Despedidas escrita por Lost Satellite


Capítulo 1
Sem "adeus"


Notas iniciais do capítulo

Dedico a todos aqueles que se foram, que precisaram ir embora, que tiveram que dizer adeus.



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Despedidas


Sentei-me a janela, quando um vento frio soprou. O cheiro de terra molhado era fresco, e o dia que antes era tão claro agora aos poucos tomava um tom mais escuro. Era uma causa natural ver o dia escurecer com a chuva e o frio. Toda via ao meu olhar o dia parecia mais escuro do que de fato era, não seria para menos. Dias de partidas são assim, escuros.


Minha primeira experiência com despedidas foi tão traumatizante quanto uma ida ao dentista, jamais me esquecerei. Como esquecer a forma como fui desperta de meu sono, a forma como me abraçaram e tentaram silenciar meu choro. Não gosto de pensar nesse dia como uma despedida, aquilo nunca foi uma partida, aquilo foi sequestro. Aquele foi o dia em que a morte havia sequestrado minha mãe, infelizmente a morte não pede resgate, ela apenas leva as pessoas para uma viagem sem volta. Às vezes penso na morte como uma senhora solteirona, que passa seus dias entediada e solitária, e então de repente ela olha para nós e vê o quanto somos felizes, o quanto amamos quem está ao nosso lado, a morte fica com inveja. A morte é como uma mulher invejosa pronta a nos roubar o que temos de valor, por isso ela leva as pessoas, é uma tentativa de a morte ser tão feliz quanto nós somos, uma tentativa de ser amada por alguém.

Não quero mais falar da morte, ela já é popular o bastante para que precise de mais uma alma falando sobre ela.

Pela janela posso ver a rua, os carros passam ziguezagueando pelo asfalto tentando desviar dos buracos, vejo um senhor andando de guarda chuvas e logo me vêm à mente uma questão sem resolução. As partidas.

Se existe nesse mundo algo que nunca fará sentido para mim é a partida. Pessoas partem o tempo todo, já pensou nisso? Pessoas partem por inúmeras razões, desde um novo emprego até mesmo por um recomeço. Partidas são ciclos se encerrando, são velhos indo para dar lugar ao novo, grande mentira isso! A verdade é que não quero que ninguém se vá, não quero me despedir, não quero dizer “adeus”. Quero achar soluções para que as pessoas fiquem.

Estar aqui sentada a essa janela num dia chuvoso especialmente hoje, dia de despedida é como cruzar os braços e aceitar que as pessoas se vão para longe, para até um daqui a pouco, para um final feliz, para o infinito, para a eternidade, para o futuro. Sim as pessoas vão para o futuro, o futuro é aquele momento que você imaginou sua vida sem alguém, então quando ela apenas dobra a esquina sem olhar para trás você sabe que o futuro chegou e hoje é presente.

Nem sempre quem vai, vai porque quer, às vezes é só o destino contradizendo o querer da pessoa, e então talvez, mas só talvez ainda haja a chance dela voltar. Porque quem parte de um lugar chega a outro, e então quando se chega finalmente vai ser hora de partir outra vez, talvez de volta.


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Notas finais do capítulo

Até mais ;)



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