Liz Ou A Guardiã escrita por CR


Capítulo 37
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões por toda esta demora, tive tantas coisas por fazer e sei que a maioria já está à espera que seja muito demorada, mas que vergonha. Os dias passam e nem dou por eles devido à carga de trabalhos em que estou mergulhada. Mil Desculpas!

Mas.... FELIZ ANO NOVO! QUE ESTE NOVO ANO SEJA MELHOR QUE O ANTERIOR PARA TODOS VOCÊS!
Boa leitura^^



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Um Pedido Difícil

— Guardiã! – Um elfo já com muita idade no olhar aproximou-se dela, assim que surgira junto com Legolas.

— Golinas! – Ela cumprimentou com uma pequena vénia, muita formalidade.

— Por que nos abandonastes? – Perguntou o elfo loiro, o tom de voz baixo, como se não quisesse ser escutado.

— Não vos abandonei. – Respondeu. – Pelo menos, não particularmente vós.

— Sei que não. No entanto, a Guardiã vem cá e oferece-nos discursos motivadores como se… - Ele diminuiu ainda mais o tom de voz – como se fosse o melhor exemplo a ser seguido. Mas não é, cara dama, nunca abandonaremos os elfos que amamos por medo da guerra. Não está na nossa natureza élfica.

— Pois… Eu não sou nenhuma elfa.

— Acredite, nós sabemos. – Golinas disse.

— Muito bem. Se é tudo, por favor, deixa-me seguir o meu caminho.

— Pequena Liz, lembra-se de mim?

— Claro que me lembro de si, Golinas. Se bem me recordo, deve ter sido a primeira face que fitei em Mirkwood. É difícil esquecer a cara de um ser que olha com tanto desprezo para a minha mãe.

— Não era desprezo, era repúdio. – Ele contrariou.

— Muito melhor. – Ela disse friamente. – Também faz parte da natureza élfica repudiar as pessoas só por amarem?

— Não fales como se não valorizássemos o amor. Somos o povo do amor…

— Claro que são, desde que esse amor se reduza ao vosso próprio povo. – Ela concordou duramente.

— Aparentemente a Guardiã deve pensar-se muito superior a nós. Nós somos o povo do amor. Se só existíssemos nós aqui, a Terra Média seria perfeita.

— Sim, porque o senhor é tão perfeito agora. Trata tão bem as criaturas, tem tanto respeito… - Disse Liz sarcasticamente.

— Acredite, se não houvesse pessoas como a senhora ou como os outros em geral, eu não seria assim, não teria de ser assim.

— Só reage mal a tudo o que é diferente daquilo que vê num Elfo, não é? – Ela perguntou. – Não o devia recriminar por isso, mas recrimino-o. Não é metade da criatura exemplar que pensa que é.

— Está a dizer que sou arrogante?

— Sim, mas a arrogância não é um problema. Galadriel, a senhora de Lorien é arrogante, e amo-a deveras. O problema com o senhor, caro Golinas, é que, para além de arrogante, é preconceituoso e ignorante. Além disso, despreza tudo o que considera diferente. Não há nada em si que me diga que devo respeitá-lo, nem sequer a sua longínqua vida.

— Diz isso porque pensa mesmo assim ou porque, ao contrário dos demais elfos, não perdoo o que fez com a missão, porque não concordo com o que fez?

— Ao contrário dos demais elfos? Golinas, sofro com as consequências da minha decisão há muito tempo. A sua reação ao que eu fiz não a recebo de modo diferente. – Liz tentou passar por ele, mas ele impediu-a.

— A sua fraqueza coloca toda a Terra Média em risco.

— E não é sempre assim? – Perguntou. – Todos temos fraquezas, os Elfos não são exceção. Veja Thranduil, seu rei, e a fraqueza que tem por diamantes que brilham mais do que a estrela mais brilhante. Veja Galadriel, que ama o poder. Sabe porque ninguém vê isso? Porque as coisas boas que fazem ou que fizeram são mais importantes do que esses pontos fracos, porque eles conseguiram ultrapassar as suas fraquezas. Eu também, devia perceber isso.

— Por sua causa, corremos um risco ainda maior…

— Eu sei. Mas o risco viria de qualquer modo.

— E nem sequer estará cá para lutar ao nosso lado.

