Velha Velha escrita por Tainan Oliveira
Os tons azuis do céu estavam se dispersando em meio à imensidão de raios solares infernais que acolhiam os bosques do sul. Um grupo de turistas vasculhava a região, em busca de curiosidades sobre a árvore mais velha do país. A expedição era escoltada por um casal de guias muito experientes que já haviam explorado a grande floresta, para um mapeamento.
Ocorreram perdas marcantes no reconhecimento territorial, os dois foram pegos de surpresa por uma amostra de furacão que roubara um presente de suma importância para a mulher: O Guarda-Chuva Vermelho, a mais famosa raridade chinesa.
A floresta era palco de sombras dançantes que abençoavam os visitantes com o alivio do calor. O solo úmido e os animais rastejantes eram armadilhas perigosas aos olhos dos turistas, que exageravam nos repelentes e protetores solares. O caminho mais seguro a ser percorrido estava sendo guiado pela líder do grupo, uma mulher ávida e impaciente, que consultava um mapa muito mal desenhado. Ela fora a primeira a recuar, quando descobrira que o seu caminho estava sendo obstruído por uma velha que retirava água de um enorme poço no meio do nada. Todos os turistas se espantaram quando também perceberam a velha que abrigava-se sob um pequeno Guarda-chuva vermelho. O corpo gordo, envolvido em um espesso manto negro, não transpirava uma gota de suor no calor intenso. O rosto estava coberto por um véu que impossibilitava sua visibilidade, e as mãos flácidas, titubeavam ao segurar o balde pesado.
Ela custou a perceber o grupo de pessoas extasiadas que não ousavam em falar uma palavra, finalmente demonstrou alguma expressão quando ouviu uma voz masculina exclamar:
— MERDA! O que é isso?
— Olhe o vocabulário, meu filho! — Uma voz cansada produziu ecos pela floresta, a velha virou-se e foi possível identificar as feições amigáveis que o seu rosto tentava transpassar.
— Hum... Senhora... O que a senhora está fazendo aqui? — A guia conduziu a conversa.
— Minha filha, tu é cega por acaso? E meu nome é Odete, não senhora! — A velha ironizou.
— Não, não, é por que ontem nos passamos por aqui e não tinha nenhum poço!
— Capaz? Tu deve ta loca guria, ou deve ta fumando uns trequinho! — Odete olhou nos olhos da guia e soltou uma gargalhada.
— Onde a senhora... Você mora, Dona Odete? — Ela mudou de assunto bruscamente.
— Vamo comigo ali toma um chazinho que eu te mostro, é só uns minutinhos, e tem espaço pra todo mundo. — Odete apontou com o guarda-chuva para os turistas que permaneciam assustados. A guia caminhou até o marido e ficou na ponta dos pés sussurrando ao seu ouvido:
— Continua com eles, eu vou ver onde essa veia loca mora! Encontro vocês daqui uns minutos nesse mesmo lugar. — O marido assentiu e continuou tentando unir a expedição novamente.
— E, aliás, Pra que o Guarda-chuva? — A guia deixou-se levar pela curiosidade.
— Que Guarda-Chuva? — Odete sorridente observou a reação estranha da mulher que começou a segui-la em direção a casa.
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CONTINUA...