Havia muitos quadros. Uma natureza morta holandesa sobre a lareira da sala de jantar. Uma série de caricaturas de advogados de peruca e toga, na parede ao lado das escadas, e uma pintura inglesa na saleta.

– Olha que lindo cavalo, Dan! – Rose mostrou ao bebê que não se impressionou.

Havia gravuras do século XIX ricamente emolduradas. Rose deduziu que os autores deviam ser famosos, pois caso contrário ninguém teria se incomodado em emoldura-las.

O amplo dormitório fora decorado em tons de verde e prata com móveis antigos de nogueira, o que não combinava muito com a personalidade gritante e contemporânea de Darcy, Rose observou.

O segundo quarto fora mobiliado como escritório, com estantes do chão ao teto, repletas de livros de Direito. Pensando nas caricaturas que vira, Rose perguntou-se se seria uma coisa de família. Talvez sua jovem senhoria tivesse herdado a casa e os livros.

Havia uma escrivaninha imensa onde ela poderia colocar seu computador e o scanner. Não tivera ainda tempo de liga-los, mas quando Dan estivesse na cama ela tentaria se organizar, prometeu a si mesma.

Ela voltou à cozinha na esperança de que Mao tivesse voltado. Não voltara, mas Dan, exausto, finalmente adormecera em seus braços.

Faminta, mas com receio de acordar o sobrinho, Rose apanhou um pacote de bolachas de chocolate, deixado por Darcy e afundou numa poltrona.

Devia ter cochilado, pois quando Mao arranhou a vidraça, miando, ela notou as feias manchas de chocolate em sua blusa e no tapete a sua frente.

Deixou o gato entrar e mais tarde, quando Dan acordou, banhou-o, alimentou-o e finalmente o colocou no berço.

Em seguida, tirou a blusa manchada e a jogou na cesta de roupa suja. Vestiu uma camiseta velha, escovou os dentes e caiu na cama.

Pouco antes de adormecer, pensou vagamente nas manchas de chocolate no tapete persa e no alarme que se esquecera de ligar, mas o sono a venceu.

Scorpius deixou as malas no chão do hall e dirigiu-se ao alarme para digitar seu código. Não estava ligado. Darcy obviamente esquecera aquele detalhe.

No dia seguinte ele daria a prima um cheque para que ela desaparecesse e tudo voltaria ao normal. Ou quase, ele pensou. A diferença de fuso horário fazia-o sentir-se totalmente desperto e faminto!

Rezou para que houvesse algo na geladeira. Acendeu a luz da cozinha, engoliu em seco e resolveu ignorar a pia repleta de louça suja, esperando ser lavada.

Um certo cheiro de peixe foi mais difícil de ignorar. O som de bolachas esmagadas sob seus pés não ajudou a melhorar o seu humor. Esqueça o cheque, ele ordenou a si mesmo, irado. Darcy teria sorte se escapasse de um castigo!

A primeira sensação de Rose ao acordar de repente, foi de pânico. Tudo parecia quieto demais. Ela pulou da cama, olhou para o berço e agarrou os óculos para melhor ver Dan, e ele parecia bem. Tocou seu rostinho para ter certeza. Perfeito. Na verdade, maravilhoso!

O gato também... Rose estacou, horrorizada. Lily teria um ataque se visse seu precioso bebê partilhar a cama com Mao, que se aninhara feliz nos pés do berço.

Ela o pegou. O gato protestou. Dan se mexeu. Rose fez um esforço para não se irritar e afagou o animal. Mao olhou-a com suspeita, quando ela saiu do quarto na ponta dos pés.

Acabara de chegar ao corredor, quando percebeu o que a despertara: havia alguém na cozinha!