Greco-romana: O Segundo Lado escrita por P3RC4B3TH
Era dia de Tresh ter alta. Acordei primeiro que todos na minha coorte. Cheguei no refeitório e enfiei algumas coisas na boca e logo em seguida desci apressadamente para a enfermaria.
Achei que ele estaria dormindo. Porém, quando cheguei ele estava sentado com uma bandeja sobre seu colo. Estava comendo sopa.
-Ah! Oi! Quero dizer, bom dia! – Ele disse colocando a colher de volta no prato.
-Bom dia! – Me aproximei com um enorme sorriso.
Ele ficou me olhando mexendo nos dedos que estavam livres dos curativos. Sabia que ele estava nervoso.
-Não precisa ficar nervoso. Sou só eu. – Disse.
-Ãn...ta...- Ele tirou a bandeja de seu colo colocando na mesa que tinha do lado.
-Como está se sentindo?
-Razoavelmente bem. Senta. – Ele disse indo um pouco para o lado.
-Cadê Jay? – Me sentei na cama, ao seu lado.
-Não sei, mas ele veio me acordar. Disse que era para eu me alimentar e viria aqui para checar as ultimas coisas antes de me dar alta.
-O gesso coça?
-Sim, mas tenho uma régua! Brayan me deu, ele disse que ajudaria, e deu certo. – Ele riu.
-Sabe, eu queria poder de pegar no colo.
-Porque?
-Para fazer igual você fez comigo quando fiquei no hospital, por causa do tiro, lembra?
Uma rápida imagem de Tresh me segurando no colo, ainda gordo, e me ajudando a sair escondia do hospital passou em minha mente.
-Como esquecer? Afinal, foi a primeira vez que peguei uma garota no colo. E ainda foi a primeira vez que uma garota tirou a blusa no mesmo quarto que eu. Quem diria que o gordinho ia conseguir essa proeza. E nem apanhei, foi um recorde!
-Não seja bobo.
-Mas é serio. Nunca achei que uma garota fosse me beijar por livre e espontânea vontade. – Ele se referiu a vez que dei um selinho nele.
-Deuses, eu estava desengonçada. Não sabia como fazer aquilo. – Ri.
-Eu gostei. Foi também à primeira vez que beijei uma garota e ela não me bateu, ou disse ‘seu gordo nojento’.
-Que horror, Tresh!
-Mas é sério, elas sempre diziam isso. Na verdade a única menina que beijei disse isso. E as outras sempre que me olhavam diziam isso.
-Só beijou uma garota?
-Uhum. – Ele disse timidamente.
-E como foi?
-Não quero falar sobre isso. Mas me traumatizou.
-Ok. E eu não bati em você, então tudo bem.
-E a vez da garrafa?
Odiava quando ele lembrava naquela cena. Foi na nossa primeira missão juntos. Achei que Jay tinha morrido, Tresh havia colocado uma garrafa do me lado e eu recusei a jogando de volta. Na segunda tentativa eu acertei em cheio em seu nariz, e começou a sangrar.
-Para de lembrar disso.
-Sangrou muito e eu chorei.
-Tresh, para. Você sabe que eu odeio quando lembra disso! – Disse me levantando.
-Ei, me desculpe, volta, volta aqui, em?
-Não vou. Volta a comer, vou te ajudar até.
-Não precisa. Não sei quem fez, mas está ruim.
-O que está ruim? – Jay disse entrando na ala dos ferimentos leves. – Espero que tenha comido.
-Não tive culpa de nada. – Falei.
-Sei... – Jay estava com uma bandeja na mão. Nela tinha duas seringas.
-Vou ter que tomar de novo? – Tresh perguntou fazendo uma cara feia.
-Vai. Isso é importante. Não se preocupe, essa é a ultima, depois vou tirar esses equipamentos de você e pronto, alta!
-É por uma boa causa. – Tresh tirou o lençol de cima de suas pernas.
-Romana, vire. A menos que queira ver a bunda de seu namorado. O que eu super recomendaria. – Jay riu.
-Não tem graça. – Tresh disse.
Virei de costa para não deixar o momento mais constrangedor. Uma das injeções foi no braço e a outra em sua bunda.
-É dolorido. – Tresh disse.
-Romana, chame alguém para me ajudar descer a cadeira de roda. – Tresh iria ter um auxílio até a quinta coorte.
Quando voltei com Louis e Brayan, Jay já tinha tirado todo equipamento de Tresh.
