As pessoas acreditavam que ele era estúpido — eu também estava incluída nesse meio —, mas eu também sabia que dentro daquele garoto enorme e desengonçado batia um coração tão grande quanto ele. A verdade é que Finn Hudson era incompreendido, pois ninguém sabia como crescer sem um pai presente era doloroso — infelizmente, tive essa experiência e sabia exatamente como ele se sentia —, mesmo com uma mãe maravilhosa como Carole ao seu lado tentado sempre o seu melhor. O fato é que ele precisou aprender a ser um homem de verdade sozinho, sem nenhum exemplo em casa. Se crescer em uma família normal já era complicado, imagine esse processo feito em meio ao caos emocional de um adolescente que perdeu o pai para uma Guerra Civil?

Era visível o quanto ele se esforçou para tornar-se alguém melhor, mas em sua essência ele ainda era o mesmo quarterback pelo qual me apaixonei no ensino médio. O mesmo sorriso torto, o olhar confuso de sempre, a completa falta de capacidade para andar sem esbarrar em alguma coisa, e acima de tudo, o mesmo coração bondoso de um amigo leal para todas as horas. Finn cometeu erros, afinal, é do ser humano cometer erros, vem da nossa natureza. Eu, por exemplo, era repleta deles e mesmo assim as pessoas aceitaram a minha mudança e passaram a me enxergar de outra forma. Foi por isso que o novo Finn Hudson que apresentou-se para mim dezoito meses após o fim do colegial, apenas reforçou a minha certeza de que aquele boneco de posto era de fato especial.

[...]

Eu estava em New York City para passar o feriado de Ação de Graças junto à nossa pequena família formada pelos integrantes do ND, mas minha namorada não fazia ideia disso — Sim, Rachel Berry e Quinn Fabray estavam juntas oficialmente há onze meses. A antiga Head Cheerleader vadia, vulgar Ice Queen, finalmente criou coragem para revelar seus verdadeiros sentimentos pela irritante Líder do Club do Coral, vulgar Ms. Broadway, e resolveu jogar toda a merda de seu passado conturbado pelo ralo para lutar por sua felicidade. Quão grande foi sua surpresa ao saber que a pequena diva passou a vida inteira esperando por aquele momento. Foi inevitável ficarem juntas, elas haviam nascido para se completar —. Marcamos de nos encontrar em um barzinho rústico que Santana havia descoberto há poucos meses e que parecia perfeito para uma reunião entre velhos amigos.

A latina e Kurt ficaram responsáveis por deixar a baixinha longe de casa pelo máximo de tempo possível para que eu pudesse chegar de New Haven e me instalar no loft que os três dividiam. Fui esperta o bastante para deixar minhas coisas no quarto de Santana, eu queria que Rachel ficasse realmente surpresa ao me ver — havíamos discutido por telefone quando eu disse que não iria para NY naquele fim de semana, mas era tudo parte do plano —. O que eu não sabia é que a maior surpresa viria mais tarde e da forma mais inesperada possível.

Quando minha pequena entrou no estabelecimento e viu todos os nossos amigos reunidos pela primeira vez desde a formatura, aquele sorriso de mil watts que eu tanto amava — e que era capaz de ofuscar o brilho da cidade dos sonhos — surgiu em seus lábios e eu soube que amaria aquela garota pelo resto da minha vida. Estávamos todos juntos mais uma vez, inclusive Finn, — ele foi o primeiro e único a se opor contra o nosso relacionamento, afinal, suas duas ex-namoradas apaixonadas uma pela outra poderia ser de fato, uma situação bem traumática — e isso me deixou feliz. Aquela era a minha família, mesmo com todas as divergências do passado, sempre houve uma ligação mágica entre nós.

