A minha tia Amélia foi uma pessoa bem marcante para mim. Ela tinha um piano na casa dela; um piano que antes parecia tão grande... mas deve ser porque eu era menor. Ela morava sozinha, em uma casa enorme. Me disseram que antes que eu nascesse, eu teria uma prima que seria quatro anos mais velha do que eu. E, esse verbo "teria" sempre me trouxe uma má ideia do assunto. Minha tia era casada com meu tio Vince, e minha prima morreu com exatamente quatro anos e 4 meses. Ela tinha leucemia. Minha tia era artista, ela sabia tocar piano, violão, violino... pintar quadros e ela era ótima atriz. Minha mãe, diz que foi uma das poucas das vezes que viu minha tia chorar; pelo menos, lágrimas de verdade, numa causa de verdade. Quando minha prima Jordan estava internada, minha mãe e muitos médicos ainda dizem que foi a primeira vez que o hospital ficou tão bonito e colorido. Minha tia e minha prima corriam contra o tempo todos os dias e todos os minutos.

Todos que lembram, desde as primeiras seções de quimioterapia da minha prima podem dizer como era. Todas as vezes minha tia chegava com ela sorrindo ou dando risadas. Foi uma época que minha tia fez quadros para animar aquela ala, todos eles eram de cores bem alegres, alaranjados e vermelhos, com tons quentes e sempre mostrando uma cena que davam vontade de estar lá. Eram praias, jardins, bichos de cores completamente absurdas e sempre com um toque infantil. O favorito da minha prima Jordan era um elefante amarelo com bolinhas laranjas segurando pela tromba um balão roxo.

As coisas iam piorando e sempre a minha tia estava lá, tentando fazer com que a Jordan estivesse sempre sorrindo. O médico da Jordan disse que minha tia quando soube que ela não podia mais andar, minha tia roubou uma cadeira de rodas e colocou Jordan nela, saiu correndo pelo hospital, e passou pelo corredor (que talvez por horas ela esteve preparando aquele corredor) cheio de balões, foi bem no instante do primeiro raio de sol do dia, que iluminava os balões e os refletia formando uma bela visão. Ele me disse que foi o dia que voltou a acreditar no amor.

Minha prima Jordan morreu em agosto. Quatro meses depois de ter completado quatro anos no começo de abril. Ela morreu à noite. Segurando a mão da minha tia. Foi no dia que minha tia mostrou sua grande criação; "Jordan's Song". A música que ela fez para Jordan.

A perda da minha prima foi tão grande que todos na família ficaram muito abalados. Minha mãe disse que minha tia não conseguiu sair da cama por seis meses. Ela saiu da cama, porque minha mãe decidiu contar que estava grávida.

Minha mãe disse que naquela manhã, minha tia estava no quarto e a casa inteira possuía papéis com esboços. Ela lembra da minha tia descendo depois de tanto tempo aquelas mesmas escadas. E quando ela soube, ela estava sentada na mesa tomando café, e ela apenas largou a xícara e sem olhar para ninguém apenas para o seu café ela sorriu.

Eu nasci prematura, nasci com oito meses e minha tia foi quem providenciou a maioria das coisas do meu enxoval; e durante anos ela sempre quis me ver sorrir. Ela sempre fazia a casa mais bonita de gengibre. Ela fazia sempre as melhores decorações e sempre foi uma pessoa animada e divertida. Ela transmitia uma alegria pelo olhar. Minha avó diz que foi como se a Jordan estivesse aqui ainda para minha tia. Minha tia que me ensinou a tocar violão e piano. E eu penso que isso é realmente bom, ela encontrou um motivo para voltar a viver.