Não sei que horas eram exatamente quando eu deitei, só sei que no meio da noite, tive um pesadelo terrível, parecia muito real, as mesmas visões voltaram e agora bem pior que antes, se é que tinha como ficar pior. Eles corriam atrás de mim num labirinto que nunca tinha fim, quando finalmente achava uma saída, eles apareciam como se fosse uma bruxaria, mágica, não sei como posso chamar isso, aquela mulher de antes, que sempre tentava me alcançar, dessa vez conseguiu, ela me derrubou no chão e rapidamente começou a subir em cima de mim e quando finalmente chegou perto de meu rosto, ela cuspiu uma coisa preta e gosmenta que tinha um cheiro horrível, parecia cheiro de sangue misturado com esgoto e outras coisas piores, Tânatos que se dizia meu amigo, via tudo o que acontecia de braços cruzados, parecia se divertir com o meu sofrimento. Esse sonho não acabava nunca, o que só aumentava minha aflição. Então me senti sendo chacoalhada e senti meu rosto molhado. E finalmente acordei com Pablo ao meu lado da cama.

– O que aconteceu Mel? Por que você estava gritando? – Ele perguntou preocupado.

– Eles voltaram, eles me querem, me ajuda. – Falei desesperada.

– Não acredito Mel, isso já está indo longe de mais, precisamos saber o que realmente acontece para você ficar assim. Mas por enquanto, volte a dormir.

– Não, eu não posso ficar aqui sozinha, por favor, me deixa ir dormir com você.

– Tudo bem, vamos logo que eu estou com sono. – Ele disse segurando na minha mão e me ajudando a levantar. Não que eu não tivesse pernas. Acho que o Pablo tinha medo que eu tocasse o chão, por que mesmo que eu não quisesse, ele me carregava. Chegamos a seu quarto, ele me deitou na sua cama, e se deitou do outro lado, então chegou mais perto de mim me abraçou e começou a acariciar meus cabelos, uma técnica infalível para querer se livrar de mim, pois assim que tocam neles automaticamente durmo, não foi diferente, eu dormi rapidamente e acordei com o meu celular despertando novamente como ontem.

Eu me sentia bem, parecia que tudo tinha sido um sonho, olhei as horas no meu celular, eram 05:45 olhei a data nele, terça-feira. Olhei para o meu lado, Sidney estava dormindo, eu estava no meu quarto, Pablo já não estava mais lá, olhei tudo em volta, estava exatamente como ontem. Segunda, acordei Sidney sacudindo e chamando por seu nome, enfim ela acordou.

– O que foi Mel? – Ela perguntou com cara de sono.

– Que dia é hoje?

– Terça, por que?

– Aconteceu alguma coisa ontem?

– Não, por que?

– Tem certeza? Você está bem?

– Sim, por que não estaria? – Ela perguntou curiosa.

– Por nada, só queria saber.

– Não lembra de ontem?

– O que aconteceu ontem? – Perguntei alarmada.

– Ontem nós estávamos indo para minha casa quando você desmaiou no meio da rua, então como minha mãe já tinha voltado de viajem, eu pedi para ficar mais um dia aqui, para saber se você estava realmente bem, e bem, você só acordou agora, ou seja, você ficou desde ontem a tarde dormindo, nem com um caminhão você acordava. Você mesma disse que estava sentindo um aperto no peito, veio um médico aqui e disse que você estava assim por não estar se alimentando direito, e disse outras coisas que eu não prestei muita atenção.

– Espera, eu dormi a tarde toda, e só acordei hoje? – Perguntei incrédula e ela assentiu. – Você não sabe como eu fico feliz em saber disso. – Falei abraçando ela. – E sua mãe, como está?

– Está ótima, ela trouxe até presente pra você, mas como você não estava bem, passaremos em casa hoje pra pegar. Você vai adorar, agora vamos parar com o papo que se não nos atrasamos para a escola. Você vai primeiro ou eu?

– Pode ir, estou com sono, vou tirar mais um cochilo e quando sair me avisa, por favor?

– Tudo bem, eu te chamo. – Sorriu e entrou no banheiro.

Obrigada senhor foi só um sonho, um maldito sonho, ou melhor, pesadelo. Espero nunca mais viver isso na minha vida. Mas parecia tão real, por que será que aquilo aconteceu? Será mesmo que aquilo era verdade sobre Tanatos? Será que ele mataria se eu quisesse? Prefiro nem pensar que isso aconteceria, da até arrepios pensar que isso poderia ter acontecido realmente, deitei a cabeça no travesseiro, agora mais calma, e consegui fechar os olhos por mais algum tempo, quando sou acordada novamente com Sidney me chamando para me arrumar, e assim fui. Entrei em baixo do chuveiro e me acalmei com a água quente que caia e relaxava meus músculos, fiquei em torno de 15 minutos naquele banho, quando sai Sidney como sempre já estava arrumada, só estava colocando sua sandália. Fui até meu Closet e peguei uma roupa, me arrumei, finalmente estava pronta para poder ir para a escola.

Desci feliz quase pulando por saber que aquilo tinha sido um sonho, apenas um sonho distante e que minha vida continuava perfeita. Fui para a cozinha e preparei um café que há tempos não fazia e que me deu vontade: ovos com bacon, suco de laranja, pães. O medico disse que eu tinha que comer, pois bem, estou comendo. Sidney até me olhou assustada com isso, pois todos os dias eu comia no máximo uma torrada com um gole de suco, mas não liguei, como sempre.

– Amiga, você quer engordar é? – Perguntou arregalando os olhos.

