REMEMBER ME escrita por Amber


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Leia o capítulo ao som de ''Creed - My Sacrifice.''



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E talvez entrar naquele lugar fosse a pior ideia que eu já tive.




Estava do mesmo jeito que dois anos atrás. Muitas pessoas que a dois anos atrás frequentavam aquele bar de esquina, ainda jaziam suas presenças ali. Não era qualquer bar de esquina. Era bonito, com um espaço amplo, música ao vivo de melhor qualidade e nas paredes, alguns quadros e pôsteres de bandas antigas de rock internacional.
E adentrar aquele lugar, me dava um misto de saudade e desespero ao mesmo tempo. As lembranças não eram muito boas mas eu amava aquele lugar. Era como se eu não pudesse mais ficar longe. Tornou-se um vício ir sempre lá, tomar a mesma bebida e ficar ouvindo aquelas músicas já tão conhecidas por mim. Era para pensar na vida e me conformar com a pessoa que me tornei durante esses dois anos. Ah.. como eu amava aquele lugar.
Assim que entrei, procurei uma mesa o mais distante possível de todos e do palco. Só tomaria uma boa e velha dose de whisky e quem sabe um copo de cachaça para não lembrar de nada.
– O que vai querer, Liza? - perguntou Beth. Eu a olhei sorrindo e respondi:
– O de sempre. Mas agora, quero um copo de cachaça de brinde, por favor. - pisquei, e ela se retirou rindo já indo buscar meu pedido.
My sacrifice ecoou pelos cantos daquele estabelecimento me fazendo tremer dos pés a cabeça. Eu deveria ter saído dali no minuto seguinte mas preferi deixar a música embalar meus sentidos, me preenchendo daquele tão costumeira dor.
– Aqui está, uma dose de whisky e seu copo de cachaça. Bom proveito. - desejou-me Beth. Apenas assenti agradecendo-a, já virando um bom gole de whisky assim que percebi que a música não havia acabado.
Ai estava eu de novo. Bebendo para poder ver se esquecia que já não tinha mais sonhos. Que já não tinha mais esperanças. Que minhas crenças já não existiam mais. Mas ainda havia aquele maldito amor em mim. Que depois de dois anos eu ainda não consegui dissipa-lo ao todo. E era por isso que eu bebia. E agora, partia para o copo de cachaça para não lembrar de mais nada.
– Com licença, mas o senhor da mesa a frente disse para eu lhe entregar isso. - aproximou-se o garçom novo, e entregou-me um papel amassado.
Já prevendo o que era, desdobrei-o e assim havia
''Uma linda moça não pode sentar-se para beber sozinha. Uma pena que já estou acompanhado, mas se puder passar seu telefone e entregar para o mesmo homem que entregou-lhe isso, podemos modificar essa cena um outro dia.''
– Só pode ser brincadeira.. - bufei, amassando o papel ao mesmo tempo que varria o lugar com os olhos para procurar esse ridículo ser que me cantou mesmo estando acompanhado. Nada achei. Mas que se fodessem todos eles.
Levantei-me ao terminar e senti tudo rodar. Ótimo, já estava bêbada e poderia ir pra casa. Saí do local trombando em várias cadeiras recebendo aqueles típicos olhares de pena e sarcasmo por eu estar bêbada demais para dirigir retornando a minha casa.
Cruzei a porta pronta para ir ao meu carro, quando sinto algo me tocar.
– Liza..- repreendeu-me John, o velho e carinhoso segurança de lá.
– John! - gritei, abraçando-o calorosamente. Ele retribuiu-me mas depois nos afastou com um olhar que parecia preocupado sobre mim.
– Vai embora desse jeito mesmo? - perguntou e eu apenas assenti sentindo aquela enorme ânsia aflorar-me o estômago. - Olha seu estado, não pode dirigir a sua casa assim ou então nem consiga chegar nela. - disse, colocando uma mão em meu rosto. Pobre John, e pensar que ele não sabia o meu objetivo.
– E talvez seja melhor assim. - respondi sorrindo. - John, sei que está preocupado comigo e que não vai adiantar eu pedir que não o faça, mas eu prometo que assim que chegar em casa, te ligo avisando da minha infeliz sobrevivência.
– Então ficarei esperando para sempre. - debochou-se. É, talvez ele não me deixaria sair dali.
– Tudo bem, farei o seguinte. Vou até meu carro somente para fumar um cigarro. - comecei e seus olhos já disparavam desconfiança. - Prometo-lhe que é só para isso, tudo bem? - perguntei, apertando sua mão em demonstração de confiança. Porém John bufou dando-se por vencido e ainda não acreditando na minha velha desculpa, sorriu assentindo. Retornei seu sorriso e fui para meu carro tropeçando em meus próprios pés. Depois de alguns minutos tentando achar a chave do meu carro, senti alguém segurar-me o braço.
