Capítulo 3

Pedro: “ Ceci, o que você acha que o Hugo quis dizer com isso?”

Ceci: “  O que exatamente ele quis dizer...ele não estava mentindo, muito menos delirando!”

Pedro: “ Ah pára Ceci, de novo isso? Você acha mesmo que ela apareceu?”

Ceci: “ Claro que sim”

Pedro: “ E o que você pretende fazer? O jogo do copo pra tentar se comunicar?”

Ceci: “ Cala a boca, Pedro.”

Pedro: “ Então o que você vai fazer?”

Ceci: “ Que dia é hoje?”

Pedro: “ 25, Por quê?”

Ceci: “ faltam dois dias!”

Pedro: “ Pra quê?”

Ceci: “ Para me encontrar com ela!”

Pedro: “Do que você ta falando?

Ceci: “ A história, lembra? Todo dia 27 dizem que ela aparece na capelinha para esperar seu amado...”

Pedro: “ Ah não Ceci, não acredito que vou ter que participar disso...”

Ceci: “ Você ta dentro ou não, Pê?”

Cecília sabia como chantagear Pedro o chamando por seu apelido, isso fazia Pedro se sentir importante para ela.

Pedro: “ ta bom Ceci, só vou fazer isso por você!”

Ceci: “ Te adoro  Pê!” com um beijo no rosto Cecília o deixou e foi para casa.

Ao chegar em casa Cecília se deparou com seu avô sentado na cadeira de balanço tirando um cochilo.

“ Ei psiu, Vô” Cochichou Ceci.

Seu avô lentamente abriu os olhos, colocou os óculos e falou : “ O que foi agora Cecília?”

“Vô, é sobre aquela história...”

“ O que é que tem ela?” seu avô falou em tom baixo.

“quanto tempo faz que ela ocorreu?”

O avô pensou um pouco e respondeu: “ uns 50 anos”

Ceci: “ e quantos anos o senhor tem?”

Avô: “ 70”

Ceci: “ então o senhor presenciou o que aconteceu?”

Avô: “ Bem, na época eu voltava de viagem quando soube do acontecido, ao chegar já havia ocorrido o fato.”

Ceci: “ Mas o senhor conhecia a noiva...quer dizer a mulher que morreu”

Em um tom meio baixo e um pouco triste seu avô respondeu: “Sim, de vista”

Ceci: “ E ela era bonita?”

Seu avô agora olhava para um ponto fixo como se enxergasse algo que ninguém podia ver.

“Muito”

Ceci: “ como ela era?”

Avô: “ tinha cabelos negros que encostavam na cintura, olhos castanhos era uma garota bonita, todos os rapazes tinham interesse por ela!”

Ceci: “ até o senhor?”

Avô: “ Mas o que é isso Cecília? É um interrogatório?”

Ceci: “ Mas vô só quero saber mais da história!”

Avô: “ Mas nada Cecília, deixe essa história no passado que é o lugar onde ela tem de ficar!”

O avô irritado levantou da cadeira de balanço e saiu.

Cecília ficou sem entender a reação do seu avô, por que ele ficava tão nervoso ao tocar nesse assunto? Talvez isso o trouxesse lembranças ruins, a história já era trágica o bastante, mas isso acendia dentro de Ceci um fogo ainda mais alto, uma vontade de desvendar todo o mistério em volta dessa história e ela não via a hora de subir a colina e ir na capela, ela tinha esperança de descobrir algo e até mesmo vê a assombração da noiva do cafezal.

Os dias passaram devagar para Cecília, a ansiedade era maior que tudo, ela contava as horas para chegar o dia 27, mas esse dia ainda não chegara, na manhã do dia 26 Cecília acordou assustada, tinha tido um pesadelo no qual uma mulher de cabelos negros e vestes de noiva chamava seu nome e vinha em sua direção, assustada Cecília tentava correr, sair do lugar mas não conseguia e a noiva lhe alcançava pondo suas mãos gélidas nos ombros de Cecília e então ela acordou, meio ofegante, sua mãe entrava no quarto para arrumá-lo

“ Vamos acordar sua preguiçosa?”