O bar tinha um Karaokê e relembrar os velhos tempos foi quase uma obrigação. Em certo momento todos pareciam altos e alegres o bastante para pagarem algum tipo de vexame e foi maravilhoso reviver, mesmo que só por um par de horas, o tempo em que não tínhamos preocupações, quando ainda éramos jovens deslocados e inconsequentes. Resolvemos terminar a noite na casa dos moradores da cidade e oito garrafas de vinho foram esvaziadas antes que alguém pudesse cantar “Don’t Stop Believin’” completamente. Finn chamou a atenção de todos quando o encontro já estava chegando ao fim e todos se preparavam para pegar um táxi de volta para o hotel. Ele e eu éramos os mais sóbrios do grupo, mas ainda tínhamos sorrisos de bêbados estampados na cara. Quando ele adquiriu um ar sério, todos se surpreenderam com a forma firme que ele proferiu as palavras que colocariam um verdadeiro ponto final no passado mal resolvido do triângulo amoroso formado por mim, Rachel e ele.

“Eu sei que tá todo mundo meio bêbado e o meu plano inicial não era dizer isso após algumas taças de vinho, mas eu já estou aqui e não posso voltar atrás agora...” Ele nos encarou. “Rachel, Quinn... Vocês foram as mulheres mais importantes da minha vida e eu sei que fui um idiota por demorar tanto tempo pra aceitar que vocês foram feitas uma para a outra. Todo mundo sabe que eu sempre fui meio tapado, mas até um cego é capaz de ver o amor que transborda de vocês todas as vezes em que vocês se olham...”

“É mesmo necessário tanta melação em plena Ação de Graças?” Santana questionou completamente bêbada com sua eterna cara de tédio, mas ninguém pareceu dar bola para o humor da latina.

“Eu só queria pedir perdão por todas as besteiras que eu disse e fiz durante todos esses anos, eu sei que isso não é o suficiente, mas é tudo o que eu tenho pra oferecer no momento. Eu sei que mudei, eu sei que me tornei uma pessoa melhor... Sinto que hoje sou o homem que vocês esperavam que eu fosse e levarei o tempo que for preciso para provar isso a todos, mas especialmente a vocês duas. Hoje estou aqui pra dizer que eu amo vocês e que eu quero fazer parte da vida das duas como um grande amigo, porque vocês foram especiais e inesquecíveis pra mim e eu não me perdoaria se o meu egoísmo me impedisse de estar presente quando vocês precisarem.”

Ele respirou fundo tentando conter as lágrimas que insistiam em cair, Rachel chorava copiosamente agarrada à mim sorrindo para aquele verdadeiro homem — que já mostrava os sinais de sua mudança pela forma madura como expunha seus sentimentos — e eu já podia sentir o gosto da água salgada que escorria dos meus olhos.

“Eu te amo tanto Rach, eu sempre vou te amar... Você foi minha estrela por um tempo, a única coisa que me fazia seguir em frente, você era o brilho dos meus olhos. Mas eu percebi que você nunca seria feliz comigo como você será feliz com a Quinn e que é com ela que você deve ficar, porque almas que se pertencem devem permanecer unidas. E você Quinn, você foi o meu primeiro amor, a minha primeira namorada, a garota que viu muito mais em mim do que qualquer outra pessoa. Então, Q e Rach, eu só tenho um pedido a fazer...”

“E qual seria?” Minha baixinha perguntou em meio a um soluço.

“Cuidem-se! Fabray, Rachel é a estrela mais brilhante desse universo e eu sei o quanto você a ama, porque sinceramente, como não amá-la? Eu só peço que você a proteja e a faça feliz, porque ninguém nesse mundo merece mais a felicidade do que ela. E você Berry, tenha paciência com essa cabecinha dura. Eu sei como o orgulho Fabray pode ser um pé no saco, mas Q é a pessoa mais incrível e corajosa que já tive o prazer de conhecer e ela, definitivamente, vale à pena! Só cuidem-se e quando precisarem de um amigo, saibam que com apenas uma ligação vocês me terão aqui. E isso vale pra todos vocês, meus amigos! Deixem que eu seja o herói que sempre estará lá pra vocês quando tudo parecer impossível, quando todas as dificuldades parecerem grandes demais para suportar. Não hesitem em me chamar, eu estarei ao lado de vocês! Sempre.”

Finn Hudson era um anjo — um anjo só que sem asas — e todos nós, finalmente, conseguimos perceber isso.

Em memória de Cory Monteith, o anjo que agora possuí assas. 1982 — 2013