Unnatural escrita por aLexo


Capítulo 6
(Megan) Nossa estalagem em um castelo...




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“Acho que você vai gostar destas aqui... Hoje o dia vai ser frio. Dormiu bem?”.

Quando abri meus olhos, vi a mulher de cabelos verdes colocando roupas novas em cima da minha cama. Eu a tinha visto ontem no jantar com o rei Drake, o dono daquele castelo, num canto, mas ela não se aproximou o suficiente para que eu pudesse falar com ela... Depois que Leon desmaiou e foi levado para dentro, nós entramos e o rei nos convidou para jantar. Era um local estranho em que um completo desconhecido te oferecia comida, mas como estávamos famintos - ponche e batatinhas não são exatamente uma refeição -, aceitamos.

No jantar, eu tive que ficar ao lado daquela garota chata, Giovanna, no “lado das garotas” da mesa de jantar. A mesa era retangular e de madeira, um lindo forro bordado a mão cobria a mesa de uma extremidade à outra. Do outro lado, estavam o rei e Nathan conversando entusiasmados, e as perguntas "Onde estamos?" e "Como viemos parar aqui?" não eram parte do assunto, mas eu acabei me esquecendo quando o rei Drake e Nathan nos incluiu na conversa.

“Sim, obrigada.”, eu disse, “Como está o Leon?”, e me sentei na cama para olhar as roupas que ela havia me trazido.

Eu estava num quarto bem grande no terceiro andar do castelo. Deveriam caber três elefantes adultos naquele lugar. Era tudo sépia e madeira e as cortinas tinham alguns florais e o cheiro era de primavera.

“Ele acordou há mais de uma hora. Está tomando o café da manhã com o rei.”, ela disse enquanto eu me vestia atrás de uma “parece falsa”. “Seus outros amigos ainda não acordaram”.

Quando ela me trouxe as roupas eu pensei que seriam coisas bregas da era medieval, mas na verdade eram bonitas. Uma camisa vermelha em cima de uma blusa branca e uma saia em cima de um jeans preto e um tênis. Eu me despedi e fui descer as escadas. O castelo era maior do que um estádio de baseball, os quartos ficavam no terceiro andar e a sala de jantar no primeiro e só Deus sabe quantos andares tem essa coisa...

O segundo andar era cheio de quadros de pessoas dos mais variados jeitos, todos estavam na mesma idade - entre 16 e 25 anos - e eram todos bonitos. No meio dos quadros havia uma fonte de águas claras que brilhavam como a Lua. Aquele era com certeza a sala mais aconchegante.

“Acho que sua amiga quer falar com você...”, disse o rei Drake para Leon, que estavam na mesa de café da jantar que, desde ontem anoite, havia sido trocada por outra um pouco mais espaçosa e num formado mais hexagonal, ao invés de retangular. “Bom dia!”, disse ele para mim e saiu.

Leon usava uma touca preta na cabeça, camisa xadrez vermelha em cima de uma blusa cinza e uma calça justa um tamanho maior que mostrava os tornozelos. Eu achava aquele tipo de calça feia, mas nele até que ficou bem. Ele tinha um pouco de pudim de chocolate no canto da boca, por isso eu ri e ele me deu bom dia. Ele parecia bem disposto e animado.

“Eu estou bem...", disse ele, Leon me conhecia muito bem: já conseguíamos conversar só pelo olhar. "Ontem eu só tive uma pequena dor de cabeça... Talvez média...", ele sorriu e fez mostrar suas covinhas no rosto.

Eu me sentei e me servi de um pouco de cereal e pudim. Leon me contou que estávamos, pelo que entendi, em outro planeta, do outro lado da galáxia. O rei Drake não sabia bem como havíamos chegado ali mas ele sabia um jeito de voltarmos. Enquanto conversávamos, Nathan e Gih desceram juntos conversando e eu não iria deixar ela roubar meus amigos...

"Bom dia!", disse Nathan para nós. Ele também tinha roupas novas e usava um boné. "Não acredito que vocês não me acordaram...", disse ele vendo a quantidade de comida. Giovanna sentou ao lado de Leon e o deu bom dia. Ela cochichou algo em seu ouvido e eu senti que deveria interromper.

