Bound to You escrita por Kael


Capítulo 8
My heart and I


Notas iniciais do capítulo

* nos episódios anteriores de Bound to You *

"Um pequeno acidente durante a aula de educação física, na Capital High School, acabou fazendo com que os caminhos de Peeta Mellark e Cato Langdon se cruzassem, logo no início do ano letivo. O atleta modelo da CHS se vê diante de uma descoberta acerca de sua sexualidade quando se vê atraído pelo garoto baixinho, com quem divide algumas disciplinas. Não demora até um certo desconforto começar a se instalar entre os amigos de Cato, diante da mudança de postura e interesses do garoto. Katniss Everdeen e Gale Hawthorne, melhores amigos de Peeta, acabam forjando um encontro entre ele e o loiro, pensando que faria bem ao amigo consumar o flerte de vez uma vez que o amigo mal olhava para algum garoto, desde seu término problemático com seu ex, Finnick Odair. A paixonite toma conta de Peeta e Cato, e após um vislumbre de como é ser julgado por sua sexualidade durante um pequeno churrasco de despedida de um casal de vizinhos, os dois pombinhos ficam alertas à novas questões: o que fazer a seguir? Ficar juntos, porém discretamente ou assumir algo concreto diante da escola inteira? "



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“Eterna” é uma palavra que podia descrever bem o que a aula de literatura inglesa estava sendo para Cato.

Não que o conteúdo em si fosse o problema, muito menos a professora – que o estudante considerava muito boa –, mas sim sua própria ansiedade que o impedia de focar em qualquer coisa que não fosse a tarde inteira que poderia passar de namorico com o dono das maçãs do rosto mais bonitas de toda CHS.

Tique-taque, tique-taque.

Como se não pudesse piorar, bem acima do quadro branco havia um relógio de parede que fazia questão de torturar a turma com a lentidão com a qual os ponteiros se moviam. Cada segundo se arrastava feito dias! O loiro só sabia bater com a ponta do lápis no caderno numa tentativa de descontar a frustração, enquanto sustentava a expressão de tédio e sofrimento com o queixo apoiado em uma das mãos.

— Cato – a voz de Glimmer o chama vindo da carteira de trás –, a não ser que esteja fazendo um ensaio em tempo real para algum cover de ...baby one more time eu acho melhor você parar de bater esse lápis – completou a veterana, em tom ameaçador –, esse barulho é irritante pra caramba.

Com um pedido silencioso de desculpas, Cato deixa o lápis de lado e passa a balançar a própria perna. Uma olhada ao redor e um sentimento de vergonha lhe acometeu uma vez que todos os colegas mantinham os olhares focados na professora, fazendo parecer que apenas ele próprio estava com a cabeça nas nuvens.

— Hey cara – ao seu lado, Tresh o cutuca com a ponta de uma caneta – está distraído hoje... está tudo bem?

— Sim – o loiro responde, simplesmente –, só estou ansioso para sair logo... tenho um compromisso importante hoje.

— E vai matar esperar só mais 20 minutos, sem ficar fazendo barulho? – retrucou ele, apontando para a sola do tênis batendo freneticamente no piso.

Apenas com um dar de ombros, Cato volta sua atenção para a lousa que já estava três vezes mais cheia... fato que o motivou a abrir o caderno em uma página em branco e começar a transcrever tudo o que via, mesmo que de forma mecânica, para ter pelo menos por onde se guiar nos estudos mais tarde, já que sua atenção na explicação estava totalmente desligada.

Hoje faz, exatamente, uma semana desde o acidente que virou a mente do capitão do time de futebol de cabeça para baixo... acidente que envolvia um garoto tímido, e pouco atlético, que acabou por cativar e despertar seu interesse.

Infelizmente – ou felizmente, para o desempenho escolar dos dois –, Peeta e Cato não fazem muitas aulas juntos, logo seus horários de saída nem sempre coincidiam. Fora o almoço, os dois conseguiam se ver apenas nas aulas de educação física, trocando poucas palavras em meio aos treinos e berros do treinador... de qualquer forma, era melhor do que apenas a interação usual por mensagens de texto, escondidas, durante as aulas.

Contudo, para Cato, a pior parte sem dúvidas era ter que ver o seu pequeno alguma coisa que ainda não namorado, ser liberado para ir para casa após o almoço, enquanto ele próprio ainda precisava enfrentar dois tempos de literatura.

