Bem ao Lado escrita por Alessa Petroski


Capítulo 42
Capítulo 42




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/388868/chapter/42

Recebi alta às 9 horas da manhã, de um médico baixinho com um olhar caído, como se estivesse permanentemente com sono. Tio Joshua me apareceu meia hora depois com uma sacola com uma peça de roupa e aqueles meus óculos de nerd, que se sobrepunham em minhas bochechas.

Fiquei chateada com ele e deixei claro o acertando com a sacola. Ele desenterrara do fundo do meu armário um vestido rosa com estampas de flores amarelas, e a saia plissada, que ganhei de vovó no natal passado e fiz questão de esconder.

– Você está linda. Falta só isso - ele mostra uma sapatilha preta que eu usava quando era obrigada.

– Eu estou saindo de um hospital e não indo para um encontro romântico.

– Claro que está. Parece até que não sei que vai atrás do Lucius.

Ele estava certo, apesar de saber que Lucius não deveria me querer por perto tão cedo eu queria estar por perto. Não era por implicância, mas porque a distância dele me machucava. Ainda mais agora que ele que parecia disposto a por um abismo entre nós.

– Vou ver como Giane está, Joshua. Só isso.

– Se você diz, eu finjo que acredito - ele dá de ombros e olha para o relógio de correia de couro em seu pulso direito - Mas vai logo, tenho um compromisso às 10.

– Que compromisso? - indago desconfiada sobre que compromisso ele pode ter em um domingo de manhã.

Ele evita meu olhar e bate no relógio irritado.

– Cuida, Ravena Urbi Jason.

– Não diga isso. Odeio esse nome - estremeço.

Ele me expulsa do quarto e dou alguns passos em direção a uma placa prateada perfeitamente quadrada fixada à parede cor de creme:

"Apartamentos - 3° andar;

Pediatria/Obstétrica - 2° andar;

Recepção/Emergência - 1° andar.”.

Havia mais andares com suas especialidades. Ao todo o hospital da capital possuía sete andares com várias salas, e optei por ir à recepção usando o elevador, mesmo não gostando da ideia de ficar dentro de um cubículo prateado mesmo que por pouco tempo.

Entro no elevador, grata por estar vazio e tento abstrair assim que aperto o botão do térreo. Penso no que leva uma mãe a dar a filha o nome de Ravena; Urbi até que eu entendia porque era costume na família do meu pai as mulheres receberem esse segundo nome, inclusive minha tias - Paola Urbi.

O elevador parou no segundo andar, "Pediatria/Obstétrica" e Márcia entrou nele. Ela usava uns óculos escuros de armação redonda, e mesmo assim pude perceber que havia chorado porque seu lábio inferior tremia e seu nariz pequeno estava vermelho. Pelo muito que eu conhecia dela e de sua família, tive a certeza de que ela não estava ali visitando nenhum paciente que fosse criança e muito menos um pediatra.

– Ah, Ruby - ela diz envergonhada e para a porta - Se importa se eu...?

– Nem um pouco - falo baixo e ela entra no elevador, ficando bem ao meu lado.

– Melhoras. Soube sobre o que aconteceu no orfanato. Você foi bastante corajosa... Como sempre.

– Não precisamos de conversinha de elevador, Márcia. Não com você - falo.

– Verdade. Nunca gostou disso - ela completa.

– Poderia parar, Márcia? - falo perdendo a pouca calma e me voltando para ela - Não aguento mais você. Sua voz me enoja.

– Me bate, Ruby! Com força. Eu mereço - ela fala me desconcertando com o tom de desespero - Anda. Vá em frente.

Ela tira os óculos e o prende no decote da blusa rosa, afundando-o sobre seios fartos. Minha mão lateja para dar o que ela pede, mas a blusa que ela usa me impede. Eu havia dado aquela blusa a ela para animá-la depois do seu término com Rogério, um cara inteligente que estava cursando engenharia civil.

– Não consigo - falo com o queixo tremendo - Não dá. Fomos amigas por muito tempo. Melhores amigas, Márcia, e você me traiu e isso doeu mais do que a traição dele. Você não faz ideia do quanto me despedaçou.

– Perdão - ela diz baixinho e lágrimas gordas saem de seus olhos e quando dou por mim já estou chorando também - Desculpa. Desculpa. Foi um erro. Mas eu sempre gostei dele. Até quando você o ignorava e o chamava de babaca. Lembro bem que ele passava por nós com os amigos várias vezes e doía muito porque ele fazia isso por você. Você é perfeita, Ruby, como ele iria olhar para mim daquele com você por perto?

– Isso não é verdade, Márcia, você sempre teve todos aos seus pés como a garota que todos querem por perto. Afável. Delicada. Não precisa dele, poderia ter alguém melhor correndo atrás de você.

A porta do elevador se abre no meu destino e saio dele a passos rápidos com medo de sucumbir a raiva misturado a mágoa profunda e de acabar fazendo algo do qual me arrependeria.

– Ruby! - ela fala alto e quando me volto a ela suas mãos apertavam sua barriga - Preciso de perdão. Do seu. Por favor.

Um estalo me deu na cabeça e de repente tudo fez sentido. O andar em que ela estava, o choro vindo de lá e seu ar radiante nos últimos dias. Confesso que ela parecia estar mais voluptuosa, não de um jeito gordo, mas daquele jeito em que o corpo da mulher fica quando começa a ter outro se desenvolvendo dentro de si.

Uma enfermeira carrancuda me olha feio e eu retribuo seu olhar com a mesma falta de delicadeza. Ando até Márcia para evitar falar aquilo com todos aqueles ouvidos por perto.

– Você está grávida do Vini, não é?

Ela faz que sim com a cabeça e lágrimas rolam mais ainda por seu rosto. A abraço ignorando o latejar em meu peito por ter a comprovação do quão longe ele e Vini haviam ido. Foquei-me nas dificuldades da gravidez na adolescência. Ela me abraça com familiaridade e aquilo foi mais difícil do que entrar em um quarto em chamas para salvar Giane.

Eu estava dando as costas aos meus sentimentos para abraçar alguém que eu deveria odiar pela traição.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bem ao Lado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.