– O médico disse que eu não estava me alimentando, então eu tenho que fazer de tudo para não ficar daquele jeito novamente.

– Mas não precisa ficar como uma vaca pra isso acontecer. – Ela falou irônica.

– Ai menina me deixa ser feliz. – Falei fazendo uma careta.

–Tá bom, engorde sozinha então. – Ela disse revirando os olhos e em seguida se levantando. – Vou escovar meus dentes, já volto.

– Ok. – Respondi tomando o ultimo gole do meu suco e em seguida me levantando e subindo as escadas para fazer o mesmo que Sidney.

Terminamos, pegamos nossas mochilas e saímos, parecíamos duas loucas no meio da rua, abraçadas, cambaleando e cantando nossas musicas, se alguém nos visse assim, pensaria que estávamos bêbadas. Depois de 7 minutos andando chegamos a porta da escola, e tivemos uma surpresa: não teria aula hoje. Que ótimo, acordamos de quase 6 horas para vir e dar de cara com a porta fechada. Eu fiquei feliz na hora, mas segundos depois eu fiquei revoltada.

– Como pode, não ter aula e eles não avisam. – Falei chutando o portão.

– Se acalma amiga, não tem escola, temos que ficar felizes, não importa se acordamos essa hora, é só voltar pra casa ou ficar zanzando por ai. – Falou calma, me convenceu e então me acalmei, comecei a pular de alegria junto a ela, sim eu sou bipolar, é o que parece.

– O que você acha de ficarmos um pouquinho na praça, seria melhor do que ficar em casa. – Perguntei animada.

– Tudo bem, não estou a fim de voltar agora. – Ela disse dando de ombros e pegando no meu braço. – Vamos.

Saímos andando novamente e então me lembrei de uma coisa.

– Amiga, será que amanhã tem aula? Não quero chegar e bater de cara novamente. – Falei fazendo careta.

– Esqueci, vamos voltar então. – Voltamos e fomos até a diretoria. Disseram que hoje não teria aula por que os professores estavam discutindo sobre algo que não entendemos muito bem. E disse que só voltaríamos a ter aula na segunda que vem, acredito que já devem imaginar como ficamos.

Saímos pulando e gritando de lá até a praça, sentamos em um dos bancos e começamos a conversar felizes. Sobre varias coisas, e então vimos alguns garotos vindo na direção em que estávamos, ou melhor eles estavam vindo para onde estávamos, que ótimo. Olhei varias vezes até conseguir ver quem eram. Um deles era o irmão do professor Marcos, quase cai para trás, Sidney que ainda não tinha percebido aquilo, eu cutuquei o seu braço e então ela seguiu meu olhar para finalmente ver por que eu estava daquele jeito. Eles vieram até nós e pararam ao nosso lado.

– Oi meninas, tudo bem? – Alex perguntou animado.

– Tudo sim. – Respondemos e sorrimos ao mesmo tempo.

– O que essas duas meninas lindas estão fazendo fora da escola?

– Não teve aula hoje, não queríamos voltar para casa. E bem, estamos aqui. – Falei sorrindo e Sidney apenas afirmou.

– A claro, não era para estar aqui, mas tudo bem.

– E vocês estão indo a onde? – Perguntei curiosa.

– Estamos vindo de uma baladinha qualquer. – Ele disse sorrindo, só agora pude notar, ele estava um pouco mais alegrinho do que da ultima vez. – E bem, esses são meus amigos, Michael, August e Peter. – Ele disse apontando para os outros três garotos que estavam ao seu lado, todos eram lindos, babei geral agora.

– Oi meninos. – Nós dissemos acenando para eles, que nos olharam e sorriram todos ao mesmo tempo.

– Vão ficar aqui? – Alex perguntou olhando para mim.

– Acho que sim, mas daqui a pouco vamos para casa.

– Ok então, nós já vamos. Tchau meninas. – Depois disso ele deu um beijo no rosto de nós duas sendo seguido pelos outros. Deram um aceno e então foram se afastando aos poucos até os perdermos de vista. E Sidney começar a falar suas besteiras de sempre.

– Amiga, o que é isso? – Perguntou com os olhos arregalados. – Como podem existir amigos tão lindos, me belisca, não num faz isso. – Ela disse quando eu ia esticando minha mão para fazer isso, eu ri muito.

– Ai menina, para com isso, você baba em todo mundo que aparece na tua frente. – Falei dando um tapinha leve na testa dela. E ela como é muito besta, me deu língua, e começou a rir.

– Me deixa ser feliz, eles são lindos sim, quer que eu diga o que? Eu estou apenas sendo realista. – Deu de ombros.

– Sidney, que horas são? – Perguntei erguendo uma sobrancelha. Ela virou e pegou seu celular na bolsa.

– São exatamente, 08:15.

– Nossa, ficamos isso tudo aqui sentadas? Caramba.

Um tempo depois apareceu um homem que estava passando ao nosso lado parou e perguntou as horas.

– Desculpem meninas, mas que horas são? – Sidney novamente pegou seu celular, então ele já falou. – Me dá esse celular.

– Se quiser um vai comprar idiota. – Ela disse tentando voltar a guardar o celular. Mas ele avançou nela, e dessa vez com uma faca.

– Me dá ou eu te mato agora, e não vai adiantar gritar. - eu não estava aguentando ver aquilo, Sidney estava quase cedendo, eu não ia deixar.

– Solta ela e sai daqui. – Falei levantando e pulando em cima da mesa. Foi tão rápido que nem lembro direito, só sei que ele estava sangrando e saiu correndo sem conseguir pegar nada e não olhando mais para trás.