Samantha estava perto de terminar o livro dado por Anne em sua velha poltrona e em frente da enorme vidraça, ela bebia um chá de hortaliças e frutas vermelhas, com a outra mão virava continuamente as páginas. Em sua mente lembranças do dia incrível que Anne, Bia e ela tiveram juntas sentadas na grama em volta de muitas árvores e folhas caídas no chão, se divertiam muito comendo sanduíches e sucos naturais, sentiu uma pontada no estômago, queria que aquele momento nunca tivesse acabado, a pele e olhos de Anne brilhavam de um jeito esplêndido, não tinha percebido o quanto nesses últimos dias elas tinham se encontrado, foram muitas, não que esteja reclamando, mas Anne devia ter percebido algo, não? Ou ela não sentia a mesma coisa que a morena o que era mais provável. Samantha não era uma pessoa que “conquista” ela era a que é “conquistada”, Anne devia sentir que quando estão próximas a energia em volta fica pesada, cheia de tentação e desejo, não podia ser que somente ela sentia aquela imensa química avassaladora.

Prrrrrrrrrrrr Prrrrrrrrrrrr

Uma mensagem tirou Samantha de seus profundos pensamentos e também de seu livro.

“Ás 16h no restaurante Piqué.”

“O que?”

“Vamos nos encontrar.”

“Sério? Mas assim de repente?”

“Você não tem tempo?”

“Sim tenho, só não estava esperando.”

“Vou com um vestido florido.”

“Eu ainda não pensei em minha roupa”

“Trate de pensar.”

“Vou te pagar minha bebida favorita nesse bar.”

“Eu também tenho uma.”

“Já sei, vou estar com uma blusa vermelha um pouco decotada e um jeans”

“Esta bem.”

“Por que esse encontro repentino?”

“Se eu não desse um primeiro passo você não ia dar.”

“Não mesmo”

“Não vai me dar um bolo? Vi muito isso em filmes.”

“Acredita em mim.”

“Ok”

“Devo levar presente ou sei lá algo?”

“Que isso executiva, não sabe como é um encontro?”

“Isso é um encontro?”

“Não, não é um “encontro” vamos nos conhecer.”

“Então é um encontro?”

“Você esta me confundindo, até lá.”

“Até.”

Samantha olhou para o relógio na parede e faltavam dez para às 15h, leu a última página do livro e guardou na estante.

— Livro incrível.

Foi em direção ao quarto e depois ao banheiro, tomou um banho de ducha e foi para o armário vestindo um roupão e uma toalha na cabeça. Abriu o armário e pegou sua blusa que tinha mencionado na mensagem, ainda não acreditava que iria mesmo se encontrar com a anônima, parecia estupido, mas ela não ligava, ela a fazia bem então resolveu ir. Marcou bem os olhos com lápis preto e borrifou algumas vezes seu perfume em seu pescoço, colocou o cabelo totalmente ondulado e macio de lado colocando alguns grampos na parte de trás e logo estava pronta.

Entrou no elevador e partiu dali para uma floricultura logo ao lado do prédio, no caminho Samantha montava algumas expectativas para esse encontro, era bonita? Era alta? Baixa? Tão linda quanto Anne? Espera, Anne não ligaria se ela fosse se encontrar com a anônima, claro que não, pois não há nada entre elas, Samantha consequentemente tentava se convencer do contrário. Pediu a atendente que lhe desse apenas uma flor, mas que ela representasse felicidade e afeto, a mulher com um sorriso trouxe a flor e a entregou, disse que se chamava alstroemeria, um nome um tanto quanto estranho, mas aquela flor representava o que ela sentia de alguma forma, como era só uma flor a mulher não aceitou o dinheiro que Samantha a ofereceu, abriu um sorriso e disse para levar a flor rapidamente, pois com aquele sol a flor poderia murchar, Samantha agradeceu e saiu apressando-se para o local.

Chegando na porta do bar não havia ninguém para recebê-la, ela mesma abriu a porta e entrou, olhou ao redor e ninguém a reconheceu momentaneamente então ela achou uma mesa não tão afastada da porta, pediu uma água e sentou.

Anne no entanto corria a rua até o bar, a mãe de Bia chegou atrasada e fez com que ela perdesse o horário, imaginou que a executiva já não tinha mais esperanças e já teria ido embora. A executiva seria uma oportunidade para ela mesma ter certeza o que ela queria, pelas mensagem constatou algo em sua cabeça que aquela mulher poderia resolver algumas perguntas sobre aquilo novo que estava sentindo por Samantha, pensou na morena e um sorriso surgiu no canto de sua boca, ela era linda e o seu corpo pedia pelo corpo dela de um jeito enlouquecedor.

Finalmente chegou em frente do bar, passou a mão em seu vestido e arrumou sua bolsa, olhou pelo reflexo da porta e não estava tão ruim, entrou e ficou fitando cada pessoa nas mesas procurando pela executiva, não conseguia enxergar ninguém com blusa vermelha e seguiu adentrando no bar.

