Greco-romana: O Segundo Lado escrita por P3RC4B3TH


Capítulo 28
Então, adeus




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Nossa viagem de volta foi um pouco agitado. Depois de chegarmos ao terminal rodoviário um monstro nos atacou. Depois, na primeira parada nosso ônibus explodiu. 

Como fomos atacados sofremos alguns atrasos. Passamos a noite e a madrugada na estrada. Tresh não pregou o olho, Jay e eu dormimos como crianças. Chegamos em Nova York mais ou menos as dez horas.

Chegando lá, após de algumas horas, longas, de viagem fomos atacados novamente. O bom de ser atacado, é que, dessa vez é que ninguém olhou para nós como três fugitivos. Isso me deixou com um astral bem melhor.

 Queria logo voltar ao acampamento e descansar, parecia que estava fora de forma novamente.

Aquela viajem toda me fez refletir em algumas coisas, e bem, parece eu havia mudado algumas coisas. Só era necessário testar.

Chegamos na entrada, um olhando para a cara do outro.

-Graças aos deuses chegamos em casa! – Jay disse.

-É, eu estou morrendo de sono. – Dava para perceber, pois Tresh estava com umas olheiras bem expostas.

-Eu vou poder ver o Fred de novo! Como eu estou?

-Gato como sempre, agora vamos porque eu quero um banho. - Na verdade eu precisava, eu estava imunda.

-Vamos logo. – Tresh disse.

Quando entramos soube que não iria me arrepender da minha escolha. O verde da floresta e do bosque cercava tudo. O cheiro delicioso dos campos de morangos. Os campistas com as roupas que bem entendessem.

Ninguém saberia que chegaríamos hoje. Assim como esperávamos eles tiveram uma surpresa em nos rever.

-Vocês voltaram vivos! – Ouvir alguém dizer.

-Você vai ficar com a gente? – Outro disse.

-Olha quem não foi comido por lobos! – Era Tyler. Ele estava com armadura e com alguns cortes. 

-Tyler! – Jay disse. – Ta vendo, sobrevivemos aos lobos!

-Eles chegaram! – Tyler berrou. – Romana? Você vai ficar?

-Sim.

-Quíron sabe disso?

Eu havia me esquecido que lá não era uma adolescente responsável pelo acampamento todo. Era um centauro com alguns mil anos e um deus. Um deus bem ranzinza. 

-Droga! – Coloquei minha mão na cabeça. – Como eu tomo uma decisão e esqueço desse detalhe?

-Calma, nós só temos que falar com ele e... 

-Tresh, o que eu vou fazer?

-Foi o que eu disse, temos que falar com ele. O velho centauro ira entender.

-Quem é velho? – Era Quíron com uma revista que parecia ser dos anos 80 e falava sobre música.

-Quíron! Você por aqui! – Tresh riu nervosamente.

-Eu trabalho aqui, jovem. Vejo que voltaram impune dessa. Tenho que lhes dar os parabéns.

-Obrigada. – Tresh falou.

-Quíron, precisamos falar com o senhor... – Jay disse. - Na verdade, a Romana, nós só vamos acompanhar.

-Jay!

-Ta na hora de você conversar direito com alguém. – Ele sussurrou em meus ouvidos.

-Eu estou com tempo, vamos. – Quíron falou virando as costas e galopando.

-Se a galera chegar diga que fomos falar com Quíron. – Jay avisou a Tyler.

-Ta legal. E nossa, que olheiras feias, em! 

-Ta, ta. Eu sei. – Tresh bocejou e nos seguiu.

Era bom chegar e ver os relevos de Long Island. O acampamento Júpiter era todo reto, sem relevos uma enorme área de campo, sem muitas árvores. Mas aqui não. Tudo era relevo, subida e descida. Havia muitas árvores, o verde predominava. O ar era mais puro, o lugar parecia mais descontraído por isso, e também era mais puro para se respirar.

Ao chegar na casa grande sentamos em um sofá vermelho. Quíron se sentou em sua cadeira de rodas para disfarces.

-Cadê o senhor D.? – Perguntou Jay.

-Deve estar preparando algumas emboscadas para os de mais campistas. Mas creio que esse não foi o assunto a ser tratado, certo? 

-Certo. – Disse Jay. – Romana quer falar. – Ele me cutucou.

-Ãn... Como sabe... Sou uma filha de Roma...

-Prossiga. – Quíron disse.

