Visita Ao Condado escrita por Vindalf


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Há tempos eu vinha me sentindo incomodada com as discrepâncias com relações aos acentos nos nomes dos membros da Companhia de Thorin Oakenshield. Portanto, deixo claro que, a partir de agora, em todas as minhas fics usarei a grafia indicada por Tolkien no apêndice sobre a Linhagem de Durin, conforme o relato de Gimli, filho de Glóin, ao rei Elessar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/389513/chapter/1

Bilbo Baggins entrou em casa em Bag End com agitação, trazendo mais novidades do que a correspondência em sua mão. Antes mesmo que ele partilhasse as novas, porém, foi distraído pelo andar cambaleante de seu pequenino, que veio saudá-lo.

— Papá!

Bilbo sorriu. Pôs as cartas no aparador mais próximo da porta e abaixou-se para pegar o filho.

— Você fugiu de sua mãe de novo?

Com efeito, uma voz feminina veio de dentro:

— Frerin, onde você está?

— Está comigo! — Bilbo ergueu a voz, com o pequeno no colo. — Veio me ver assim que entrei.

Com um ruidoso suspiro entre alívio e irritação, Helva foi até o marido e dirigiu-se ao filho:

— Frerin Baggins, você é um terror ambulante! Vai matar sua pobre mãe antes da hora!

Como se respondesse à mãe, o menino de cabelos muito pretos e olhos muito azuis balbuciou:

— Papá!

Bilbo comentou:

— Agora que ele está andando, vamos precisar ficar mais atentos. Você se lembra do episódio dos barris de cerveja.

Helva sorriu, ao se lembrar do susto que o pequeno dera, na ocasião que, aproveitando-se da distração de seus pais, o bebê engatinhara pela toca até chegar à adega e abrira as torneiras de dois barris de cerveja caseira. Frerin divertira-se tanto que foram seus gritos de alegria que localizaram o pequeno traquinas. Bilbo passou dois dias limpando o local.

— Não precisa me lembrar — disse ela. — Daqui a pouco estará na hora do banho: ele vai querer fugir de novo.

Bilbo passou-lhe o menino, dizendo:

— Hamfast voltou com as ferramentas de jardinagem e também trouxe uma notícia: parece que viram um anão passar por Bri e perguntar onde ficava o Condado. Talvez não signifique coisa alguma, mas achei que você deveria saber.

Helva procurou não demonstrar a ansiedade, ocupando-se do filho e dando de ombros:

— Não é incomum anões passarem por Bri. É caminho para Ered Luin.

— É claro — disse Bilbo. — Mas me chamou a atenção que perguntasse pelo Condado.

Helva encarou o marido:

— Você acha que é alguém da companhia?

Bilbo confessou:

— Eu gostaria que fosse. Sinto falta deles. Mas o rei de Erebor proibiu todos de falarem do assunto, você sabe...

Helva sentiu um vazio no peito, uma dor física no coração, ao se lembrar dos companheiros de estrada. Aqueles tinham sido os dias mais felizes de sua vida. Mas depois teve o desfecho...

Ela inspirou fortemente, procurando afastar as lembranças, e beijou o filho, dizendo:

— Talvez não seja nada, como você disse. Seja como for, saberemos em no máximo dois dias. Agora eu preciso levar esse rapazinho para um banho.

Bilbo viu sua esposa ocupar-se da criança, bravamente tentando mostrar um rosto alegre que certamente não refletia o interior de seu coração. Preferiu nada mencionar, pois também sentia seu coração pesaroso e tenso.

Naquele dia, nem as risadinhas de Frerin conseguiram aliviar a tensão em Bag End.

0o0 o0o 0o0 o0o

O diálogo foi esquecido no dia seguinte, quando Frerin caiu e ralou os joelhos ao correr na rua com seus primos. Uma das suaves colinas do Condado foi traiçoeira demais para as perninhas curtas do menino de três anos e ele caiu na rua de pedras, ralando consideravelmente os joelhos. Com paciência, Helva tratou do ferimento e consolou o menino, que terminou por ficar amuado o dia todo. Como sempre acontecia nessas ocasiões, o garoto ficava agarradinho aos pais. Ele era especialmente agarrado a Bilbo.

