No mesmo instante, o círculo mágico brilhou intensamente, cegando Noah por algum tempo. Aquela mistura de fluido obscuro começou a borbulhar e a atrofiar, expelindo um líquido gelatinoso, até desaparecer por completo. Quando recuperou sua visão, o alquimista correu em direção ao corpo metalizado de seu amado. Foi quando percebeu que aquilo parecia apenas uma grande porção de minério inanimado e começou a chorar. Então, para sua surpresa, o círculo mágico reapareceu novamente e começou a piscar em uma certa frequência. Pouco a pouco, as nuvens negras começavam a se dissipar no céu, que voltava a ter a cor original e as pedras destruídas eram recolocadas em cada lugar. Em pouco tempo a pequena cidade estava completamente restaurada. Por uma última vez, o círculo mágico brilhou, e junto com ele, a carcaça composta de Pedra Filosofal. O minério então, começou a oxidar-se rapidamente e no lugar do metal de cor de bronze, surgia o que parecia ser vestígios de pele humana. Assustado, o alquimista se afastou e ficou observando a transmutação que acontecia bem diante dos seus olhos. Mãos, pés, braços, pernas, tronco e logo todo o corpo já não tinha mais aspecto metálico, mas uma pele clara. Na cabeça, madeixas de cabelo de uma coloração castanha escura. Abriu os olhos, permaneciam dourados como sempre. Omne havia se transformado em humano por completo. Noah, correu em direção àquele corpo nu e não acreditava no que estava vendo.
- C-como??
- Parece que não havia mesmo limites que a Pedra não poderia romper. Consegui selar Tenebra novamente, reconstruir a vila... E ainda pude me tornar humano. Dessa vez eu sou um homem de verdade.
- Por que você fez isso? – choramingava e soluçava o alquimista, que tinha as lágrimas enxutas pelos dedos do ex-homúnculo.
- No momento em que pensei na sua perda, e quis me sacrificar em seu lugar, percebi que eu sentia algo a mais. Mas não tinha certeza. Achei que não fosse possível um homúnculo sentir isso, mas... Agora eu posso confirmar. – Omne segurou a cabeça de Noah por trás, pelos cabelos e o beijou.
- Nossa... Isso tudo é muito bonito, mas... Pessoas usam calças, sabia?! – Noah sentia-se envergonhado, mas não conseguia parar de ficar analisando.
- É, ainda preciso aprender algumas coisas. – Omne vestia, as roupas que Noah retirava de sua bolsa, e deixava o alquimista abobalhado com a cena.
Os cidadãos que assistiram a tudo, abrigados, se aproximaram dos dois. O alquimista se preparava para tentar explicar tudo, mas eles já sabiam e pediram desculpas por todos os anos em que o julgaram por uma coisa que nem ele e nem a família dele tiveram culpa. E como forma de agradecimento e demonstração de arrependimento, construíram na praça central um conjunto de estátuas em homenagem à Noah, Petter e Susan Zeppenfeld e, claro, Omne, os heróis da cidade. E, de repente, uma fenda dimensional, provocada pelo efeito retardado do feitiço de Tenebra que não pode ser concluído, e que durou pouco mais de alguns segundos, liberou um pequeno grupo de criaturas que pareciam estar em péssimo estado. Alguns jovens se aproximaram e perguntaram se Noah poderia ensiná-los a cuidar dos pequenos homúnculos. Então, junte de Omne, o alquimista resolveu passar seu conhecimento alquímico aos jovens interessados, e a relação entre alquimistas e homúnculos finalmente foi restaurada.
Ao final daquele dia, ambos retornaram para casa exaustos. Noah já estava vestido com sua roupa para dormir e ajeitava agora a cama, de casal, enquanto Omne tomava banho. Ao sair do banheiro enrolado em sua toalha, chama o alquimista para junto de si, abraçando-o e dando-lhe um beijo.
- Então, pronto para passarmos a nossa segunda primeira noite juntos?
- Claro. Só que não será dormindo. – Noah é pego no colo, enquanto abraça o companheiro e fixa-se em seu tronco, cruzando as pernas em torno dele, enquanto o beija. A toalha cai no chão. Noah é arremessado à cama e observa Omne vindo para cima, em sua direção. – Depois da Tenebra, é a minha vez de ter o seu corpo para mim.
O rosto de Noah fica completamente irrigado pelos vasos sanguíneos, tamanha vergonha. Mas logo o medo é substituído por uma sensação de querer se entregar que nunca havia sentido antes, e mal podia esperar para ver como seria o desfecho da noite.