-Eu... eu resolvi meus problemas no acampamento Júpiter. Então, eu automaticamente tomei uma decisão sem consultar nenhuma autoridade. Eu decidi vim para cá. Os lobos não interferiam, não deram sinal, e isso talvez seja bom. Mas tenho que saber das autoridades daqui se eu posso... ficar.

-Bem, de fato é a primeira vez que vejo um romano querer se bandear para os gregos, não sei se isso é bom. É mesmo sua decisão, criança?

-É. – Olhei para Tresh e sorri.

-É a decisão dela, Quíron. Ela pode? – Tresh disse com a voz sonolenta.

Ele passou a mão na barba e olhou para mim, depois Tresh, e em seguida Jay.

-Se é mesmo sua decisão, pode ficar. Mas claro, tem que ver isso com o senhor do vinho.

-Ta. – Eu disse animada me levantando. – Falamos com ele. Vamos!

O sol matinal estava uma delícia, embora estivesse cansada ainda teríamos que falar com o senhor D. 

Rodamos o acampamento e achamos ele sentado no refeitório com uma lata de coca zero.

-Senhor D, posso falar com o senhor? – Falei.

-Não, está me atrapalhando na minha relaxada matinal, saiam daqui.

-É importante. – Falei.

-Espera, você é aquela de Roma, não é?

-É!

-Você voltou viva? Eles voltaram vivos? – Ele apontou para Tresh e Jay. - Isso me parece contraditório. – Ele passou a mão em sua barriga. – O que quer?

-Eu tomei uma decisão, mas preciso que o senhor apure ela...

-Continue...

-Eu quero ficar aqui, tipo, sem Califórnia, sem romanos, sem regime militar. Quero ficar com vocês, gregos.

-Olha, senhora Italiana...

-Romana...

-Que seja... Você não pode ficar aqui, é uma filha de Roma. Esta fora do meu alcance fazer isso, sinto muito.

-Mas eu fiquei um bom tempo aqui!

-É! O senhor deixou! – Tresh falou.

-Aquilo foi porque ela precisava e blá blá. – Ele bebeu a coca.

-Mas a Lupa não se opôs na minha decisão! – Falei.

-Não? – O senhor D. pareceu surpreso.

-Isso, ela não falou nada. Nem os lobos, nem os romanos...

-Ora... Então... Eu vou ser superior. Vai ser bom ter uma filha de Roma para a tortura. Saiba que sua vida não vai ser fácil.

-Obrigada! – Nós três começamos a pular. Jay beijou meu rosto e Tresh minha boca.

Saímos todos animados e Jay e Tresh sorrindo cada vez mais para mim.

-Jay! – Uma voz chamou atrás de nós.

-Eu conheço essa voz. – Jay abriu um sorriso e se virou.

De longe se via a aparência de Fred, atrás Verona, Tyler e Meridia.

-Fred! – Jay sorriu.

Eles correram e se abraçaram. Foi fraterno, foi romântico, foi sincero.

-Senti sua falta! – Fred segurou o rosto de Jay.

-Eu também, meu herói! Você não sabe o quanto! – Fred roçou o nariz no de Jay.

-Fred...

-Eu assumo tudo por você! – Os lábios dos dois se tocaram e pela segunda vez vi Jay beijar um garoto.

Fred estava com as mãos na cintura de Jay e ele no pescoço de Fred. Eles se beijavam bem depressa.

-O amor é lindo. – Tresh disse-me dando um selinho. – Obrigada por ficar.

Falamos com toda a galera, mas eu queria descansar.

-Ai, não sei vocês, mas eu estou cansada. Preciso de um banho. Vou entrar.

-Eu estou com sono, preciso dormir. 

Eu e Tresh subimos de mãos dadas e fomos descansar.

As férias estavam acabando, e lá estávamos nós novamente no topo da colina meio-sangue.

-Querido, você vai mesmo ficar? – Jay perguntou para Fred.

-Sim, falei com meu pai e ele concordou.

No geral todos ficaram surpresos com Fred também ser gay. E também ficaram surpresos que Jay era o novo namorado de dele. Mas aceitaram. Eu fiquei feliz que eles não sofreram nenhuma ofensa, não queria socar a cara de ninguém nesses últimos dias.

-Então tome rumo, certo? Cuidado aqui.

-Tudo bem, amor. Vou me cuidar. – Fred beijou o pescoço de Jay. – Não quero ficar sabendo que uns caras deram em cima de você!

-Tudo bem. – Ele riu.

Enquanto eles conversavam eu e Tresh tínhamos a nossa conversa.

