E conseguir dormir era tudo o que eu mais queria.

Para quem não cerrou os olhos faziam três dias, até que eu estava bem.
– Meu Deus Liza, o que aconteceu com você? - gritou Louise assim que me viu adentrar sua casa. É, acho que eu não estava muito bem não.
– Insônia amiga, sempre a maldita insônia.
– Mas a insônia sempre vem por um motivo. - disse assim que se sentou no sofá e eu a segui fazendo o mesmo.
– Nem sempre. Mas eu confesso que essa teve um motivo. - sorri triste, assim que percebi que a preocupação estampou seu rosto. - Eu fui embora mais cedo do pub ontem. - comecei e vi ela afirmar com a cabeça. - Só que quando eu estava prestes a atravessar a rua, eu senti uma voz me fazer parar. E era ele, Louise. - pausei, procurando um sinal em seu rosto para que eu continuasse. E encontrei. - Enfim, ele me perguntou o que eu fazia ali e eu expliquei, omitindo o óbvio claro, e depois... Bom, depois ele começou a ficar estranho demais. Ele já estava estranho, ele estava tenso, a voz sombria e fria e parecia não querer muito contato. E der repente, ele diz ''Só toma cuidado.'' - imitei sua voz, e Louise arqueou as sobrancelhas.
– E por que ele diria isso?
– Não sei. Ele disse isso depois que comentei de Matheew.
– E por que comentou de Matheew?
– Ele perguntou se Mat estava me incomodando, dai eu disse que não. - suspirei.
– Estranho. - Louise soltou pensativa, encarando seu tapete.
Flash de ontem vinham à tona em minha mente me fazendo tentar, outra vez, entender o porque ele disse aquilo. Era estranho mas eu queria saber.
– Então esse foi o motivo da sua insônia? - der repente sua voz me despertou.
– Sim... - respondi e sua expressão se retorceu. - Estou tão mal assim?
– Tá brincando? Você tá com enormes bolsas em baixo dos olhos, suas olheiras já estão roxas e parece que seus olhos estão tão fundos que daqui a pouco não vão mais existir.
– Meu Deus.. Eu preciso dormir. - respondi pasma vendo Louise levantar-se.
– Primeiro, tome um banho e depois, durma aqui mesmo. Vai que você acaba dormindo no carro e não consegue nem chegar em casa.
Subi até a parte superior da casa de Louise fui direto para o quarto de hospedes onde tinha algumas roupas que eu sempre deixava lá como reserva. Nunca sabia se voltaria para minha casa ou para a dela.
Assim que adentrei o quarto, me celular vibrou no bolso da calça e eu retirei-o assim percebendo que havia chego uma mensagem. O número era desconhecido até então. Ao abrir, havia assim.

''Liza, aqui é o Matheew. Acho que lembra-se de mim porque não havia sinal de embriaguez em você ontem. Consegui seu número com uma das meninas. Desculpe se foi muito rude mas eu precisava falar com você novamente. Acho que ontem não foi o suficiente para te conhecer e talvez infelizmente dizendo, seu rosto me perseguiu a noite inteira ontem. Mas você não me deve desculpas uma vez que eu adorei isso.''

Simples assim. Meu cérebro não processava nada a não ser a voz dele repetindo ''cuidado.'' Mas do que eu deveria temer? Matheew fora educado comigo e essa mensagem só deu a entender que ele quer me ver de novo. Que ele se interessou. Porém eu não sabia decidir se era ruim ou bom. Se eu deveria responde-lo ou não. Minha mente girava e eu cai de costas na cama apagando no minuto seguinte sem me importar se deveria voltar para a casa hoje.

– Liza? - ouvi uma voz soar longe. - Liza? Acorda! - a voz se aproximou e meu corpo balançou de um lado para o outro. - Liza, acorda! - e então, meus olhos se abriram de súbito. Louise estava me balançando onde eu apaguei.
– Ah Louise..- gemi contra a luz do Sol que entrava pela fresta da cortina.
– Vem, você virou a noite. Estava mesmo muito cansada. - respondeu saindo do quarto. Fiquei ali por alguns segundo me lembrando do porque dormir tão der repente ontem. Acho que Louise não precisava saber da mensagem. Nem que eu a responderia. Sim, eu a responderia. Alias, não via mal algum nisso. Acho que enquanto dormia, meu cérebro processou inúmeras coisas que só agora eu tinha consciência. Ele me disse para tomar cuidado mas não me disse o porque. Ele estava estranho comigo der repente. Eu não faria o que ele havia pedido até ver algum perigo próximo. Já bastava eu ter me afastado de muitas pessoas quando ele me deixou e agora, ao reaparecer der repente, ele ainda quer que eu afastes mais? Não seria tão fácil assim. Ou ele me provava que havia perigo ou eu provava desse perigo eu mesma. E assim seria.

''Claro que me lembro de você. Desculpe por aquele dia, eu estava realmente com alguns problemas e cansada demais para continuar lá. Mas adoraria continuar nossa conversa.''

Envie. Alguma coisa me dizia que era errado mas, quer saber? Eu sempre fiz tudo errado na minha vida. Querendo ou não, inocentemente ou não. Tudo dava errado, até nas melhores intenções. Mesmo que eu programasse cada mísero detalhe, algum poder sobrenatural vinha e estragava tudo. E isso foi me desgastando com o tempo até que um dia, eu já não ligava mais. Que quando tudo dava errado de vez, eu já nem me importava. Nem uma lágrima escorria mais. E se isso fosse realmente errado, quem sou eu para ligar? Porque para mim já não existia mais o certo, e sim o errado que sempre guiava as minhas decisões, por mais crente que eu deveria fazer o ''certo.'' Complexo e paradoxo mas era o que minha mente produzia. Ou começou a produzir.
Suspirei derrotada contra meus pensamentos e desci a procura de Louise. Porém, minhas decisões já haviam sido tomadas.