Ceci: “ Já to acordada, Mãe!”

“Então levanta para tomar café, só sobrou você, porque seu avô já saiu cedo!”

Ceci: “ O vô saiu? Mas ele nunca sai assim tão cedo...”

“Pois é, também me surpreendi, deve ter arrumado uma namoradinha sei lá!”

Ceci: “ namoradinha? Fala sério mãe!” Cecília se levantou tomou café e voltou ao quarto para falar com a mãe.

Ceci: “ Mãe, to indo na casa do Pedro mais tarde eu volto!”

A mãe acenou positivamente com a cabeça.

Ceci foi então até a casa de Pedro, porém ninguém estava em casa, ligou insistentemente para Pedro, porém ninguém atendia, então ela decidiu voltar para casa. Ceci estava muito intrigada pelo fato do seu avô sair de casa cedo, ele nunca tinha feito isso, no caminho de volta Cecília avistou seu avô entrando na Casa cultural da cidade, o lugar onde fica os documentos históricos da cidade, fotos e a lista de imigrantes que teriam chegado a cidade desde a sua fundação. Cecília espiou atrás de um carro e esperou o seu avô sair e de lá ele saiu carregando um pacote embrulhado debaixo do braço, meio desconfiado olhando para os lados e seguiu o caminho de casa. Cecília achou melhor não se encontrar com o avô, para que ele não ficasse desconfiado e decidiu e para casa depois de um tempo.

Ao chegar em casa Ceci foi logo procurando por seu avô.

“Mãe, cadê o vô?”

“ta no quarto dele tirando um cochilo, por que Cecília? “

Ceci: “ Preciso falar com ele!”

“Cecília já disse a você pra deixar seu avô quieto, ele já está velho e cansado minha filha, deixe o pobre homem em paz!”

Ceci: “ Calma mãe não é nada demais, só queria que ele me ajudasse com umas dúvidas em matemática”

Então Ceci se dirigiu até um quartinho que ficava nos fundos da casa, era o quarto do seu avô, ela bateu na porta, mas não esperou por resposta e foi logo abrindo-a, ao abrir viu seu avô trancar um baú velho com uma chave que ele nunca havia visto.

“Vô, posso falar com o senhor?”

“ Olha se for sobre suas caraminholas, pode esquecer!” O avô fazia um esforço para esconder a chave no bolso da sua calça, temendo que Cecília tenha a visto.

Ceci: “Não, era só pra me ajudar com uns cálculos em matemática...”

“Ah se é assim tudo bem, me deixe arrumar algumas coisas aqui no meu quarto está tudo uma bagunça, está bem?”

Ceci: “ Ok” e saiu correndo pro seu quarto, pegou o telefone e ligou para Pedro novamente, fala mentalmente para ela mesma “ atende Pedro, atende Maldito!” Mas novamente a ligação foi para caixa postal.

Ceci esbravejou em voz alta “ Droga Pedro! Quando eu mais preciso de você, você some!”

Ela sentou na cama tentando entender os fatos que haviam acontecido e o porquê seu avô tinha ido à casa cultural e o que teria naquele pacote? Eram muitos dilemas a serem resolvidos, mas ela decidiu resolver um por vez, primeiramente ela queria encontrar com a assombração e depois ela tentaria resolver o resto.

As horas se arrastavam e Ceci não agüentava de tanta ansiedade, olhava pro relógio de parede que tinha em seu quarto e olhava pela janela a capelinha lá bem longe, nenhuma atividade ao redor dela, o sol ainda estava alto e ela queria que ficasse escuro logo que chegasse o temido e esperado dia 27, mas as horas teimavam em passar devagar e ali ficou Cecília debruçada na janela a olhar para a capela, esperando pela hora e pela aparição da moça de seus sonhos, ali ela ficou por horas até cochilar.

