POV Naty

6h00min, meu despertador toca e não hesito em me levantar. Tomo um banho e pego a primeira roupa que vejo no armário, não necessitava muita produção para ir à aula. Desço, tomo café com meus avós e tomo o caminho, meio longo, em direção ao meu segundo dia de aula na Universidade Nacional de Córdoba.

Chego à frente da grande construção branca e bege e entro, hoje, sem pensar duas vezes. Começo a caminhar no longo corredor em direção ao bloco de Ciências Humanas e da Saúde procurando minha sala de Psicologia da Educação, assim que a encontro, entro e procuro um lugar, não muito a frente, nem muito atrás, como sempre. Sento-me, retiro um livro da bolsa e começo a lê-lo na página marcada. Não havia lido muito mais que dois parágrafos quando uma bolsa é jogada em cima de minha mesa, levanto a cabeça e a ruiva conhecida, Camila, está parada com os braços cruzados me olhando, furiosa, diga-se de passagem.

- Não acredito que você foi tão baixa a ponto de contar sobre o que aconteceu ontem para Maxi – jogou as palavras para mim.

- Não sei do que você está falando – afirmei, realmente não sabia.

- Não se faça de idiota! Ontem, depois da nossa aula de Psicologia do Desenvolvimento, Maxi foi tirar satisfações comigo querendo saber o que eu havia lhe falado.

- E eu com isso?

- E você com isso? Alguém contou a ele, garota – ela alterou a voz.

- Pode ter certeza que não fui eu, não perderia meu tempo com isso, não estou nem aí com o que você me disse ou deixou de me dizer – falei, e notei que era verdade, não estava mais preocupada com Camila.

- Ah, claro que foi você! Não aguentou a realidade e foi correndo falar para o MEU namorado – dando muita ênfase no meu.

- Se eu tivesse que correr para alguém e contar, não seria para o SEU namorado – revidei a ênfase. – Não sei quem falou o que quer que tenha sido falado, a ele.

- Hm, sei – ela falou desconfiada -, tenho certeza que você tem alguma coisa a ver com isso, mas saiba que, se seu intuito era causar problemas para nós, fique sabendo que eu e Maxi estamos muito bem, obrigada! – falou irônica.

- Hm – dei de ombros.

- E mais – continuou -, fique longe do meu namorado! Conheço meninas assim como você, elas estão espalhadas por toda essa Universidade.

- Assim como? – perguntei impaciente.

- A fim de separar casais para ficarem com os namorados alheios!

- Ah – fiquei irritada com essa afirmação e me levantei para ficar cara a cara com ela -, não estou a fim de separar ninguém, querida! Se você não se garante, o problema não é meu!

- Olha aqui... – ela colocou o dedo na minha cara.

- Olha aqui, o quê? – alterei a voz pela primeira vez.

- Tem alguma coisa acontecendo aqui? – uma voz masculina evitou a discussão e possível briga que aconteceria entre nós.

- Não, professor! – Camila respondeu seca.

- Foi o que eu imaginei – ele respondeu. – Agora, todos em seus lugares, vamos começar a aula...

- Isso não vai ficar assim! – Camila exclamou baixinho enquanto pegava sua bolsa em cima de minha mesa e rumou para sentar-se ao lado de sua amiguinha loira Ludmila.

O professor posicionou-se frente à sala e iniciou sua aula. Começou notando minha presença e fazendo a breve apresentação como a da manhã anterior, depois começou a falar sobre a matéria. Finalmente notei a presença de Violetta, após toda movimentação com Camila e com o professor.

- Parece que os nervos afloraram por aqui essa manhã – ela comentou de repente, referindo-se a discussão de Cami e Naty.

- Ela veio com um papo estranho para o meu lado, não entendi nada...

- O que ela disse?

- Que ela e Maxi se desentenderam por minha culpa, porque contei a ele sobre o que ela e Ludmila falaram de mim ontem... Esbarrei nele ontem quando estava indo embora, mas não falamos sobre isso, na verdade, nem me interessa mais o que elas falaram.

- Se esbarraram é? – Violetta falou rindo. – Sabe, acho que León pode ter algo a ver com isso...