-Vamos. – Jay pegou em um lado de seu braço.
Ele se levantou com um pouco de esforço. Deu dois paços e logo sentou-se na cadeira.
-Vamos lá, garotão! – Jay deu um tapinha amigável no ombro dele.
Os garotos sofreram um pouco para descer a cadeira de rodas com Tresh em cima. Acabaram chamando mais dois campistas que estavam por perto.
Chegamos à quinta coorte e os meninos até que tiveram facilidade em colocá-lo para dentro.
-Eu estou indo providenciar as novas roupas dele. – Louis disse saindo.
-Brayan, faz um favor? Vai atrás de uma sacola para eu colocar no gesso de Tresh. – Jay ia dar banho nele.
-Certo. – E Brayan saiu.
-Romana, coloque Tresh dentro do banheiro. Vou guardar esse jaleco.
Assim que Jay saiu fui logo levando ele para o banheiro na cadeira de rodas.
-Pronto. Agora é só esperar Jay. – Disse quando estávamos dentro do banheiro.
-Não tem ciúmes dele me ver nú? Tipo, ele é gay.
-Eu deveria? Tresh, vai me trair com Jay? – Brinquei.
-Claro que não! Sei lá, eu teria ciúmes.
-Tresh, você tem ciúmes.
-Não é verdade. – Ele mentiu.
-Saia do banheiro, vou dar um banho nessa coisa linda! – Jay disse.
-Você pode parar com isso? – Tresh disse.
-Querido, você é muito sexy. Não vou parar com isso.
Esperei do lado de fora sentada na cama de Tresh. Louis já tinha trago as roupas e posto em cima da cama.
-Romana, a roupa! – Jay gritou.
Levei até a porta do banheiro.
-Olha, - Jay disse saindo do banheiro. – eu tenho que comer. Estou com fome. Ele está terminando de se trocar. Se ele gritar o atenda.
-Tudo bem.
Esperei alguns minutos, até que Tresh me gritou.
-Romana, vem aqui.
-Está tudo bem, Tresh?
-Acho que não. Eu não consigo subir minhas calças.
-Sério?
-É. O gesso e os dedos da minha outra mão não colaboram.
-Ta, espera ai que eu vou ver se acho alguém.
-Ta.
Vi se alguns dos meninos estavam ali perto, mas não achei nenhum conhecido que faria esse esforço.
-Ãn...o Tresh? Eu não achei ninguém. – Falei por trás da porta.
-E agora?
-Espera. A menos que queira que eu ajude.
-Mesmo?
-É. Você colocou cueca, certo?
-Sim.
-Posso entrar então?
-Pode.
Ao mesmo tempo que foi engraçado foi constrangedor. Tresh estava com uma nova camisa do acampamento Júpiter e sua calça abaixada na altura das coxas. O que me fez reparar que eram grandes. Cueca branca boxer o deixava extremamente sexy.
-Para de olhar, estou com vergonha. – Tresh estava em pé e vermelho de vergonha.
-Desculpe, mas é difícil. Entendo porque a calça fica justa. Olhe suas coxas! – Ele riu todo envergonhado. Subi a calça.
-Abotoa, não vou conseguir. – Ele pediu.
-Em relações normais as parceiras desabotoam as calças. Não as abotoam. – Dei risada.
-Tem razão. Somos diferentes, e especiais.
Tresh conseguiu ir até sua cama andando. Após tirar a sacola do braço ele se deitou. Jay pediu que ele ficasse em repouso.
-Deita aqui comigo.
-Não precisa pedir duas vezes. – Quando deitei ficamos um de frente para o outro se olhando.
-Sabe, quando eu acordei, sabia que faltava alguma coisa. Quando eu te vi, soube que era você que faltava. Você não sabe, mas faz falta. – Ele passou os dedos enfaixados em meu rosto.
-Tresh, temos que conversar... – Falei.
-Posso te pedir um favor antes?
-O que?
-Minhas calças estão me apertando. Tira elas? Deuses, estou sem fôlego.
-Ta brincando comigo?
-Não, eu juro.
-Você me da trabalho! Vai logo, levanta!
-Minha bermuda está na minha bolsa.
Tresh se sentou. Peguei a bermuda e fiz isso logo de uma vez. Abri o botão e fui abaixando as calças dele. Tresh colocou um travesseiro em cima de sua cueca.
Acreditem, tudo ficou pior quando Brayan entrou e viu a cena.
-Mas o que? – Ele disse.
-Não é o que você está pensando! – Falei.
