Ela caminhava com seu andar elegante, feminino durante o dia, uma verdadeira dama para a sociedade.

Liz de dia e Leela à noite.

Com o cair da tarde, fecho minha livraria todo santo dia com o sol das cinco horas. Viro a placa que diz “aberto” para “fechado” e abaixo as persianas. Fico sentado apenas espiando minha vizinha.

Ela não sabe que este meu coração bate por ela.

Não importa quantos homens ela coloque em sua cama eu garanto que quando chegar a minha vez ela nunca se esquecerá. E vamos repetir muitas e muitas vezes esse amor que trago comigo.

O relógio bateu 20:00 horas e a minha quebrada Liz dá espaço e vida para a sua personalidade mais ousada e desfrutável.

Leela sai desconfiada de sua casa olhando para todos os lados com medo de que algum vizinho desconfie do que ela faz. Eu não ligo. Sei que o que ela faz com os homens não é amor, não existe coração e sentimento ali, apenas sexo por dinheiro.

Me falta a coragem de ligar para seu celular e marcar uma noite . Não sou esse tipo de homem! A quero como mulher e companheira , não como uma vadia que vá se ajoelhar na minha frente e me chupar por poucos trocados.

Se eu pudesse ao menos falar pra ela que eu sou o homem que irá sarar o seu coração que sangra...

Saí do meu refúgio e fui para minha casa.

Tomei um banho relaxante mais a cabeça estava nela que naquele momento poderia estar tirando a roupa para algum canalha qualquer. Ela deveria estar tirando a minha roupa, eu deveria estar no chuveiro com ela a fazendo mulher de verdade.

Sonho com os gritos que ela dará em nome do prazer que eu vou proporcionar.

Quero a frágil Liz tremendo de baixo do meu corpo, quero sentir qual a sensação dentro das suas coxas e quero dizer-lhe “te amo” depois que acabarmos. E quando o dia amanhecer quero fazer panquecas para ela que vai me direcionar um radiante sorriso.

Sonhei com ela a noite toda, nos meus sonhos tudo era verde, da cor da esperança. Eu era feliz por que era o responsável pela salvação e felicidade dela.

Acordei com o irritante som do despertador anunciando que o dia começou e que para ela a noite acabou.

Fui para o centro comercial , só haviam três pessoas na rua. Eu, Leela e Jhon. O cafetão gesticulava e eu não entendia, Tirei os fones do ouvido e os guardei dentro do bolso do casaco. Fazia uns 5° graus e Liz usava apenas uma mini saia de borracha e uma camiseta fina de algodão que estava totalmente suja e rasgada.

Coloquei a chave na fechadura mais não abri a porta. Só ouvi suas súplicas e depois as marcas dos dedos imundos de Jhon no rosto de anjo dela. Caída ao chão e em prantos.

Corri até ela e lhe ofereci a mão.

Liz me olhou desconfiada e humilhada. Com um sopro de orgulho levantou-se sem minha ajuda e disse palavras duras.

Eu só pude dizer o quão errada ela estava sobre mim, porém, se o coração dela permitisse, ela cruzaria a rua deixando para trás o puteiro que ela chamava de lar e iria encontrar abrigo.

Abri minha loja e fui preparar um bom café da manhã para mim.

Jhon reapareceu jogando as coisas dela na calçada dizendo que qualquer garotinha de colegial trazia mais dinheiro para ele do que ela. – qualquer um na rua poderia ter ouvido seu grito. - Liz catou suas coisas e saiu andando pela rua, corri para a janela e a vi quebrar o salto de sua bota enquanto descia a rua .

Ela praguejou  e voltou a caminhar arrastando suas duas malas. Olhares curiosos caiam sobre ela, a rua ficara movimentada com as lojas abertas, apenas o bordel estava fechado e seu letreiro falso que dizia “Pousada”  estava apagado.

Fui até os fundos da livraria e peguei o meu casaco.

Ela estava sentada na calçada chorando muito, dolorida, machucada e sem amor. Calado permaneci , me abaixei ao seu lado e lhe cobri . Liz que ainda se vestia de Leela me olhou surpresa, levantei-me regressando aos meus livros.

Tomei uma xícara de café puro quando o sino tocou anunciando que alguém cruzou a porta .

“Por que?” ela me questionou .

Não havia porque! Eu a amava e pronto. Perguntei-lhe se conhecia a história da garota de 17 anos , filha do reverendo, que estava desenganada pelos médicos e do rapaz perturbador que lhe perseguia na escola. Ela negou. Contei-lhe que era uma história de amor triste, onde a garota foi brevemente feliz e que desempenhou um belo trabalho ao regenerar o rapaz.

Eles se apaixonaram.

Ele lutou pela felicidade dela até o fim dos seus dias mais não havia mais tempo para eles...ela se foi.

Liz enxugou as lágrimas e disse ainda não entender o que ela tem haver com a história e eu lhe disse que o amor não escolhe, acontece e que ela estava diante de um homem que a amava profundamente.

Ela se levantou imediatamente retirando o casaco e jogou em cima do balcão, estava prestes a dar meia volta quando lhe segurei o pulso.

“A garota não tinha tempo e não havia cura para sua doença mas para Liz havia todo o tempo do mundo” desde que ela pegasse a minha mão.

Liz se jogou em meus braços pedindo segurança e afeto e que não podia me dar o que eu desejava, seu coração. Ela não sabia amar.

Eu tinha todo o tempo do mundo para lhe ensinar o amor. Lhe contei que a abraçaria quando sentisse frio ou medo, que a escutaria dizer como foi seu dia, que a faria gemer de baixo dos lençóis, que estaria ao seu lado quando o seu dia fosse ruim, eu contarei todos os seus encantos e lhe lembraria do porque sou apaixonado por ela, lhe confidenciei que lhe procuraria sempre, que eu serei o seu rei e ela seria a minha rainha.