— Pela hostilidade com que me trata duvido que me quisesse ao seu lado numa batalha.

— Claro que não queria, mas leva o nosso príncipe consigo.

— Não. – Ela abanou a cabeça. – Legolas seguirá comigo, mas não o levei a fazer nada. Vai por escolha sua.

— Escolha sua? E lá o nosso príncipe vai por escolha? Que outra opção teria ele: ficar e abandonar a criatura que mais ama numa viagem que será certamente a sua morte? – Ele perguntou, surpreendendo-a.

— Golinas…

— Legolas, não te intrometas. O problema dele é comigo. – Liz interrompeu o companheiro.

— Aparentemente é também comigo.

— Príncipe Legolas, não o culpo de nada…

— É esse mesmo o problema, Golinas… - Legolas disse. – Só culpas Liz por tudo o que se passou. Como se o mal que existe no mundo fosse culpa dela exclusivamente. Pior, culpas os outros povos, como se também os elfos não tivessem culpa, como se os elfos não fossem capazes de atos cruéis. Sim, somos o povo bom, mas nem todos somos bons. São mais raros os que não o são no nosso povo, mas existem. É verdade que Liz foi fraca, mas também não podes dizer que és muito forte se vens aqui acusá-la de nos meter em risco.

— Ela veio para cá, mesmo sabendo que podia trazer perigo. Ela contou quem era e, por isso, os exércitos de Saruman aproximam-se mais rapidamente.

— É lamentável que penses assim.

— É a verdade, no entanto. Príncipe Legolas, por causa da Guardiã, não combaterá connosco.

— Não é só por minha causa. Legolas e eu estamos com a Irmandade do Anel. – Liz disse. – Nós temos que ir ter com os outros. Eles já perderam muitos companheiros pelo caminho.

— Inclusive o humano que a senhora seduziu e que colocou toda a missão em risco.

— Estás muito bem informado. – Disse Legolas, desconfiado. – Foste tu que informaste do inimigo sobre Liz?

— Claro que não. – Ele disse, indignado.

— Liz não seduziu ninguém. Boromir apaixonou-se por ela, é verdade, mas não foi porque ela o seduziu. A nossa caminhada, Golinas, é difícil, não há danças sensuais nem momentos românticos com música e estrelas.

— Bem, seduziu-o a si, Príncipe Legolas. E não o precisa negar. Vi-vos à beira do lago há pouco.

— Confio que não partilharás essa informação com ninguém. – Ordenou Legolas.

— Claro que não. – Liz disse. – Ele odeia a ideia de que Elfos se misturem com outros povos, deve ser ainda pior quando esse Elfo será o seu futuro rei. Imagino que ficarás feliz por saber que eu e Legolas não nos uniremos. Aquele momento íntimo que, infelizmente, presenciaste, foi apenas isso: um momento.

— Liz, para! – Legolas disse.

— Um momento? É assim que funciona na cabeça das humanas? Foi apenas físico?

— Queres uma história de amor?

— Quero. – Respondeu. – Posso não gostar de si, Guardiã, mas se trata assim o amor do meu Príncipe tenha a certeza de que gosto ainda menos.

— O amor de Legolas por mim não é desse tipo… Eu sou como uma irmã mais nova para ele.

— Incesto fraterno é abominável para os elfos.

— Eu não sou realmente sua irmã.

— Não, não é, nem o é figurativamente. Cara Liz, não quero saber se se deita tão intimamente com todos os seres com que se cruza, mas fazer isso com o meu príncipe é imperdoável.

— Golinas, para! – Legolas ordenou, afastando-o de Liz. – Já passou pela tua cabeça que tanto eu como Liz somos adultos?

— Sei bem. – Liz olhava para o chão agora, sentindo os olhos de Golinas sobre si. – Eu não posso…

— Não é assim. – Liz sussurrou mais para si do que para os outros dois. De seguida, ergueu o rosto para Golinas. – Estás enganado acerca de mim, como estavas acerca da minha mãe. Ela era a melhor criatura do mundo, o amor que sentia pelo meu pai era enorme, ainda o é. Mandos autorizou-a a conversar comigo uma vez quando eu estava às portas da morte. Foi ela que me deu força para seguir em frente e não foi apenas nessa vez. A minha mãe era muito melhor criatura do que tu ou do que qualquer elfo que conheças. Não me importa se os Elfos são o povo do amor. A minha mãe era a criatura do amor. E eu… - Ela olhou para Legolas. – Eu sou muito mais do que uma mulher à procura de somente algo físico e não procuro isso com todos aqueles com quem me cruzo. A minha mãe ensinou-me a valorizar os meus sentimentos e nunca senti algo que me fizesse deitar com outros seres a não ser Legolas. Podes agora deixar-me passar?