-Eles chamam um ao outro de amor...

-Filho da beleza, você já filho do amor, sem nexo te chamar de amor, né?

-Talvez. E ai? Está preparada para o ano letivo?

-Não. Odeio escola. Sempre da tudo errado. E você? 

-Acho que sim. Escola nova, forma nova. Vou arrasar!

Olhei para ele com cara de séria.

-Claro que com minha auto-estima, porque minha namorada é brava e assassina.

-Que bom que lembrou.

Nossas respectivas vans chegaram e nos depedimos.

-A gente se encontra semestre que vem? – Falei.

-Com certeza. – Jay sorriu.

-Já estou com saudades! – Tresh me abraçou.

-Nos vemos por ai, certo? – Falei.

-Claro. – Jay e Tresh falaram uma única vez. 

-Até logo meninos. 

E assim sai da colina me dirigindo até a minha van, deixando os meninos para trás esperando até a próximo encontro.

É incrivelmente engraçado como a vida nos deixa sem escolhas. Sim, é. Você espera sempre coisas boas, mas se você é um meio-sangue, tem que ficar esperto. 

Depois dessas férias de verão, fui muito mal na escola. Sentia falta de Tresh, Brayan e Jay. Lottie e Louis me faziam falta também. Meus estudos foram de mal a pior. Também houve minha expulsão no colégio em que estudara. Tio Sandy ficou muito bravo comigo. Quis contar minha origem, mas sabia que ele me chamaria de maluca.

Nas férias de invernos Tio Sandy não deixou eu ir para o acampamento, o que me deixou furiosa. Tresh veio me fazer uma visita quando soube, Jay , Fred e Verona também vieram, o que me deixou feliz. Tio Sandy os mandou embora, pois disse que eu tinha que estudar. E estudei.

Na nova escola, as coisas mudaram um pouco, voltei a recuperar umas notas boas, e fiquei longe de encrencas por um tempo.

Ser meio-sangue te acarreta problemas à maioria das vezes, e no inicio do ano letivo fui expulsa na primeira semana da mesma escola que havia recuperado as notas. Tio Sandy furioso novamente. E umas semanas antes de ir para o acampamento meio sangue, expulsa da outra escola.

‘-É a ultima vez que você vai para esse maldito acampamento, Romana! Já sabe o que vai acontecer na volta. Já está tudo pronto. Curta o seu ultimo mês.’

E foi o que tentei fazer naquele inverno.

Chegando lá, quando atravessei a barreira mágica e toda aquela roupa de frio que estava era desnecessária a partir daquele momento. Enquanto lá fora era neve e um frio, o tempo dentro do acampamento era ensolarado e quente. 

Tirei meu casaco bem grosso, depois minha toca, luvas e uma blusa de manga longa térmica. Já estava retirando minhas botas quando vi Tresh subindo a colina.

-Que saudades! – Ele me beijou na cabeça.

Ainda batia os dentes, mas sentia um pouco de calor.

-Eu também senti. Deuses, não sei se sinto frio ou calor. 

-Vem, vou te dar chocolate quente, isso ajuda.

Deu resultado, me aqueci e logo já estava usando roupas frescas.

Foi uma semana longa, eu tinha logo que contar para Tresh... Era impossível, eu estava feliz, ele mais ainda. Tresh era filho da deusa do amor, e amor era o que ele tinha para dar e fazia isso muito bem. 

Contei para ele na segunda semana, era uma quarta-feira. Estávamos sentados juntos na praia, só nós.

-Você se adaptou aqui, adorei isso.

-É porque eu tenho um namorado aqui, um melhor amigo aqui, e gosto daqui.

-Só tem que tomar cuidado com as mãos. Mãos que batem em uns, ai...

-Eu melhorei, vai...

-Eu sei. – Nós rimos.

-Tresh, tenho que te contar uma coisa.

-O que?

-É difícil para mim... – Minhas lágrimas caíram.

-O que houve?

-Eu vou me mudar.

-Para onde? Não é ruim, certo? É só para outro bairro, não é?

-Não...Eu vou para a Irlanda.

-Não! Não pode ir para lá! E seu tio? O mercado dele? Brayan? Eu? Nós, Romana! – Ele estava vermelho.

Tio Sandy estava com o mercado em alta, mas uma franquia de Nova York deu uma quantia alta pelo mercado, e ele aceitou. Mas não foi só isso que o fez querer ir para Irlanda. Foi minhas quedas na escola. Ser expulsa e notas péssimas só reforçou o fato dele querer me tirar do acampamento. Ele não admitiu isso e disse que nós mudaríamos.

