POV Naty

Continuei em pé, olhando para frente sem saber o que fazer enquanto o aluno terminava de se acomodar, depois, o professor se voltou a mim novamente para continuar, ou melhor, começar a falar.

- Bem-vinda Natália – ele sorriu sincero -, eu sou o professor Coan, e como você deve ter visto, essa é uma matéria optativa e fico muito feliz que você a tenha escolhido para preencher seus horários. Nossa disciplina de “Filosofia e Reflexão da Atualidade” consiste em discutirmos assuntos atuais, a causa e consequência deles. É uma aula da qual espero muita participação de todos com seus palpites e opiniões, e por enquanto, esse é meu método de avaliação, a participação dos alunos em sala. Espero que você goste! Qualquer dúvida, crítica e afins, pode me procurar ao final da aula ou durante a semana nessa sala.

- Obrigada! – eu somente agradeci e sorri.

- De nada! Pode se sentar agora. E quanto a vocês – falou aos demais alunos -, sejam simpáticos com sua nova colega.

Eu me sentei enquanto as pessoas continuavam a olhar para mim, e depois, aos poucos começaram a olhar para frente, para onde o professor estava.

- Nosso assunto de hoje é – o professor Coan voltou a falar – gravidez na adolescência, muito comum nos dias de hoje...

O professor começou a falar sobre gravidez na adolescência e tudo que havia envolvido nisso, a aula era extremamente interessante, olhei, fiz algumas anotações, ouvi meus colegas falarem, mas de primeira, não quis dar minha opinião, já havia chamado atenção demais para um dia, não precisava de mais alguns minutos com as pessoas me olhando de todos aqueles jeitos.

Depois de uma hora de aula e discussões incansáveis, o professor resolvera fazer um trabalho.

- Vocês precisam fazer uma resenha sobre o texto que vou projetar aqui do assunto de hoje... Mas como eu sou muito bom – ele riu -, pode ser dupla. Só tem uma questão, deem preferência para duplas que estejam perto de vocês, preciso da sala organizada para a próxima aula.

Eu fiquei meio confusa quando todos começaram a formar duplas com seus colegas que estavam ao lado, à frente. Violetta fez dupla com León, mas me olhou com um olhar de preocupação quando o professor sugeriu isso, eu sorri demonstrando que estava tudo bem. Senti alguém me cutucando, olhei para o lado e o aluno atrasado que o fazia.

- Hey, posso ser sua dupla? Você está sozinha, eu também... – ele riu.

- Ah, sim – concordei e ele encostou sua carteira na minha.

- Maxi – estendeu a mão quando já estava sentado e organizado.

- Naty – cumprimentei-o.

- Aluna nova, né? Bem-vinda! O que vai fazer?

- Obrigada – sorri em agradecimento. – Psicologia, e você, o que faz?

- Engenharia Civil.

- Difícil – ri.

- Um pouco.

- O que um futuro engenheiro faz na aula de Filosofia e Reflexão da atualidade? – questionei curiosa.

- Durante os anos de curso a gente não tem muito contato com assuntos que não sejam cálculos, álgebra, topografia e tudo “engenheirístico”, resolvi então fazer essa disciplina pra poder discutir e me atualizar, também, porque gosto de palpitar – riu.

- Interessante... Bom saber que vocês se interessam por outros assuntos.

Ele ia responder, mas se voltou para seu celular que desde o início de nossa conversa não parou de vibrar em cima da mesa, e agora vibrava incessantemente, dando a entender que recebia torpedos e ligações sem parar. Ficou alguns poucos minutos digitando, e quando voltou a falar comigo, eu já havia começado o trabalho, então, não voltamos a conversar sobre assuntos fora da aula.

POV Maxi

Desde a hora que entrei na sala, atrasado como todas as segundas-feiras, vi um novo rosto na sala. Naty. Ela era tão diferente, e não digo diferente por conta do seu rosto marcado, tinha algo nela que chamava atenção e eu não sabia dizer o quê. Seu cabelo, seu estilo, suas roupas, eram lindos, mas eram normais.

O professor Coan resolvera falar sobre gravidez na adolescência, e diferente dos outros dias, nos quais só discutíamos sobre o assunto em pauta, hoje ele quis fazer um trabalho, em duplas, e acabei ficando com a Naty, que além de linda, se mostrou muito simpática.

Durante toda nossa pequena conversa e também durante a aula, fiquei recebendo mensagens e ligações no celular de alguém incansável. Minha namorada.

“Oi meu amor, onde você está?” Bj.

“Hey, fiquei te esperando hoje, você chegou atrasado?” Bj.

“Oi lindo, por que você não respondeu?”

“Maxi, onde você está? Por que não veio aqui na sala hoje?”

“MAXI, ATENDE!”

Depois de todas e outras mensagens, ela me ligou e enquanto fui responder que estava na aula e não podia atender, Naty começou a fazer o trabalho proposto, e parou totalmente de conversar sobre assuntos que não fossem da resenha.

Ficamos a hora final da aula terminando o trabalho e depois fomos dispensados.

- O que tem agora? – Naty perguntou com seu horário na mão.

- Temos o intervalo agora, vamos para o refeitório e tals.

- Ah tá, obrigada!

- Olha só, se você quiser... – eu não consegui terminar a frase, fui interrompido pela ruiva que entrava furiosa na sala.

- MAXI! POR QUE VOCÊ NÃO ME RESPONDEU? – ela se aproximou de mim.

- Camila – falei calmo -, eu estava na aula, fazendo trabalho, não podia te responder.

- Hmm – ela deu de ombros. – Se você diz, eu acredito! Agora vamos, estou morrendo de fome...