— Guardiã!

— Não! – Ela disse altivamente. – Para de me chamar assim quando obviamente não acreditas que cumprirei a minha missão. Depois de seres tão direto é desnecessário seres tão hipócrita ao ponto de me chamar por um título que acreditas que não mereço.

— Muito bem… Liz, a Fogueira, podemos conversar um momento a sós?

— Não. – Legolas respondeu imediatamente, pegando na mão de Liz. – Basta, Golinas.

— Meu príncipe, Liz já não é a criança que conheceu há anos. É uma adulta agora, recorda-se?

— Não há problema. Legolas, vai para lá fazer o que queres fazer. Assim que terminar aqui, vou ter contigo.

— Liz. – Legolas apertou a mão da ruiva, olhando-a preocupadamente.

— Achas mesmo que são meras palavras que me vão deitar abaixo? – Perguntou ela com um pequeno sorriso. – Legolas, meu príncipe, meu verdadeiro amigo, só de saber que estás a meu lado quando precisar me basta para seguir em frente.

— Eu… - Ele largou-lhe a mão. – Não demores, Golinas.

— Claro que não. – Quando Legolas se afastou, Golinas virou-se para Liz: - Acompanha-me a subir a estar árvore.

Liz acenou com a cabeça e, com a mesma rapidez e agilidade que Golinas, subiu lindamente ao lado do elfo.

— O que queres? – Disse ela, olhando para o céu, equilibrada num ramo.

— Perguntar-te algo. – Ela olhou-o, a sobrancelha erguida. – Se sempre soubeste como me sentia em relação a ti e à tua mãe, por que razão te aproximaste de Maerthîr, meu filho?

— Porque não acho que ele devia pagar pelos erros do pai. Não foi Maerthîr quem fitou a minha mãe daquela maneira. Por que razão nunca o afastou de mim?

— Porque sei que os meus preconceitos não devem ser os dele.

— Faz muito bem. Maerthîr é especial. – Disse Liz. – Não tem medo de se descobrir, de enfrentar o mundo nem de alargar horizontes.

— Por causa de ti.

— Não. Por causa de ti. – Ela disse calmamente. – Preciso de ir.

— Tu não tens orelhas pontiagudas, nem és assim tão alta… Fisicamente, em nada te assemelhas a uma elfa, a não ser talvez pela tua extrema beleza.

— Eu sei.

— Não és nenhum Mago como Gandalf, a quem os elfos respeitam. Tu és uma mistura de povos e… É difícil para mim fitar-te com olhos que não os do preconceito. Acredito que tudo é culpa tua. Que, se não tivesses fugido, o problema já estaria resolvido, ou então que, se Doe tivesse dado a tua missão a um elfo, tudo já estaria bem. É nisso em que acredito. Estou errado em pensar assim?

— Estás errado em pensar assim por conta de um preconceito. – Ela respondeu facilmente. – E, como disseste, sou uma mistura de raças, incluindo élfica. Por essa parte, devias respeitar-me, se não por mais nada. Não sou uma elfa, mas também faço parte do teu povo e Doe, o mais sábio dos Elfos, o sabe. Por essa razão, me deu a missão. Seria agradável sentir o apoio de todos, pelo menos uma vez na vida, mas… - Liz olhou-o duramente. – O teu apoio é-me indiferente.

— É tudo indiferente para ti, não é?

— Não. – Liz respondeu, descendo da árvore. – Ninguém me é indiferente aqui, nem mesmo tu, só mesmo o teu apoio. Tenho o apoio de todos aqueles de que preciso.

— Eu ainda não acabei.

— Acabaste sim. – Ela contrariou, virando-lhe costas e seguindo o seu caminho.

Mal entrou na clareira onde a maior parte dos guerreiros se reunia, encontrou a forma de Legolas que falava com alguns guerreiros. Como se sentisse a sua presença o príncipe de Mirkwood ergueu os olhos para a fitar, abrindo um sorriso suave. Ela sabia que ele estava com medo que ela fosse sem ele, afinal já o tinha feito uma vez.