‘-Romana, eu sou seu responsável, e tomei a que vamos para a Irlanda. É para seu bem. Lá eu vou te pagar um colégio descente e não ouse causar problemas!’ 

Mais uma vez eu poderia contar minha origem, porém mais uma vez eu recuei. Tio Sandy era um homem bom, me dava tudo o que eu queria, me dava atenção, era um pai para mim. Às vezes brigávamos, mas sempre fazíamos as pazes. Não poderia dizer que não iria viajar com ele, isso ia trazer mais problemas para mim.

Tresh ouviu tudo atentamente.

-E porque você não vaga por ai, como antes?

-Porque eu tenho uma família, e agora sua proposta foi estúpida.

-Eu não me ouvi, me perdoe. 

Doeu ver Tresh chorar, doeu ver ele acabado com o coração despedaçado com minha mudança.

-E nós, Romana?

-Vamos deixar isso para o destino, amor!

Fora a primeira vez que o chamara de amor. Choramos abraçados e como crianças. E ali eu soube que eu estava perdendo um menino que talvez nunca mais o destino me deixaria ver novamente.

A culpa não é sua ser meio-sangue. Não é sua explodir sua escola sem querer. Mudar de vida, ficar sem sua mãe ou o seu pai. Não é.

-Jay sabe?

-Não contei ainda.

Jay também não administrou isso muito bem.

E então, eles me levaram até o aeroporto. Depois das férias, perderam um dia de aula para me levar até lá. A despedida doeu muito.

-Isso é um até logo. – Jay disse chorando.

-Espero que sim. – Sorri em meio de lágrimas.

-Eu vou sentir saudades, minha encrenca! – Tresh chorava tanto quanto eu e Jay.

Encrenca. O apelido no qual Jay colocara em mim e fora usado como forma de carinho pelos dois.

-Esse dracma é para quando quiser falar comigo. – Jay deu em minhas mãos.

-Um é para quando quiser falar comigo, o outro foi entrega de Brayan. Use um para cada um de nós. – Tresh estava vermelho de tanto chorar.

-Filho da Beleza, espero que ache uma garota para lhe fazer feliz assim como eu te fiz.

-Não vai ter. Até pode ter uma, mas nenhuma como você. Escolha bem seus próximos namorados.

-Tentarei.

Nós demos o ultimo beijo caloroso. O ultimo abraço.

-Obrigada por tudo, meu melhor amigo. – E Jay chorava muito, e eu também. Um abraço quente e forte.

Um abraço em trio, e comigo a foto e as melhores lembranças que tive com eles.

-Romana, obrigado por ter me mostrado que é possível ser amado do seu jeito. Seja gordo, seja gay, seja grossa, agressiva, seja de qualquer jeito. Obrigada. – Tresh me abraçou. – Eu...amo você!

E isso foi à última coisa que ouvi, meu vôo fora anunciado e sai correndo. Rosto vermelho devastado por lágrimas e já sentindo ciúmes das garotas que me substituiriam.

E aqui estou eu. Sentada no balcão do antigo mercado de Tio Sandy, o qual outra pessoa se responsabilizara. Tio Sandy voltou e com isso o mercado voltou para ele. Sentada com uma revista olhando para a porta a espera de alguém. Mullingar é um lugar pacato. Lagos são a atração turística daqui. 

      Estou atualmente no meu último ano do ensino médio, em uma escola particular e descente. Aqui existe semideuses, mas eles não tem um acampamento de férias, é uma república saindo da cidade e Tio Sandy não deixara eu ir para lá. E eu não faço questão de ir.

Não tenho namorado, faz apenas um ano, exatamente um ano que eu vim para Irlanda e deixei minha vida lá. Namorado, amigo e colegas. Meu irmão. Os dracmas latejam em meu bolso para serem usados, mas eu resisto.

Nos primeiros meses foi difícil suportar a perda, mas eu acostumei.

Namorado? Não tenho, não arrumei. Não consegui parar de pensar nele, mesmo depois de um ano. Melhor amigo? Só aquele filho de Apolo. Irmão? Só o meu.

E aqui estou eu, no balcão com uma revista fútil, dracmas no bolso, Adaga na minha cintura e pensamentos a mil. Pensando em tudo que me ocorrera a alguns anos, um ano recente. Pensando que só queria uma pequena parte da minha vida, de volta.


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Notas finais do capítulo

AGUARDEM! AGUARDEM!



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