Ao terminar de copiar, o coração do loiro palpita ao sentir o celular vibrar em seu bolso, não tardando a enxergar a foto de Peeta Mellark no visor da tela, indicando uma mensagem recebida:

 

Peeta: “Hey  :D ”

Cato: “Oi! ”

Peeta: “E aí, o senhor vai vir mesmo? ”

Cato: “Claro que vou! Ainda tem dúvidas? Poxa vida achei que confiava mais em mim. ”

Peeta: “Só queria confirmar! Estou esperando ansioso, lembra o caminho? ”

Cato: “Lembro mais do que o da minha própria casa kkkk :p ”

Peeta: “Haha bobo. Estou terminando de fazer um bolo, vem rápido senão como tudo! ”

Cato: “Humm, pode deixar que estarei aí o mais rápido do que um flash

Peeta: “Vou contar os minutos. Até logo ♥ ”

Cato: “Até, meu pequeno :* “

Peeta: “Não sou pequeno “

 

Sentindo uma mistura de ansiedade e paixonite, o loiro se manteve observando a tela do celular por mais alguns instantes até que, pego de surpresa, teve seus pensamentos cortados pela sirene que ecoava pelo colégio, anunciando o fim das aulas.

O doce som da liberdade.

Com a agilidade de um felino, Cato começa a recolher suas próprias coisas sem conseguir conter o sorriso estampado na face. Em poucos minutos, o atleta já fechava o zíper da mochila e se preparava para disparar para o estacionamento da escola, quando notou os olhares chocados dos amigos ao redor, em cima de si:

— O que foi? – perguntou, estranhando os olhares intimidadores.

Glimmer abriu a boca para responder, mas foi cortada por Tresh.

— Nada cara, é só que você parece que tem algo bem importante para fazer.

— Ué, não vai ao shopping com a gente? – pergunta Marvel, à direita.

Shopping... a palavra despertou algo na memória de Cato. Com dificuldade, ele conseguiu lembrar que há algumas semanas havia combinado um passeio pelo shopping com os amigos, por conta de algum motivo específico.

— Ah... – o loiro tentou pensar numa desculpa – é que... bem, surgiu um imprevisto importante e eu vou precisar correr para casa, desculpa.

O atleta achou melhor não dar detalhes sobre estar saindo com... um menino. Não por hora. Não enquanto não tivesse uma pista sobre como seus amigos – com exceção de Tresh – fossem reagir à novidade, ainda mais com as tentativas – às vezes nem tão sutis – de juntá-lo com Clove.

Mais importante do que dar um apoio para a Clove na véspera do campeonato de tiro ao alvo dela?

Sem jeito, Cato coça a própria nuca se arrependendo amargamente de ter se esquecido do evento. Mesmo que fosse um tanto irritante ter que lidar com as investidas da colega, ela ainda era uma de suas amigas próximas de longa data.

Todavia, ele tampouco podia – ou queria – furar seu compromisso com Peeta, dessa forma pensou em contar uma pequena mentira sobre seus pais estarem na cidade... essa desculpa nunca falhava, uma vez que todos ali sabem o quanto sua família próxima é ausente.

— Meu pai está chegando de viagem, preciso estar em casa para recebe-lo.

Como esperado, os olhares acusadores suavizaram.

Tresh levantou uma sobrancelha, desconfiado, mas preferiu relevar... suspeitava que o loiro fosse encontrar com o nerd da educação física, mas mesmo que fosse verdade não seria o momento de dar esta explicação sincera para os outros amigos.

— Sendo assim, a gente avisa para Clove... ela vai entender – diz Marvel, socando o braço do amigo, num gesto amigável –, mas se der aparece mais tarde.

— Se der tempo apareço sim, e prometo que ligo para ela – finaliza o loiro, já com a mochila nas costas.

— Mande um abraço ao tio Jim.

— Hum... claro! – respondeu, nervosamente – Agora deixa eu ir, até mais pessoal!

E com um aceno apressado, o atleta dispara pela saída da classe seguindo em direção ao estacionamento.

Uma pequena corrida de obstáculos se sucedeu, onde Cato tentava desviar dos corpos inertes e lentos que enchiam os corredores, pensando em como é bizarro o fato de, em plena sexta-feira, os alunos não dispararem apressados para casa depois de passar a semana inteira reclamando sobre o quanto detestam permanecer na escola.

No carro, o loiro não tardou a dar partida rumo a casa de Peeta Mellark, tomando a saída oeste do estacionamento da Capital High School, com a intenção de cortar alguns quarteirões e conseguir chegar mais depressa a casa do seu alguma coisa que ainda não um namorado.

No vão de acesso ao prédio do colégio, Glimmer, Marvel e Tresh, agora acompanhados de Clove, seguiam para a área aberta, na intenção de seguirem no carro de Glimmer até o shopping, quando notaram a traseira do carro preto de Cato atravessando a saída em direção a rua.