— Liz.

— Ada! – Ela virou-se para ele, sentindo o seu terno abraço. – Fiz mal em vir?

— Não, tu e Legolas fizeram bem em voltar. E o teu poder, a tua aura… Isso pode ajudar. – Ibetu respondeu. – Vocês já estão bem?

— Não completamente. – Ela foi honesta na sua resposta. – Mas estamos a caminhar para isso. Nós somos os melhores amigos.

— Claro. – Ele separou-se dela. – Eu estou muito orgulhoso de ti, da pessoa em quem te tornaste.

— Obrigada! – Ela disse com os olhos húmidos. – Ada… Esta pode ser a última vez que nos fitaremos. Tu sabes… - Ela respirou fundo. – A minha missão pode fazer com que eu morra. Oh, quem quero enganar? Esse é o meu destino mais certo. Por isso, ah, Ada, eu quero despedir-me de ti da maneira certa.

— Não existe uma maneira certa para um pai se despedir da filha para a morte. – Ibetu disse, acariciando-lhe a face. – Não é justo.

— Mas é o que tenho a fazer.

— Eu sei. Amo-te tanto, minha filha! E acredito que cumprirás a tua missão com sucesso custe o que custar, mesmo que o custo seja a tua vida.

— Alguma vez te arrependeste?

— Arrepender-me?

— Sim, de teres amado a mãe, de me teres como filha?

— Nunca.

— Mesmo com a dor? Quando a mãe morreu, quando eu fugi?

— Os momentos de dor nunca me fizeram arrepender de nada, melinyel. Muito pelo contrário. Fizeram-me ver como fui sortudo por ter ao meu lado duas das mulheres mais fortes da Terra Média. Nem por um segundo, Liz, me arrependerei de te ter tido como filha, ou de ter a tua mãe como esposa, pois o amor que sinto pelas duas continua forte e continua a ser o pilar da minha existência. Percebes? A dor nunca trará o arrependimento de ter amado.

— Eu percebo. – Ela disse. – Obrigada!

— Liz!

— Avó! – Ela abraçou-a fortemente, sentindo as lágrimas da mais velha.

— Já chorei pela minha filha e agora pela minha neta. A vida não me tem sido favorável no parâmetro das perdas.

— Vais superar a dor.

— Sim, vou. – Ela concordou. – Mas nunca vos esquecerei. Amo-te!

— Também te amo.

— Há tanta coisa que te queria dizer, mas só quero que me prometas uma coisa.

— O quê?

— Sei bem que não posso ser como todas as outras avós e pedir-te que tenhas uma vida feliz, mas quero pedir-te que tenhas momentos de felicidade nos dias que restam até cumprires a missão.

— É tão difícil em guerra.

— Não é difícil quando existe amor. Promete, Liz!

— Tentarei! – Ela prometeu, dando-lhe um sorriso.

Legolas aproximou-se lentamente deles, como se não quisesse ser notado, mas Liz sempre o notava, então era fútil ele tentar passar-se despercebido.

— Legolas. – Ela disse, virando-se para ele.

— Está tudo bem?

— Claro. – Ela respondeu, dando-lhe a mão. – Como está a correr?

— Bem. Melhor agora.

— Tenho-te a dizer que vai ficar ainda melhor, pois vou libertar a minha paz aqui.

Quando Legolas respirou fundo, Liz sabia que seria por causa da sua aura que estava mais forte do que nunca, harmonizando o ambiente. Os elfos descansavam antes das batalhas, fosse com música mais lenta e sensual, fosse com pequenas histórias sussurradas. Agora era diferente. Eles descansavam com a aura de paz à sua volta, como se estivessem num pedaço de terra onde a paz reinava. Tal deixava-os com o coração leve, o que facilitaria a sua mobilidade na batalha próxima.

— Obrigada! – Ela ouviu Legolas sussurrar ao seu ouvido e ela decidiu sentar-se, encostada a uma árvore. Legolas acompanhou-a. – O que fazes?

— Se relaxar, a minha aura fortalece-se e ajuda mais.

— Não te enfraqueças. Tens uma missão pela frente.