– Olha John eu já diss....- comecei virando-me e não vi o rosto de John. Na verdade, eu vi o rosto de outro homem. Uma hora eram dois, outra hora um. Mas eu não o conhecia. Ou eu conhecia e o efeito de esquecimento da cachaça já havia me tomado por inteira.
– Me desculpe mas, quem é você?
– Nunca achei que fosse conseguir mas, agora estou odiando o fato do efeito que a cachaça faz. - respondeu, e continuou a me observar. Ele não continha pena nos olhos e nem sarcasmo, e isso já me aliviou. Mas ele me analisava como se já me conhecesse.
– Deve estar se perguntando se eu a conheço. - começou, como se lê-se meus pensamentos. - E sim, eu te conheço.
– Ah qual é, não me lembro de ter visto você. - ele sorriu. E algo dentro de mim anunciou que eu já havia visto aquele sorriso em algum lugar. Impossível...
– Desculpe mas, não posso permitir que você vá embora nesse estado. - anunciou, firme.
– Ordens do John? - arqueei uma sobrancelha. - Aliás, eu nem sei quem você é.
– Não sabe porque bebeu demais. - assegurou. - Olha, eu não posso te deixar ir embora assim, tá bem? Você pode colocar sua vida risco desse jeito. - e dos meus lábios, saíram uma risada irônica até demais.
– E quem te garante que não é isso que eu pretendo fazer?
– Então por que não fez das outras vezes?
– Porque não era hora. - bufei revirando os olhos. Seus braços mantinham-se fechados em seu peito. E ao reparar nisso, eu vi que ele não tinha um físico que atraiam grande parte das mulheres. Seus cabelos eram grandes até pouco acima do pescoço, e seu rosto era realmente muito bonito. Estava com uma camiseta das minhas bandas favoritas. E um sorriso que era lindo, realmente lindo. - E não me venha com discursos sobre felicidade ou como a vida é bela porque eu já passei da fase de crer em alguma coisa. - falei antes mesmo que ele começasse com aqueles discursos que Louise já havia cansado de ditar à mim.
– Por que acha que vou dizer isso? - aproximou-se, encostando-se no carro, ficando com o corpo de lado para ele e de frente para mim.
– Ora, não me deixa ir embora porque acha - pausei, enfatizando a palavra. - que estou bêbada. Por que desconfiaria que não venha me dizer que Deus está me preparando algo melhor?
– Não creio em Deus.
– Ótimo, porque eu também não. - menos mal, pelos menos me livrei de ouvir palavras bíblicas fajutas que já me davam náuseas.
– Eu não posso lhe falar o porque de não querer que vá embora nesse estado. Até porque - sorriu mirando o chão. - Só faria sentindo se lembrasse de mim.
– Então tente me dizer amanhã, porque o efeito não é duradouro, infelizmente.
– Mas você sempre tenta prolonga-lo.
– Tenho motivos. - respondi rapidamente, fazendo-o me fitar sério. - Eu não tenho mais nada a perder. Venho nesse bar porque esse maldito sentimento ainda vive em mim. Sufoco-o até sentir pena de mim mesma, e quando vejo que ele merece um pouco de liberdade, me dou o privilégio de sentar naquelas cadeiras e ouvir ele gritar feliz por ser solto. - aumentava gradativamente o som da minha voz. Seus olhos se prenderam nos meus, atentos ao que eu dizia. E eu nem sabia o que estava dizendo, sabe-se lá se esse estranho poderia saber ou não. Mas ele era a única companhia que eu tinha naquela noite. - Sabe, eu não bebo por motivos banais. Bebo porque cessa minha dor, bebo porque libera o meu monstro interior. - sorri triste. - Bebo porque... Porque a vida é tão cansativa e inútil. Porque esse Deus que todos veneram já me tirou tanta coisa que um dia eu achei que me pertencia e amei mais que tudo. Porque um dia eu achei que realmente fosse ser feliz, e hoje, essa palavra nem faz mais sentindo pra mim. - sentindo as lágrimas já encheram meus olhos, eu mirei o céu cheio de estrela sob minha cabeça e respirei o mais fundo que podia. - Porque eu percebi tarde demais o quão sozinho somos nós nesse mundo. As pessoas não tem sentimentos. Nenhuma delas. A felicidade não existe, assim como o amor e todos os outros sentimentos que fazem do ser humano um ser fútil. E eu percebi isso tarde demais, amigo. - suspirei alto. E em um momento, eu me senti mais leve de colocar tudo aquilo para fora. Foda-se que era para um estranho qualquer, eu apenas necessitava colocar aquilo de uma vez por todas para fora. Me senti mais calma e meu interior se calou, que antes gritava como mil pessoas juntas.
