Não havia mais ninguém na sala, continuei sentada, esperando Ian virar-se para mim e dizer algo, ele estava imóvel.

- Você me lembra muito ela. – disse ele de cabeça baixa e falando baixo.

- Ela quem? – perguntei de vagar.

- A irmã da Rebeca.

- Sua namorada? – perguntei.

Ele riu fraco e virou-se para mim.

- Ela não é mais minha namorada. – ele disse sorrindo.

- Porque está sorrindo? Não sente falta dela? – perguntei.

Ele se levantou, colocou a mochila em um ombro só e fez sinal para eu me levantar também.

- Amy, tem muita coisa que aconteceu que prefiro não lembrar. – ele disse, fazendo sinal novamente para eu me levantar.

Não levantei, não faria o que ele queria depois do jeito que me tratara hoje.

- Você me deve desculpas, não fiz nada para você hoje. – eu disse rápido.

- Desculpa, você não fez nada de errado, eu só perdi a noção... Sempre que... – ele parou e deu um soco na mesa, o barulho foi grande e ecoou pela sala vazia, eu assustei e dei um pulo na carteira.

- ian, você tem que aprender a se controlar... – levantei, peguei minha mochila e sai andando rápido para escapar dele, da escola, e de toda essa loucura que estava acontecendo em pleno segundo dia de aulas.

Ele saiu correndo atrás de mim.

- Amy! Me desculpa! Eu preciso aprender a me controlar, você tem razão, me desculpa! – ele disse, mas ignorei e continuei andando – AMY! – ele gritou.

Olhei para trás, ele estava sentado no chão, encostado na parede, com as costas da mão na testa e os olhos fechados.

- Fica comigo... – ele disse baixo.

- O que? – eu disse e fiquei encarando-o.

- Ninguém me ouve nessa escola, só dizem: “ Jogou bem no futebol?” “Você é muito popular” “ Ian, me ajuda com isso?” “Ian, me ajuda com aquilo?”- ele disse e parou pra respirar – Eu não aguento mais...

- Mas o que isso tem haver com sua namorada, ou comigo, ou com tudo isso? Ian... – mas ele me interrompeu.

- ELA NÃO É MAIS MINHA NAMORADA! ELA ME TRAIU! – ele gritou, e aquilo ecoou pelo corredor da escola – Ela fugiu com outro cara, no dia do aniversário do nosso namoro.

Ele disse e eu fiquei sem reação.

- E você... – ele levantou e foi até mim, colocou a mão em meu rosto e olhou bem nos meus olhos – você se parece demais com ela... Só a cor do cabelo que muda...

- Ela deve ser mais bonita. – respondi e virei o rosto.

Depois disso, ele abaixou a mão, colocou as mãos nos bolsos da calça e virou-se de costas.

- Vou pegar minhas coisas – ele disse e voltou para a classe.

Virei-me e fui embora, não estava com paciência para espera-lo.

-Escuta, você gosta dele? – perguntou Marie, ela me encarava de um jeito que dava arrepios.

- Eu nem conheço ele direito ok? Não tem como gostar de uma pessoa assim do nada, só não quero confusões com ninguém. – respondi.

Nós caminhávamos em direção a escola, eu tinha descoberto que Marie morava no quarteirão ao lado do meu e agora não perdi mais hora para a escola, já que ela passava sempre ali para me buscar.

- Será que ian só quer amizade? – perguntou ela.

- Eu sei lá, ele me deixa confusa.

Já estávamos na terceira semana de aulas e ian tinha se afastado um pouco de mim, não conversávamos mais, era só um “oi, tudo bem” e “tchau”. Aquilo por algum motivo me incomodava, era extremamente ruim a única pessoa da sala que conversava comigo, estar de cara virada. Até porque, Marie mudou de sala, foi para a sala 2 e me deixou lá na sala 1 para me entender com ian.

-Tchau, e boa aula, boa sorte, e espero que você tome coragem para falar com ele. – disse ela e me abraçou.

- Brigada, e pra você também, e espero mesmo que a coragem venha.

Entrei na sala e vi um monte de gente reunida e um alvoroço na classe.

- Parabéns! Que você seja meu namorado ainda esse ano! – disse uma menina – Comprei chocolate para você!

- Quer um beijo de aniversário? Eu dou sem problema algum!

- Ei! Pegue meu presente!

- Queria ser a sortuda que senta perto de você.

Levantei a cabeça e olhei para a multidão, no meio do tumulto vi Ian, ele agradecia a todos por tudo, recusava algumas confissões aleatórias e pegava os presentes.

Abaixei a cabeça novamente e pensei em ignorar tudo isso.

Espiei rápido e o vi vindo em minha direção. As meninas atrás dele pararam de falar e ficaram nos encarando, ele parou ao lado da minha carteira e eu ergui a cabeça.

- Me diga parabéns, pelo menos. – ele disse, olhando-me fixo nos olhos.

- É seu aniversário? – perguntei, mesmo já sabendo a resposta.

- Você sabe que sim.

- Então parabéns. – levantei e estendi a mão para um cumprimento. – mas eu n...

Ele pegou minha mão e me puxou para si, me abraçou muito forte e depois me afastou segurando em meus ombros.

- Muito obrigado, Amy! – disse sorrindo.

-D-de nada! – eu disse e tentei sorrir de volta, mas estava muito atordoada para fazer isso de um jeito agradável.

- HAha! Que cara foi essa? – ele disse ainda rindo.

Dessa vez ri junto, não teve jeito.

Ele me abraçou novamente, e disse ao meu ouvido:

- No intervalo, precisamos conversar e resolver algumas coisas.