— Eu sei. – Ela sorriu ternamente, sentindo Legolas sentar-se ao seu lado. – Não devias estar a falar com os guerreiros?

— Quero estar aqui contigo. Já temos tão pouco tempo relaxados…

— Nunca estivemos relaxados depois de nos reencontrarmos. Queria poder, um dia, mas…

— Um dia serás. – Ele interrompeu-a.

— Claro que sim. – Disse a Guardiã suavemente, não querendo estragar o momento de paz com o seu destino.

— Maerthîr! – Ela chamou assim que viu o seu amigo com o grupo dos amigos de infância. Todos se aproximaram. – Por favor, sentem-se ao meu lado!

— Nós? Mas não preferes ficar sozinha com o Príncipe? – Felesriel perguntou impulsivamente, corando quando percebeu a sobrancelha erguida de Legolas.

— Fe… Eu e Legolas estamos aqui porque queremos passar estes últimos momentos antes da batalha. Se quiséssemos estar sozinhos, teríamos ficado no quarto.

— No quarto? – Perguntou Felesriel com um sorriso.

— Fe! – Disse Miluiewn, arregalando os olhos com o desplante da amiga. – Príncipe Legolas, Liz, perdoem qualquer palavra da Felesriel.

— Desculpem. – Disse Felesriel, sentando-se.

— Não há problema. – Liz disse com um pequeno sorriso. – Eu e Legolas estávamos apenas a lembrar-nos do passado. No entanto, isto é o presente e as coisas mudaram.

— Mas vocês não. – Hannelas disse. A sua voz era a mais profunda dos amigos e ele era também o mais contemplativo. – A vossa aura, os vossos olhares, nada disso mudou. Esse amor, essa amizade está ainda bem presente.

— Obrigada, Hannelas, agora senta-te! – Liz puxou-o alegremente, sentando-o à sua frente. – Tu e o Maerthîr treinam muito, certo?

— Sim, todos os dias.

— Então como é que a Miluiewn é a melhor guerreira de entre vós? – Liz olhou para ela, que estava agora ruborizada. – Não te envergonhes, Mil, sabes bem que é verdade.

— O Maerthîr requer muito treino. É muito distraído.

— Hey! – O amigo disse, sentando-se ao lado de Hannelas e dando-lhe uma cotovelada. – Já te esqueceste quem te ensinou a subir às árvores porque o teu cérebro não entende que és um elfo e fez-te um azelha nessa tarefa?

— Maer… Eu juro-te que, se não te calares agora, vou mostrar-te literalmente como atingir a cabeça de alguém com uma flecha.

— Estão sempre assim estes dois. – Foenewn disse, sentando-se com Angrenes. – Sempre a discutir.

— Ao contrário de vocês os dois. – Liz disse, com um sorriso. – Um passarinho contou-me que estão juntos.

— Felesriel! – Exclamaram os dois ao mesmo tempo, fazendo o círculo rir-se de seguida.

**

No dia seguinte, quando amanheceu, Liz e Legolas levantaram-se, seguindo para os estábulos, acompanhados por Thranduil, Dithinia e Ibetu.

— Por favor, tenham cuidado enquanto estiverem só os dois. – Pediu Dithinia, abraçando Liz e Legolas ao mesmo tempo. – Que a sorte vos acompanhe!

— Obrigada! – Legolas agradeceu.

— Liz, já nos despedimos ontem, mas…

— Avó, eu amo-te! És a minha segunda mãe e queira Eru que vivas ainda por muitos anos.

— Pois eu só queria que tu vivesses. – Ela disse-lhe com um pequeno sorriso.

— Melinyel… - Ibetu aproximou-se. – Adeus! Que Ilúvatar te proteja e te ilumine quando tudo parecer escuro e sem esperanças. Irás cumprir a tua missão, disso não duvides! No entanto… - Ele abriu um sorriso terno para conter as lágrimas. – No entanto, os custos de tal missão são altos, muito altos. Enfrenta-os com coragem, com paz, com amor, como tua mãe te ensinou.

— Assim o farei, Ada! – Ela beijou-o demoradamente no rosto enquanto o abraçava, tentando guardar aquele momento até ao fim de sua vida.

