Borrões escrita por hipyao


Capítulo 6
Carta 5




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Quando tomei consciência de meu destino, não era em tempo. Já havia tombado para o lado de uma decisão, eu optei pela saudade. Saudade de cada momento vivido com você. Meu até então, futuro esposo, agiu de forma cativante comigo. Me deu carinho. Fez de tudo pelo meu amor. Para que meus olhos denunciassem ter te esquecido. Para que meu corpo pertencesse a ele e não a você. Em momento algum abandonei a honestidade, essa virtude se enraizou em meu peito depois da relação que tive contigo. Esse tipo de conexão, só acontece uma vez em toda a vida, qualquer que seja a vida, em qualquer que seja o tempo. E a compreensão de meu esposo quanto a isso, era o que mais me deixava contente.

De certa forma, me sentia injustiçada. Cometi um atentado contra meu coração. Tudo bem, você não foi tudo que eu um dia, sonhei. Você não beijou carinhosamente a fronte de minha cabeça e sussurrou que a tempestade iria passar, porque você sabia que não iria. As dificuldades, os ventos, sempre balançariam nosso barco e nada nunca poderia estar perfeito. Era isso que você queria que eu entendesse, mas todo o meu romantismo me impedia de quebrar essas barreiras ilusórias. Você não foi meu ideal romântico e eu levei um tempo excessivo para perceber que eu não queria um ideal, queria você, exatamente do jeito que era. Eu aprendi, da pior maneira, que nada é do jeito que almejamos, mas simplesmente do jeito que é e isso não torna nada necessariamente ruim. Aprendi que o amoro amor não é feito do que é pra ser, é feito do que é. Se eu amasse uma ideia de você, não poderia estar lhe dizendo que o amor que tivemos foi real. E agora eu sei, ele foi. Ele é. Sempre será. E eu preciso de cada mínimo pedacinho desse doce pro meu coração.

O tempo passou e as notícias de você eram cada vez mais raras, não porque fosse difícil encontrá-las, mas porque com uma linda garotinha nos calor de meus braços, eu não tinha tempo para lamentar amores perdidos. Agora eu tinha um amor muito mais terno. Um amor que precisava dos meus olhares de atenção. E eu sentia esse amor com toda a força de minha alma, aquelas mãozinhas reconfortavam as dores causadas pelo buraco que era a falta de você.

Não consigo expressar em palavras a vontade que eu tinha de lhe apresentar minha filhota, Anne. Isso mesmo, Anne, o nome da sua mãe. Eu sei que as crianças nunca o agradaram, mas para mim era praticamente impossível pensar que não se encantaria pelo brilho daquele olhar. Por fim, minha vida era uma maré calma. Eu jamais estaria plenamente feliz, mas o que me era dado, me proporcionava o mínimo desse sentimento. Eu tinha conforto e uma filha linda, além de um marido que se dedicava a mim, até aquele incidente. Creio que você tenha visto em algum noticiário. Ah, por que o meu bebê? Todo aquele dinheiro para roubarem de mim a coisa mais valiosa, que nenhum dinheiro poderia comprar. Maldita é essa fortuna. Quando se tem tanto dinheiro, tem uma proporção igual de oportunistas. Gente da pior laia. Gente que foi capaz de por fim numa vida tão breve. Numa alma tão inocente.

Aquela perda me levou praticamente a loucura. Todo o meu corpo tremia em rejeição das palavras de descrença proferidas pelo delegado. Anne tinha de voltar, eu precisava dela para precisar de mim. Queria afagar seus pezinhos minúsculos novamente. Queria o escutar aquele chorinho agudo. A depressão se apoderou de mim, não via mais sentido naquilo tudo. As duas únicas pessoas que fui capaz de amar, foram tiradas de mim.

De repente percebi que a perda de minha filha, era irreversível, mas a sua, não. Eu ainda podia revê-lo. Podia amá-lo. Podia prendê-lo em meus braços, em meus carinhos. Não era certo simplesmente desistir assim de quem me fazia bem. De quem me completava. Nada mais me prendia lá. Talvez meus pais não aprovassem e que eles se danassem. Eu não queria, nem podia afogar o pouco de esperança no amor que ainda existia em mim, em minhas lágrimas.

Em pedaços, 

sua, 

Dorathy. 


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