Unnatural escrita por aLexo


Capítulo 1
(Leon) Último dia comum por um bom tempo...




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    Era uma terça-feira, lá pelas cinco horas da manhã. Eu estava deitado no sofá de casa, bem, não era bem a minha casa. Eu moro na verdade em um apartamento no lado oeste de Manhattan, mas por causa do trabalho do meu pai, estou em um lugar diferente todo mês. Voltando: A casa era alugada, ficava no Rio de Janeiro, Brasil a cinco minutos da praia de Copacabana, era bem bonito, até para mim que não era um fã de oceanos e Sol.

    “Leon! Onde você está?”, meu pai, Daniel, trabalhava na Google -, sim, a mesma Google que você usa quase todo dia, só que na parte de ‘gadgets’, ou seja, celulares e tablets e essas coisas - e as vezes ficava em reuniões até tarde da noite. “Por que está com uma revista de garotas no colo?”

Na noite passada a energia tinha acabado então eu estava no tédio total e a única coisa que eu tinha para fazer foi ler uma revista que tinha comprado para uma amiga minha com a luz das lâmpadas de emergência, já que meu celular estava sem bateria.

“Eu comprei pra Megan”, eu disse rapidamente, jogando a revista para mais longe no sofá, “Ontem a noite acabou a energia e não tem nada pra fazer nessa casa, e você não me deu a chave”.

OK. Eu estava num país desconhecido e não sabia a lingua e nem conhecia ninguém num raio de quase mil quilometros e esses eram motivos suficientes para meu pai não me deixar sair de casa mas para um garoto de 14 anos hiperativo como eu, aquilo era como prender um cão no Ano Novo ou no 4 de Julho.

Ele me olhou e dava pra ver que sabia o que eu pensava. É tão estranho. Ás vezes eu simplesmente penso em algo e ele diz aquilo, exatamente o que eu pensei. Quando eu tinha 6 anos, já aconteceu de eu me trancar no quarto por quase quatro horas com medo que ele lesse minha mente.

“Tudo bem. Eu tenho uma reunião hoje a tarde, você pode andar pela cidade, ir pra praia, até ir no bondinho, mas volte antes das cinco horas!”

Eu mal ouvi o que ele disse. Estava nostálgico. Quando eu tinha seis anos era bem legal. Meu pai me ensinou a ler e escrever com 3 anos e antes de entrar na escola eu já falava inglês e francês, então na escola eu só fazia bagunça. Ele me ensinava tudo um ano antes deu aprender na escola, por isso eu era ‘um do fundão’ que tinha média A.

“Ãh?”, saí do transe, “reunião a tarde, bondinho, cinco horas. Entendi”.

Levantei num salto - não de verdade, para ser franco, eu voltei a dormir e quando já eram oito horas levantei. Coloquei o celular para carregar e naquele momento lembrei que tinha trazido o tablet e o iPod, ou seja, todo aquele tédio sofrido na noite passada tinha sido em vão - embora eu ter descoberto que o cabelo de verdade da Ariana Grande é preto e cacheado, o que não mudaria realmente nada na minha vida.

Não pensem que eu sou um daqueles riquinhos que têm tudo aquilo que pedem. Não. Mas meu pai trabalhava com aquilo, então ele teria mesmo sem querer, e ele acha que é bom eu ter portáteis já que eu passava muito tempo fora de casa - da de verdade -, mas isso não importa.

    Eram 2h da tarde e eu estava na praia. Distraido como sempre, devo ter demorado uns vinte minutos mas notei que todos estavam olhando na minha direção e pus a mão no meu cabelo - nesse dia estava ventando muito, ele podia muito bem estar como um ninho de pombo -, foi então que notei uma formação de nuvens um tanto que estranhas.

    Se você fosse analisar cada uma daquelas nuvens separadamente não notaria nada de anormal, mas o fato era: eram um circulo de nuvens perfeitamente postas. Eu não era um observador de nuvens - na verdade eu geralmente só notava que elas estavam no céu em voos de avião -, mas duvido que aquilo acontecia com muita frequência.

    “Wow...”, eu não pude deixar de dizer e imediatamente uma garota ruiva que estava a meu lado começou a me observar e eu, um pouco constrangido, disse: “Isso acontece sempre?”, ela ficou em silêncio por algum tempo e eu pensei que ela não deveria saber inglês. Fui me afastando lentamente até que...

    “Qual seu nome?”, ela disse e seu tom de voz me era um pouco familiar, embora seu rosto não me lembrasse nada.