"Leon!", eu gritei sem saber o que diria depois, e estavam todos olhando para mim. "Me passa o açúcar?", eu completei e logo Nathan começou a rir loucamente, derrubando um pouco de pudim em cima de mim. Era do que eu precisava.

Me levantei num pulo, peguei uma colher de pudim e joguei na cara de Giovanna - que estava do lado de Nath - "sem querer". Nathan, notando que o movimento havia sido contra ele, jogou outra colher em mim, mas acertou no lustre. Leon jogou um pouco de pudim no meio do nariz de Nathan e logo uma guerra começou. Mas não durou muito, logo a mulher de cabelos verdes nos mandou parar e ir para o quarto nos trocarmos.

Ela nos deu roupas totalmente iguais as que usávamos antes da guerra de comida, e todos nós voltamos para a mesa. Quando cheguei, Leon estava explicando mais uma vez onde estávamos quando o rei apareceu e comprimentou os convidados. Antes de se sentar, uma criatura feita de pedra se aproximou com pressa e cochichou algo para o rei. Era engraçado, ele parecia um pouco com o Moe dos Simpsons. Depois que ele foi embora, Drake se virou para nós e disse:

"Temos problemas. Todos... Venham comigo!", e todos nós o seguimos para um andar mais abaixo quando de repente, ouvi algo grande se chocando contra a porta do castelo. Eu queria saber o que estava acontecendo, mas com certeza não ficaria ali para descobrir.

Passamos por um andar escuro e com cheiro de academia e, depois de passar pelo que parecia ser um cano de esgoto gigante, chegamos a um cano de água ao mesmo tempo que uma explosão ecoou vinda do andar de cima sacudindo a água. O cano era espaçoso, tinha mais de três metros de altura e um caminho de dois metros de comprimento na qual poderíamos andar sem sermos molhados - ou quase. O rei Drake foi a frente nos guiando, mas nem ele parecia saber muito bem por onde ia.

Eu estava um pouco distraída. Com aqueles barulhos estranhos vindos de cima e eu tentando não me molhar, era difícil me concentrar no caminho a minha frente... Mas a coisa mais estranha foi quando eu esbarrei na Giovanna...

"Desculpa", ela se virou para mim e eu vi que ela estava preocupada. Ela sempre parecia estar descontraída e rindo - o jeito que Leon gostava -, agora eu não conseguia decidir como ela ficava melhor: Leon, ao vê-la, a abraçou e a conduziu pelo resto do caminho. "Atuar qualquer um pode", eu disse a mim mesma, mas me controlei a fim de não dizer aquilo em voz alta.

"Chegamos!", disse o rei Drake ao chegarmos numa porta bem grande de ferro com vários desenhos de criaturas que eu nem imagino o nome. De um dos lados, havia uma pequena miniatura em pedra de um sapo segurando uma folha... Mas não me toquei o que significava naquele momento.

O rei clicou aleatoriamente nas criaturas, uma por uma. Foi então que eu vi que não foi aleatoriamente... Era um código. Tentei decorar mas era inútil... Só sabia o começo: unicórnio duplo, bicho de quatro cabeças, leão-zebra...

Assim que ele se afastou, a porta começou a abrir. Quando se virou, me fitou o olhar penetrante daqueles olhos azuis. Ele parecia abatido... Depois, virou o olhar para Leon e lhe deu um pedaço de papel embolado. Não disse nada. Vi uma lágrima escorrer de seu rosto quando entregou o papel a Leon. Geralmente eu acharia que aquilo era drama de mais... Mas eu senti foi pena daquele homem.

Ele fez um sinal para que fôssemos rápido. Leon segurava o papel com firmeza. O que estivesse ali dentro, o deu forças extras. Ele foi na frente, seguido por Nathan de perto, depois Giovanna e eu fui atrás.

"Você não vem?", eu perguntei para ele assim que passei pela porta. Ele me deu um abraço apertado e depois fez um sinal para Leon, que respondeu do mesmo jeito. Algo tinha acontecido no café da manhã que eu ainda não sabia... Ele fechou a porta no mesmo instante em que um pedaço do túnel desmoronou...