De soslaio, vi seus lábios se abrirem em um sorriso triste, porém consumidor. Ele me compreendeu? Ele não iria me julgar? Sair por ai rindo ou então assustado?
– Parece que somos mais parecidos do que eu sequer imaginava... - sussurrou mais para ele mesmo do que para mim, porém pude ouvi-lo e não contive em mira-lo. Seu rosto estava bem mais perto e seus olhos brilhando mais que qualquer estrela lá em cima.
– Não vai me dizer que pensa a mesma coisa?
– Está muito bêbada para que eu possa dizer algo que queira que se lembre amanhã. - e seu sorriso se alargou, agora se afastando um pouco mais de mim. Ele estendeu sua mão à mim e eu entrei em confusão.
– Permita-me leva-la para casa?
– Isso seria a mesma coisa que dizer que estou indefesa?
– Sim. Mas que não É indefesa. - sorriu novamente. Droga, se ele continuasse dando esses sorrisos, me veria obrigada a fazer uma lavagem cerebral para poder dormir tranquila. - Qual é, só quero te levar para a casa, tudo bem? Não vou fazer-lhe nada, prometo. Só não seja teimosa. - pediu, ainda mantendo sua mão até mim. Mordi meu lábio em dúvida. Claro que eu gostaria de chegar em casa mas também não queria que ele me levasse por obrigação ou até mesmo por dó.
– Eu estou bem. Já disse isso. Não vou deixar meu carro aqui. - argumentei.
– John leva para você e depois eu o trago de volta. Não tem problemas, não precisa ficar inventando-os. - sorriu vitorioso e eu revirei os olhos. Que estranho teimoso.
– Por que está tão preocupado, hein?
– Talvez porque eu não possa te perder dessa vez. - foi então que sua expressão mudou para seriedade completa. Eu já não assimilava muito bem, depois disso então, já não sabia nem o que pensava. Era estranho ouvir isso dele já que eu não o conhecia, ou pelos menos não lembrava de onde o conhecia e, der repente, ele fala isso. Qual é, achei que tivesse me livrado desses homens que não fazem nada a não ser paquerar mulheres bêbadas e ''indefesas''. Porque meu cérebro só sabia dizer que isso foi uma cantada. E talvez fosse, que seja. Não estava com cabeça para desvendar enigmas.
– Não sei nem sei nome. - segurei-me no meu último argumento. Mas sabia que não era tão válido assim.
– James. James Maclay. - sorriu. - E você é a Liza Maccurdy. Prontos, estamos apresentados.
– Tudo bem isso foi meio assustador. Você saber meu nome sendo que eu não disse nada. Mas deve ter sido John, ele sempre acaba falando o que não deve. - murmurei, balançando as mãos em negação e ele apenas riu. Lavagem cerebral assim que chegar em casa? Confirma!
– Olha, eu já fiz isso antes, tá bem? Já fui embora daqui desse jeito. Do mesmo jeito que estou agora. - menti, torcendo profundamento que ele acreditasse em mim. Porque eu já estava desistindo de lutar, sentindo minhas pernas dando-se por vencidas.
Ele passou as mãos pelos cabelos e suspirou profundamente, antes de retorna-los a mim mais convictos do que antes.
– Olha, me escuta. Eu só quero te levar para casa, está bem? Por favor, só me deixa te levar para casa. Pode parecer loucura mas você não pode arriscar sua vida agora que eu encontrei você. - respirou, voltando a falar. - Se eu puder te levar e ver que você realmente chegou em casa bem, eu prometo que a próxima vez que você tiver desse jeito, te deixarei ir embora. Mas por favor, me deixa te levar em casa hoje. É só isso que estou pedindo. - terminou, colocando as mãos no bolso e esperando uma resposta. Eu encarei-o ainda sem acreditar no que ele dizia e dei-me por vencida. Talvez uma parte de mim ainda queira sobreviver.
– Tudo bem, eu vou com você. - fechei meus olhos, passando as mãos pela testa não acreditando que eu realmente disse aquilo.
– Até que enfim. - suspirou aliviado, e pegou minha mão, puxando-me para começar a andar até seu carro. Não protestei, suas mãos estavam quentes e passavam algo bom para mim.
Avistando seu carro, ativou o destravando das portas e entramos no carro. Encostei minha cabeça no vidro e deixei-me embalar pela música que saia dos altos falantes bem baixinha, fazendo meus olhos se fecharem e a escuridão cobrir-me de vez.













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Notas finais do capítulo

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