— Aquele não é o carro do Cato? – pergunta Clove, apontando para o veículo.

— Sim, ele vai tentar encontrar a gente mais tarde – adianta-se Tresh, em explicar –, pelo visto os pais chegaram de uma das milhões de viagens que fazem.

— Sim, eu sei disso, o Marvel me avisou... mas por que ele está pegando a saída oeste se a casa dele fica na direção oposta? – questionou a morena.

Glimmer fixou o olhar na saída oeste, chegando a pensar que o primo poderia estar os evitando. Porém, sem ter muitos motivos para tal, achou sensato pensar que Cato apenas tivesse combinado de encontrar os pais em algum restaurante, ou até mesmo estar indo busca-los no aeroporto. Eram alternativas coerentes, mas infelizmente não suficientes para espantar a pulga que coçava atrás de sua orelha, principalmente quando parava pra pensar no quanto o loiro estava distante ultimamente.

[...]

Uma música pop animada tocava na rádio.

Por ironia do destino a letra descrevia exatamente como o atleta se sentia perto de Peeta, principalmente nos poucos momentos em que puderam ficar um tanto mais... sozinhos, digamos assim. Seus dedos tamborilavam o volante – mais pela ansiedade do que pelo ritmo da música em si – antes que finalmente fizesse a curva que adentrava o bairro de Peeta. As casas tinham estruturas parecidas, cada qual com sua cerca baixa e gramadinho na frente, onde os respectivos donos davam seus toques pessoais em cada uma: alguns faziam jardins, outros construíam varandas, e por aí vai. Ao parar em um semáforo, o locutor da estação de rádio cortou o microambiente do carro com sua voz estridente:

“ E essa foi Selena Gomez com seu novo single ‘Hands to Myself’ para animar a tarde de verão de vocês aqui na FM307. São duas horas e cinquenta e três minutos, temperatura em torno dos vinte e sete graus, ensolarado em Capital City, mas que belo dia não acham?! Eu sou Caeser Flickerman, continuem ligados para mais música e informações! ”.

O semáforo esverdeou e, após fazer uma anotação mental com o nome da música, Cato deu partida no carro novamente, dobrando mais uma esquina, seguindo alguns metros à frente até entrar em uma rua adjacente que passava em frente a uma casa cor de pêssego com cercas brancas, onde morava um garoto baixinho.

Usando o retrovisor interno, o mais velho conferiu sua aparência e após se certificar que estava nos “conformes” enfiou um chiclete de menta na boca para evitar o mau hálito.

Ao sair do carro, Cato levou uma de suas mãos ao bolso achando melhor ligar para avisar que já havia chegado quando algo do outro lado da calçada lhe chamou bastante atenção: um grande caminhão de mudanças. Curioso, pensou em passar por ali para dar uma olhada, nutrindo a esperança de Joe e Greasy Sae tivessem resolvido permanecer no bairro.

Infelizmente logo que chegou a traseira do caminhão percebeu que os móveis que estavam sendo retirados pela equipe de mudança eram modernos demais – e totalmente opostos aos de madeira bruta que havia visto ontem – para um casal de idosos. Um carro esportivo prateado estava estacionado na garagem da casa... carro desses do tipo bem chamativo que normalmente apareceria em programas de televisão “ultra masculinos”.

Pelo visto a casa já tem novos moradores ”, pensou.

Após meia dúzia de palavrões, vindos dos homens de meia idade que carregavam a mobília, Cato decidiu dar meia volta já que, de fato, era um tanto inconveniente ter alguém xeretando a mudança alheia. Novamente alcançou o celular no bolso, girando nos calcanhares enquanto procurava pelo contato de Peeta quando uma voz lhe chamou atenção:

— Boa tarde rapaz, posso ajudar?

O visual casual composto por chinelos, bermuda praiana e camiseta nem de longe eram suficientes para tornar o homem a sua frente menos... presente. O rapaz não aparentava ter muito mais que vinte anos e seu visual, somado aos cabelos cacheados cor de areia e penetrantes olhos azuis o davam um ar ainda mais jovial.

— Ah... – o estudante corou ao perceber que encarava o homem a sua frente –, não! Quer dizer... eu só... fiquei um pouco curioso, eu conheci os antigos moradores da casa.

— Claro – o homem exibiu um aberto sorriso branco, digno de propaganda de creme dental – você não foi o primeiro haha. Comecei a mudança há algumas horas e já recebi bastante visitas.

