Daniel estava em seu dormitório escolhendo uma roupa para a festa dos jogadores do time de futebol. Escolheu uma calça jeans desbotada e velha e procurou uma camiseta, mas não achou nenhuma. Em duas semanas ele já havia usado todas as camisas e, o cesto de roupa suja estava cheio, provavelmente teria que ir o quanto antes a lavanderia. Depois de muito revirar a gaveta, ele encontrou uma camiseta preta. Ele a pegou e viu algo cair no chão, um pano vermelho e comprido, um cachecol. O cachecol que há muito ele não via. Provavelmente veio enrolado na camiseta sem que ele notasse. Ele aproveitou para usá-lo, já que seu figurino estava tão sem graça.

Ele calçou seus tênis velhos que estavam perto da porta e desceu os degraus, rumo ao caboose, onde aconteceria a festa. 

Seu colega de quarto, Chad, já havia ido à festa, pois estava ansioso para encontrar uma garota de quem ele não parava de falar desde o primeiro dia de aula.

Havia varias pessoas andando pelos corredores iluminados da Emerald. Casais, grupos de amigos, pessoas rindo com se estivessem assistindo uma comedia... Aquele era um lugar agradável.

A noite estava fria e o céu escuro com alguns pontinhos brilhantes. O pátio estava bem iluminado e havia mais algumas pessoas conversando, mas os olhos de Daniel pararam em uma garota sentada em um banco de pedra, em meio a arbustos de peônias. Ela parecia encantada com as flores ao seu redor e se abaixou como se fosse sentir o cheiro delas.

Ele se aproximou sem tirar os olhos dela. Era estranho como ele se sentia, suas mãos começaram a suar e de repente ele sentia algo no estomago como se ele fosse vomitar. Ele nunca havia se sentido dessa forma em relação a uma garota, na verdade, ele nunca havia se sentido daquela forma em nada.

- Oi.

Ele disse e ela pulou ao ouvi-lo. Ela levantou o olhar lentamente como se tivesse assustada. Ele apressou-se a dizer:

- Desculpe. Não quis assustar você.

Ela olhou fundo em seus olhos o que fez com que o estomago inquieto de Daniel se embrulhasse ainda mais.

- Não foi por isso que tomei um susto. Quero dizer... – a flor que ela segurava caiu de sua mão. Ela não pareceu ter notado, pois continuou olhando fixamente pra Daniel. Ele tirou sua atenção de tudo e de todos que estavam ao redor, aquela garota era tudo que ele via e não queria deixar de ver. Seus longos cabelos negros molduravam seu rosto tão bem desenhado e seus grandes olhos castanhos tinham um brilho enquanto ela não os desgrudava de Daniel.

Então Daniel percebeu que devia está babando enquanto a olhava. Ele sorriu para si mesmo com esse pensamento e levantou a mão, ela arregalou os olhos e ele ficou se perguntando: “O que ela pensava que eu ia fazer, mostrar o dedo pra ela??”.

Ele acenou chamando a atenção dela para o que ele ia dizer.

- Meu nome é Daniel.

Ela olhou fundo em seus olhos novamente e disse:

- Luce. Lucinda.

- Bacana – ele sorriu – tipo Lucinda Williams, a cantora.

Ela o olhou impressionada e ele cada vez mais não conseguia tirar os olhos dela.

- Como você sabe disso? Meus pais se conheceram num show da Lucinda Williams em Austin, Texas. É daí que vem o meu nome.

Ele achou incrível tudo que ela havia dito. Os pais dela gostavam de Lucinda Williams, ela gostava de Lucinda Williams, o nome dela era uma homenagem e ela era do Texas. O que mostrava que ela devia ser bem diferente das garotas da Califórnia.

- Essence é o meu disco preferido dela. Eu o escutei durante a metade do caminho ate aqui, vindo da Califórnia. Texas, é? Está sendo difícil se acostumar com a Emerald?

- Choque cultural completo. – sua expressão se relaxou e pareceu que ela se sentiu aliviada de alguma maneira.

- Você vai se acostumar. Pelo menos eu me acostumei, depois de dois anos. – um olhar de pânico se espalhou pelo rosto de Luce e Daniel estendeu seu braço e tocou no ombro dela – Estou brincando. Você parece muito mais adaptável do que eu. Na semana que vem, quando eu vir você de novo, já vai estar completamente em casa, usando um moletom com um E enorme estampado.

Ele acompanhou o olhar de Luce, que estava fixo na mão dele apoiada no ombro dela. Então ele percebeu que ele a tocara e isso desencadeou uma serie de explosões em seu peito como fogos de artificio no ano novo na Times Square. Ele sorriu com esse pensamento e ela também sorriu.

- Você quer – ela falou como se estivesse nervosa o bastante pra falar – sentar?

- Sim. – ele não hesitou em responder. Era o que ele queria, sentar ao lado daquela garota e passar o resto da noite descobrindo coisas sobre ela. Ele olhou para o dormitório onde acontecia a festa – Você por acaso sabe onde está rolando uma festa do pessoal do time de futebol?

Ela apontou para cima.

- Eu estava lá; é só subir as escadas.

- Não estava legal?

- Estava – ela falou rapidamente – mas eu...

- Quis pegar um pouco de ar?

Ela balançou a cabeça afirmando.

- Eu ia encontrar um amigo. – Daniel deu de ombros e olhou para a janela, onde Chad estava flertando com uma garota ruiva, essa devia ser a garota de quem ele tanto falara. Ele olhou para Luce. – Mas talvez já tenha encontrado.

Ele piscou para ela e ela o olhou com um pequeno sorriso no canto da boca.

De repente, ele pensou em algo então perguntou:

- Você esta fazendo biologia celular nesse trimestre? – perguntou ele.

- Nem pensar. Mal consegui sair viva dessa aula na escola. – ela o olhou e aquele olhar curioso e meigo ao mesmo tempo, fez com que seu pensamento não fosse só imaginação.

- Porque está perguntando?

Ela esperou que ele respondesse. Ele balançou a cabeça, meio envergonhado com a bobagem que falaria. Não tinha sentido. Eles acabaram de se conhecer!

 - É que... você parece familiar. Poderia jurar que já nos vimos antes.