A Lágrima Escarlate escrita por SorahKetsu


Capítulo 5
Amigos




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         - Me desculpem – a figura de Darius surge por entre a mata – se assustei vocês, não foi minha intenção. Eu vi a luta. E estou impressionado. Vocês sabem mesmo agir como grupo. E o poder de Sabrina, como eu suspeitava, sendo fogo, só desperta quando alguém está em perigo. Não ela. Além do mais, ela nasceu para proteger a Lágrima. Nada mais normal do que ela ter que provar que pode proteger algo antes de poder proteger a Lágrima. – ele caminhou até Sabrina com a caixa que carregava a pedra e entregou a ela. – a partir de agora não tem mais volta. Você é uma guardiã.

         Sabrina aceitou o presente e sorriu.

         - Mas uma coisa me intriga.

         - O que foi, Mirian?

         - Onde estão as outras guardiãs?

         - Morreu. Quero dizer, a guardiã de gelo morreu. – disse Sorah com a maior cara de paisagem possível. Até mesmo Darius se impressionou.

         - Como assim, morreu?- Uma maior entonação foi dada a esta última palavra. Mirian estava realmente assustada.

         - Eu mesmo a matei. A vi morrer.

         - E por que fez isso?

         - Por uma série de motivos. Primeiro, ela me incomodava. Segundo, prometi que faria isso. Terceiro, ela merecia.

         O silêncio permaneceu naquele lugar até Sorah voltar a falar.

         - Vamos embora logo. Só temos uma parte da Lágrima.

         - Está noite, por que não dormem em minha casa? –sugeriu Darius.

         - Não temos tempo pra isso. Temos que ir agora. - Dart recusou o convite.

         Despediram-se e agradeceram a Darius por tudo que ele havia feito por eles.       Voltaram a andar sem um rumo definido, esperando que Sabrina sentisse a presença de alguma parte da pedra. O que é claro, demoraria dias, meses e até anos. Ninguém sabia ao certo pra que lado seguir. Poderiam estar agora, se distanciando da direção certa, por exemplo. Mas era um risco que estava na mente de todos e que aceitaram correr. Aliás, riscos é o que menos falta para eles.

         Sabrina pensou em tudo aquilo, nos seus poderes, em Lia, nos outros colegas de classe, no cansaço e nas dores que percorriam todo seu corpo. Deu um longo suspiro ao ver que não importava para onde olhasse, em todas as direções só veria árvores e mais árvores.

         - Como pude vir parar neste lugar? – lamentou-se Sabrina baixinho.

         - Poderia ser pior. – Mirian pensou um pouco antes de responder a pergunta que Sabrina fazia com um simples olhar – Hoje é quinta-feira, tem aula de inglês...

         - Tem razão. Mas ainda assim, gostaria de ir pra casa agora.

         - Nem pense nisso, humana! – brigou Sorah – Você não voltar até ter completado a Lágrima. Nem se puder.

         - Tá brincando? Na primeira oportunidade eu caio fora deste lugar imediatamente!

         - Então cuidarei para que não tenha nenhuma oportunidade. - ameaçou Sorah parando e virando-se para falar com Sabrina cara a cara.

         - Parem as duas! Será que vocês só sabem brigar? Eu não vou agüentar conviver com três garotinhas mimadas o resto da minha vida! – Dart colocava as mãos nos ouvidos para não ouvir a briga das duas.

         - Resto da vida? Eu não ficarei nessa ilha nem mais um mês! – gritou Mirian.

         - PAREM! Chega! Eu e Dart ouvimos cinco vezes mais alto do que vocês, humanas. Não gritem, por favor! Além do que, não importa quanto tempo fiquem aqui desde que achem a Lágrima.

         A conversa se encerrou por ali. Ninguém mais disse uma palavra a não ser por Mirian que ria sem motivos de uma hora pra outra. Nenhum deles teve o interesse de perguntar o porquê. Provavelmente ela estava lendo os pensamentos de Sabrina e nada mais.

