A Lágrima Escarlate escrita por SorahKetsu


Capítulo 12
Para sempre


Notas iniciais do capítulo

Para aqueles que gostaram do cap. Amigos.



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Os demais meses se arrastariam velozmente perante os olhos aguçados das guardiãs. Atravessariam um inverno rigoroso, com neve e tudo mais que Sabrina e Mirian nunca viram no país tropical de onde vieram. Nicka passaria a treinar junto as duas, amedrontada com as conclusões que chegaram naquele dia, quando todo o futuro ficou um pouco mais claro, e ao mesmo tempo, sombrio. A saudade aumentava conforme a nevasca se tornava chuva. Logo faria nove meses que se encontravam neste mundo, que aprenderam a suportar. Até da escola batia uma saudade. Quem sabe até, uma vontade reprimida em Mirian de ler ou escrever desesperadamente em algum lugar. O Inglês já estava falhado antes de irem parar na Ilha Eid, e agora, já estava absolutamente esquecido. Matemática então, estava jogada num canto empoeirado de suas cabeças. Somente os amigos continuavam vivos em suas memórias. As piadas, zoações e brincadeiras em sala de aula, demasiado freqüentes, jamais lhes deixariam a lembrança.

E quanto à Lia? O que ela teria feito em relação ao sumiço de Sabrina? Provavelmente pensara se tratar de um seqüestro. E se assim fosse classificado, seria o seqüestro mais longo do mundo, talvez. E o bandido, nem mesmo teria dado um telefonema, pedindo dinheiro… Seria muito estranho e a possibilidade logo seria completamente descartada. Pensaria-se então em assassinato. Mas sem um corpo, não há como provar nada. Mirian e Sabrina dariam tudo para ver a confusão que havia se formado em seu mundo só por causa delas.

Mas no momento, tiravam finalmente, folga do treino. Os nove meses haviam se passado e agora elas poderiam relaxar e pensar no próximo passo a se dar. Esperariam Sorah vir buscá-las por no máximo um mês. Se este tempo fosse ultrapassado, passariam a caminhar sozinhas pela Ilha. Ao menos foi esse o trato feito entre Flertis e Sabrina. E ainda havia Hebel, que disse também voltar passados os nove meses.

Nicka se mostrou curiosa em relação à Sorah e Hebel. Em especial, o último. Mas Mirian encarregara-se de dizer grandes verdades em relação ao garoto.

- Ele é um galinha, Nicka. – aconselhou Mirian.

- Galinha? Como assim?

- Mirian, quantas vezes eu preciso dizer que as pessoas daqui não entendem linguagem adolescente?

- Desculpa, foi mal. Bem… O Hebel é…

- Inconstante. – completou Sabrina, atraindo o olhar de Mirian para ela.

Decididamente, “inconstante” era uma palavra demasiado culta para o vocabulário limitado de Mirian. E a própria também sabia que Sabrina não costumava dizer no dia-a-dia esse tipo de coisa.

- Que foi? – disse, inocente – Vi isso num livro. – Completou Sabrina. – Você devia lê-los também. São úteis, às vezes.

- É, como peso de porta. Pra quê eu ia querer ler alguma coisa? Você já é minha biblioteca pessoal de acesso irrestrito.

Alguém bate à porta. Todos os presentes sentem um frio percorrer a espinha. Seria Sorah? Flertis caminhou receoso para abrir a porta. Já Sabrina, desconfiou que ele pudesse mandar Sorah ir embora e dizer-lhes que era outra pessoa. Então, correu na frente para evitar caminhar sozinha na Ilha Eid.

Ao abrir, Sabrina reconheceu imediatamente o garoto parado à sua frente, que parecia não ter notado que a porta já fora aberta, pois continuava arrumando os cabelos e olhando seu reflexo na janela logo ao lado. Vestia uma camisa verde claro, um tanto desbotada. Cabelos castanho claro, como se um balde d’água fosse tirar uma suposta tinta e revelar um cabelo loiro. A única diferença do Hebel que encontraram alguns meses atrás do de hoje, era a espada amarrada na cintura e os músculos um pouco mais nítidos.

- Ah, oi, Hebel! Você chegou antes de Sorah! – Sabrina tocou seu ombro para chamar sua atenção.

- Oi, Sabrina, - disse ele, assustado ao vê-la de repente.

Flertis franziu a testa, sem reconhecer o rapaz. Não ficara sabendo de nenhum outro humano que às acompanhava.

- Ah, Flertis, quase me esqueci. Este é Hebel, um amigo que nos salvou a vida alguns meses atrás. E… - virou-se para Hebel, para apresentá-lo a Flertis – Hebel, este é meu treinador.

