Neville estava esperando a hora de ser transferido de um quarto para o centro cirúrgico, as mãos estavam trêmulas e inundadas de suor, o coração parecia estar batendo na garganta, os olhos marejados e os fones no ouvido, ouvindo a música que Luna havia cantado pra ele.

–Pudim? –Luna apareceu na porta do quarto.

–Entra. –Forçou um sorriso de lado.

–Você tá bem? –Segurou a mão dele.

–Indo como Deus quer. –Respondeu com um fio de voz.

–Tudo vai ficar bem Nev, nada vai acontecer com você e você ainda vai ajudar um grande amigo. –Sorriu para o namorado.

–Eu espero que tudo fique realmente bem. –Respirou fundo. –Meus pais estão ai fora ainda? –Perguntou e ela assentiu com a cabeça.

–Neville Longbottom? –Uma enfermeira apareceu na porta.

–Sim, sou eu. –Neville sentou-se na cama.

–Está na hora da cirurgia. –Dois enfermeiros vieram.

–Deus vai te ajudar e tudo vai dar certo. –Luna selou-o.

–Eu espero. –Abaixou a cabeça.

–Podemos ir? –Um dos enfermeiros perguntou.

–Vamos. –Neville olhou para Luna e os olhos lacrimejaram.

Então o rapaz foi levado até o centro cirúrgico deitado numa maca pintada de branco e que fazia um barulho insuportável.

–Bom dia Neville, eu sou o Doutor Matt Edwards e vou liderar a sua cirurgia, a Doutora Smoak, que a médica do rapaz para o qual você vai doar a medula está aqui presente também. –O homem tinha mais ou menos a idade de Lena, musculoso, olhos castanhos, tinha uma boa aparência.

–Tudo vai correr bem Neville, confie em mim. –Lena parou ao lado dele e o rapaz assentiu. –Vamos aplicar uma anestesia em você, tudo bem? -Assentiu novamente.

–Quando tempo vai durar doutora? –Neville questionou.

–Mais ou menos duas horas. – Sorriu para ele. –Está pronto? -Neville acenou positivamente e sentiu a agulha entrar nele e a anestesia tomar conta de seu corpo em pouco tempo.

Em seguida foram feitas várias punções, com agulhas, nos ossos posteriores a bacia e assim 15% da medula foi aspirada para fora.

Depois de duas horas e quatro minutos de cirurgia Neville foi levado de volta para o quarto, para se recuperar da cirurgia.

–Como meu filho está? –A mãe de Neville aproximou-se dos médicos.

–Ele está bem, Neville é um garoto forte e a cirurgia ocorreu perfeitamente. –Lena respondeu.

–Daqui a quantos dais Neville pode ter alta Lena? –Hermione questionou curiosamente e com um fio de preocupação.

–Daqui a poucos dias, vamos assegurar que ele não pegue nenhuma infecção ou coisas do tipo e daremos alta pra ele. –A médica retirou a luva da mão esquerda e depois da direita e as descartou.

–E daqui a quantos dias Draco receberá a medula? –Dessa vez Luna perguntou.

–Daqui a dez dias, durante esses dias Draco terá que ser submetido a altas doses de drogas denominadas quimioterápicas. –Respondeu rapidamente.

–E pra que serve essas drogas? –Hermione interessou-se pelo assunto.

–Essas drogas vão eliminar a medula óssea e o sistema imune do garoto Malfoy. –Dessa vez o médico pronunciou-se.

–Hermione esse é o Matt do qual eu lhe falei. –Lena apresentou. –Essa é Hermione. –O médico cumprimentou a menina.

–Foi um prazer conhecer seu noivo. –Hermione sorriu.

–Nos pelos corredores e nas visitas ao quarto de Draco. –Lena despediu-se.

–Foi um prazer Hermione. –Matt sorriu pra ela de forma cordial.

–Longos dias de espera. –Luna abraçou a amiga de lado. –Mas tudo vai ficar bem no final. –Beijou-lhe a bochecha.

–Deus assim queira. –Hermione respondeu.

Dez dias depois...

Draco estava deitado na cama encarando o teto esbranquiçado do quarto, o rapaz continuava careca e sem sobrancelha, os olhos azuis estavam fundos e bem mais acinzentados que azuis alguns ossos estavam bastante em evidência, a pele três vezes mais pálida que o normal.

–Chegou finalmente o grande dia. –Hermione exclamou.

