“Cecília” gritou a mãe da garota.

Cecília: “ Que foi mãe?”

“Vai já pra cama!” indagou a mãe um pouco nervosa.

Cecília: “Espera, antes quero ouvir mais uma história que o vovô tem pra me contar!”

“ Cecília, já mandei você deixar o pobre do seu avô em paz, ele já tem uma certa idade, tem que dormir cedo!”

O avô retruca com ar de indignação “ Não estou tão velho assim, acho que ainda dá tempo pra mais uma!”

Apesar de Cecília já estar com seus 16 anos, ela ainda gostava de ouvir histórias antes de dormir, histórias essas contadas por seu avô, que tinha muitas, algumas eram fruto da sua imaginação fértil e outra levavam a carga vivida por seu avô e a dessa noite era uma delas.

Avô: “Bem, Cecília essa que eu vou te contar aconteceu à muito tempo atrás, eu ainda usava ceroulas!”

Cecília: “ Ceroulas vovô? quer dizer que hoje o senhor não usa mais?” risos

Avô: “ Uso sim! Só que hoje o nome mudou para cuecas!”

Cecília: “ ah, ta...bom saber haha”

Avô: “ Bem como eu vinha dizendo, essa história aconteceu a muito tempo atrás, quando os primeiros imigrantes alemães e italianos chegaram ao Brasil, movidos pela esperança de uma vida melhor, pois na metade do século XIX a economia européia se encontrava debilitada e devido ao fim da escravidão, O Brasil necessitava de mão-de-obra boa e barata, e juntaram o útil ao agradável...”

Cecília o interrompeu: “ Tá vô, a disciplina história eu vejo todo dia na escola...da pro senhor pular essa parte...”

Avô: “ Mas que apressadinha, Ok, Ok...Muitos imigrantes vieram trabalhar nas lavouras de café dessa comunidade, e aqui encontraram um lugar para construir suas famílias...Uma dessas famílias de imigrantes italianos trabalhavam para um senhor muito poderoso nessas terras, ele era conhecido como Pietro e tinha uma filha que se chamava Maria, na época com 6 anos, Maria então se aproximou do filho mais novo do casal de Italianos que trabalhava nas suas terras, o jovem também tinha a mesma idade que ela.

Os dois costumavam brincar pelo cafezal, porém o pai de Maria não gostava que ela se aproximasse dos seus empregados e sempre a recriminava. Os dois foram crescendo e se aproximando cada vez mais e o que já se esperava aconteceu, Os dois se apaixonaram e o que era ainda mais esperado( que seu pai não aceitasse) aconteceu e como dita as regras ele não aceitou e queria casá-la rapidamente para que ela tirasse essa idéia da cabeça. Maria triste correu pro seu amado e falou do destino que o pai queria traçar para ela e ele prontamente a falou : “ Porque não casa comigo? Nós nos casamos e depois do fato consumado seu pai irá aceitar” Mas pobre rapaz não sabia que ao redor, o capataz que trabalhava pro pai da moça ouvia tudo.

Maria: “ e quando vamos nos casar?” O rapaz demorou um pouco pra pensar e respondeu:

“ no dia 27 desse mês, nos casaremos na capelinha que tem no alto da colina. Me espere lá que eu vou te encontrar e consumar isto.”

O Capataz que já sabia o que iria acontecer, correu até a casa e contou para o pai da moça, que ficou furioso mas decidiu ficar quieto e planejar um plano que seria infalível...

Cecília interrompe novamente... “Vô, a capelinha que o senhor conta nessa história é a mesma que da pra ver aqui da janela? “ Cecília falou isso olhando pra janela que apresentava uma mata escura através dela e lá em cima no topo da colina a capelinha iluminada com uma luz fraca. O avô consentiu sem ao menos levantar a cabeça para olhar também.

Avô: “ posso continuar?”

Cecília: “ avontade...”

Avô: “ Bem o pai de Maria decidiu mandar seu capaz matar o rapaz no dia do casamento, assim ele não iria aparecer e Maria decepcionada desistiria dessa história e seguiria sua vida... e assim foi feito no dia 27 Maria se preparava pra sair de casa até a capelinha, seu vestido estava estendido na cama e a felicidade estava no seu olhar...mas algo lhe cutucava dentro de si, pois o silêncio do seu pai lhe causava uma estranheza, mas mesmo assim ela foi, linda e feliz, porém, mal sabia ela que toda essa felicidade iria escorrer de si tão rápido como entrara. Maria esperou, esperou e por fim esperou...mas em vez do seu amado chegar, o que chegou foi a notícia que o capataz de seu pai trazia consigo.

“ Maria, não espere mais pois ele não virá...seu pai o mandou matar e jogou os pedaços que restou dele aos porcos, para que tu não pudesse nem ao menos velar por seu corpo”

Aquela notícia foi um choque para jovem moça, que estava tão cheia de esperanças da nova vida, o desgosto foi tão grande que a garota não agüentou, Maria procurou a corda mais grossa e na árvore mais próxima a da capela se enforcou, seu corpo ficou dias pendurado na árvore, pois havia muitos curiosos e poucos que se dispunha a tirá-la de lá, O Pai de Maria ao saber da notícia da filha, enlouqueceu e se matou com um tiro na cabeça... e essa história para época foi muito marcante pois para uma comunidade pequena e pacata que quase não acontece nada, isso era demais e daí muitas pessoas começaram a contar essa história e aumentá-la até virar uma lenda...a Lenda da noiva do cafezal, Alguns chegaram a falar que todo dia 27 de cada mês a noiva aparece na capelinha para esperar por seu amado eterno, outros falam que dá pra ver o corpo de uma moça com vestes de noiva pendurado na árvore e os mais extremistas, dizem que já viram ela na estrada à pedir carona. Mas nada foi provado até hoje, são só invenções que as pessoas incrementam em cima de uma triste história.

Cecília: “ Vô e o rapaz? Quem é? Qual seu nome?”

O Avô respirou fundo e falou: “ Não se sabe, não se tem registro dele, ninguém nunca soube nem irá saber, agora vá dormir Cecília que já está tarde, chega de histórias por hoje.”

Cecília: “ Mas vô...essa história ta muito estranha...”

O Avô em um tom mais exaltado falou : “ Não tem nada de estranho na história, o problema é que você queria ouvir uma história de terror, cheia de fantasmas, mas na verdade a história não passa de uma triste e trágica história de amor.”

Cecília não se conformava, para ela aquela história tinha algo mais, tinha algum fato esquecido ou omitido pelo seu velho avô, alguma coisa que ela queria descobrir, um mistério que ela queria desvendar e sem dúvidas, ela iria.