Os dois apertaram as mãos. Flertis parecia receoso e desconfiado, enquanto que Hebel não tirava nunca aquele sorrisinho bobo da face.

Ficaram apertando as mãos até que Sabrina notasse que era tempo demais, e disse ao seu mestre para convidar a visita a entrar. Logo ele conheceria Nicka, e faria à ela o mesmo que fez com Mirian, Sabrina e Sorah.

- Oi! Quer se casar comigo? – perguntou ele, apertando a mão da jovem.

Por um momento, Mirian apostou que Nicka aceitaria, devido a surpresa e o susto que levou, recebendo tal pedido de maneira tão repentina. Mas ela simplesmente ficou vermelha, o acusou de louco e soltou sua mão como se tivesse nojo dela.

Hebel pareceu não se importar muito com a resposta. Parecia estar muito bem acostumado com isso. Apenas sorriu e se virou para as outras guardiãs.

- Então Sorah não chegou, não é? Que bom, pelo menos não fiquei pra trás. Assim que percebi que os nove meses haviam se passado, corri pra cá o mais rápido que pude. Já fiquei sozinho muito tempo. Além do que, eu nunca perderia a chance de ficar ao lado de três garotas lindas. E agora quatro, contando com Nicka!

- Hebel, menos. Ta traumatizando a Nicka.

Flertis finalmente se convenceu de que o rapaz era uma boa pessoa. Tinha muito bom humor, e até era meio bobinho. Acabou rindo junto dos jovens, que aproveitavam da vida que até agora podiam levar.

Foi oferecido ao visitante, um quarto que serviria a pupilos, idêntico ao das guardiãs. Para que passasse a noite e esperasse por Sorah junto às outras.

E assim, mais um dia se passou tranqüilamente, como erratóriamente se acostumaram nos últimos dias.

 

Mais duas semanas se passariam, com Flertis ainda tentando convencer Sabrina e os outros a partirem sem Sorah. Afirmando que ela nunca mais voltaria. Que talvez tivesse inclusive morrido. Mas as esperanças do treinador se esvaíram assim que, após mais quatro longos dias, alguém bate impacientemente na porta.

Sabrina nem deu tempo para que Flertis se levantasse, e correu atender a visita.

Aquela garota alta, não fosse por mudanças feitas pela mesma, estaria exatamente como a deixaram. Os cabelos, antes até o fim das costas, agora não passavam da metade da mesma. Os olhos ainda eram assustadoramente amarelo-âmbar, os caninos ainda eram compridos como as garras, e ela ainda era, para a infelicidade de Sabrina, mais magra e esbelta. Mas agora, vestia uma armadura aparentemente pesada. Não era como a que foi entregue muito tempo atrás. A atual tinha uma grande ombreira apenas de um lado, era prata com adornos negros. O peito era igualmente detalhado. Encaixava-se perfeitamente em suas formas. A calça era a mesma, preta e larga. Mas o cinto com a bainha carregava uma espada de cabo muito mais adornado que a anterior. Talvez fosse mais resistente que a antiga.

A expressão em seu rosto era a mesma de sempre: fria e intransponível.  Com certeza, estava mais fácil saber os sentimentos de um sapo do que de Sorah.

Flertis cerrou os punhos quase imediatamente que viu a lifing parada em sua porta. Esperou qualquer atitude repentina dela, que nada fez, a não ser ficar olhando para o rosto dele, e, como o próprio classificou por si só, digna de suspeitas.

- Só vim buscar as humanas. – disse finalmente.

- Como se atreve a voltar aqui?

- Não vou tentar conversar com você, querido mestre. Apenas me deixe levá-las. – retrucou ironicamente.

- Não posso deixar você levar o futuro do mundo com você e não fazer nada para impedir!

- Flertis! – chamou Sabrina, pondo-se entre seu mestre e a lifing que não mexera um músculo – Já conversamos sobre isso! Ela veio nos buscar, e nós vamos com ela!

O treinador parou imediatamente de tentar atacar Sorah, devido às palavras de Sabrina. E ainda encarando a lifing, viu ela sorrir debochando de seu fracasso.

- Andem logo. – mandou Sorah – Temos que ir atrás do pedaço da lágrima que perdemos e dos demais.

- E você tem uma pista de onde estejam?

Sorah riu. Virou-se para elas e avisou:

- Se preparem. Vocês vão conhecer o mundo lifing.

