


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Notas finais do capítulo

Bom, galerinha, vocês já devem estar se perguntando: "Essa porra dessa fic não termina, não?" Pois é. Termina. Se até nossa vida acaba, com TICNL não vai ser diferente (Que frase de emo. É que ainda estou na vibe do capítulo.). E eu venho, por meio desta, avisar-lhes que faltam exatamente TRÊS capítulos para The Innocent acabar. E venho comunicar também que os dois últimos capítulos eu postarei juntos (no próximo capítulo eu explico exatamente o motivo), então a verdade e que eu só vou postar mais duas vezes.
Posso adiantar que os dois últimos capítulos estão quase terminados (foram alguns dos que eu já havia escrito desde o começo da fic, hehe), só falta dar uma editada. O que está faltando mesmo é o próximo, que, como já disse que não tenho tido tempo nem de coçar a bunda, eu não faço ideia de quando sai.
Enfim, é isso. Não vou fazer pré despedida, porque acho que o capítulo já foi triste o bastante e eu não quero ficar mais emo do que já estou. Vou deixar o goodbye e os agradecimentos para mais tarde.
Amo e mamo vocês ♥



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