–Senta aqui. –Pediu. –Se isso não der certo e eu não ficar bom, eu não quero mais me tratar. –Quase implorou.

–Você não pode desistir. Tem pessoas que precisam de você aqui, como eu, seus pais, seus amigos e agora sua irmã. –Desabafou.

–Pois é maninho, eu preciso de você. A gente nem brincou ainda. –A voz dócil chamou a atenção dos dois.

–Oi Manu. –Draco cumprimentou e a menina veio para um abraço.

–Não tente fingir que eu não ouvi o que eu ouvi, você não pode falar essas coisas porque você vai ficar bom e eu, você e a Hermione vamos colocar OC em prática. –Argumentou.

–Eu fui agraciada em fazer parte do OC? – Hermione bateu palminhas.

–Eu sei que Draco conta tudo pra você. –A menina caminhou até Draco.

–Mas você sabe que quando eu sair do hospital, será eu entrando e nosso pai saindo. –Suspirou.

–Nesse dia eu vou estar com dor de cabeça, no corpo e com febre e a Maria vai trocar meu comprimidinho por um tic tac, já combinamos tudo. –Revelou.

–Você armou um plano com Maria e nem me contou. –Reclamou.

–Você e Hermione ficam vinte e quatro horas aqui no hospital e eu precisei adiantar o plano. –Anunciou.

–Então estamos combinados a fase um do OC começará quando eu chegar em casa e você ficar “doente”. –Draco fez aspas com os dedos.

–Mano você tá muito magro e eu fiz uma lista de coisas que você tem que comer e trouxe pra Tia Lena e ela cortou as coisas mais gostosas, mas me ensinou a fazer umas coisas bem gostosos e eu vou ensinar pra Maria e nós duas vamos te deixar bem gordo. –Disse animada.

–E você e a Doutora Lena estão assim é? –Draco desdenhou.

–Assim como? –A menina questionou sem entender.

–Tia Lena. –Imitou a voz dela.

–Tá com ciúmes da Manu. Tá com ciúmes da Manu. –Hermione cantarolou.

–Não estou não. –Draco vociferou e depois riu.

–Menino Draco? –A enfermeira que Draco mais gostava apareceu. –Está na hora, menino dengoso. –Anunciou. –Vou dar um minutinho pra você dizer um “até daqui a pouco” e ai nós vamos te levar. –Disse e saiu do carro.

–Eu sei que já falei isso mais de um milhão de vezes, mas tudo vai ficar bem. –Hermione acariciou o rosto do rapaz. –Eu amo você. –Beijou-lhe ignorando os lábios ressecados do namorado.

–Eu também amo você. –Disse com os olhos marejados.

–Draco eu quero que você fique com isso, mesmo que você só use depois da cirurgia. –Manuela tirou do pescoço uma pequena corrente que tinha um pingente escrito “God”. –Vai com Deus, a gente se vê daqui a pouquinho. Vê se não demora. –Beijou o rosto do irmão.

–Ah meu filho, queria ter o poder de te tirar desse sofrimento. –Narcisa choramingou. –Amo você. –Disse quase que como uma despedida.

–Eu também mãe. –Sorriu de canto e olhou para o pai.

–Eu não tenho grandes palavras pra te dizer, não nasci com esse dom. Mas, eu... amo você meu filho. –Colocou a mão no ombro do filho.

–Eu também te amo pai e você sabe disso. –Afirmou.

Os enfermeiros entraram e quando começaram a mover a maca, Draco fez sinal para que parassem por mais um segundo.

–Amo você maninha. –Disse isso pela primeira vez e a menina segurou-se pra não chorar.

–Eu também amo você irmãozinho. –Sorriu pra ele que se esforçou para retribuir.

Então o levaram do quarto. Manuela correu e se agarrou a Narcisa e deixou que o choro invadisse o quarto, o som dos soluços da menina fizeram Lúcio sair da sala para não chorar.

–Tia Narcisa promete que ele vai voltar para a gente? –Disse entre soluços.

Narcisa não sabia o que responder, nem ela mesma sabia se Draco voltaria para elas. No entanto, a mulher abaixou-se e secou as lágrimas da menina.

–Se Deus quiser sim. –Encarou-a. -Se Deus quiser. –Repetiu.

A tensão tomou conta de Draco quando ele se viu deitado numa maca, novamente em centro cirúrgico. Lena olhava pra ele com nervosismo estampado no rosto.