— Legolas, Liz, por favor, protejam-se um ao outro. – Pediu Thranduil, dando um abraço demorado a Legolas. – Meu filho precioso, meu primogénito, muitos passos ainda darás nesta vida antes de ouvires o chamado do Mar. E, quando o ouvires, nem sei se irás segui-lo… Contudo, por favor, não descuides a tua retaguarda. Desconfia daqueles de quem deves desconfiar, apenas esses. Abre o teu coração totalmente, pode ser a tua última oportunidade.

— Claro, meu pai!

— Liz! – Thranduil beijou-lhe a mão, puxando-a, de seguida, para um abraço apertado. – A tua beleza será cantada por todos os Elfos, mas não mais do que a tua coragem, a tua entrega à missão. A tua memória viverá para sempre, garanto-te. Se não nos elfos, nos hobbits, nos humanos… Nomeia todos aqueles povos que marcaste, cara Guardiã. Oh, Liz, o destino não te é favorável.

— Pai! – Legolas disse. – Vai correr tudo bem com Liz, eu irei protegê-la.

— Há coisas que Liz terá de fazer sozinha, como Guardiã, meu filho!

— Mas vai correr tudo bem. O destino dela é feliz.

— Legolas… - Liz virou-se para ele. – Vamos apenas despedirmo-nos, está bem?

— Mas…

— Thranduil, muito obrigada pelas tuas sábias palavras. – Liz sorriu-lhe.

— Agora sou eu. – Doe deu-lhe um pequeno beijo nos lábios. – Guardiã, a minha escolha foi a acertada, mas meu coração fica triste vendo esta despedida. Sei como és querida por tantos seres, sei como és alvo do amor, sei como te entregas. És a salvação da nossa querida Terra Média. A criatura que trouxe esperança. Adeus e fica segura de que nunca te esquecerei.

— Muito obrigada! Doe… Eu só quero que saibas que és um dos seres que mais amo, apesar de tudo.

— Eu sei. – Doe sorriu. – Mas não te recrimino se sentires um pouco de rancor pelas minhas ações.

— Rancor? – Liz perguntou, olhando-o. – Não, não de ti. Deste-me uma missão difícil, mas foi uma missão que me deu a oportunidade de conhecer grandes seres. Tudo tem o seu lado positivo, não é verdade?

— És demasiado bondosa. Deve ser por isso que te amo tanto.

— O que queres dizer com isso? – Doe ofereceu-lhe um meio sorriso, fazendo-a arregalar os olhos. – Doe, por favor, não me faças isso!

— Não sejas tola… - Ele sussurrou, olhando por cima do ombro da ruiva, tentando ser o mais discreto possível. – Não espero nada de ti. Sei muito bem quem escolheste amar.

— Não foi uma escolha.

— Claro que foi. – Ele disse, dando-lhe a mão. – Tudo é uma escolha, não percebes? Sim, Ilúvatar pode dar-nos um certo destino, mas, no final, a maneira como enfrentamos as coisas, as coisas que decidimos enfrentar, cabe a nós decidir.

— Estás a dizer que eu escolhi apaixonar-me por…? – Ela não acabou com receio de ser ouvida.

— Escolheste abrir-lhe o teu coração, pelo menos.

— Abro o meu coração a toda a gente.

— Isso é o que pensas. – Doe disse, os seus olhos brilhavam. – Tens um coração belo, cara Guardiã, Liz… Mas a totalidade dele nem tu conheces.

— E estás a dizer que ele conhece?

— Claro que sim. Desde o dia em que, quando vieste aqui pela primeira vez, decidiste que ele seria o teu melhor amigo. – Doe sussurrou.

— Eu lamento imenso.

— Por eu ter a capacidade de amar? – Ele perguntou, abrindo um enorme sorriso. – Não vejo a razão do teu lamento.

— Não é por isso. É por não retribuir.