E neste cochilo ela teve um sonho em que estava exatamente na janela e já estava escuro lá fora, e ela olhava fixamente para capela que agora recebia a fraca luz da lua, a espera de que alguma coisa acontecesse e ao longe ela viu duas pequenas luzes brilhando, primeiramente ela achou que fosse o reflexo dos olhos de algum bicho na mata, mas ao encarar mais tempo ela percebeu que eram luzes de velas, duas velas acesas, alguém as carregava, mas não dava pra ver esse alguém devido a distância que ficava a casa de Ceci da colina. As velas iam se movendo em direção a capelinha e então nesse momento Ceci acordou e quando olhou já estava escuro lá fora. Ela esfregou os olhos e olhou para o relógio que marcava 23:30 e olhou para o celular onde havia 5 chamadas não atendidas do Pedro então ela retornou a ligação.

“ Alô “ Disse Pedro na outra linha.

Ceci: “Pedro seu infeliz, onde você se meteu?”

“Onde eu me meti? Ou onde você se meteu? Eu te liguei 5 vezes!” Disse Pedro nervoso

Ceci: “ Cara eu fui na sua casa, te liguei milhões de vezes e você não me atendeu!”

Pedro: “ Milhões de vezes? Que exagero Ceci, das milhões de vezes meu celular só registrou duas ligações sua!”

Ceci: “ Enfim, eu preciso te ver cara, preciso te contar o que eu vi hoje!”

Pedro: “ O que você viu? Ela??”

Ceci: “ Não, mas algo que achei muito estranho...”

O avô de Cecília interrompeu a conversa dos dois perguntando... “ O que você viu de estranho, minha querida?”

Ceci virou em direção a porta assustada.

“ Poxa Vô, você quer o quê? Me matar de susto?”

Avô: “ Não quero matar ninguém, minha querida, só vim aqui porque sua mãe mandou avisar que está na hora de dormir!”

Ceci: “ Tá Vô, to indo já só vou me despedir do meu amigo”

Avô: “ Ta certo, Boa noite então!” e seu avô fechou a porta.

“Caramba...Pedro essa foi por pouco!”

 Pedro: “quem era?”

Ceci: “ Meu avô e era dele mesmo que eu ia falar, mas já ta muito tarde amanha eu te conto!”

Pedro: “ Pera Ceci, não desliga agora não nem ta tão tarde assim, só são 23:59”

Ceci: “ Finalmente”

Pedro: “ Finalmente o que?”

Ceci: “ Finalmente falta pouco pra dia 27” Ceci sentou de frente a janela e observava a escuridão lá fora e sentiu como se já tivesse feito isso antes, como um Dejà Vu e de repente observou duas luzes na escuridão, assim como o sonho que ela havia tido.

Pedro: “ Ceci...ainda ta ai?”

Ela ficou em silêncio e esperou para ver se as luzes iam em direção a capela como no seu sonho e tudo aconteceu exatamente como no sonho.

Pedro: “ Ceci... dormiu??”

Ceci: “ Pedro, temos que ir!”

Pedro: “ ir? Pra onde? Dormir você quer dizer?”

Ceci: “ Não, ir lá agora, na capela!”

Pedro: “ O quê? Mas Ceci são meia noite ta tarde, vai dormir, amanha nós iremos sem falta!”

Ceci: “ PEDRO, NÓS TEMOS QUE IR AGORA!! ELA ESTÁ LÁ!”

Pedro: “ Ela está lá? Do que você ta falando Ceci?”

Ceci: “ Me encontra na colina, estou indo pra lá!”

Rapidamente Cecília desligou o telefone, pegou uma laterna colocou no seu bolso e saiu lentamente para que ninguém a ouvisse sair, passou pela estrada escura iluminada pela luz da lua, passou pelo cafezal e ao chegar no pé da colina ela respirou fundo, temendo que esse fosse seu último suspiro, fechou os olhos e foi ao encontro tão esperado.