–Você está pronto? –Lena perguntou e Draco apenas assentiu.

Algum tempo depois...

Os enfermeiros posicionaram Draco deitado na cama, o quarto estava vazio de pessoas. Draco dormia calmamente, tudo havia corrido bem durante a transfusão. Depois de algum tempo as pálpebras de Draco mexeram, os dedos também e então ele abriu os olhos devagar.

–Manu. –Chamou pelo nome da irmã.

–E se foi o tempo que você acordava e chamava pelo meu nome. –Hermione brincou.

–Desculpa. –Desculpou-se.

–Eu estava apenas brincando, é normal você estar apegado a sua irmã. –A menina ajeitou o cobertor do namorado.

–Onde ela está? –A claridade irritou um pouco os olhos de Draco e ele ficou com apenas um aberto.

–Seu pai a levou para casa contra a vontade dela. –Hermione pegou o celular. –Vou mandar um sms avisando que você acordou, ela estava muito preocupada. –Começou a digitar e enviou a mensagem.

Estrelinha, Draco já acordou e chamou por você. Ele está bem.

Durma bem...

Sua cunhada.

Hermione apertou o celular na mão e direcionou-se para Draco, ele estava aparentemente muito cansado mesmo depois de ter dormido muito.

–Volte a dormir, Narcisa foi até o refeitório, mas logo ela chegar pra dormir aqui com você. –Draco assentiu. –Amo você. –Declarou-se.

Draco apenas balbuciou um “Eu também”, Hermione sorriu e se sentou na cadeira. Dois minutos depois o celular vibrou e ela leu na tela “Estrelinha” e abriu a mensagem.

Oi cunhadinha, estou muito feliz por meu maninho ter acordado e agora eu vou conseguir dormir. Dá um beijo nele por mim (Na bochecha, toda hora você fica beijando a boca dele.. Ugh, adolescentes são nojentos), e diz que eu amo ele.

Boa noite... M.M

Hermione demorou um pouco para entender a assinatura de Manuela, mas então lembrou que agora ela também tinha o sobrenome do pai, então a assinatura da menina agora era MM- Manuela Malfoy.

Narcisa abriu a porta devagar e olhou para Draco com preocupação, Hermione levantou e caminhou até ela.

–Ele ainda não acordou? -Narcisa perguntou preocupada.

–Acordou, perguntou por Manu e dormiu de novo. –Explicou.

–Então vá para casa, querida. –Deu-lhe um beijo na testa.

–Obrigada, amanhã eu volto. –Acenou com a mão, deu uma última olhada em Draco e saiu.

O relógio marcou três e dezessete da madrugada, Draco se mexeu na cama e Narcisa estava olhando incessantemente para o celular.

–O que tem no celular? –Draco tentou virar a cabeça para o lado, mas estava com o corpo dolorido de passar tanto tempo deitado.

–Nada. –Narcisa travou a tela do celular e o colocou na mesinha. –Se sente melhor? –Perguntou enquanto ajeitava o travesseiro do filho.

–Estou. –Afirmou.

–O tempo passou voando. –Narcisa disse com um tom melancólico.

–Que dia é hoje? –Transferiu o olhar da parede para a mãe.

–Vinte e nove de dezembro. –Respondeu enquanto confirmava o que dizia examinando o calendário.

–Faltam três dias para o réveillon e ninguém me disse nada. – Reclamou e Narcisa ficou calada. –Por quê? -Questionou

–Não queremos que você sofra por não sair daqui do hospital. –Narcisa sentou-se novamente na cadeira.

Draco ficou em silêncio e o celular dele vibrou perto de Narcisa, a mulher estranhou o nome que apareceu na tela.

Ligação: ON

–Alô?

–Dona Narcisa, é o Neville.

–Eu sei.

–Eu não estava conseguindo dormir, eu queria saber se Draco está melhor?

–Está sim, ele acordou, mas está um tanto contrariado.

–Certo, amanhã eu ligo novamente.

–Boa madrugada.

–Pra senhora também.

Ligação: OFF

Narcisa colocou o celular na bolsa e observou uma lágrima pelo cantinho do olho do filho, ela não sabia exatamente o que passava na cabeça dele, mas podia apostar que era porque ele estava se sentindo culpado por sua família não comemorar o ano novo, juntos. Ela preferiu ficar em silêncio e deixar que Draco desabafasse tudo o que estava sentindo em seus pensamentos e logo após voltar a dormir.