Eu queria voltar. Uma dor muito grande atingiu meu peito. Eu não o conhecia a muito tempo, mas algo me atingiu em cheio... Talvez fosse a sensação de saber... Senti a mão fria de Leon no meu ombro. Ele também estava com os olhos vermelhos, mas não havia lágrimas. Ele me abraçou.

"Vamos...", disse ele seco. Era como se nada tivesse acontecido. Depois de ver aquilo ele queria que eu voltasse a andar normalmente?! Eu poderia começar a discutir com ele bem ali. Mas não fiz. Eu podia ver que ele estava sentindo o mesmo que eu...

Continuamos a caminhar. Andamos por quase uma hora pelos esgotos de Nova York em total silêncio. Eu não me lembro como chegamos a algum lugar conhecido, e acho que isso também não é importante, mas em meia hora estávamos na minha casa.

Havíamos pegado o iPhone do jardim e ninguém havia falado uma palavra ainda... Leon desembrulhou o papel e tirou de lá um carregador de iPhone 5. Quando ele plugou o carregador ao aparelho todos ficamos bem calados tentando se preparar para qualquer coisa que pudesse aparecer ali naquela tela. Quando finalmente ligou, decepção: ele tinha senha...

"Então estamos na estaca zero de novo...", comentou Nathan que não havia falado muito, o que era bem estranho já que ele era hiperativo. Ele tinha razão. Tanto esforço para nada... Aproveitando que alguém estava falando, eu observei Leon.

"O que ele falou com você?", eu perguntei. Ele me encarou. Me olhou de cima a baixo com uma expressão que eu não pude traduzir. Depois, ele focou num espelho que havia atrás de mim e se olhava.

Ele abriu a boca mais nenhum som saiu. Tentou mais uma vez, mas foi em vão. Uma pequena lágrima se formou em seu olho esquerdo e eu não entendi o que o impedia de me contar a verdade... Leon enxugou os olhos e me pegou pelo braço, me conduzindo para fora.

"Eu quero saber uma coisa primeiro...", disse ele para mim e eu não entendi. "Eu tenho que falar com...", ele fez uma pausa, "meu pai, primeiro. Depois eu respondo todas as suas perguntas...

Dizendo isso, Leon saiu correndo em direção à sua casa e eu corri atrás... Sentia que ele faria algo insensato e que poderia acabar muito mal. Leon era bem rápido, por isso o perdi de vista, mas eu já sabia o caminho.

Quando cheguei, nem pensei em bater na porta. A casa estava totalmente silenciosa, até pensei que não houvesse ninguém em casa, mas como a porta estava destrancada, concluí que Leon já havia chegado.

Não fiz como aqueles personagens idiotas de filmes que se anunciam no local para avisar assassinos e monstros que sua mais nova vítima havia acabado de chegar. Ao invés disso, eu me esqueirei pela sala até a escada e, ao me aproximar dos quartos, pude ouvir a voz baixa de Daniel. Não havia nenhum sinal de Leon, mas Daniel aparentemente falava com alguém.

Quando cheguei a porta do quarto de Leon, pude ouvir mais claramente o que seu pai dizia. Mesmo assim, ele falava muito baixo e eu não conseguia formar frases. Escorei-me junto a porta, mas não esperei que ela estivesse entreaberta; eu caí no chão, revelando a cena: Leon estava sentado na cama com os olhos vermelhos. Ele nem olhou para mim, estava muito focado em um ponto qualquer da parede. Daniel tinha puxado uma cadeira para falar com Leon frente a frente. Esse sim me olhava, mas não com cara de espanto, mas era como se tentasse avaliar por meus olhos o quanto eu havia ouvido.

"Ah. Uh.", eu tentei formar palavras para me desculpar, mas eu simplesmente não conseguia. Podia sentir o clima tenso no ar quando Leon virou-se para mim, mas logo uma calma melodia tirou sua atenção: um celular tocava uma de suas músicas favoritas.

"Alô...", disse ele ao pegar o telefone em baixo das cobertas e enxugando os olhos. Ele só ficou ouvindo por mais de um minuto, enquanto eu e seu pai o olhávamos. Quando Leon desligou o telefone, eu notei que aquele não era seu celular, ou muito menos o de seu pai, era o iPhone 5 que havíamos deixado em minha casa minutos atrás...


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