— Desculpe, não quis ser intrometido – disse Cato, um tanto envergonhado – é que não pude deixar de pensar que talvez o casal que morava aqui tivesse mudado de ideia e resolvido ficar... bem, como já são de idade talvez estivessem precisando de ajuda – explicou.

— Agradeço muito – comentou o cacheado, os olhos cravados no atleta –, meus tios precisariam mesmo... fico contente em saber que fizeram boas amizades com os vizinhos, espero conseguir também – novamente um sorriso desconcertante.

— São seus tios? Que bacana! Bem-vindo ao bairro de qualquer forma...

— Sim – respondeu, simplesmente –, bom e você? Posso saber onde mora meu vizinho... curioso?

Cato estranhou a forma como o rapaz pronunciava as palavras... o olhar penetrante que não desgrudava parecia captar cada detalhe de seus movimentos como se pudesse ler seus pensamentos. Se não fosse loucura, poderia até dizer que o rapaz da bermuda praiana estava flertando consigo.

— Hum... não sou exatamente um vizinho. Meu amigo mora bem aqui em frente – apontou para a casa de Peeta –, conheci o Sr. e a Sra. Sae através deles, são pessoas incríveis.

— Agradeço o elogio, farei questão de dizer isso a tia Greasy – afirmou. Pela primeira vez o rapaz desviou o olhar de Cato para encarar a casa cor de pêssego do outro lado da rua –, hum... Mellark? Bom, mande lembranças a Tracy Mellark por mim. É uma boa mulher. Aliás como você se chama?

— Me chamo Cato, Cato Langdon – respondeu, estendendo a mão para um cumprimento formal –, conhece a Sra. Mellark?

O aperto de mão que se sucedeu foi firme e um tanto mais demorado que o habitual.  

— Muito prazer Cato. E sim, digamos que sou... um amigo da família. Passei algum tempo fora de Capital City para terminar os estudos..., mas agora que estou de volta pretendo viver por aqui – comentou, hipnotizando o atleta com os dentes branquíssimos –, vai ser bom ter alguém com quem bater um papo. Agora estou um tanto ocupado – finalmente soltou a mão do estudante, para apontar para o caminhão repleto de mobília –, mas apareça por aqui quando quiser.

O mais novo estava pronto para agradecer pelo convite quando um toque alto do celular do rapaz tirou o foco.

— Opa – disse o cacheado –, falando neles... tia Greasy – comentou mostrando o visor do celular com a foto da senhora idosa –, preciso ir.

— Claro, entendo... também vou indo. Bem, obrigado pela conversa e boa sorte com a mudança.

— Agradeço – sorriu –, vou aproveitar para dizer que você passou por aqui – sacudiu de leve o telefone –, falar do simpático elogio que eles receberam do rapaz bonito amigo dos Mellark. Até logo, Cato.

— Espera, o que disse? – o atleta questionou.

Perplexo com o elogio inusitado, Cato observou o rapaz se virar de costas falando ao telefone, como se nada tivesse acontecido, até que seu próprio celular vibrou sinalizando uma mensagem de texto.

Peeta.

Rapidamente o atleta respondeu, avisando que estava na frente da casa do menor, se preparando para apertar o passo para a frente da casa cor de pêssego quando a voz do rapaz bronzeado lhe chama a atenção:

— Até qualquer hora, Cato! – gritou, de dentro do quintal dos Sae.

O estudante ponderou por alguns minutos, até que decidiu retrucar:

— Espera! – chamou, parado no meio fio, prendendo a atenção do rapaz que tirou o celular da orelha por alguns instantes – Você não me disse seu nome...

Um novo sorriso, dessa vez de canto, se abriu antes que tivesse uma resposta.

— É Finnick... Finnick Odair Sae – respondeu, voltando ao telefone e rumando para dentro da casa.


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Notas finais do capítulo

Como diria Miley Cyrus em Midnight Sky: "Yeah, it's been a long time..."
Como vão vocês?
Sei que provavelmente foi o maior hiatus da história dos hiatus - acho que até o Togashi de HunterxHunter ficaria com inveja -, mas o que importa é que voltamos, certo?
Admito que parei de escrever essa história por não ter ideia do que colocar aqui..., acho que por ter sido minha primeira fanfic, comecei de maneira muito espontânea, só postando capítulos sem um roteiro sobre o que, de fato, eu queria fazer com a narrativa. Hoje já tenho uma noção bem melhor de que caminho seguir, então vamo que vamo!
Caso ainda tenha alguém por aqui, peço desculpas por toda a espera... sempre leio os comentários e penso o quão chato deve ter sido para todos que gostavam dessa história :(
Mas é como eu disse: o que importa é que estamos de volta.
Fortes abraços ♥ usem máscara.