–Como assim Daniel está com a Caroline? –eu gritei.

-Calma Camilla, temos que pensar com calma. –Gabriel pediu.

-Calma? Como eu vou ficar calma? Eles mataram minha avó. –eu fiquei com um medo enorme pela minha irmã. –Como vocês ficaram sabendo disso?

–Eles conseguiram burlar a segurança que ela tinha. –Miguel falou desta vez.

–Segurança? Que segurança? –Kelly ficou confusa por um momento. -Não é só a Camilla que tem?

–Não. Todos vocês tem anjos da guarda. Toda família da Camilla e a sua também. –Miguel continuou respondendo.

–Mas você não me disse que os Anjos Caídos perdem sua força pela metade quando se desvirtuam? –perguntei para Gabriel.

–Sim. Mas eles são cercados de magia ainda. E nós sabemos que existem anjos no Paraíso que compactuam com os anjos caídos.

–Como eles conseguiram pegar a Caroline? –eu perguntei de novo.

–Eles lançaram um feitiço nos anjos que acompanhavam a Camilla. Um tipo de feitiço que os mandou direto ao Paraíso. Neste meio tempo, eles conseguiram pegá-la.

–E como sabe que Daniel está com ela?

–Porque ele deixou um pergaminho. –Gabriel me mostrou.

–Pergaminho? Que coisa ultrapassada! –Kelly fez esta observação.

–Ele quer que você vá sozinha ao encontro dele. –Miguel disse.

–O quê? –eu quase desmaiei.

–Sem chance! Ela não vai sozinha. –Gabriel esbravejou.

–Ele quer um encontro com ela. Ele disse que se ela não for sozinha, ele vai matar a Caroline.

–Não. Eu vou sozinha! –eu tomei minha decisão. –Onde eu tenho que estar?

–Você tem duas horas para encontra-lo num terreno baldio na saída da cidade. –Miguel falou.

Gabriel pegou minhas mãos e vi sofrimento em seus olhos.

–Eu não posso deixar você sozinha. Você ainda não aprendeu nada. Não posso deixar você se machucar.

–Eu não vou me machucar – e olhei profundamente em seus olhos. –Vai ficar tudo bem.

Ficamos abraçados por um momento, mas eu tinha que encarar aquilo de frente. Não ia deixar minha irmã morrer. Não ia acontecer outra vez.

–Vamos logo! –e fui em direção à porta.

Gabriel me deixou, relutante à minha decisão. Estava a poucos metros do terreno baldio que Daniel tinha combinado. Eu não disse a ninguém, mas eu estava com muito medo. Mas eu tinha que ser forte pela minha irmã.

Fui me aproximando do lugar marcado e vi minha irmã. Neste momento senti o suor escorrer pelas minhas mãos. Ela estava amarrada e amordaçada e seu corpo estava caído. Corri para ela. Graças a Deus ela estava viva. Vi seus olhos assustados me fitarem ao mesmo tempo que lágrimas caíam. A abracei e chorei junto com ela. Comecei a desamarrá-la. Quando ia tirar a mordaça, ouvi um barulho perto de mim.

Olhei para trás e vi o Daniel, todo imponente com suas asas negras abertas.

–Vejo que resolveu vir sozinha. Fez muito bem. –ele deu um sorriso pra mim.

Na hora senti minhas costas arderem e minhas asas se libertarem. Percebi que a Caroline caiu sentada novamente aos meus pés. Olhei pra ela rapidamente e vi que ela estava assustada me encarando.

–Camilla... – a ouvi sussurrar.

–Ora, ora, ora. Gabriel está trabalhando rápido com você. –Daniel viu com ar surpreso para minhas asas abertas.

–Vamos parar com o sarcasmo Daniel. Vou levar minha irmã embora. –peguei na mão da Caroline.

–Não assim tão rápido Camilla. Tenho uma proposta para você. –ele abriu os braços na minha frente.

Olhei para minha irmã, que segurava minha mão com muita força. Ela estava com muito medo e não estava entendendo nada, eu tinha certeza.

–Daniel, porque você está fazendo isso? –eu não conseguia ver o mesmo Daniel de antes. Ele tinha se tornado um completo estranho.