Na hora de dormir, Helva contou ao pequeno uma linda história de um coelhinho que pulava muito e machucara a patinha, mas que tinha os pais, os tios e primos para ajudá-lo sempre que precisasse. Com o beijo de boa noite na cabecinha do filho, a mestiça o cobriu com carinho e foi ao quarto que dividia com o marido.

O filho era a principal alegria, ocupação e preocupação dos dois. Eles viviam para Frerin. A origem do menino jamais era questionada ou mencionada. Para Bilbo, ele era seu filho, amado como se fosse de seu próprio sangue.

Quando o dia amanheceu, o primeiro a levantar foi Frerin, numa explosão de energia. Ele foi tirar os pais da cama, disposto a reclamar o primeiro desjejum cedinho. Helva deixou Bilbo dormir mais um pouco e foi com o menino para a cozinha, onde acendeu o fogão, e depois ajudou Frerin a lavar-se antes de se sentar à mesa. Quando Bilbo levantou, seu desjejum estava pronto.

A vida doméstica seguiu o ritmo até depois do segundo café da manhã, quando Bilbo e Frerin se entretinham em uma brincadeira na sala de sentar e a campainha da porta da frente tocou. Ocupada com as elevenses, a refeição das onze horas, e o almoço, Helva pediu ao marido que atendesse.

Para sua surpresa, quando Bilbo abriu a porta redonda de sua casa, viu-se diante de um anão alto, imponente, com trajes intricados, um longo sobretudo, olhos azuis e cabelos pretos trabalhados em tranças longas e uma penugem no rosto, ao invés de barba comprida. Havia dois outros, armados, logo atrás. A surpresa era por dois motivos: Bilbo sabia que nunca tinha visto aquele anão, mas por algum motivo, ele parecia familiar.

— Esta é a casa de Bilbo Baggins?

— Isso mesmo — disse ele. — Eu sou Bilbo Baggins. Posso ajudar?

O anão empertigou-se todo e apresentou, com um leve meneio de cabeça:

— Eu sou Dís, princesa de Erebor e mãe de Fíli, rei sob a montanha.

O rosto de Bilbo se iluminou num sorriso, e ele exclamou:

— Você é mãe de Kíli e Fíli! Entre, vamos!

Dís ergueu uma sobrancelha, surpresa, mas entrou na casa. Seus acompanhantes ficaram de guarda. Bilbo indagou:

— Vocês não vêm?

A princesa respondeu:

— São minha escolta pessoal. Farão a proteção da casa.

Bilbo fechou a porta e chamou:

— Helva, venha! Você não vai acreditar em quem está aqui! — Para a anã, ele convidou: — Por favor, sente-se.

0o0 o0o 0o0 o0o

Aquela certamente não era nem de longe a recepção que Dís esperava. Aquela gente tinha sido expulsa de Erebor. Praticamente foram escorraçados. Como a recebiam como se fosse um parente distante?

A criatura (“Um hobbit”, corrigiu-se) voltou rapidamente, dizendo:

— Ela já vem. Gostaria de tomar um chá conosco? Já estamos quase na hora das elevenses.

A princesa confessou:

— Não gostaria de incomodar.

— Que nada — insistiu o hobbit. — Como disse, nós já íamos tomar elevenses de qualquer modo. E os nossos amigos? Estão todos bem em Erebor? A cidade já foi reconstruída?

A anã ia responder algo quando foi interrompida pela chegada de uma outra criatura ainda menor do que o hobbit, que trazia um menino no colo.

Um menino que era muito parecido com Thorin.

As duas mulheres se encararam, ambas com expressões de surpresa por diferentes motivos.

“Ela é a cara de Thorin”, assustou-se Helva ao ver a anã.

“Ele é a cara de Thorin”, espantou-se Dís ao ver o menino.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

continua...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Visita Ao Condado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.