Minha mãe foi vitima de um estupro, e foi assim que ela engravidou de mim. Claro que esse motivo tornou minha vida muito mais difícil do que deveria ser. Passei toda a minha adolescência cuidando dela; problemas com álcool. Isso só fez com que eu me tornasse uma pessoa solitária, com o sonho de um dia ter uma família – família de verdade: um marido para me apoiar e lindos filhos -, sonho que mantive escondido por muito tempo.

Vida: 1 x Olivia: 0

Mas segui minha vida, tornei-me policial. Quando fui promovida para detetive ingressei na Special Victims Unit, e foi lá que o conheci: Elliot Stabler.

Ele é o que muitas mulheres chamariam de "o homem perfeito": alto, olhos azuis, pele clara e um sorriso que poderia derreter o coração de cem mulheres; exceto o meu – ao menos era o que eu achava. Tenho de admitir que realmente fiquei impressionada com sua beleza.

Mal sabia eu o que futuro me reservava.

Meses de parceria bem produtiva fez com que o Capitão preferisse manter-nos juntos.

Até aí tudo bem.

O problema foi quando me vi apaixonada por ele.

Sei que isso é um tanto clichê, já que ele é realmente encantador. Mas o maior problema era o fato de que o homem dos meus sonhos era casado.

Irônico, não?

Finalmente encontro o homem com quem sonhei minha vida inteira, e ele é casado.

Vida: 2 x Olivia: 0.

Mas mantive minha cabeça erguida. Não vou mentir: meus sentimentos por Elliot não mudaram, muito menos diminuíram, pelo contrário, aumentaram com o passar do tempo. Mas consegui me controlar, e ele nunca percebeu.

Apesar do fato da minha vida ser totalmente bagunçada, há pouco tempo eu finalmente realizei meu sonho de ter uma família, não exatamente do jeito que sempre havia imaginado, mas era imperfeitamente perfeito.

Explicarei melhor: enquanto eu e Elliot trabalhávamos em um caso, a filha da vitima, Vivian Arliss, acabou por descobrir que foi gerada pela mesma consequência que eu, sua mãe havia sido estuprada.

Vivian tem um filho, Calvin, um menino extraordinário; ao saber o que havia acontecido com sua mãe, ela decidiu sumir por um tempo e fez de mim a guardiã legal de Calvin.

Por um curto período de tempo, Calvin foi o filho, a família, com qual eu sempre sonhei, mas, um dia Vivian reapareceu e o levou.

Vida: 3 x Olivia: 0.

Bem, como vocês podem perceber, mais uma vez tudo havia saído errado, mas dessa vez a culpa era minha. Eu poderia ter feito alguma coisa, talvez não no momento em que o tiraram de mim, mas eu poderia ter entrado com um processo pedindo pela sua guarda, talvez eu não fosse capaz de conseguir, mas ao menos teria tentado. Mas não o fiz, e como consequência, as únicas coisas que me restaram foram um apartamento vazio e uma detetive, já que a mulher que havia dentro de mim fora morta no momento em que Calvin foi tirado de mim.

Eu não suportava o fato de ser tão frágil, de ter uma vida tão vazia e patética. Não havia mais nada que eu pudesse fazer para ter Calvin de volta, e neste momento, senti-me um lixo.

Larguei tudo o que estava fazendo, e caminhei até a saída da delegacia.

                                               ••

Cheguei em casa atordoada, e olhei para o desenho que Calvin fez para mim. Passei os dedos pela assinatura "Calvin Benson". Ele realmente gostava de mim, e foi tirado de mim com tamanha brutalidade.

Nós dois sofremos, e, com este pensamento, corri para o banheiro. Me sentia enjoada, tonta e frágil.

Talvez fosse pelo fato de terem tirado Calvin de mim.

Talvez fosse pela minha impotência na maternidade.

Vida: 4 x Olivia: 0

É, Olivia, hora de tentar ajudar a si mesma.

Levantei-me, apoiando-me na bancada de mármore do banheiro. Senti meus joelhos fraquejarem, e a última coisa que senti foi uma dor irrequieta na lateral de minha cabeça, e depois veio o escuro.

                                            ••

Elliot não estava no quarto do hospital no momento em que acordei, mas assim que voltou e me viu acordada ele perguntou sentando-se na cadeira ao lado da cama:

- Por que você fez isso?

Isso o quê?

- Por que você não me deixa? - perguntei, no mesmo tom.

- Responda a minha pergunta, por que diabos você fez isso? – ele me perguntou mais uma vez.

- Por que eu fiz e acabou. – respondi não exatamente como ele queria, mas respondi, apesar de não saber exatamente o que eu havia feito.

- Até nas piores horas você sabe como ser extremamente irredutível.

- Aprendi com você. - sorri.

- Liv, o que houve?

- Quer saber, Elliot? Eu não sei do que você está falando sobre o que eu fiz, ou deixei de fazer. Chega!

- Você tentou se matar! - é sério?!

- O quê? Acha mesmo que eu faria isso?

- Bem, encontrei você numa poça de sangue dentro do seu banheiro. Por que não acharia?

