O dia havia amanhecido frio, como sempre em Londres, novidade mesmo era quando amanhecia ensolarado.

Draco ainda se sentia mal, não queria ver os amigos ou ir á escola. O rapaz estava sentado na janela do quarto, Hermione só viria visita–lo após a aula.

–Draco? –A voz feminina soou na porta. –Posso entrar meu filho?

–Pode mãe. –Assentiu e a mulher sentou-se de frente á ele.

–Draco. –Pausou. –Sei que não tenho sido uma boa mãe, estive pensando e me lembrei de que não sei quem foi a sua primeira namorada ou com quem você deu o seu primeiro beijo. –Narcisa respirou fundo pesadamente.

–Mãe, isso é conversa pra ter com uma filha. –Draco fez careta.

–Eu sei, só queria saber mais sobre você. –A mulher tinha pesar em seus olhos que estavam inchados pelo choro.

–Tá, me deixa ver por onde começo. –O rapaz ficou pensativo. –Meu primeiro beijo com Pansy, nós tínhamos dez ou onze anos, foi na casa dela e digamos que Pansy passou quatro dias sem olhar pra minha cara. E eu lavei a boca quando cheguei a casa, eu odiei a sensação de formigamento nos lábios. –Confessou sorrindo.

–Foi bastante precoce. –Narcisa encarou o filho. –Você gostava dela? –Encarou curiosa.

–Eu não gostava dela, nem ela de mim. Nós só queríamos aprender juntos pra não errar na hora de beijar outra pessoa. –Dessa vez sentiu um pouco de vergonha no tom da voz dele.

–E a sua primeira namorada? –Cruzou as pernas.

–Minha primeira namorada foi a Astoria, eu nunca gostei dela. Nunca mesmo, odeio o jeitinho fútil dela. –Revirou os olhos.

–Por que você namorou uma garota que não gostava? –Entrelaçou os dedos os posicionando no joelho.

–Popularidade. –Molhou os lábios que estavam secos. –Eu queria estar sempre com a popularidade nas alturas, namorar ela só me ajudava a manter a popularidade.

–E a outra menina? Hermione. Como você a conheceu? –Narcisa encarou a foto de Draco em cima da mesinha.

–No ônibus escolar. –Sorriu ao lembrar-se. –Nunca tinha visto uma menina daquele jeito. –Suspirou timidamente.

–Que jeito? –Arqueou a sobrancelha discretamente por debaixo da franja.

–Uma menina tão linda, mas ela não estava mostrando o corpo ao contrário, ela estava usando uma saia preta com o comprimento até o joelho, blusa grande e de mangas grandes e com fones no ouvido. –Sorriu. –O jeito meigo dela me encantou desde que ela entrou então ela parou do meu lado e perguntou se podia sentar, eu não respondi, não consegui. Quando ela foi saindo eu dei permissão e ela se sentou e me perguntou se eu gostava de Taylor Swift. –Revirou os olhos mais uma vez.

–Deixe-me ver se eu acerto você a tratou mal. - Narcisa encarou o filho.

–Claro que sim. –Pausou. –Depois discutimos várias vezes, depois nos beijamos na biblioteca, eu a atropelei, descobri que estava apaixonado por ela nos ensaios do teatro, percebi que o que sentia era mais do que apenas gostar quando mão tive coragem de deixa-la no palco sozinha. Dancei com ela no aniversário da Pansy, fui ao cinema com ela e ai decidi dizer que gostava dela e começamos a namorar. –Fez um resumo.

–E você a ama de verdade? –Narcisa segurou a mão do filho.

–Amo, amo mais do que muita coisa da minha vida. Só amo ela menos que a senhora e menos que Deus. –Confessou sorrindo.

–Fale sobre ela meu filho. –Narcisa descruzou as pernas.

–A Mione é muito insegura consigo mesma e eu não sei por quê. O jeito tímido dela atrai os olhares de todos quando passa, sabe quando uma menina não precisa de maquiagem pra ficar linda?! É ela. A maneira como ela é pra mim já é o suficiente. Ela ilumina meu mundo como ninguém, o jeito que ela meche o cabelo me deixa arrepiado, quando eu elogio ela, ela simplesmente abaixa a cabeça e sorri para o chão. Se a senhora conseguisse ver o que eu consigo, entenderia porque eu quero passar a minha vida inteira com ela. –Ficou triste ao lembrar que tinha leucemia. –Ela tem um jeito irreverente, não parece só que ela é tímida. Amo o jeito dos olhos dela parecem ser duas estrelas, o cabelo dela recai perfeitamente nos ombros sem ela precisar fazer nada, quando eu a elogio ela não acredita, ela é simplesmente incrível, meu mundo para quando ela sorri. Amo a risada dela, é estranha, estrondosa, mas eu amo. –Sorriu de canto.

–Nunca pensei em ouvir você falar assim de uma garota. –Narcisa bagunçou o cabelo do filho. –Seu pai costumava me amar assim. –Suspirou tristemente.

–Como ele era? –Draco encarou a mãe. –Quero dizer, como ele era antes de se tornar um monstro de terno.