— E como poderias? – Ele perguntou retoricamente. – Cara Liz, sei muito bem que nunca houve qualquer hipótese para mim, ou para mais ninguém, na verdade. Por isso, nunca senti qualquer necessidade de te contar ou de mostrar o que sentia. Além disso, quando vi que nunca teria o teu amor, facilmente me resignei a ter a tua amizade e não num mau sentido. Penso até que amizade é aquilo para o qual ambos fomos talhados um para o outro. E acalma esse aperto, esse receio que tens de me ter provocado qualquer mágoa. Não provocaste. Sinto um carinho enorme por ti, Guardiã, sinto que nunca deixarei de te amar, mas agora é de um modo diferente, um modo mais real e mais recíproco, agora é amizade pura, amizade verdadeira, e sei que é o mesmo da tua parte. Porque jamais sentirias o que quer que fosse dessa natureza por outro ser, não com a memória de Legolas sempre tão presente. Quando me contaste o que aconteceu entre ti e o Legolas, não me surpreendi. E quanto a Boromir, sinceramente nunca houve nenhum triângulo amoroso como alguns podem vir a pensar quando a tua história for contada. Como poderia existir tal coisa se o teu coração simplesmente sabia a quem pertencia?

— Tens razão. Sei que sim. – Ela disse, aproximando-se dele e dando-lhe um abraço apertado ao mesmo tempo que lhe acariciava os cabelos. – És tão sábio que percebeste isso mais cedo do que eu.

— Eles dizem bem que sou o mais sábio de todos a seguir a Eru, claro.

— Mas não dizem que és um convencido e um pouco maluco. – Ela brincou, separando-se dele.

— Claro que dizem, eu só consigo fazer com que essas vozes não falem mais alto. – Ele disse, beijando-a de leve nos lábios e acenando com tranquilidade. – Quanto ao que te disse sobre escolhas… Não posso determinar as tuas escolhas, mas, por favor, pensa nelas com cabeça, analisa-as, olha para o que estás a fazer. Tu segues o teu coração, Liz, mas, por vezes, penso que não te apercebes disso, que não te apercebes desse teu lado. Imaginas a tua vida depois da missão?

— Não. – Ela respondeu sem hesitar, olhando de soslaio para Legolas que falava com Ibetu. – Eu vou morrer.

— Mas e se sobrevivesses? Como seria? O que farias?

— O que queres dizer?

— Exatamente o que perguntei. Qual seria a primeira coisa que farias tivesses essa missão atrás das costas?

Liz ficou alguns minutos fitando Doe como se tentasse entender o que ele dizia. Porque não fazia sentido o que ele estava a dizer. Ela sabia que não iria sobreviver à missão que lhe fora dada. Se se imaginasse a sobreviver, iria imaginar uma vida feliz, a percorrer toda a Terra Média não por medo de ser encontrada mas para descobrir todas as suas pequenas e grandes belezas na companhia de Legolas, claro.

Ela olhou para cima do seu ombro rapidamente, olhando para o loiro que se virou assim que sentiu o seu olhar e lhe deu um pequeno sorriso como se percebesse o desejo que Liz tinha de passar a eternidade ao seu lado.

— Não tens o direito de me fazer isso. – Liz disse duramente, virando-se para Doe, que se surpreendeu com o tom da voz da mulher. – Eu fiz as pazes com o meu destino, aceitei tudo o que tinha a fazer. Tomei decisões que me privaram da felicidade, foi a minha escolha e não te culpo um pouco pelo sofrimento que a missão trouxe. Mas seres cruel ao ponto de me dares esperança de ter algo para além da missão... Como és capaz disso, Doe? Por isso, eu te culpo.

— Não te quero magoar, mas fazer-te ver que talvez ainda haja esperança para ti. Não sejas os dunedain, não dês esperança apenas aos outros, dá-te também a ti.

— Para imediatamente! – Ela disse. – Não quero despedir-me de ti cheia de mágoa ou rancor. Não quero que a tua última lembrança de mim seja de amargura, mas não estás a facilitar.

— Liz… - Ele tentou acalmar os ânimos. – Só estou a tentar abrir-te os olhos.

— Não preciso de ti para ver as decisões que tomei e o que elas significam para mim. – Ela disse altivamente.

— Está tudo bem? – Legolas perguntou, juntando-se ao par.

— Sim. – Liz disse, virando-se duramente para ele. – Vamos embora?

— Liz… - Doe tentou mais uma vez, mas ela manteve-se firme. – Guardiã, ouve alguém de superior sabedoria pelo menos uma vez na vida!

— Como…? – Ela começou, sentindo os olhos húmidos. – Lamento imenso, Doe, e desta vez é porque acredito que tu não sabes como amar.

— Liz… - Ele segurou-a pelo pulso, vendo que ela se preparava para dar meia volta.

— Doe, acho que devias parar. – Legolas disse, tentando abordar a discussão com alguma calma.