- Eu... - comecei. - Ok, eu não lembro do que aconteceu, mas não foi proposital!

Minha cabeça doía pro inferno, então, levei minhas mãos até o ferimento.

- Ouch... Acho que é isto aqui... - disse, levando as mãos dele até minha cabeça.

Pela expressão dele não era nada bom.

- É, sua pia tinha alguns traços de sangue e fios de cabelo. Parece ter sido acidental. - disse ele, voltando a se sentar.

- Tudo é um acidente. Eu sou um acidente, cometi uma falha terrível. - suspirei, recostando no travesseiro.

- Não entendi... - disse ele. Suspirei, abrindo meus olhos.

- A falha da qual eu falei foi a de ter deixado Calvin ir, eu sei que talvez não fosse capaz de reaver a sua guarda, mas eu poderia ter tentado. Ao invés disto, agi como uma covarde, deixando que ele fosse tirado de mim, sem fazer nada. Eu o decepcionei, El! Eu me tornei mais um adulto na vida dele que ele quer apagar de sua memória... - meus olhos marejaram.

- Isso não é verdade. – uma voz familiar ecoou naquele quarto de hospital e assim que olhei em direção a porta, Calvin estava parado ali. – Você é o único adulto que não quero apagar de minha memória. Você foi quem cuidou de mim quando mais precisei, mãe.

Ele havia me chamado de mãe! Eu o abracei com toda minha força, e só quando o soltei, percebi que eu estava chorando, então perguntei a ele:

- Como você chegou aqui? Como você soube que eu estava aqui?

- O seu herói aqui queria fazer uma surpresa para você: eu viria amanhã, mas como a minha mãe resolveu pregar um susto daqueles em todos, ele ligou para mim e explicou o que aconteceu, então pedi para vir o mais rápido possível... - ele sorriu.

Então, com um nó na minha garganta, fiz a pergunta que mais me machucava:

- E quando você tem que voltar para a casa dos seus avós?

- Não volto, a menos, é claro, que você queira.

Se eu entendi certo, ele quis dizer que vai ficar, mas como?

- Não entendi.

- Fala para ela, pai.

Quando Elliot ia me explicar o que estava acontecendo, eu o interrompi, dizendo:

- Elliot, antes de você me explicar, Calvin, me diz por que você chamou o El de pai.

Ele olhou na direção de Elliot e perguntou:

- Você ainda não falou para ela, duas coisas simples! Será que eu tenho que fazer tudo nessa família? - riu.

- Será que um dos dois pode me explicar o que está acontecendo?- indaguei, estressada.

Elliot fez menção de responder, mas Calvin o interrompeu:

- Acontece que o meu pai, sabe o seu parceiro, pediu a Alex para ela entrar com um processo para você reaver minha guarda, o juiz do caso decidiu que eu poderia decidir com quem eu queria ficar: com meus avós ou com você. Eu decidi e o juiz concedeu a você a minha guarda; e a outra coisa é que eu tenho um casal bem aqui na minha frente que se ama, mas que se eu não fizesse uma intervenção iriam ficar sem saber o que o outro sente.

Eu estava tentando absorver o que havia dito. Então olhei para Elliot e perguntei:

- Você fez tudo isso por mim?

- O que for preciso. Eu faço qualquer coisa por você.

- Pai, – Calvin chamou Elliot – você disse a ela que você se divorciou, certo?

- Se você não me contasse eu não ia saber, Calvin. – eu disse, sorrindo.

- Você se divorciou há quase um mês e você não disse para ela? O que há de errado com vocês dois? Ainda bem que vocês têm a mim.

- É você tem razão Calvin, ainda bem que eu tenho você... – Elliot disse e então olhou para Calvin, meio receoso - Posso beijá-la?

- Já estava passando da hora!

Eu e Elliot rimos, e então lentamente os lábios dele encontraram os meus e ele beijou-me gentilmente.

Assim que seus lábios deixaram os meus ele sussurrou para mim:

- Eu te amo... - fiz o mesmo. Poucos segundos depois Calvin perguntou:

- Agora que vocês já se resolveram, me digam uma coisa, vocês vão morar juntos, certo?

Eu não havia pensado nisso, mas ele sim. Calvin estava mais preparado para essa situação do que eu.

- Se a Liv quiser... – Elliot disse, quase que esperando uma patada. Eu ri.

- Deixe-me pensar: morar sozinha, ou morar com os homens mais lindos do mundo? A segunda opção parece razoável. – fiz uma pausa, e então, disse a Calvin: - Calvin, você só tem um probleminha.

- Qual? - Ele me perguntou.

- Seu sobrenome. – respondi.

- Eu já pensei nisso: Calvin Benson Stabler.

Calvin sentou ao meu lado na cama, e eu o puxei para meu colo, abraçando-o e beijando-o por inteiro, enquanto ele ria. Elliot sentou-se ao nosso lado, acariciando-me os cabelos.

Pela primeira vez na minha vida, tudo se encontrava perfeitamente perfeito. O homem que eu amo me ama, e eu tenho o meu filho ao meu lado.

É, tudo estava perfeito.