Alguns dias depois...

Draco levantou-se e encarou a cama de hospital, estava vazia. Sem lençóis ou travesseiros. Nada. Absolutamente nada.

Olhou ao redor e suas coisas já não estavam mais ali, nem seus pertences, nem Hermione, ou sua mãe, ou seu pai. Nada e nem ninguém.

O rapaz saiu andando pelos corredores do hospital e ninguém o impediu de sair, mesmo sabendo que aquilo era uma fuga. Era como se fosse invisível.

O belo Malfoy de olhos azuis sentou-se no paralelepípedo e encarava os carros passarem para lá e para cá. Ninguém conhecido. O rapaz cansou de esperar alguém para busca-lo e fechou os olhos, segundos depois voltou á abri-los e estava em frente á sua casa. Adentrou-a.

E lá estava sua empregada com cara de tristeza trocando fotos dos porta-retratos, Draco entrou no escritório de seu pai e o mesmo encontrava-se digitando algo no computador. Normal para Lúcio, sempre fazia aquilo quando estava em casa.

Draco subiu as escadas e parou de frente ao seu quarto, lá estava Hermione vestindo um vestido preto e longo, o sapato que fazia um barulho chato no piso era da mesma cor.

–Dona Narcisa nós precisamos acha-lo. –Hermione estava de frente a mulher que parecia nem ouvi-la.

–Só um minuto Hermione, vou ligar para a manicure. –Narcisa digitava o um número no celular.

–Mas Narcisa... –Hermione bufou decepcionada.

–Hermione, meu amor, nós sempre soubemos que Draco sumiria. –Falou num tom frio e calmo. –Agora vou ligar para a massageadora, estou quebrada de ficar sentada naquela poltrona naquele lugar.

Hermione andou com passos apressados até a porta.

–Hermione. –Draco sussurrou.

A menina apenas passou por ele, como se ele fosse um fantasma. Draco estava pasmo, Hermione havia passado por “dentro” dele.

A doce Granger tentava descer as escadas correndo, mas o vestido era pesado demais e a impedia de fazer tal coisa. A moça entrou no escritório do sogro que estava ao telefone.

–Senhor Malfoy, Draco... –Foi interrompida por Lúcio que fez sinal para que ela parasse de falar.

–Só um minuto Granger. –Disse e voltou a falar no telefone.

Hermione estava indignada e subiu para o quarto de Draco e sentou-se no chão, pegou o celular e ligou para Pansy.

Ligação: ON

–Pansy, me ajude. –Choramingou. –Draco desapareceu. –Hermione parecia pasma. –Mas Pansy ele é o seu melhor amigo. –Draco queria ouvir o que Pansy falava, mas não podia. –Quer saber Pansy?! Dane-se você também. –Gritou Hermione ao desligar a ligação.
Ligação: OFF

Hermione esfregava as mãos freneticamente no rosto, deixando-o extremamente avermelhadas. Ela chorava um choro de pura angústia e desespero.

–Hermione. –Draco abaixou-se se sentando ao lado da menina. –Você precisa me ouvir, eu estou aqui. –Tentou pegar na mão na menina e ao invés disso atravessou-a.

–Por que Draco? Você tinha que ficar comigo. –Choramingou abrindo o relicário em formato de coração e lá estava a foto de Draco. –Você tinha que ter ficado comigo. –Disse baixinho passando o dedo indicador na foto.

Draco abriu os olhos e encarou o teto esbranquiçado, olhou para o lado e Narcisa estava ali na poltrona cochilando. Ele pegou o celular e viu que o relógio marcava três e quarenta e cinco da madrugada.
A partir desse momento Draco não conseguiu dormir. O que aquele sonho quis dizer á ele? Por que ninguém havia se importado com seu sumiço?

–Draco meu amor acordado tão cedo. –Narcisa ajeitou a coluna.

–Nem dormi direito. –Disse num tom triste.

–Por que meu filho? Será que isso é normal? –A mulher endireitou-se na cadeira e passou a mão no cabelo.

–Eu tive um sonho estranho. –O rapaz parecia estar se esforçando para lembrar-se de cada detalhe.

–Que tipo de sonho? –Encarou-o.

–Se eu sumisse a senhora iria se importar ou iria ligar para a manicure? –Narcisa arqueou a sobrancelha.

–Que tipo de pergunta é essa, menino? –A mulher deu uma gargalhada. –É claro que eu me importaria com você.

–Deixa pra lá mãe, é besteira minha. Coisa da minha cabeça. –Suspirou calando-se.