         Dart andava na frente, pensativo. Sorah, logo atrás, o mirava com curiosidade.      Parecia querer saber o que se passava em sua mente. Já Sabrina, andava cautelosamente, olhando constantemente para os lados, atenta a qualquer sinal de perigo. E Mirian como sempre, simplesmente ria consigo mesmo.

         Dart parou de repente, apreensivo. O que fez com que todos que estivessem atrás, batessem contra ele e o derrubassem como se fossem um dominó.

         - O que aconteceu?!

         - Por que parô! parô por quê?! – cantava Mirian aos risos.

         - Eu pensei ter... – começou Dart – Sim... Tem um lifing vindo.

         - O reconhece? – Sorah estranhara a preocupação de Dart pois tanto quanto ela, ele adorava lutar.

         - Sim... – ele parou pra ter certeza – É o... mensageiro da minha família.

         - E por que tanta preocupação?

         - Eles não o mandariam se não fosse uma má notícia. – Dart se virou para a direção que julgava estar o tal mensageiro e gritou – LEO!!! Estou aqui!

         Uma moita se mexeu ao lado deles. Logo em seguida, uma criança a julgar uns oito anos surgiu. Usava a pele de algum animal como roupas. Tinha cabelos verdes, curtos e espetados. Parecia-se com um punk jovem demais.

         - Senhor Dart.

         Sabrina observava a criaturinha com espanto. O mesmo fazia Mirian

         – Sinto lhe informar –continuou o ser - que seu pai está prestes a morrer. Sendo o senhor o primogênito dos herdeiros, creio que saiba o que fazer agora.

         - Obrigado Leo. Pode ir.

         O jovenzinho foi-se tão rápido quanto veio.

         Dart deu um longo suspiro de dor e fechou os olhos. As humanas presentes desviaram a atenção para Sorah que mudara a expressão de repente. Passara de curiosa para nervosa instantaneamente.

         - Você... Não vai fazer isso, Dart. – Disse Sorah baixinho.

         - Eu receio que seja necessário.

         - VOCÊ FEZ UMA PROMESSA! – Dart encolheu os ombros. - VAI FAZER COMO TODOS OS OUTROS, NÃO VAI?

         Dart não disse nada e muito menos encarava Sorah de frente. Ela se virou e deu um salto alto o suficiente para que adentrasse na mata de forma ninguém a ver mais.

         - O que aconteceu com ela? – arriscou Mirian.

         - Vamos descansar um pouco. Ela vai voltar. – desconversou.

         Sentaram-se apoiados, um em cada árvore do local. O silêncio permaneceu total até ser quebrado por mais um suspiro de Dart. Sabrina fitou-o sem que ele notasse. Estava de cabeça baixa pensando na vida. Ele olhou para o céu. Era pôr do Sol mas a mata fechada impedia que o grupo visse mais que a cor alaranjada.

         - Está anoitecendo. Sorah já devia ter voltado. - Dart disse em meio a seus pensamentos – Eu vou procurá-la.

         - Mas e se um lifing aparecer?!- desesperava-se Sabrina.

         - É pra isso que têm poderes. Além do mais, nessa região não há lifings fortes. - disse ele se levantando com o apoio da espada. – Talvez eu não volte ainda hoje. Mas eu prometo que volto. – e deu o mesmo salto que Sorah.

 

                                                        ***

 

         Sentia que a raiva explodiria dentro de si. Que tinha vontade de matar seu causador. Os pensamentos giravam em torno dele. Sempre dele.

         Deu um soco na grama. Os olhos fechados eram para evitar qualquer possível lágrima rolasse, por mais estúpido que pra ela, isso pudesse parecer.

         Levou as mãos à cabeça, tampando os ouvidos. Talvez para se excluir do mundo ao seu redor.

         Sorah estava numa colina, já tarde da noite, sentada. O céu estrelado não chamou-lhe atenção desta vez. Era apenas um detalhe. Pegou a primeira pedra que viu e a quebrou com uma das mãos. Precisava descontar a raiva em algo.

         Sentiu um cheiro familiar e se levantou. A suas costas, uma voz a chamava.

         - Sorah, me perdoe.