- León, como assim? – fiquei confusa, mais do que já estava.

- Bem, depois que você foi embora e não quis sair com a gente, comentei com ele que você tinha ficado chateada por causa daquelas duas, e ele treina com o Maxi, pode ter comentado algo – falou cabisbaixa. – Desculpe!

- Ah, não foi nada – falei sincera. – Deixe-a ficar pensando que fui eu, não tenho problemas com isso... Parece que quem tá com problemas é ela, ou melhor, eles – ri.

- Nunca acreditei muito nesse namoro deles, não é de se admirar que estejam com problemas – Violetta comentou dando de ombros.

- Por quê? O que aconteceu/acontece no namoro deles?

- Tudo! Desde quando começaram a namorar, já devem ter terminado umas quatro vezes, sempre por causa da Camila, que é ciumenta demais!

- E por que voltam?

- Maxi é apaixonado demais, na verdade, acho que era, porque depois de tantos rompimentos ele parece já ter perdido o encanto, nas primeiras vezes ficava arrasado, agora, espera ela voltar arrependida e namoram novamente – Violetta falava indiferente.

- Não consigo entender, se sempre terminam, por que ainda estão juntos? – estava indignada com o acabara de ouvir. – Porém, isso não é problema meu.

- Nem meu – Violetta falou por fim. – Mas gostaria que Maxi enxergasse que não dá mais certo, ele é um bom menino, merecia alguém melhor.

Violetta falou isso e voltou a olhar para o professor e prestar atenção na aula. Fiquei sentada olhando para frente, mas sem prestar atenção no que o professor falava, fiquei pensando no que acabara de ouvir de Violetta, sobre o namoro de Maxi e Camila ser conturbado... Mas por que eu me preocupava com isso? Balancei a cabeça tentando apagar aqueles pensamentos e comecei a prestar atenção e fazer anotações.

A aula acabou e fui com Violetta para o refeitório, servimo-nos e nos sentamos a mesma mesa que Fran, Fede e León, como no dia anterior.

- León – Vilu chamou-o assim que nos sentamos -, você falou algo sobre a Naty e a Camila para o Maxi?

- Sim, por quê? – ele respondeu dando de ombros.

- Porque ela foi tirar satisfações comigo hoje, achando que tivesse sido eu – ri.

- Ah, me desculpe, não queria você tivesse problemas – ele falou sincero.

- Está tudo bem, vamos esquecer isso, não quero estragar nosso almoço falando da Camila, não quero que tenhamos indigestão! – disse isso e todos caíram na gargalhada.

Começamos a almoçar em silêncio, de repente León e Federico engataram uma conversa sobre futebol e as meninas, que não estavam nem um pouco a fim de ouvir, começaram a conversar entre si e comigo, falamos sobre amenidades.

Após o almoço, Fran e Fede foram para seu bloco, León se despediu de Vilu e foi para sua aula e nós duas rumamos para o nosso bloco, porém, nos separamos logo na entrada, eu teria horário vago e preferi ficar na biblioteca, enquanto Vilu foi para sua aula, a qual eu já havia feito.

Cheguei à biblioteca, estava um pouco mais cheia do que imaginava, afinal, era início de semestre, mas dava pra ver que o pessoal ali não brincava mesmo. Sentei-me próxima a uma janela, abri o livro que carregava em minha bolsa, e comecei a ler. Não estava ali mais do que vinte minutos, quando alguém se sentou na cadeira a minha frente e ficou me olhando, levantei a cabeça para ver quem era. Maxi.

POV Maxi

Fui à biblioteca pegar alguns livros de cálculo antes que eles se acabassem, como em toda primeira semana de aula, entrei, fui à prateleira de engenharia, peguei o que precisava e quando ia passar no balcão de empréstimos e devoluções, avistei-a sentada sozinha lendo. Pude notar que vestia uma calça vermelha e uma blusa branca, e seus cabelos cacheados estavam soltos, caindo sobre seu rosto, aproximei-me e me sentei a sua frente, para sua surpresa.