Mirian engoliu um seco. O mundo humano estava repleto de lifings por todas as partes, ocupando florestas, túneis subterrâneos, matando e destruindo vilarejos inteiros. Se é assim nesta parte da Ilha, como será no território reservado somente para eles?

As meninas abraçaram e se despediram de Flertis, que não tirava os olhos de Sorah. Nicka chorou ao ter que se despedir daquele que foi como seu pai por todos esses anos. Mas, sem escolhas, teve de partir e enfrentar pela primeira vez, os perigos que tanto Flertis mencionava, mas que só podia imaginar vagamente.

- Vamos por trás da cidade. Descobri um jeito de não passar por toda essa gente.

Seguindo Sorah, o grupo foi parar numa rua sem saída, oposta à casa de Flertis. Mesmo em pleno dia, o lugar era escuro, úmido e cheirava a podridão. Não era muito bem uma rua, considerando que não existem carros nesse mundo, tudo ali parecia servir para a mesma coisa: passar gente. Portanto, foi considerado um beco. Mirian jurou ver um rato morto atrás de uma pilha de tijolos que haviam desmoronado do prédio mal feito, o qual às cercava. O cheiro comprovava o fato.

- Por onde vamos agora?

Sorah se abaixou e levantou uma pedra. Estava ali apenas para encobrir um túnel. Olhou para os dois lados e pediu que a seguissem, antes de saltar na escuridão daquele buraco.

- Você primeiro. – disse Mirian à Hebel.

- Primeiro as damas! – Repeliu o rapaz, de olhos fixos no túnel.

- Bando de medrosos! – xingou Nicka, enquanto pulava sem medo.

- Espere Nickinha! – gritou Hebel, pulando atrás da menina.

- Nickinha? – Mirian e Sabrina entreolharam-se. Depois de rirem daquilo, também saltaram.

O fundo ficava a uns dois metros apenas. O que pareceu bem mais à Mirian, que só parou de gritar quando Sorah a levantou pela gola da camiseta.

- Cala a boca, humana. Tem lifings aqui.

Mirian fez que sim com a cabeça para que Sorah pudesse soltá-la. Ninguém à não ser pela lifing presente, sabia que tipo de monstros percorriam esses túneis. Eram úmidos e o ar pesado dificultava a respiração. Mal podiam se enxergar no completo breu que lhes abraçava. Arriscariam ser uma gruta, não fosse completamente seco.

- Estão todos aqui? – Perguntou Sorah em tom asmático.

- Sim. – responderam todos juntos.

- Ótimo. Sigam-me.

- Mas como vamos te ver nesse escuro?

- Flertis não às ensinou a captar energia? Bom, não importa. Dêem as mãos. Que coisa mais primordial.

Hebel fez questão de segurar a mão de Nicka, e era o último da fila. Mirian, com medo, quis ficar entre Sabrina e Nicka. Sorah, hesitante, usou suas últimas idéias para pensar numa forma de não dar a mão à Sabrina, mas fracassou. E assim, a lifing deu a mão à humana.

Caminharam no escuro alguns segundos, até ouvirem um grito agonizante de Hebel. Em seguida, Nicka largou a mão de Mirian e também gritou. Sorah virou-se imediatamente, farejando o ar. Sabrina tropeçou em alguém. E Mirian, estava perdida no meio da confusão.

Uma grande claridade explode ao lado esquerdo de Sorah. Sabrina usara suas chamas com perfeição. E num instante, a caverna se torna clara como o dia, mas logo volta a ser como era antes, apenas um pouco mais quente. No curto espaço de tempo que estava tudo visível, as atenções se desviaram para uma figura gigantesca, e ao mesmo tempo grotesca. Um monstro com o corpo redondo, de pele lilás, braços grossos e dedos desproporcionalmente grandes, porém de uma cabeça demasiado pequena, prendia Hebel contra a parede da caverna. O rapaz já mal podia respirar, envolto às mãos gingantes do lifing, que era suficiente para abraçar metade de seu corpo. No momento que a luz se acendeu, o monstro virou-se assustado em direção às meninas. Talvez nem ele soubesse que havia mais pessoas ali dentro. Assim que a escuridão voltou a reinar, ele soltou um urro altíssimo, que fez desmoronar algumas pedras soltas nas paredes.

- Sorah! – gritou Sabrina, num pedido de socorro.

Mas a lifing estava sentada na rocha mais próxima, observando Sabrina soltar outra labareda para localizá-la.

- Vocês treinaram para me pedir socorro, é? – disse ela, acomodando melhor a cabeça na parede. – Ou ficaram só brincando esses nove meses?

