Talvez agora seria a hora de encara-lo frente a frente, como adultos. Mas porque meu interior tremia tanto?

– Sim? - perguntei, assim que me virei completamente para ele que me fitava com uma expressão curiosa.
– Ah.. O que faz aqui? - perguntou, não dizendo o que realmente fazia ali.
– Fui convidada a uma comemoração para uma amiga de Louise. - menti. Ele apenas encarou-me tentando absorver o que eu tinha dito. Seus olhos brilhavam mais que a lua naquela noite e eu tentava não dar ouvidos ao meu lado que dizia como ele estava lindo ali, comigo.
– Aquele cara te incomodou? - perguntou, se referindo a Matheew.
– Não, aliás, ele foi muito educado comigo. - disse, percebendo sua expressão cair para incredulidade.
Tinha motivos suficientes para ter dito aquilo daquele jeito. Eu não poderia ceder a ele. Eu não poderia dar ouvidos a parte do meu corpo que tremia, do meu ventre que esfriava, dos meus pés que formigavam e das minhas mãos que suavam frio. Não depois de tudo o que ele havia me feito passar. Pode ser; infantil da minha parte, mas ele foi embora. Ele simplesmente foi embora e não me deu nem a chance de saber o porque. Me deixou ali, com a pior dor que um ser humano pode ter.
A dor de amar alguém.
– Mais porque a pergunta repentina? - soltei, antes que ele começasse um dialogo que eu não conseguisse sair.
– Nada, eu só achei que ele estivesse te perturbando. - respondeu simplesmente, como se não tivesse se afetado. - Conheço ele.
– Conhece Matheew? Como? - quando eu menos esperei, as palavras saltaram da minha boca, pegando-me de surpresa.
– É uma história meio longa e complicada. Mas não somos amigos mais. - tranquilamente tragou seu cigarro e eu tive que morder meu lábio para não sair correndo e ataca-lo ali mesmo. Seus olhos miraram o nada parecendo evitar meu contato.
– Hm, legal. Ele é amigo de Louise também, então. - sorri minimamente e me afastei devagar. - Vou indo, estou cansada.
– Espera. - disse mais uma vez, e dessa vez eu parei mas não retornei a posição anterior. - Eu precisava te dizer algo.
Respirei fundo.
– Diga. - respondi apenas.
– Só toma cuidado. - sua voz, desde do começo, era estranha. Era tensa, sombria. Parecia até que estava evitando conversar comigo por alguma coisa. Era misterioso, e esse motivo estava acabando comigo.
– Tomar cuidado com o que? - perguntei, encarando-o agora. Seus olhos miravam algo atrás de mim. Virei rapidamente e observei onde ele fitava com tanta intensidade. Porém meus olhos apenas se depararam com algumas árvores na calçada onde o breu da escuridão cobria tudo. Assustador, porém não havia nada ali. - O que... - comecei a falar, agora percebendo que ele havia ficado totalmente tenso. Sua mandíbula estava travada, seus olhos opacos e escuros e suas mãos fechadas em punhos. Ele não olhava para mim mas sim, para o local que minutos antes eu analisava tentando entender o que havia ali.
– Você está me assustado. - sussurrei, e então, seus olhos viraram-se para mim. Num misto de surpresa e confusão, ele soltou o ar que havia prendido quando paralisou totalmente seus músculos.
– Desculpe. - soltou simplesmente, virando-se e caminhou para dentro do pub novamente. Sem mais nenhuma palavra. Sem um direito de explicação.
Eu fiquei parada no mesmo lugar apenas observando-o andar duramente. Estava tudo tão estranho. Não, tudo havia ficado estranho. Der repente assim do nada. Não que eu estivesse surpresa sobre ele, até porque ele sempre fora assim, estranho. E esse era um dos milhares motivos de eu gostar tanto assim dele. Mas agora, depois de dois anos e na situação que eu me encontrava, era estranho as atitudes que ele estava tendo. Aparecer tão frio e responder tudo tão sombriamente para mim. Era muito, muito estranho. Mas eu morderia minha língua para não correr atrás dele e perguntar o que diabos ele queria que eu tomasse cuidado e o porque ele estava tão diferente. Não, eu não faria isso. Apesar de todo meu corpo gritar para fazer totalmente o oposto.