-Contaram do quartinho que se amassam, ali atrás?
-Brayan... olha, não é isso...essa calça só estava me... me... Deuses, que constrangedor! – Tresh tentou arrumar, mas ficou pior.
Terminei de tirar a calça para ele, e Brayan ainda estava olhando.
-Colocar uma bermuda nele, ok? Só isso. – Disse colocando – a em Tresh.
-Certo. Vim buscar a cadeira de rodas. Mas se forem tirarem a roupa um do outro de propósito, vá no depósito, é ali trás. – Ele saiu rindo.
-Ótimo, meu irmão me deve achar uma tarada.
-Isso foi constrangedor.
-A culpa foi sua!
-Eu sei. – Ele riu. – E então? O que vamos conversar?
-Então... - Disse sentando. – Tenho umas coisas para te contar.
-O que você fez? Não gosto da sua reação.
-Por partes. Descobri porque você foi vítima disso tudo.
-Foi por treino, lembra?
-Para de ser inocente! Octavian mandou os caras baterem em você e propositalmente!
-Como? Isso... Isso é...
-Absurdo? Eu sei!
-E o que você fez com ele? Você não o...
-Não. Mas eu quero.
-Não vai matar ele! Já conversamos sobre isso!
-Mas olha como ele te deixou. – Eu apontei para ele.
-Não quero que mate ele, fui claro? Isso eu resolvo quando eu melhorar! – Tresh estava sério.
-Não tem como você resolver, que droga! Você está assim por minha culpa.
-Não fale assim!
-Mas é verdade. – Eu respirei fundo. Ainda tinha que contar sobre eu talvez ser morta. – Preciso que saiba administrar outra coisa.
-O que?
-Lembra que ia ser julgada?
-Sim. Vão fazer isso quando?
-Na verdade as sessões já foram. A ultima vai ser daqui alguns dias.
-E o que foi resolvido? O que disseram? Isso aconteceu durante meu coma?
-Calma. – Falei. – Sim, aconteceu durante seu coma.
-Ta, mas me fale, o que foi resolvido?
-Acabei admitindo que matei os quatro campistas, disse para Reyna que foi por legitima defesa. Octavian optou todas as vezes que eu fosse punida com pena de morte...
-Isso é um absurdo! Não podem te matar!
-É ai que você se engana. Tresh, a pena de morte aqui no acampamento Júpiter é valida.
-Não podem te matar... – Os olhos de Tresh se encheram de lágrimas.
Ele estava chorando.
-Romana, você sabe o quanto você é importante para mim? – Ele começou a soluçar em meio as lágrimas.
-Tresh, isso foi conseqüência do que fiz no passado...
-Se você morrer é como se fosse em vão o que Jay fez por mim. Isso é um absurdo!
-Calma, ok? Sei que é um absurdo. Reyna esta considerando tudo. E no ultimo julgamento irá ser definido o meu destino.
-E o que você vai fazer? Se for pena de morte? A gente vai fugir, certo?
-Não sei. Se eu fazer isso o primeiro lugar para me caçarem é o acampamento meio-sangue. Ia ser guerra, na certa. Vocês vão ser prejudicados.
-Mas e o seu tio Sandy? Brayan? Jay? E eu? E nós?
-Tresh, - Eu ia começar a chorar, decidi por um ponto final naquilo. – Meu atos são minhas conseqüências. Se eu tiver que assumir, assumirei. Se eu for tentar fugir, será sozinha. Sem vocês para tomarem a culpa.
-Mas...
-Vou tentar sair dessa. Não chore.
Fui abraçar Tresh, que me agarrou com toda a força.
-Não se atreva a morrer e me deixar viúvo!
Foi difícil fazer Tresh parar de chorar. Ele realmente ficou abalado. Não queria esconder dele que talvez fosse punida com morte. Não tive opção.
Fiquei a manhã toda com ele. Fomos para o refeitório na hora do almoço, quando percebemos os campistas se movimentando.
-Parece que tem campista novo na área. – Falei.
-É uma menina. – Tresh disse.
Uma garota com cabelos longos, da cor castanho com algumas mechas loiras estava se aproximando toda suja com os guardas em sua cola.
-Xi, boa sorte para ela. – Eu ri.
-Romana! – Tresh me puxou para um canto quando a menina se aproximava.
-Tresh, o que aconteceu? Porque está com essa cara? – Ele parecia confuso.
-Romana, essa garota... É a Amanda!
-O que?
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