    “Hm... Leon...”, meu pai sempre me disse para não dizer meu nome para estranhos, mas não vi mal nenhum naquele momento.

Ela pareceu esquecer totalmente de que havia uma inusitada formação no céu e que estavamos em um local público porque ela largou o livro que segurava e me agarrou como se nós nos conhecessemos...

    “LION!!! Nossa! Como você cresceu! Não lembra de mim né?”, ela falou tudo aquilo tão rápido que demorei um pouco para digerir as informações - ou talvez fosse o doce aroma de morango que vinha dela, que havia me deixado um pouco tonto -, e só conhecia uma pessoa que falava tanto...

    “Giovanna? Você não era loira?”

    Quando eu tinha oito anos, eu e meu pai passamos quase nove meses na cidade de São Francisco. No meu primeiro dia na cidade, eu acabei me perdendo no meio da praia - meu pai diz que não sabe como, mas depois de tanto tempo vivendo com ele, dá pra perceber que ele não presta muita atenção nas coisas - e acabei esbarrando em uma garotinha loira que me fez parar de chorar e nós começamos a conversar. A mãe dela era salva-vidas então não foi muito dificil encontrar meu pai depois disso. Enquanto eu e meu pai estivemos em São Francisco, quase todos os dias estavamos juntos, viramos algo mais próximos que melhores amigos e bem menos do que namorados - ela me chamava de Lion e eu até que gostava disso. Depois que eu e meu pai nos mudamos eu e ela perdemos o contato.

    “Sim! Depois dos nove anos começou a ficar ruivo. O que achou?”.

    Pra dizer a verdade, com sete anos ela já era bem bonitinha, mas agora se ela me dissesse que virou modelo ou algo assim eu acreditaria, quer dizer, sempre fui muito fã das loiras... naquele momento mudei minha opinião. Mas claro que eu nunca diria isso tudo em voz alta! Então resumi:

    “Ficou legal.”, ela não pareceu ficar brava, na verdade eu não me lembrava de alguma vez já tê-la visto brava, ela era despreocupada e divertida, parecia que nada atingia ela, “O que faz aqui? Quer dizer, você não morava em São Francisco?”

    Nesse momento, uma mulher alta, loira e um pouco mais bronzeada do que eu me lembrava, apareceu a uns 12 metros de onde estavamos. Usava um colete de surf e uma bermuda hawaiana por cima, parecia uma daquelas modelos de lojas de verão.

    “Oi, mãe!”, Giovanna gritou para que Karine pudesse nos ver, e depois se virou para mim: “Minha mãe está aqui essa semana para um concurso de surf”, e vendo minha expressão de confussão, continuou, “ela desistiu de ser salva-vidas, não era o que ela queria, sabe? E ela é muito boa surfando, você tem que ver!”

“Giovanna, onde esteve?”, foi o que ela disse mas o que queria dizer era ‘quem é esse garoto aí?’.

Karine era inteligente, divertida e bonita - ela não mudara nada em seis anos: parecia ter 25 e acabado de sair da faculdade-, mas não tinha uma boa memória - eu e Gih já ficamos presos na escola muitas vezes quando ela deveria nos buscar -, por isso nem esperei que ela fosse se lembrar de mim.

“Mãe, esse aqui é o Leon... lembra?”, ela disse bem devagar e apontando para mim.

Naquele momento parecia que uma bigorna de lembranças tinham se chocado com a cabeça de Karine. Nós nos cumprimentamos, ela perguntou sobre meu pai, coisas de pessoas que não se viram em seis anos...

“Você não era loiro?”, ela perguntou e eu estranhei completamente aquela pergunta, depois fiz que não com a cabeça.

“Você era sim! Não era loirinho mas seu cabelo era mais claro”, disse Giovanna e eu olhei pras duas pensando ‘será possivel que elas me conhecem melhor que eu mesmo?’, porque eu não me lembrava de ser loiro...

“OK. OK. Isso não é importante...”, eu disse e logo elas me convidaram para comer algo num restaurante, mas, ao olhar para o relógio - quinze para as cinco -, me despedi, dizendo que tinha de correr, mas antes peguei o telefone de Gih e marquei de nos encontrarmos na praia no dia seguinte.

Não fui correndo de verdade, até parei numa banca para comprar churros, mas eu não fico muito confortável na presença dos pais dos meus amigos - principalmente amigas.

Cheguei em casa faltando nada mais que sete minutos para as cinco horas e contei a meu pai sobre o meu dia. Naquele momento eu tinha esquecido completamente da estranha formação que havia visto.


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