–Era o homem perfeito. Sabe Draco, quando olho pra você lembro-me do seu pai quando eu o conheci. –A mulher entrou no mundo das lembranças. –Nem sempre os olhos de Lúcio foram cinza frios, os olhos de seu pai costumavam ter brilho. Um brilho especial. –Disse triste.

–Onde você o conheceu? –Draco tornou-se um menino curioso.

–No meu trabalho, eu fazia faculdade e trabalhava na empresa de seu avô. –O pai de Narcisa já havia partido, mas enquanto esteve vivo apesar de ser um homem ocupado sempre deu carinho ao neto e o amava incondicionalmente. –Ele foi com o pai dele tratar de negócios e nos encontramos, no momento em que nossos olhos se cruzaram senti que o conheci á anos e tremi. –Draco estava visivelmente fascinado. –Não nos falamos de imediato, senti medo do que ele provocou no meu coração. No dia seguinte ele foi levar alguns papéis para o meu pai e nos encontramos no elevador, eu me assustei e deixei alguns papéis caírem e ele pegou pra mim e perguntou o meu nome, eu respondi claro e quando ele pegou na minha mão eu arrepiei. Na semana seguinte ele voltou lá e pediu pra sair comigo e eu aceitei de imediato. -Sorriu ao relembrar.

–Vocês se beijaram nesse dia? –Draco ouviu um barulho do lado de fora do quarto.

–Não. –Lúcio encostou-se à entrada do quarto. –Só a beijei no dia em que pedi pra namora-la, ou seja, um mês depois. –Narcisa e Draco ficaram surpresos com a chegada de Lúcio.

–Você não deveria estar no trabalho? –Narcisa levantou-se.

–Pode sentar. –Disse desencostando-se da porta. –Deveria, mas resolvi passar a manhã com a família.

–Tô surpreso. –Draco disse desconfiado.

–Draco... Eu dei isso pra sua mãe quando começamos a namorar. –Ele se aproximou do filho e lhe entregou uma caixinha e Draco a abriu. –Meu pai á minha mãe, eu dei a sua mãe e acho que agora ele tem uma nova dona. –Draco ainda olhava maravilhado.

Era um anel dourado, em formato de flor e tinha no centro uma pérola. Era delicado como sua avó era, delicado como sua mãe e delicado como Hermione.

–Acho que tenho que agradecer. –Draco disse relutante. –Obrigada... –Pausou como se estivesse em um conflito interior. –Pai.

Os olhos de Lúcio se encheram de lágrimas, era uma das primeiras vezes em anos que Draco e Narcisa viam sentimentos nos olhos de Lúcio.

–Narcisa eu posso ter um minuto com você? –Disse saindo do quarto e a mulher o acompanhou.

–Diga Lúcio. –Ela parou no corredor e tremia como da primeira vez que o viu.

–Ouvi você falar com Draco. –Respirou fundo. –Sobre mim, sobre nós.

–Sinto muito, não queria que ficasse chateado com isso. –Abaixou a cabeça encarando o chão.

–E não fiquei só lembrei. –Lúcio disse com seu tom habitual de superioridade mesmo que tentasse não passa-lo ali naquele momento.

–Lembrou de que? –Narcisa disse enquanto ajeitava a manga do vestido longo que usava.

–De quem já fui um dia. –Lúcio passou o dedo na aliança. –Eu só quero saber se você ainda quer o divórcio? –Abaixou a cabeça pela primeira vez tentando disfarçar a tristeza de seus olhos acinzentados.

–Não acho que seja hora pra falarmos sobre isso. –As lágrimas brotaram. –Draco está doente e precisa de nós dois. Dê-me um tempo pra me acostumar com a ideia da separação e Draco também. –Disse saindo.

–Draco arrume algumas coisas para viagem e chame sua namorada. –Lúcio apareceu no quarto do filho.

–Mas por que pai? –Draco levantou-se.

–Vamos para a casa de praia, passar o final de semana. Eu, sua mãe, você e sua namorada. –Antes de sair virou-se novamente. –Vocês dois em quartos diferentes. –Draco sorriu de canto com a preocupação do pai. –Ah, Draco quando for dar o anel pra ela, faça que seja especial. Especial para ela nunca mais esquecer. –Não sorriu, ainda era cedo pra sorrir.

–Como você entregou pra minha mãe? –Draco sentou-se na cama e Lúcio fez o mesmo.

–Nada muito especial e é por isso que me arrependo. Apenas tirei do bolso e entreguei a ela num piquenique. Não faz meu estilo ser romântico e estar num encontro assim já era demais pra mim. –Passou a mão no cabelo e se levantou. –E Draco, só quero te fazer uma pergunta. –Disse já estando na porta.

–Diga. –Deu sinal para que prosseguisse.

–Você a ama? –Lúcio estava mais sério do que o normal. Não bravo. Mas sério.

– Eu a amo. –Disse sem medo ou arrependimento.

–Era isso que eu esperava ouvir. –Uma expressão serena tomou conta do rosto do homem.

–E você pai, ainda ama a minha mãe? -Draco sentiu medo de ouvir a resposta, mas sabia que precisa ouvir aquilo.

Silêncio. Tudo o que Draco ouviu foi silêncio. Silêncio torturante e impiedoso. Lúcio apenas saiu. Draco suspirou ao menos ele não disse que já não a amava mais.