- Tudo bem, deixa-me só colocar a carteira de volta no lugar, o professor pediu para deixarmos tudo em ordem.

- Com quem você estava fazendo trabalho? – perguntou desconfiada. – Com ela? – falou debochada apontando para Naty que estava guardando seus materiais na mesa ao lado.

- Sim, com a Naty – concordei.

- Nossa! – Camila somente exclamou isso e virou as costas para Naty enquanto eu terminava de arrumar meus materiais.

- Naty... – ouvi Violetta chamando-a.

POV Naty

Graças a Deus Violetta me chamou, não sabia mais como me portar com a namorada do Maxi, aliás, devia ser namorada, porque chegou pedindo satisfações e me detestou de cara porque eu fiz trabalho com ele.

- Vamos para o refeitório conosco? – Violetta perguntou. – Lá você vai conhecer nossos amigos.

- Ah, claro – respondi indiferente.

Começamos a caminhar e dei uma olhada para trás olhando para Maxi e sua namorada que já haviam “feito as pazes” e estavam abraçados próximos do lugar que estava sentada antes, meus pensamentos foram quebrados pela voz grave de León.

- Eles se merecem! – falou de repente.

- Quem? – não entendi o que ele quis dizer.

- Maxi e Camila, vivem brigando, mas acabam sempre juntos, sem merecem...

- Vocês não são amigos?

- Maxi é colega do León – Violetta começou -, conversamos com ele, mas só como colegas, não somos amigos, até porque, Camila odeia todos que não sejam suas amiguinhas – riu.

- Maxi é legal, mas não dá pra ser amigo dele assim – León completou.

Caminhamos mais um pouco em silêncio até pararmos na frente de uma porta de vidro, pela qual podia ver um grande saguão cheio de mesas e alunos por todos os lados. O refeitório. Entramos, nos servimos e fomos em direção a uma mesa onde estavam uma morena de cabelos lisos, com traços já conhecidos por mim e um moreno de topete sentado ao lado dela.

- Fran! – exclamei quando nos sentamos na mesma mesa deles.

- Oi Naty – ela sorriu.

- Vocês já se conhecem? – Violetta parecia confusa.

- Ajudei Naty a encontrar a secretaria hoje mais cedo... Vejo que você já conheceu o casal 20 da Universidade – ela riu se referindo a Violetta e León.

- Eles me adotaram na aula de Filosofia e Reflexão da Atualidade – ri.

- Fico feliz! Hm, esse é meu namorado – apontou para o menino ao lado dela -, Federico.

- Olá – cumprimentei-o.

- Oi, bem-vinda!

- Bom, já que todos se conhecem e dispensam-se apresentações, vamos comer que estou morrendo de fome – León falou por fim.

Ficamos sentados comendo, conversando e rindo. Descobri que León e Violetta namoram desde os tempos da escola, que passaram por poucas e boas para estarem juntos, mas ainda bem que estão, formam um lindo casal. Fran e Federico estudam juntos e namoram desde o começo da faculdade, ambos são italianos. Contei um pouco da minha vida para eles, que meus pais moram em Baires, dos meus avós e tudo o mais, mas não toquei no assunto Joaquim e eles, em momento algum perguntaram qualquer coisa a respeito das minhas cicatrizes, sim, cicatrizes, algumas grandes que carrego como eterna lembrança no rosto e no corpo.

Depois do almoço nos despedimos, Fran e Fede foram para o bloco das jurídicas, León para o tecnológico, e eu e Vilu fomos para as humanas/saúde, e pela primeira vez no dia fiquei aliviada de conhecer tantas pessoas. Nessa manhã, quando acordei e lembrei-me do meu primeiro dia de aula fiquei receosa de ter que encontrar e conhecer pessoas na Universidade, mas agora, fico agradecida por tal. Chegamos à sala e nos sentamos, não muito na frente nem muito atrás. Estávamos conversando descontraídas quando a ruiva de antes, Camila e uma loira adentraram na sala, e assim que me viram, andaram em minha direção.

- Novata! Detesto essa gente que entra no meio do ano... – a loira falou debochada.

- Já tive o desprazer de encontra-la hoje, fez trabalho com o Maxi, aff! – Camila comentou.

- Como o Maxi conseguiu fazer trabalho com ela? Olha isso! Que isso na sua cara? – a loira perguntou.

- Machucados, não está vendo? – respondi com uma pergunta.

- Você devia ter vergonha de sair de casa assim!

- E- eu... – não consegui encontrar palavras, e fui salva pela professora que adentrava na sala.

- LUDMILA, CAMILA, PARA SEUS LUGARES! – a professora falou com a voz aumentada.

As duas sentaram-se no fundo da sala e começaram a mexer em seus celulares sem dar atenção à aula. Fiquei sentada totalmente desolada pelo que acabara de ouvir, nem consegui prestar atenção. Ao final da aula Violetta, que o tempo todo notou meu desânimo, quebrou o silêncio.

- Tudo bem? Não liga pra elas, são duas esnobes... – acalmou-me.

- É – respondi somente isso. – Vou para casa, vovó me espera!

- Mas o nosso programa pós-aula?

- Não estou com cabeça pra isso, desculpa.

- Tudo bem, mas não se abale por causa delas, não sabem o que falam – ela sorriu sincera.

- Ok.

- Me liga, se mudar de ideia – entregou-me um papel com seu telefone.

- Obrigada! Tchau... Manda um tchau para o pessoal – levantei-me e sai da sala rumando para fora da Universidade.

Estava caminhando de cabeça baixa o mais depressa que conseguia sem correr, queria estar longe dali o mais rápido possível, porém, esbarrei em alguém assim coloquei os pés fora do prédio.