Hebel se esforçou para pedir socorro, mas a voz não saiu da garganta. Nicka estava desesperada. Mirian, absolutamente desnorteada. Sabrina foi a primeira a tomar uma atitude.

Aproveitou que o monstro estava ocupado demais se preocupando com Hebel e lançou suas chamas diretamente em suas costas. Um novo urro foi ouvido, desta vez, de dor. Hebel se livrou do lifing e correu na direção de Nicka.

Mirian encheu-se de coragem e também atacou onde achava que o monstro estava. Ele perdeu o equilíbrio e caiu pesadamente contra o chão. É quando Nicka atira espinhos contra a grossa camada de pele que ele possuía, e Hebel usa sua nova espada para cortar a cabeça do lifing.

O grupo todo comemorava a primeira vitória, a não ser por Sorah que encostou a mão no ombro de Sabrina, como se nada tivesse acontecido e pediu que voltassem a andar. Decidiram-se por cobrar uma explicação quando saíssem daquela caverna.

Após menos de cinco minutos, puderam ver uma claridade pouco à frente. Sorah apontou e disse se tratar da saída.

- Por que não nos ajudou? – Perguntou Nicka em tom acusatório assim que saíram da caverna, que acabava num campo aberto, envolto de árvores que não ultrapassavam uma “barreira” invisível, o início da floresta.

- Eu as ajudei muito mais que imaginam. –defendeu-se Sorah, sem dar muita importância à pergunta.

- Você ficou sentada nos olhando! – lembrou Mirian.

- Pois bem. Eu salvei Sabrina de um lifing assim que ela chegou à Ilha Eid. Usei apenas um golpe para parti-lo em dois pedaços. Esse aí era praticamente tão forte quanto aquele. Eu poderia tê-lo destruído facilmente. Apenas deixei que vocês o vencessem. E sequer era necessário que todos lutassem. Era tão fraco que mesmo sem treino, qualquer um de vocês poderia vencê-lo sozinho. Eu ajudei muito mais o dando de experiência a vocês do que o matando logo de início. - Notando que ninguém tinha mais nenhuma crítica a fazer, Sorah voltou-se para o campo aberto e apontou duas montanhas muito longes. – A barreira que dividia os dois mundos ficava um pouco além das duas montanhas. Passaremos por um rio, até chegarmos no portal.

 

Mais fortes fisicamente, era muito mais fácil agüentar o dia todo andando. Todos haviam mudado, estavam mais fortes que nunca. Agora, só o que tinha a fazer era rezar para que seus adversários não estivessem tão fortes.

 

Sabrina pensou em perguntar por Dart assim que entraram na floresta. Mas estava lógico que se ele não estava ali, ainda não tinha voltado. Sentia saudades dele. Ia fazer mais de nove meses que não o via. Ele era o único motivo pelo qual Sabrina não se arrependia de estar na Ilha. Lucas, de quem gostava quando estava na escola, nunca sequer falou com ela. Admiraria-se se ele soubesse seu nome. Mas Dart a conhecia, se interessou por sua vida tempos atrás, e mesmo sendo lifing, até um pouco frio, parecia mais legal que Sorah e um tanto mais companheiro.

A noite caiu mais rápido do que normalmente viria. Antes do treinamento, os dias pareciam durar anos. Mas agora, muito mais acostumadas ao esforço físico, o tempo passava bem mais rápido. E também contava o fato de não serem mais prisioneiras de Sorah. O medo quase não existia. Apenas o devido respeito à figura imponente da menina.

- Devemos encontrar o rio bem mais à frente. Ele passa um pouco ao nosso lado, mas só o alcançaremos em mais meio dia seguindo reto. Desviarmos nossa rota agora seria burrice. Deitem-se onde puderem, só tomem cuidado se virem uma árvore raspada. Significa que o território tem dono. E aposto que não iam querer encontrá-lo. Por isso me avisem se virem uma árvore marcada. Eu vou até o rio. Talvez só chegue amanhã de manhã. Vou pegar alguns peixes e volto o mais rápido possível. Não-me-sigam.

Dado o recado, Sorah partiu em velocidade para a direita. Enquanto no “acampamento”, eles contavam a Hebel o que haviam descoberto com Flertis, sobre os guerreiros e tudo mais. Lembraram-se de que ainda não haviam contado nada à Sorah, nem mesmo que já sabiam que era uma ex-guardiã. Mencionariam isso no dia seguinte.

