Meu coração começou a disparar. Eu comecei a suar frio. O papel tremia por causa da minha mão.

– Abre.- Milcilene falou

– Não dou conta.

– Da sim. Você já disse tudo. Vai seguir em frente. Só precisa saber o resto. – Natalia disse.

Criei coragem, e já saindo uma lágrima, eu abri o papel.

Querida Bruna,

Me sinto muito mal de saber que lhe causo dor. Os tempos na minha vida não foram fáceis também. Não se comparam aos seus, mas servem para explicar. Eu havia saído a pouco tempo de um relacionamento e você apareceu. Chegou de repente, conquistou minha confiança, minha amizade e logo meu coração. Sim, eu gostei de você. Mas, pelo último relacionamento, uma espécie de parede se criou no meu coração, impedindo que ela fosse quebrada. Você não conseguiu fazer isso, mesmo sendo quem é. Uma pessoa alegre, bonita, de bem com a vida. Essa pessoa com quem estou agora, conseguiu. E estou muito feliz com ela. Peço milhões de desculpas por te deixar assim. Acho que como você me conhece, sabe que não foi minha intenção. Entendo você e respeito sua decisão de me manter distante, mas saiba que prezo muito nossa amizade.

Após ler a carta, saí correndo do banheiro. Foi como se algo me sufocasse e eu precisasse correr daquilo. Corri soluçando, buscando algum lugar que ninguém pudesse me ver ou perguntar o que estava acontecendo. Estava acabado. Eu sabia que teria que ir em frente.

Mas então vem a pergunta: como se desiste do amor? Nunca o senti antes. Sabia que ele doía e muito. Acabava com meu coração. Mas como fazer ir embora?

Eu já não aguentava mais correr. O corredor era grande. Desisti da corrida e sentei em um banco, me deixando gritar de tanta dor.

Natalia e Milcilene chegaram e me abraçaram. Não disseram nada. Pode parecer bobeira minha reação a tudo, mas é a primeira vez. Não sei como reagir. Sei que muitas lutas virão, dificuldades, principalmente com minha mãe. Mas eu não consigo ser forte o tempo todo. Não consigo.

Fiquei ali, sendo abraçada pelas duas por um bom tempo.

As lágrimas pareciam ter acabado. Secado. Como se meu corpo já não tivesse mais nada. Olhei pras duas e disse a elas que estava bem. E precisava. Era minha decisão de a partir de agora seguir a vida. Me levantei e fui em direção ao auditório, para continuar a assistir as atividades. O destino parecia já estar de brincadeira. Abri a porta e Gustavo veio em minha direção. Tentou falar algo, mas a única coisa que fiz foi fingir que não o vi e procura algum outro lugar para me sentar.

[...]

Depois de um tempo que estávamos sentadas, Natalia não parava de olhar para trás.

– O que você tanto olha?- perguntei.

– Ele. Tá olhando pra cá o tempo todo.

– Hum.

– Acho que ele ficou incomodado.

– Naty, sei que é amiga minha e dele também. Mas se puder não ficar falando dele, agradeço.

– Desculpa.

Continuamos lá. A ideia de não falar com ele mais, me doi. Eu acabei de tomar uma decisão. E que vai ter que dar certo. A vai.