         - Isso não seria justo, Dart. – discordou ela. - Eu teria que perdoar todas as outras pessoas que conheci para te perdoar. PORQUE VOCÊ É IGUAL A CADA UM DELES! Não, você é pior. VOCÊ FEZ UMA PROMESSA!

         - Tudo isso é raiva? – ele riu baixo - Ou talvez devesse ser tristeza.

         - Você passou quarenta anos comigo e ainda não aprendeu que não sinto tristeza?

         - Sim, sim, eu sei disso. Eu também não. Mas é porque foi criada assim, da mesma forma que eu fui treinado assim. O conceito básico disso tudo é transformar a tristeza em ódio. Para não sofrer, mas sim, fazer o outro sofrer.

         - Não precisa repetir o que eu ouvi um milhão de vezes.

         - Mas eram todos treinadores fúteis, frios e ignorantes. Nunca pararam pra pensar que muitas vezes, não queremos fazer o causador da nossa tristeza, sofrer. Você é o melhor exemplo disso. Se quisesse, com a raiva que está sentindo, poderia me matar. Mas apesar dela, você não vai. Estou certo?

         - Onde quer chegar?

         - A nenhum lugar. Só quero fazer você entender que não fosse seu treinamento, agora, o que estaria sentindo seria tristeza e não raiva. Aprendestes a fazer essa transformação automaticamente com o tempo, chegando ao ponto de ser incapaz de sentir tristeza.

         - Grande coisa. Isso não muda nada. Você ainda vai embora não vai?

         - Sim, eu vou.

         - Então vá logo. O que não entendo, é que você sabia que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer. Então por que prometeu que nunca ia me deixar?

         - Eu nunca vou quebrar essa promessa. Não é por que estamos separados que estarei longe de você. A distância não muda nada.

         -Ora, não me venha com esse papo meloso de que distância não muda nada! – disse rispidamente, mais gritando do que conversando - Além do que, não é só a distância, é o tempo também. Você se vai, se esquece que existo e nunca mais volta!

- Você vai me esquecer?

Dart tinha a incrível habilidade de vencer sempre em discussões verbais, colocando seu oponente contra a própria pergunta.

- E se eu me esquecer? – desafiou Sorah.

- Eu te dou um motivo pra que isso não aconteça.

- Ah é? E qual seria?

- Sorah, você vai sentir minha falta? – perguntou ele, mudando o assunto e o rumo da conversa.

- Por que está perguntando isso?

- Eu estranhei a raiva que você estava sentindo. – voltaram - se para o céu - Achei grande demais. Não sabia que ter alguém por perto era tão importante pra você.

- Cale-se Dart. Eu apenas evito sofrer, como qualquer ser deste mundo. Mas do jeito que as coisas têm acontecido, estou começando a achar melhor ficar sozinha.

Dart baixou os olhos e se aproximou devagar. A abraçou como fez tantas outras vezes.

- Este abraço, minha Sorah, não é para consolá-la como todos os que te dei até hoje. Este abraço é o motivo que me dou para nunca me esquecer de você.

Os olhos dela encheram de lágrimas que foram impedidas de rolar.

Ele a olhou nos olhos novamente, com o rosto perfeito, sereno, e o olhar calmo, porém escondendo uma grande tristeza.

- E isso é pra que você nunca se esqueça de mim.

Dart beijou o rosto de Sorah, junto a boca, quase tocando-a. Sorah Podia sentir o cheiro entorpecente do rapaz tão nítido como nunca naquele momento.

- Prometo que volto. – garantiu de voz baixa.

- Por que eu acreditaria numa promessa feita com a quebra de outra? – desacreditou Sorah, com os olhos vermelhos.

- Já disse que não quebrei nenhuma promessa. Quando eu voltar, a situação entre nós vai mudar muito.

         - Como assim?

         Ele não respondeu. Pôs o braço em volta do pescoço de Sorah e fitou a lua. Ficaram assim até Sorah começar a cair no sono.

         - Eu já te fiz duas promessas – disse ele baixinho – e cumprirei todas elas. – Sorah estava sonolenta demais para prestar a devida atenção às palavras do rapaz. - Só espero que você cumpra a sua, minha querida Sorah …

 

                                                        ***


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