- Oi Naty – falei assim que ela largou seu livro e olhou para mim.

- Oi – respondeu, e notei um pouco de desconfiança em sua voz.

- Tudo bem?

- Sim e com você?

- Também... Que coincidência te encontrar aqui – sorri. – Queria mesmo te encontrar.

- Pois é, não tenho aula, resolvi estudar um pouco... Encontrar-me? O que você quer? – ela perguntou confusa, sendo direta.

- Queria me desculpar pela Camila e sua boca grande.

- Ah, isso... Tudo bem, já passou – falou com sinceridade, porém, notei a tristeza em sua voz.

- Você não me parece segura com essa afirmação – comentei.

- É sério, tudo bem – ela sorriu.

- Dizem que quando se gosta de algo ou alguém, a gente cuida, protege...- falei olhando para a capa do livro que Naty deixara em cima da mesa quando começou a falar comigo.

– ...quer estar perto, fazer parte da vida – Naty completou a frase comigo. – Não tinha ideia que alguém como você leria Nicholas Sparks.

– Tem muita coisa sobre mim que você não sabe.

– Talvez eu saiba o que precise saber...

– Como assim? – agora eu estava confuso.

– Sabe Maxi, você parece ser uma pessoa legal, mas não quero me aproximar de você mais do que o necessário, sua namorada deixou isso bem claro.

– Camila... – falei mais para mim do que para ela. – Não se preocupe com ela, não será mais minha namorada tão breve.

– Você vai terminar com ela? – afirmei. – Por quê? – ouvimos algumas pessoas falarem “shhh” próximos de nós, e a bibliotecária nos olhar de cara feia.

– Por isso, porque ela afasta todas as pessoas que se aproximam de mim, e além do mais, temos um namoro conturbado, cheio de idas e vindas, não preciso disso! – exclamei um pouco mais baixo.

– Sério? – Naty perguntou aquilo, parecendo até mais feliz.

– Sim... Poderemos ser amigos.

– E quem disse que quero ser sua amiga? – ela questionou séria.

– B-bom, achei que... hum... não éramos amigos por causa da Cami – gaguejei.

– Eu estou brincando, seu bobo! – ela exclamou e rimos juntos. As pessoas a nossa volta começaram a nos olhar com cara feia e até ouvimos alguns “shhhhh” para o nosso lado novamente. A bibliotecária andou em nossa direção, e pediu para que nos retirássemos dali, porque já havia recebido algumas reclamações e aquele era um lugar de silêncio e estudos, não de conversa fiada.

Levantamo-nos e saímos ainda rindo de tudo, primeiro da minha ingenuidade quando Naty disse que não seríamos amigos, e depois, por conta de sermos expulsos da biblioteca por excesso de conversa. Encostamo-nos lada a lado na parede de fora da biblioteca e ficamos rindo por mais alguns segundos.

– Isso me lembra de outra frase: os dois riam juntos, e ela percebeu que gostava do som da risada dele – Naty falou recuperando o fôlego e virando o rosto para mim.

– Também gosto da sua risada – comentei olhando fundo em seus olhos, e ficamos assim, nos olhando e sorrindo por alguns minutos.

- Err... Preciso ir – ela disse desviando o olhar.

- Posso te acompanhar? – sugeri.

- Melhor não... Não quero te causar problemas.

- Meus problemas eu resolvo depois, não me importo com eles.

- Se resolva primeiro, vai ser melhor – Naty sorriu.

- Tudo bem, você venceu... Mas eu ainda vou te acompanhar.

- Vou adorar sua companhia... Agora preciso mesmo ir. Tchau! – ela se aproximou e ficou sem saber o que fazer, eu dei o primeiro passo e beijei sua bochecha, Naty corou levemente e sorriu tímida.

- Tchau – sussurrei em seu ouvido.

Naty se afastou caminhando em direção à saída da faculdade, observei-a ir até que a mesma virou e sumiu no corredor. Virei na direção oposta a qual Naty acabara de seguir e caminhei em direção ao pátio da Universidade, tinha coisas a tratar com alguém que se encontrava lá fora, ensaiando com suas amigas.