Era um dia normal na sala de aula, todos em suas "panelinhas" conversando e eu sentada em minha cadeira rabiscando alguns rascunhos. O sinal tocou, o professor entrou e, antes de começar sua aula, deu um aviso:
- Bom turma, hoje temos uma novata em nossa sala, Hana. Sejam gentis com ela e façam amizade.
Eu apenas levantei os olhos para saber como seria a nova integrante daquela sala e acabei me deparando com uma linda garota. Era baixinha, cabelos longos e pretos, olhos verdes por trás de belos óculos e pele branca levemente amarelada. O tipo de garota que você só vê em instagram de gringo. Ou talvez nem veja, pois era uma beleza inigualável.
- Então é isso, Hana. Tem um lugar vago bem ali. - O professor apontara para o lugar ao meu lado.
Ela sentou-se e pude ver de perto seu rosto suave e delicado, ainda corado pela timidez. Como era delicada e feminina. Totalmente o oposto de mim, sou uma moleca. Ao contrário dela, sou alta, tenho cabelos médios, meio cacheados e bem vermelhos, olhos castanhos e pele nem branca nem morena.
Também não podia deixar de perceber os olhares masculinos que a secavam durante toda aula.

Ao tocar para o intervalo, enquanto eu arrumava o meu material percebi alguém parado ao meu lado. Antes que pudesse virar totalmente o rosto, ouvi uma voz meiga:
- Com licença? Sou Hana... Mas isso você já sabe. - Seu tom de voz ficou mais baixo por conta do nervosismo - Bem, não quero lhe atrapalhar mas...
- Não, que isso, não está atrapalhando. - A cortei sem querer, bem no meio de sua frase, fazendo com que ela desse uma risadinha antes de continuar.
- Como sou novata e não conheço muita coisa aqui, queria saber se poderia me acompanhar durante o intervalo...
Não falei nada, só conseguia olhá-la. E minha boca estava meio aberta. Sou uma idiota.
- Se tiver algum problema, se for lhe atrapalhar, tudo bem! - Disse a tal garota nervosa e num tom de desculpas. - Mas decidi pedir isso à você por perceber que não estava falando com ninguém e... Como sou meio tímida, não gosto de grupos muito grandes.
- Ah, sem problemas. Só não estou muito acostumada com alguém vindo falar comigo assim. Espere só enquanto pego meu lanche. - Ela assentiu com a cabeça e deu um sorriso aliviado.
- E qual seu nome mesmo?
- Clara.

Com o tempo, fomos ficando bem próximas, realmente amigas. Nunca havia me sentido assim perto de ninguém. Oque eu achava realmente estranho era aquele frio na barriga sempre que ficava perto dela... Pensando bem, faz algum tempo que fico ansiosa para a aula... Isso não é normal, não vindo de mim. Creio que a única coisa que continua normal em mim é que continuo sem prestar muita atenção na grande maioria das aulas. Só que, dessa vez, o motivo não era as músicas do meu celular e nem meu caderno de rascunhos. Dessa vez o motivo era... Não, espera!

*******

Já era véspera de provas e estava esperando Hana para estudarmos juntas. Apesar de nunca prestar muita atenção nas aulas, sempre fui boa na maioria das matérias, então iria ajuda-lá pelo fato de ainda não ter se adaptado 100% ao ritmo da nova escola.
Opa, é a campainha! Ok Clara, por que a senhorita foi correndo até a porta? E por que parou na frente do espelho antes de atender?

Estudamos por horas até que decidimos assistir um filme que eu tinha alugado para assistir naquela semana. Eu ia colocando o DVD enquanto ela fazia a pipoca, quando de repente, escutei um grito:
- Hana? O que houve?
- Ah, nada demais. Respingou um pouco de óleo na minha mão, só levei um susto mesmo.
Ela era tão fofa, tão sensível. Ficamos nos olhando por alguns segundos. Eu, admirando-a e ela me olhando com um olhar meio tímido e de garota desastrada.
- Mas então, como está ficando a pipoca? O cheiro está ótimo!
- Sim, já está pronta. Obrigada!
Voltamos para o quarto com os baldes de pipoca e os copos de refrigerante, sentamos nos puffs e dei o play.
O filme era de terror e ela ficou com bastante medo, estava constantemente se encolhendo e tampando a visão com o balde de pipoca. Nessas horas eu me aproximava dela e a abraçava. Claro que não podia deixar de rir e zombar um pouquinho. Adorava ver ela bravinha por eu perturbá-la, ficava mais adorável que o normal. E foi em um desses momentos em que ela estava bravinha e "reclamava" por eu estar rindo dela (ela gostava e sempre levava na brincadeira) que nós paramos de rir e, completamente sem aviso... Droga! O telefone tocou.
- Já volto. - Eu disse tentando disfarçar o meu nervosismo.
- Ok...
Depois de um tempo, voltei para o quarto.
- Que rápida. - brincou Hana.
- É, era engano.
Hana apenas riu colocando sua mão sobre a boca.
- Bom, está tarde, tenho que ir para casa.
- Verdade, nem vi o tempo passando. Te acompanho até a porta.
- Obrigada.
Chegando à porta:
- Ei, Hana... Me manda mensagem quando chegar? - Hana fez uma cara de desentendida. - É que está tarde e você vai voltar de ônibus, fico um pouco preocupada.
- Ok, sem problemas. - Sorriu. - Então, até segunda.
- Até! - Assim que fechei a porta foi como se meu corpo inteiro relaxasse e soltei um suspiro.
Fui arrumar as coisas e, enquanto arrumava os puffs, fiquei lembrando de tudo que acontecera. Pensando naquele maldito momento em que o telefone tocou... Droga, Clara, no que está pensando? Arrume logo tudo e vá dormir.
É, dormir... Bem que eu queria, mas meus pensamentos não me permitem.