Tudo sempre começa quando ainda somos pequenos. Eu gostaria de dizer que eu era a menina mais legal de todas. Não, na verdade não. Eu não era e também não gostaria de dizer isso não. Eu sempre fui diferente. Minha mãe ainda lembra das reclamações de falta de atenção, ela lembra dos meus machucados, e lembra da minha estranha reação de nunca me importar com aquilo.

Desde pequena as pessoas me acham diferente. Eu era isolada, porque eu não gostava de cor de rosa, de brincar de boneca ou pular corda, os meninos também não eram lá essas coisas, eu gostava de tocar violão, sozinha no meu quarto; gostava de desenhar e escrever histórias. Que não possuíam princesas e dragões, mas que contavam histórias das pessoas que me rodeavam, possuíam fotos... As pessoas mais velhas, gostavam de conversar comigo, eu gostava de ouvir essas histórias, eu ouvia detalhadamente enquanto as escrevia e adicionava detalhes, eu tirava fotos dessas pessoas com a minha velha câmera polaroid.

Eu escrevia em um grande caderno sem linhas, que estava abarrotado de fotos e rabiscos. Algumas histórias de dentro dele apenas possuíam fotos, com dedicatórias ou observações. Como a de minha tia Amélia; que estava escrito "eu admiro você pequena" e a marca de um beijo de batom vermelho que mais parecia um coração; ao lado a foto dela, uma mulher de longos cabelos castanhos e olhos acinzentados como uma tempestade.