Samantha já esperava pelo mal, ela não ia aparecer, foi uma estupida por ir a aquele lugar, ela poderia ser qualquer pessoa. Ela se levantou e foi até o bar sentar em uma daquelas banquetas, para pedir alguns drinks.

— Samantha?

Aquela voz podia penetrar sua pele até chegar em seu coração e derretê-lo por inteiro. Ela se virou e naturalmente abriu um sorriso.

— Anne?

— O que você esta fazendo aqui?

— Estou esperando alguém, e você, o que a senhorita esta fazendo aqui? - Riu de leve com um sorriso perverso.

— Esperando alguém. – disse isso e sentou na banqueta ao lado da morena.

Ficaram em um breve silêncio enquanto Samantha bebia um gole do seu drink.

— Se estou te incomodando eu posso sair. – disse apontando para a porta.

— Não. – pegou em seu braço. — Fica, acho que ela não vem. – abaixou a cabeça.

— Não sou a única aqui que levou um bolo, isso me faz sentir um pouco melhor, espera, ela? – A morena mudou sua afeição, um ciúmes inesperado.

— Sim, uma amiga.

— Conheceu ela como?

— Pelo celular, devo dizer assim.

Samantha riu:

— Estranho.

Nesse momento a visão de Samantha escurece enquanto ela olha para o que Anne esta vestindo, não, ela era a anônima, e como ainda não notou, ela só queria beijá-la, estava trocando pensamento com Anne a todo esse tempo, por isso estava tão interessada em vir, ela era o seu interesse, um pouco confuso, mas era ela, ela estava feliz e ao mesmo tempo fora desse planeta, Anne era sua confidente, isso não era possível.

— Samantha? Esta ai?

— Anne como você pode ser tão desligada. – a loira a olha com um olhar confuso e realmente perdido.

— Ora se não é a senhorita Samantha Klein e uma nova “amiga”. – diz uma voz rouca e ríspida fazendo aspas com as mãos.

Samantha ouviu aquela voz desagradável para seus ouvidos e momentos daquela noite no estacionamento passaram em seus olhos, imagens daquela arma cinza apontada brutalmente em sua direção, seu corpo tremeu, segurou em Anne e levantou.

— Verônica, só vai embora ok?

— Ir embora porque meu amor? Quer um momento a sós com essa ai. – disse com um expressão de desprezo para a loira.

— Como você tem a cara de pau de ainda falar comigo?

— Eu nunca vou desistir, já disse que vou ferrar com você Samantha. – disse se aproximando do ouvido da morena, o que fez com que Anne reagisse.

— Deixa ela em paz, sua louca. - falou ferozmente apontando para a ruiva.

— Olha. – dessa vez fez uma expressão de surpresa. — A poodle sabe latir.

Samantha fechou sua mão e partiu para cima da ruiva, mas foi parada pelas mãos de Anne que abriram seus dedos fechados com a tensão e os entrelaçou, parando a morena e levando ela para fora do bar.

Veronica deu uma risada alta e um tanto maléfica.

— Vão mesmo, pois saiba que qualquer dia posso ferrar com ela também.

Dessa vez a própria Anne voltou ao encontro da ruiva com suas bochechas vermelhas de raiva.

— Eu não tenho medo de você ou suas ameaças, você é baixa e para mim é um peso morto.

Verônica trincou o maxilar e deu um soco no canto da boca de Anne provocando um corte no local, a loira olhou para baixou e descarregou toda sua raiva em seu braço que ligeiramente atacou a bochecha de Verônica que caiu no chão tonta. Samantha que olhava tudo assustada correu para ver se Anne estava bem, um aglomerado de gente surgia ali, Verônica gritava muitos palavrões e mais ameaças, então Samantha arrastou Anne para fora.

Saíram andando pela rua, Anne com uma certa pressa, já escurecia e Samantha não sabia como falar com ela depois do acontecido, ela já tinha percebido que ela era a executiva e por isso estava agindo daquela forma? queria apenas agradecer.

— Anne, olha...

— Não Samantha. – Anne parou e falou a encarando.

— Acho que nós devemos nos afastar. – aquilo fez com que o coração da morena abrisse e partisse em minúsculas partes.

— Nós duas sabemos o que temos, e eu não estou preparada, devemos dar um tempo em tudo isso que esta acontecendo, essa mulher é perigosa e você sabe disso.

— Eu não...

— Samantha por favor. – a interrompeu.

— Não faz isso ficar pior do que já esta, por favor. – uma lágrima escorreu pelo seu rosto ainda vermelho.

A morena tirou a flor de dentro do seu bolso, ela já estava amassada, mas ainda tinha a mesma aparência de quando havia pegado, a entregou, uma lágrima também escorreu de seu olho, ela trouxe uma flor, tudo na mente de Anne se abriu, ela sabia.