Algumas horas depois finalmente havia chegado a hora do dia que Draco mais gostava, a hora da visita.

–Oi amor. –Hermione entrou e selou o namorado. –Senti tanta falta de você. –Acariciou o rosto pálido do rapaz.

–Eu também sinto sua falta, todos os segundos da minha vida. –Draco estava diferente, estava sério.

–O que você tem? –A namorada perguntou preocupada.

–Eu queria falar com você. –Disse e olhou para o médico. –Já posso dar uma volta no jardim? –Olhou esperançoso.

–Considerando que hoje você está bem melhor, pode sim. Mas cuidado, muita precaução. –Avisou o médico.

Draco estava fraco, então o médico mandou que trouxessem uma cadeira de rodas até o quarto do rapaz.

–Pra que isso? –Reclamou. –Eu sei andar sozinho. –Tentou se levantar, mas assim que pisou no os pés descalços no chão sentiu seu mundo rodar.

–Por causa disso menino teimoso. –Disse o médico brincando.

Draco sentou-se na cadeira de rodas, o rapaz estava emburrado e sentia-se extremamente humilhado ao ser levado até o jardim por Hermione, que empurrava a cadeira.

–Tá bom aqui? –Hermione perguntou e Draco assentiu.

Draco perdeu-se em meio á seus pensamentos, ali era um lugar tão bom para pensar, era fresco, a grama era tão verde, e a árvore que estava acima do casal dava uma sombra perfeita.

–Draco, você queria me contar algo, o que é? –Perguntou sentando-se na grama, ficando de frente ao namorado.

–--> Ouçam a seguinte música:

http://www.youtube.com/watch?v=SyZUaBwv0dw

“Eu sonhei que estava desaparecido

Você estava tão assustada

Mas ninguém podia ouvir

Pois ninguém mais se importava”

–Pode parecer besteira Hermione, mas tive um sonho com você. –Engoliu á seco. –Eu sonhei que tinha desaparecido e que você estava com medo, você tentava pedir pra alguém me encontrar e ninguém te escutava ninguém se importava. –Abaixou a cabeça.

“Depois do meu sonho,

Acordei com esse medo

O que eu estarei deixando,

Quando eu acabar por aqui?”

–Quando acordei, tive medo de te perder, medo do que acontecerá quando eu partir e me perguntei o que eu estou deixando pra vocês? O que eu fiz de bom para ser uma boa lembrança pra vocês? –Disse com os olhos marejados.

–Draco não fala isso. –Hermione tentava relutar contra as lágrimas. –Eu tenho medo de te perder também. –Respirou fundo.

“Não tenha medo

De levar minha derrota.

Eu compartilhei o que eu fiz”

–Não quero que você tenha medo de nada Hermione, quando eu morrer eu vou levar a derrota comigo e você vai ficar bem. -Enquanto Draco falava Hermione levava a mão á boca abafando os soluços.

–Draco para com isso agora, você vai ficar bom porque você é um cara muito forte. –Passou as mãos nas bochechas tirando o excesso de lágrimas.

“Eu sou forte na superfície,

Não por completo.”

–Eu sei que sempre pareci ser forte, mas não sou tão forte assim. Finjo ser, mas não sou. Eu me sinto um fraco agora. –Confessou fechando os olhos.

–Você é forte, eu te conheço e sei disso. –Afirmou. –Você é forte Draco, você é perfeito.

“Eu nunca fui perfeito,

Mas nem você foi.”

–Eu nunca fui e nunca serei perfeito, Hermione. –Balançou a cabeça. –Ninguém é, nem meus pais e nem mesmo você.

–Eu sei, mas... –Tentou falar, mas sua voz havia sido abafada pelo nó que havia se formado em sua garganta.

“Então se você está me perguntando,

Eu quero que você saiba:”

–Hermione olha pra mim. –Pediu e a moça esforçou-se para obedecer. –Eu só que quero que você saiba... –Draco procurava uma maneira menos traumatizante para dizer aquilo.

“Quando minha hora chegar,

Esqueça os erros que eu cometi”

Draco lembrou-se de quando bateu em Harry e Hermione chegou para defender o amigo. Ele havia sido tão agressivo com ela, havia sido tão agressivo com todos.

“–Você acabou de ganhar um inimigo dentro desse colégio menina. Se cuida. –Draco cuspiu as palavras com rancor.

–Hermione que quando minha hora chegar, porque ela vai chegar, eu quero muito que você esqueça os erros que eu cometi. –Pediu, ou melhor, implorou.