                                    

                                               ***­­­­­­­­­­

                                                

Sorah caminhou até a margem do rio. Era campo aberto de ambos os lados por pelo menos dez metros. Um cheiro nostálgico foi o que a trouxe pra cá. E por mais que quisesse, sabia muito bem que não pertencia a Dart. Ele estava agora, há muitos quilômetros de distância. Olhava o céu estrelado da primeira noite de lua cheia. O manto escuro aveludado que se estendia por suas cabeças, coberto de pontos brilhantes chamados estrelas, era o mesmo para ambos. A Lua, quem sabe, não os observasse de longe, imaginando por que estavam tão separados. Amigos como esses, quer Sorah admitisse, quer não, eram inseparáveis.

Sorah ajoelhou-se para ver seu reflexo na água e ficou completamente absorta nos próprios pensamentos. O sono a fez se sentar de forma mais confortável, cruzando as pernas, mas com a coluna inclinada de forma continuar vendo o próprio reflexo.

As horas foram se passando e ela permanecia sentada, pensando no que lhe acontecia de uns tempos pra cá. Na separação com Dart principalmente.

Por um segundo, jurou ter visto a face dele sorrir para sí, no lugar da própria face. Piscou os olhos e a imagem voltou a ser real. Era apenas ela mesma.

Ficar acordada se tornava difícil. Os olhos pesavam e se fechavam, cada vez por mais tempo.

Tornou a visualizar seu reflexo na água. Agora, o rosto de Dart aparecia ao seu lado. Os olhos se fecharam sem dar muita importância. Quando se deu conta que o cheiro do rapaz estava por todos os lados, acordou assustada e olhou para a água. A imagem dele continuava ali, sorrindo para ela. Esperançosa, olhou para trás. E viu Dart, apoiado nos joelhos, lhe dando um sorrisinho bobo. Ele se levantou e estendeu a mão para que Sorah também ficasse de pé.

Ela não sabia o que fazer. O coração pulava e parecia querer sair pela boca que se recusava a se manter fechada. Já Dart parecia seguro e feliz. Vestia uma armadura que se estendia pelo braço esquerdo inteiro. O braço direito estava livre. Era dourada com adornos vermelhos e cobria o peito todo. Na cintura uma espada grande e pesada, protegida por uma bainha de ouro. Tudo digno de um rei. De resto, ele permanecia igual. Com os cabelos azuis escuro e formas perfeitas.

- Eu prometi que voltaria, não prometi? – disse Dart, quebrando o silêncio.

Sorah permanecia parada, incrédula. Ele não devia estar ali. Devia estar em seu reino, lutando e liderando tropas.

- O que está… fazendo aqui? – perguntou ela, tentando disfarçar o nervosismo.

- Nossa! Voltei tão rápido preocupado com você e é assim que me recebe?

- Você deveria estar reinando no território da sua família!

- Você também.

- Não desvie o assunto!

- Passei meu título de rei ao meu irmão do meio. Ele tem muito mais jeito com essas coisas que eu.

- Mas ele tem 100 anos!

- Está realmente preocupada com isso? Não está feliz que voltei? Se quiser ainda posso voltar e…

- Não! – gritou Sorah quando Dart se virou para ir - É que… eu só…

- Não vá dizer que me esqueceu nesses tempos.

- Se eu dissesse que sim, o que você faria?

- A vida não é baseada em “se”, mas em fatos, minha querida Sorah. Terá que dizer que me esqueceu para saber. Mas para toda ação, existe uma reação. É bom estar ciente.

- E você, não me esqueceu?

- Nem por um segundo. É por isso que estou aqui.

Sorah ficou vermelha com essas palavras. Mas sequer entendeu o motivo.

- Vamos, você ainda não me respondeu se está feliz que eu tenha voltado. - lembrou Dart.

- Não fez mais que sua obrigação – Sorah cruzou os braços para ele.

Dart riu, fazendo a atitude de Sorah parecer a de uma criança birrenta.

- Do que está rindo?

- Parece até que tem vinte anos de idade! – zombou Dart.

E num momento, estava Sorah perseguindo Dart, que corria dando gargalhadas, saltando de uma margem a outra. É claro que aos ouvidos humanos, dizer que alguém parece ter vinte anos não é lá muita coisa. Mas quando se é um lifing e os anos equivalem a dez humanos cada um, vinte anos, são apenas dois. Ela, gritando para que ele ficasse parado, inutilmente.

Quando Sorah desistiu, Dart se sentou ao seu lado e deitou a cabeça apoiada nas mãos, enquanto olhava as estrelas.

- Você disse que quando voltasse a relação entre nós ia mudar muito. O que quis dizer?

- Calma, minha querida Sorah. Só lhe direi quando você mesma já tiver descoberto.

E adormeceram lado a lado, felizes, novamente, juntos. E desta vez, para sempre.

 


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