Eu esqueci toda a vergonha que eu tinha e fiz uma pergunta para ele.

-Gabriel, você quer dormir comigo?

Ele parou na porta e ouvi que respirou profundamente.

-Acho melhor você descansar. Amanhã conversamos. Você passou por muita coisa hoje.

-Eu não quero ficar aqui sozinha. Quero que você fique aqui comigo.

Eu me levantei daquela cama e fui até ele, que se mantinha virado para a porta.  Abracei sua cintura.

-Não me deixe sozinha aqui. –eu sussurrei. –Preciso de você comigo.

Ele acariciou minhas mãos e depois se virou para mim.

-Tem noção do que está me pedindo? Do que isso causa em mim?

Na realidade eu sabia. Mas naquele momento, eu precisava dele mais que tudo na minha vida. Eu precisava me sentir protegida e me sentir amada. E ninguém melhor do que ele para me dar o que eu queria.

Eu fiz um movimento afirmativo com a cabeça.

-Eu quero que você fique comigo esta noite.

Vi quando todo o autocontrole que ele tentava ter acabou.  Ele apertou minha cintura e me encostou nele. Nos beijamos desesperadamente. Meu corpo todo se acendeu. E eu só queria ser dele.

Nossas roupas começaram a cair pelo chão. Quando dei por mim, só estava de lingerie. Eu estava extasiada. Meu corpo inteiro tremia. Cada toque dele em mim tinha um significado forte. Era uma sensação diferente e estava me consumindo completamente.

Eu estava feliz naquele momento. E ele também estava. Eu percebia no rosto dele que ele estava sentindo o mesmo que eu. Eu não tinha como comparar com a vida de antes, mas para ele com certeza devia estar tendo um sentido mais arrasador. De saudades.

Ele me colocou na cama e senti completamente o corpo dele. Eu não conseguia mais pensar. Só conseguia sentir intensamente aquele momento.

Entrelaçamos nossas mãos e ficamos respirando descompassadamente.

-Eu amo tanto você. – ele me disse. Senti até vontade de chorar com tanto carinho da parte dele.

Eu também queria dizer de volta, mas eu não consegui. As palavras vieram pelo meu coração e morreram na minha garganta. Só consegui me agarrar mais ainda nele e o beijar profundamente.

Ele me abraçou e puxou o lençol sobre nós dois. Como assim? Ele acariciou meu rosto e se deitou ao meu lado. Eu não entendi. Virei pra ele e fiz o olhar mais interrogador do mundo. E ele me olhou de volta. Aquilo foi frustrante. Meu corpo estava “quente”. Comecei a ficar indignada. Talvez ele não me amasse o suficiente.

-O que foi?- perguntei a ele.

Ele continuou acariciando minhas costas.

-Acho que você deve descansar. Apenas isso. –ele respondeu tranquilamente.

-Descansar? –me sentei na cama. –Se eu quisesse descansar não teria te feito tal pergunta. Estaria dormindo a esta hora.

Ele riu de mim.

-Isso não tem graça. -cruzei os braços. –Talvez você não me queira mais como antes.

Ele me puxou para baixo, para que eu ficasse deitada novamente ao lado dele.

-Claro que eu quero você. Sempre vou querer. Só não quero me aproveitar de um momento de fragilidade seu. Não quero que se sinta pressionada.

-Qual parte do “você que está sendo aproveitado” você não entendeu?

Ele gargalhou. E eu só estava ficando mais irritada com aquilo.

-Adoro este seu jeito de expor suas opiniões. Com certeza você não é mais a mesma de antes.

-Eu já tinha falado isso pra você! Mas está parecendo o contrário. Você não está tão satisfeito assim com a mudança. Não me disse que nem podíamos nos ver? O que está acontecendo então?

Ele me puxou para o peito dele.

-Camilla você me ama?

Nossa! E agora o que eu ia falar? Eu ainda estava aprendendo a gostar dele. Eu estava apaixonada sim. Muito. Então porque eu não conseguia falar pra ele? Por quê? Eu só consegui ficar em silêncio.

Ele me apertou em seus braços.

-Você ainda não consegue me dizer. É muito pra você assimilar. Não fique pensando que não quero você. Mas hoje você está fragilizada por causa do que aconteceu. Está emocionalmente abalada.  Não vou me aproveitar.

Eu estava emocionalmente abalada sim, mas por causa do que não tinha e nem ia acontecer naquele momento.

Fantasiei tanto a minha primeira vez. E eu tinha certeza de que ia acontecer com o Gabriel.

-Eu estou aqui com você. Vou te proteger para sempre. Vamos dormir. Amanhã será outro dia.

Olhei bem fundo nos olhos dele.

-Quem é que vai conseguir dormir aqui? Você vai?

-Provavelmente não.

Reuni todo meu autocontrole e respirei várias vezes.

-Ok. Se você não quer, não vou te obrigar. –ele me olhou sério - Mas você não vai ter outra chance tão cedo. –Também agora eu ia ser “a difícil”.

-Você tem muito senso de humor! É hilária. Isso nós vamos ver depois. Por enquanto só quero que você esqueça de tudo que aconteceu hoje com você e a Caroline.

-Eu nem estava me lembrando mais, obrigada por refrescar minha memória. Boa noite!

Virei as costas pra ele. Ele me abraçou e ficamos de conchinha.

-Boa noite! –ele sussurrou no meu ouvido.

Ia ser uma longa noite.

Como eu previa, a noite não tinha sido boa! Eu não consegui dormir com Gabriel colado em mim. Ele também não tinha dormido, mas não conversamos mais. Assim que o dia clareou, eu me levantei e sai do quarto. Ele não veio atrás de mim. Passei pelo banheiro e fui procurar pela cozinha.

Preparei o café da manhã e arrumei para todos. Caroline foi a primeira a chegar à cozinha. Ela me deu um abraço de bom dia e se sentou perto de mim à mesa.

-Como você está? –eu perguntei.

-Estou bem. Ainda é meio confuso, mas eu vou ficar bem.

Assim eu esperava.

-Mas e você? Está com a aparência horrível. Não dormiu direito?

Se ela soubesse...

-Eu não consegui dormir direito. –eu não tinha contado nenhuma mentira.

Vi quando Gabriel chegou à cozinha juntamente com Kelly e Miguel. Ele veio até mim e me deu um beijo.

-Bom dia! –ele me disse.

-Só se for pra você! –eu tinha ficado irritada.

-Nossa, alguém dormiu de calça jeans esta noite. –Kelly fez uma gracinha.

-E quero deixar bem claro que não fui eu! –eu respondi sem constrangimento nenhum.

Os três olharam para Gabriel.

-O que? –ele fez cara de inocente. Ele olhou pra mim. –Tem certeza de que quer conversar sobre isso na frente de todos?

-Conversar sobre o quê? Você foi muito claro! Agora aguenta meu mau humor, porque eu não consegui dormir. Eu vou pra casa. Lá eu vou conseguir “descansar”. –eu disse a última palavra com todas as letras. Ele pareceu não se abalar.

Ele segurou meu braço e saiu me puxando pela cozinha.

-Eu vou resolver o seu “mau humor”.