– Me beija.

Ao escutar aquilo, Sam parou de ler seu mangá e limpou suas orelhas com o dedo.

– Acho que tô ficando surda, tô ouvindo mal as coisas. – disse, voltando a ler seu mangá. – O que disse, mesmo?

– Me beija. – Carla repetiu a mesma frase que falara antes, séria. Desta vez, Sam fechou cuidadosamente o mangá e olhou sua amiga com uma cara de 'WTF”?

– What the hell?! – a garota otaku estava incrédula. Elas eram amigas há anos e Sam nunca desconfiara que a amiga possuía sentimentos homoafetivos em relação a ela...

– Não é o que está pensando, idiota. – Carla suspirou, já sabendo o que a amiga estava pensando. – Só quero que me ajude em uma coisa.

Sam passou a mão em seus cabelos negros curtos como sempre fazia quando estava confusa.

– Não...? Então o que é? Ajudar em quê? – dava para ver que sua mente já estava entrando em colapso. Ao ver isso, Carla começou a gargalhar, fazendo seus cachos negros se mexerem um pouco.

– Véi, na boa, acorda, cara! – Carla deu uma tapinha na cabeça da amiga, que logo revidou, começando um combate mortal envolvendo travesseiros e pelúcias. Foi preciso da ajuda de um juiz que aparecera ali (lê-se: mãe da Carla) para interromper a luta feroz.

Quando sua mãe foi embora, Carla começou a explicar:

– Presta atenção, idiota. – Sam fez uma careta e tentou bater na amiga, sem sucesso. – Eu quero sua ajuda.

– Cê já disse isso. – Sam colocou um chiclete na boca – Agora explica direito.

A morena esperou alguns segundos para tomar coragem e explicar. Pelo visto, parecia muito importante para ela. Quando Sam cuspiu o chiclete, Carla começou:

– É que tem uma pessoa que eu tô a fim... – Sam levantou as sobrancelhas, como se dissesse “Ooh!” – E tudo indica que ela também sente o mesmo... – Sem colocou a mão na boca, murmurando um “OMG” – E, quem sabe... A gente pode acabar ficando e... – Sam não conseguiu se controlar mais.

– MENTIRA QUE TEM GENTE QUE GOSTA DE VOCÊ! – gritando, Sam assinou seu atestado de óbito. Carla voou em seu pescoço ne mesma hora e a garota de cabelos curtos só n]ao conheceu o outro mundo ali mesmo porque a mãe de Carla apareceu ali com salgadinhos.

Os salgadinhos foram devorados rapidamente e Sam já pressentiu o perigo que sentia. Tentou desconversar.

– Então... No que quer que eu a ajude? – perguntou extremamente educada e gentiu. Obviamente, Carla não se deixou enganar, mas deixou passar, pois aquele era um omento muito importante.

– Quero que me ajude a beijar. – a morena olhava a amiga completamente séria. Sam percebeu tal seriedade e deixou de brincar.

– Mas eu não tenho nenhuma experiência com isso... – a garota de pele branquíssima não pôde ser mais sincera, baixando a cabeça, envergonhada. Carla sorriu.

– Não precisa. Por que não descobrimos juntas? – a morena se aproximou da amiga, ficando a centímetros de seu rosto. Sam levantou a cabeça e percebeu a distância quase inexistente entre as duas, engolindo em seco.

– Tudo bem... – disse, porém já não pensava em mais nada. Os olhos cor de âmbar de Carla a hipnotizaram de tal maneira que Sam ficou se perguntando de onde veio aquele sentimento todo.

Ao ouvir a resposta afirmativa da amiga, Carla a beijou.

Foi um beijo tranquilo, curto, mas o suficiente para virar o mundo de Sam de cabeça para baixo. De repente, ela se lembrou do que sentira quando vira Carla nua pela primeira vez. De quando a vira se apaixonar pela primeira vez. Se lembrou deste sentimento estranho, porém forte, que tinha enterrado no fundo de seu coração.

E que agora voltou com mais força ainda.

Carla terminou o beijo e ambas ficaram mudas. Sam olhava constantemente o cão e a morena mantinha uma fixação em seus dedos. Aquele momento de tensão só acabou quando a mãe de Carla apareceu com mais salgadinhos.

Já pensou se ela aparece antes e vê o beijo? Foi o que as duas só conseguiram pensar o tempo todo. Comeram os salgadinhos rápido e logo Sam recomeçou a ler o mangá, não dizendo uma só palavra. Carla olhou seu Facebook. Foram longos minutos de silêncio.

Sam foi a primeira a falar.

– Você não beija bem. – sendo delicada como sempre, suas palavras foram como uma facada no coração de Carla.

– Você também não! – revidou a morena, já querendo chorar. San era mesmo uma insensível...

– Então precisamos treinar mais! – a outra disse, completamente vermelha. Ela não conseguia encarar Carla, que ficara completamente envergonhada também.

Segundos de silêncio. Sam já estava pensando em se matar cheirando a caixa de areia de seu gato quando Carla falou, quase inaudível:

– Tudo bem.

Sam a encarou, incrédula. Carla estava bem envergonhada, mas mantia um sorriso em seu rosto. Ao ver isso, a outra abriu um grande sorriso.

– Não vale ficar com ninguém até eu dizer que já está pronta, certo? – disse firme a garota de cabelos curtos, olhando envergonhada para o lado. Carla sorriu ainda mais, confirmando com um “sim” bem alto. Pensando que Sam mal sabia que era isso que a morena mais queria.

Não beijar mais ninguém, só ela.