O Angustiado escrita por AnyBnight


Capítulo 1
Alcor, o angustiado


Notas iniciais do capítulo

Alcor = All the feelings



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Um ser defeituoso... Foi isso que me tornei ao criar, de alguma forma, sentimentos pela humanidade que tanto observava? De qualquer forma, eu sou O Angustiado. Ou não.

Eu já não sei mais o que eu sou. Uma mera ferramenta de Polaris, isso é lógico. Ou não.

Desde que me tornei defeituoso, creio que Polaris já não precisava mais de mim. Vivi apenas para ser O Angustiado. Isso dói, de alguma forma.

De tão afeiçoado à humanidade, eu remodelei meu corpo para parecer-me com um de vocês, mas isso não bastava, aparentemente.
 

Vocês humanos alguma vez já sentiram-se angustiados? É claro que sim, isso é óbvio afinal os observo há centenas de anos, vi guerras, vi destruição, vi desastres que vocês consideravam "naturais" mas que foi tudo ocasionado por Polaris. Nenhum de vocês jamais pode escapar da angústia. Mesmo dentro de seus "círculos sociais", mesmo dentro de suas famílias. Isso vocês nomearam como "decepção".

Mas a minha angústia não pode ser comparada à de vocês, pois além de todo mal que presenciei em sua existência, presenciei também algo que chamam de esperança. Já vi quem chorasse numa noite e esta mesma pessoa sorriu assim que a manhã se iluminou. Brigas que terminavam em abraços e sorrisos. Apesar de toda a angustia, vocês sempre puderam aliviá-la através daquilo que chamam de "lágrimas".

Eu nunca fui capaz de chorar, e isso tornava minha angustia muito mais pesada que a dos humanos.
 

Eu também jamais consegui sorrir como vocês, por mais que tentasse, o sorriso que eu moldava não se parecia nada com o de vocês.

Durante minhas observações, eu me tornei defeituoso. Eu me apeguei à sua intrigante existência. Nunca pude desejar nada, mas desde então, eu desejei que a humanidade permanecesse sempre de pé. Talvez esse meu desejo, esse meu defeito, tenha irritado Polaris e o provocado ao Julgamento.

Junto com meu apego, junto com "desejo", eu descobri um novo sentimento comum dos humanos em mim. Eu descobri que tinha medo. Medo da escuridão e do vácuo que Polaris planejava para a humanidade. Este medo me fez procurar por uma luz.

O ser iluminado, no caso. Aquele que brilharia ante a escuridão de "deus". A luz que não permitiria o vácuo se propagar.

Hotsuin Yamato. Ele deveria ser a luz que eu procurava, entretanto, ele era contraditório. O ser brilhante que não brilhava. Deveria chamá-lo de opaco, então. Mas eu tentei lapidá-lo para brilhar, eu tentei e tentei, mas no fim a escuridão foi mais forte que a luz. Yamato já não brilhava.

Kuze Hibiki. Neste sim eu encontrei a luz. Um luz verdadeira que não precisava que alguém o fizesse brilhar. Em Hibiki eu criei aquilo que tanto ansiava possuir: esperança. Um sentimento caloroso, revitalisante, reconfortante. Me vi cada vez mais defeituoso. Entretanto, a luz de Hibiki não me mostrou tudo.

Ele era aquilo que a humanidade precisava, não o que EU precisava. Sim, pelo bem de minha querida humanidade eu precisava proteger a todo custo a luz de Hibiki. Mesmo que isso significasse meu desaparecimento. Morte nunca me foi um conceito aceitável.

Pelo que observei sobre a "morte", ela era apenas algo psicológico naqueles que ainda viviam. Enquanto alguém se lembrasse de seus sentimentos por você, você seria denominado morto. Mas se não houvesse quem recordá-lo, você apenas desapareceria. E de fato, não existia quem sentisse minha falta. Polaris certamente ficaria satisfeito com meu desaparecimento. Quem iria querer uma ferramenta quebrada afinal?

Pelo que vi os humanos também tinha esse conceito de "descartável" quanto aos da própria espécie. Yamato é um bom exemplo, eu diria.

Angustiante.

Creio que minha luta final contra "o opaco" foi o momento mais angustiante disso que me atrevi a chamar de "vida". Estava lutando não só contra Yamato, estava lutando contra meus desejos contraditórios. Queria proteger Hibiki e a Humanidade, mas ao mesmo tempo não queria matar Yamato.

Foi durante aquela luta que eu quebrei de vez, que todos os meus defeitos se juntaram num só e me partiram num sentido mais "romântico" da palavra. Eu não quebrei por completo no momento de minha "morte", eu quebrei quando percebi que havia criado em mim o mais poderoso dos sentimentos humanos.

Amor.

Naquele meu suspiro final eu me dei conta de que amava Yamato. Por esta razão eu sempre esperei que ainda houvesse luz nele. Eu fui o mais defeituoso que podia ser até quebrar completamente. Talvez por ter quebrado Polaris tenha me abandonado e apenas eu "morri" naquela hora, sem ter tempo de demonstrar esse sentimento como via os humanos fazerem. De fato, antes de ter a chance de "beijar" aquele que amava, meu corpo estava a se desintegrar.

E de alguma forma eu fiquei feliz por isso. Afinal, eu amava Yamato, não queria que ele morresse. Por sorte eu não tive tempo de desenvolver aquilo que os humanos chamam de "egoísmo". Morri apenas amando Yamato e desejando que Hibiki fosse a verdadeira luz, e que o tirasse da escuridão.

Eu fiz o que pude e somente isso não bastava.

Angustiante.


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Notas finais do capítulo

"No fim, este foi o mundo que escolhi" - Take your way



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