–Draco... –A voz dela ainda continuava presa.

“Ajude-me deixar para trás algumas

Razões para ser lembrado.”

–Hermione eu quero te pedir mais uma coisa. –Os olhos azuis já estavam inundados por lágrimas dolorosas.

–Diga. –Disse com um fio de voz.

–Eu quero muito que você me ajude á deixar boas razões para ser lembrado. –Era um pedido sincero e doeu para a menina ouvi-lo. –Me ajuda?

–Claro que sim Draco. –Mordeu o lábio inferior.

“E não fique ressentida comigo”

–Draco não fala mais nada, tá doendo demais. –Pediu mexendo no anel de compromisso.

–Não fique chateada e nem ressentida comigo por estar fazendo você passar por tudo isso, por favor. Não posso suportar você ficar chateada comigo. –Respirou fundo e procurou não encara-la.

“Quando sentir-se vazia

Mantenha-me em sua memória,

Esqueça todo o resto

Esqueça todo o resto...”

–Eu não quero e não posso ficar sem você. –Hermione enterrou a cabeça nas mãos.

–Não quero que você se sinta assim. –Draco disse procurando os olhos grandes da menina.

–Você não... –Tentou falar.

–Quando eu morrer e você se sentir sozinha e vazia eu quero que você me conserve pra sempre na sua memória e esqueça as coisas ruins que fiz. –Draco disse e Hermione colocou a cabeça no colo do rapaz.

“Esquecendo

Toda a mágoa

Que você aprendeu a esconder tão bem”

–Eu quero também que você continue a ser essa menina boa, e esqueça tudo o que te fez sofrer e que esqueça toda a mágoa que tá dentro do seu coração e que você sempre escondeu. –Draco acariciava o cabelo da namorada.

“Fingindo

Que alguém pode chegar

E me salvar de mim mesmo.

Eu não posso ser quem você é.”

–E eu quero que você pare de falar isso, você vai se salvar. –Pediu ainda tentando controlar o choro.

–Eu fingir que acredito que alguém vai chegar e me salvar. –Draco, assim como Hermione, tentava controlar o choro.

–Esse alguém que você fala é Deus, Ele vai te salvar. –Disse cheia de fé.

–Eu não tenho tanta fé, eu não posso ser como você é. –Depois de ouvir isso Hermione levantou-se e encarou o namorado.

–Draco Malfoy se você não parar de falar isso eu vou te dar uma surra. –Disse decidida e arrancou um riso do namorado.

–Vamos entrar. –Draco chamou e ambos entraram.

–Vou aproveitar que a família Malfoy e a bela namorada estão presentes aqui para dar uma notícia. –O médico entrou no quarto. –Draco você se recuperou bem e posso dizer que semana que vem você terá sua alta. –Draco abriu um grande sorriso. –Mas isso não quer dizer muito, ainda temos um longo caminho. –Estava claro nos olhos do homem que a situação de Draco não era nada boa, ele estava tapando a situação real.

O pai de Hermione foi busca-la no hospital naquela tarde, ela estava tentando se esforçar para não se aprofundar em sua depressão.

–Pai eu vou dormir um pouco, ainda estou recuperando meu sono. –Sorriu para o pai e subiu para o quarto.

Ao entrar no cômodo preferido dela, a menina trancou a porta e se jogou na cama fixando o olhar no teto.

Hermione levantou-se da cama, colocou um papel em branco sobre a penteadeira e na mesma começou a escrever.

Ah Deus, o que eu faço pra mudar? Já não tenho mais tanta fé e minha esperança se esvaiu. O que eu vou fazer da minha vida se Draco morrer? O que eu vou sentir quando souber que ele se foi para nunca mais voltar?

Estou tentando, mas estou sobrevivendo com tantos nós na garganta que dói. Tento não pensar em tudo isso, mas mesmo só de tentar não pensar já penso.

Eu estou me propondo á continuar, mas está cada vez mais difícil. Ah Deus queira por misericórdia me salvar. Salva-me.

Hermione Jean Granger.

A menina dobrou o papel perfeitamente, abriu a gavetinha da penteadeira tirando de lá uma foto de Draco, grampeou o papel na foto e guardou-os dentro de um de seus livros preferidos.

Limpou as lágrimas e desceu as escadas para tomar o antidepressivo e comer alguma coisa. Mais tarde ela iria até a casa dos Weasley’s, ela e Gina estavam amigas agora.