Se o diabo existe, isso foi obra dele.

Sério.

Primeiro porque... Como isso pôde ter acontecido? Tipo, acontece demais nos filmes e tal, mas na vida real? What? Como assim, cara? Isso contraria as leis da física, velho. E sabem o que é o pior? Sabem? O pior de tudo é ter que olhar a si mesma no espelho e ver a pessoa que você mais odeia.

Até o nome dela é odiável. Rosalinda. Que tipo de nome é esse, Jesus? Coisa do século passado. Não é como o meu, Stephanie. Nome lindo, assim como eu. Ai, tenho nojo só de me ver nesse corpo magro e sem peito e bunda dela. Essa pelo oleosa detestável. E esse cabelo? Completamente destroçado.

Isso é porque ela não liga para a aparência, completamente o contrário de mim. Cabelos loiros perfeitos e bem cuidados, pele macia, curvas nos lugares certos. Por isso tive milhões de namorados e ela, nenhum. Até porque, ela tem algo que eu mais odeio nela. Ela gosta de garotas.

Que nojo!

E agora, estou nesse corpo nojento. Como vou sair do banheiro assim?

― Ei, para aí de chorar e sai, porra! ― ouvir minha voz falar palavrão dessa maneira me deu um ódio profundo, tanto que realmente saí pronta para bater nela. Então lembrei que aquele era meu corpo.

Ela me olhava de maneira detestável.

― Sai do meu corpo! ― eu disse, já querendo chorar de novo. Ela suspirou de impaciência e me encostou na parede do banheiro. Era cômico, porque meu corpo era mais alto que o dela. Mas para mim era trágico.

Era realmente uma situação estranha.

― Olha aqui. ― começou ela, com minha voz aguda que não combinava em nada com seu jeito de falar ― Se controle. Temos que dar um jeito nessa situação, porque eu não quero viver como uma patricinha idiota pelo resto da vida!

Quis revidar, mas não pareceu o melhor momento.

Como não falei nada, ela me soltou e voltou a encarar a si mesma no espelho do banheiro. Estava desesperada, assim como eu. Afinal, ela também me odiava.

Me lembro do dia em que nos conhecemos. Foi neste banheiro mesmo. Eu estava trocando de roupa, na hora que ela entrou. Ela ficou encarando minha beleza incrível, e eu percebi isso.

― Desculpa, eu não gosto de sapatas. ― eu tinha dito, gargalhando logo depois. Todas as garotas do banheiro riram, e ela saiu vermelha de raiva de lá. Eu fiquei com meu sorrisinho vitorioso, mas por pouco tempo.

Algumas semanas depois, ela me encostou na parede e me beijou.

Lembro que no dia foi um caos geral no colégio. Ela foi chamada à diretoria e foi suspensa. Eu fiquei chorando, óbvio, e todos falavam palavras de carinho para mim. Mas por dentro eu sabia que eram todos falsos. Adoraram me ver naquela situação horrível.

Mas sabe o que é mais horrível? Eu achar que ela até que não beija tão mal assim.

Balancei a cabeça, tentando tirar esses pensamentos de minha mente. Levei os dedos ao meus lábios, que na realidade eram dela. Esses mesmos lábios que tocaram o meu.

Estranho, eu deveria estar sentindo nojo. Mas ao invés disso...

―  O sinal vai já tocar, temos que voltar à sala de aula. ― ela disse de repente, me fazendo tirar os dedos dos meus lábios na velocidade da luz. Eu engoli em seco. Como assim eu deveria agir como ela? Como uma sapatão?! E agora? O que vai ser de minha vida?

O pior era que eu nem imaginava como as coisas iriam piorar a partir daquele momento.