— Por favor, Legolas, ouve-me tu então! – Doe disse, largando a mão de Liz e virando-se para o elfo loiro. Liz fitava-os. – Acreditas que ainda podes ser feliz?

— Eu… - Legolas olhava de Doe para Liz, tentando entender o que se passava. – Acho que sim?

— Isso foi uma pergunta? – Liz perguntou. – Claro que serás feliz, Legolas. Depois de eu derrotar o Olho, a Terra Média viverá paz durante anos e tu estarás livre para encontrares a felicidade.

— Tudo depende de muita coisa. Não sei se terei que voltar a Mirkwood para o meu papel de príncipe, ou se poderei ainda caminhar pela Terra Média.

— Claro que sim, que o farás. Vais caminhar por aí anos e anos e, um dia, vais encontrar a pessoa, o amor da tua vida. Vais ser o homem mais feliz do mundo, garanto-te. Vou derrotar Sauron para que sejas o homem mais feliz do mundo.

— Sabes o que também me faria feliz?

— O quê?

— Que sobrevivesses a essa derrota de Sauron. – Ele respondeu, beijando-lhe a mão. – E eu sei que vais. Serei feliz só de ver a tua felicidade.

— És o meu melhor amigo, Legolas, mas não me peças o impossível.

— É muito fácil dizer que eras capaz de morrer por mim, Liz, mas és capaz de viver por mim?

— Estás a pedir algo que não depende de mim. – Ela disse, afastando-se do amigo. – Não quero falar sobre isso agora.

— Porquê? É algo bem simples. Acreditas que ainda podes ser feliz?

— Não podemos perder mais tempo, Legolas. – Liz aproximou-se do seu cavalo, olhando de Legolas para Doe, fulminando o último com o olhar.

— Guardiã! – Doe aproximou-se dela. Sendo um dos altos elfos, a sua aura era considerável. – Quando te atribuí o Anel foi por acreditar que serias uma das mais sábias criaturas a habitar a Terra Média. Se tu morreres nesta missão, então estava errado, porque tu não és de longe uma dessas criaturas.

— Tão gentil. – A ironia estava bem presente na língua da ruiva. – Talvez o teu amor te tenha cegado.

— Liz! – Legolas aproximou-se dela, olhando-a com alguma reprovação no olhar.

— Só digo verdades. – Liz disse para o amigo.

— Não estava cego de amor quando te atribuí o Anel nem o estou agora. – Doe disse, tomando-lhe o pulso com firmeza mas com suavidade. – Tu serás uma das criaturas mais sábias da Terra Média. Talvez seja antes do fim, não sei, mas serás. Eu só queria… - Ele suspirou, acariciando-lhe os cabelos. – Só queria que fosses livre.

— E serei assim que derrotar Sauron. – Ela assegurou beijando-o de leve nos lábios, o seu cumprimento formal. – Adeus!

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Agradecimentos

Quero agradecer a todos os meus leitores, sejam eles fantasmas ou não, mas especialmente aos leitores que comentaram no último capítulo.

De Perogini: Muito obrigada pelo comentário e por nunca desistir da história, mesmo eu não respondendo suas mensagens privadas, tenho andado com a cabeça cheia, mas não é desculpa para não responder. O que eu acho é que tanto Liz como Legolas têm receio de se amar e de não ser suficiente, de se perderem demasiado depressa com a missão, têm receio de sofrer. Compreensível depois de ambas as suas histórias.

Lariehfc: Muito obrigada pelo comentário e bem vinda à história e à secção dos comentários.

Haruno Hime: Muito obrigada pelo seu comentário! Eu já disse imensas vezes que nunca desistirei desta história e é a mais pura verdade, mesmo que passem anos sem atualizar (espero que tal nunca aconteça).


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo será já com eles voltando para Rohan e nós voltando para a dinâmica da Irmandade, estou ansiosa por isso. Também será interessante escrever essa dinâmica à luz dos factos descobertos já. Como reagirá Gimli sabendo que Liz é a Guardiã? Como será a dinâmica dele com Liz sabendo isso e como será a dinâmica com Legolas? Tenho tantas coisas por onde pegar que me sinto muito entusiasmada...
O que acharam deste capítulo? Prontos para batalhas, ação e aventuras, com romance no meio?