Não podia crer que aquele momento havia acabado. Tudo passava como um filme em minha mente. Fiquei embaixo do chuveiro repensando sobre minha vida, sobre o rumo que ela estava tomando. Deveria me orgulhar? Havia mudado de país para seguir meu sonho e ainda por cima conheci o cara dos sonhos. Sem contar que transei com esse cara.

Deveria parar de pensar nisso um pouco e planejar como seria meu primeiro dia na faculdade. Não tinha carro, então não sabia se ia a pé, de ônibus ou de táxi. Como precisava de um carro! Já tinha verificado tudo e minha aula começava as oito da manhã. Notícia triste pra quem é a rainha da preguiça, mas precisava ser alguém na vida. Decidi que iria de ônibus.

Telefonei para mamãe e ela estava preocupada por eu não ter ligado antes. Mãe, eu estava ocupada. Muito ocupada. Contei para ela como foi meu dia — mentindo, claro. Imagina se ela descobre que eu dei pro primeiro cara que conheci? Desagradável. Desliguei o telefone e fui preparar meu jantar. Já falei o quanto é triste ter que fazer sua própria comida? 

Eu só conseguia pensar nele. Onde ele está? Com quem? Será que ele está comendo? Tomando banho? Pensando em mim? NÃO! Claro que ele não estava pensando em mim. Precisava tirar aquilo da minha cabeça o quanto antes se não ia surtar. Olhei meu celular e vi que tinha mensagens no KIK. Esqueci que havia sumido do mundo por no mínimo quatro horas. Fiquei feliz quando vi que minha melhor amiga lembrou de mim perguntando se havia chegado bem. Saudades da Kate. Para a minha surpresa também havia dele. E não só uma.

*Amanhã estarei indo pro Canadá, Anastacia. Vou fazer três shows em quatro dias.*

*ONDE VOCÊ ESTÁ?*

Maiúsculas gritantes. Não gostei. Será que ele tinha amnésia? Ele já havia dito que iria para o Canadá amanhã. Quatro dias. Quatro dias longe. PARA! Não são só quatro dias! É pra sempre. Deveria colocar isso na minha cabeça.

*Calma! Tinha coisas pra fazer, pois não tenho a vida ganha como certas pessoas...*

O relógio marcava dez e vinte e três. Vinte e três. O dia de hoje. Por que sou tão supersticiosa? Sem sentido. Não deveria dar bola pra esse tipo de coisa, mas eu não conseguia. O celular apitou.

*Ainda estou a seis casas de você. Posso muito bem ir aí com os meus chinelos.*

Definitivamente ele tinha algum problema com chinelos, não é possível! 

*Engraçadinho*

E depois disso não houve mais resposta.