–Meu amor, eu sou o mesmo de antes. Só que sem segredos. –ele começou a vir em minha direção. Eu e Caroline começamos a dar passos para trás. Ele percebeu e parou.

–Não precisa ter medo de mim. Eu não vou machucar vocês. Eu só quero que você venha comigo. Eu deixo a Caroline ir. –ele parecia ter ficado triste.

–E a minha avó? Você a matou. –acusei. Eu tinha que saber antes de qualquer coisa.

–Eu? Claro que não. –disse sem me olhar nos olhos.

–Não minta pra mim. Eu sei que foi você. –eu gritei.

Ele não respondeu e senti uma energia fria passar pelos meus pés. Estava vindo dele...

Ele me olhou com um semblante bem sinistro, que me deu mais medo ainda.

–Quer saber? Fui eu sim. Sua avó estava acobertando Gabriel.

Senti uma lágrima rolar.

–E eu sei que ela poderia atrapalhar nossos planos futuramente. Então para quê deixar um problema se arrastar se podemos resolvê-lo?

Senti meu coração sangrar. Ele falou da minha avó como se ela fosse nada, um objeto que não serve mais. Mas o meu ódio superou qualquer outro sentimento que eu estivesse sentindo no momento.

–Você vai pagar muito caro por isso. –eu disse pra ele entre dentes.

–E o que você vai fazer? Chamar seu Anjo da Guarda? Porque se for isso, fiz um feitiço que vai mantê-los afastados. Aqueles dois que andam na sua cola e seu papai chefe de todos. Você está sozinha. –ele estava zombando de mim.

Minhas asas se armaram, ficando mais abertas ainda, instintivamente. Cheguei minha irmã para perto de mim e levantei uma das mãos. Não sei como eu consegui aquilo, mas um jato de luz dourada saiu da minha mão e arrastou Daniel para trás.

–Então você quer brincar um pouquinho... –ele abriu as asas dele também. –Nunca pensei que dessa vez, eles teriam poder sobre você. Achei que ia conseguir controlar você.

–Então você já viu que eu não sou assim tão manipulável. E me arrependo amargamente de ter ficado com você por esses anos. Você foi a maior decepção da minha vida.

O semblante dele passou de dor para raiva.

–Eu sempre amei você! Eu cuidei de você! Você sabia que se não está morta agora, foi porque eu sempre quis proteger você?

–Não fale mentiras pra mim.

–Não é mentira – ele gritou de volta, totalmente descontrolado – ficar com você para mim era importante. Os anjos caídos queriam te matar, assim que descobriram onde você estava. Mas eu disse que ia controlar você. Eu não tinha entendido porque Gabriel não estava com você. Miguel nunca ia ser problema pra mim, ainda mais sozinho. Tudo estava perfeito. Você estava do nosso lado!

–Não! Eu não sabia de nada! E nós nunca estivemos bem. Eu nunca amei você. E nunca vou amar.

Vi a cor sair de seu rosto.

–Eu sempre tive carinho pela mentira que você criou de si mesmo pra mim. Aquele Daniel nunca existiu! Você é uma mentira! –continuei.

–Eles tinham razão! Eu deveria ter matado você há muito tempo. –ele começou a brilhar.

A única reação que tive foi abraçar minha irmã e fechar minhas asas em volta de nós duas. Aquilo doeu. Machucou bastante. Todo meu corpo ardia, parecia estar pegando fogo.

–Mas agora, eu não tenho que ter pena de você. –ele falou ressentido – Vou jogar o que restar das suas penas no Paraíso, para todos entenderem, principalmente Deus, que não devemos nos misturar!

Ao ouvir aquilo, meu sangue gelou novamente. O que eu ia fazer? Eu tinha que proteger a Caroline. Fechei meus olhos e só pensei em sair dali fervorosamente. Daniel veio na minha direção e novamente uma luz dourada começou a emanar do meu corpo. Era muito forte. Parecia que meu corpo não ia aguentar. Quando ele chegou perto de mim, toda aquela força se dirigiu a ele, como se o corpo dele fosse um ímã. Vi seu rosto se contorcer em uma dor profunda e ele desapareceu, apenas ficando algumas penas negras no chão. O que eu tinha feito?

Mas eu não consegui pensar em mais nada. A última coisa que senti, foi meu corpo caindo pesadamente ao chão.