Bem ao Lado escrita por Alessa Petroski


Capítulo 14
Capítulo 14




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Quando os professores começaram a sair das salas de aula vi a oportunidade que esperava. Segui para a minha sala em passos firmes para ver se isto evitava a aproximação deles. Cheguei à escola um pouco antes do terceiro horário na segunda-feira, sabendo que eu tinha um atestado médico que me deixaria em casa por uns três dias, pelo menos. E no início até apreciei a ideia, mas depois de ter passado o domingo quase todo dormindo senti que se passasse mais tempo em casa eu surtaria.

Cheguei atrasada – muito atrasada – na escola porque na noite de domingo o meu braço latejara tanto que tive que tomar uma dose de remédios que me apagou por umas 12 horas seguidas. Eu tive que passar pela secretária, onde fui chamada na sala da diretora para passar um relatório do meu estado. O que eu estava achando terrível porque repeti a mesma história umas seis vezes só nos corredores da escola, sabendo que o verdadeiro interesse de quem perguntara estava em saber detalhes sobre o acidente.

Naquela cidade pacata algo deste tipo deixava a população mais curiosa do que revoltada.

Entrei na sala enquanto os alunos aproveitavam o pequeno intervalo de troca de professores para bagunçar. Algo que acontecia até mesmo quando algum professor estava na sala, então não era algo preocupante nem surpreendente. O que me surpreendeu foi à pequena garota morena sentada ao lado da cadeira que eu havia ocupado por muito tempo. Marcia havia faltado à semana passada inteira. Não sei se era pela vergonha de ter me traído ou se a vergonha estava em ter sido pega fazendo isso. Era difícil dizer.

Mas eu sabia que ela atrairia olhares de censura pelo que me fez e eu torcia muito para que isso acontecesse mesmo. Não era questão de vingança, mas sim aquela fundamental lei que diz que para toda ação há uma reação. E eu queria que ela se comprovasse mais uma vez diante de mim.

– Olá – ela disse com a voz trêmula e eu fiquei chocada demais para responder.

Um silêncio tomou conta da sala. E isso sim era novidade.

Eu não sabia se deveria responder ou ignorá-la. Eu enfrentava um dilema internamente porque não sabia como agir. E eu só não sabia o que fazer porque havia passado muito tempo refletindo sobre o que acontecera e não estava mais disposta a perder nem mais um segundo com aquela história de novo. Eu estava vazia para aquilo.

A professora entrou na sala com brusquidão e mandou que nos sentássemos. Aquela professora tinha traços suaves de fada, mas agia como um trasgo numa loja de vidros. Sentei grata no meu lugar e arregalei os olhos para Giane, que parecia decepcionada por eu não ter discutido com a Marcia. Penso que quase todos estavam compartilhando aquela mesma decepção.

Senti o calor voltando para o meu corpo quando percebi que alguém ainda mantinha os olhos em mim mesmo depois da aula ter começado. Eu não entendia o que estava acontecendo entre Lucius e eu.

Provavelmente desmaiar nos braços de alguém criava um laço entre o demasiado e o portador dos braços. E as chances deste laço me fazer ficar com o casaco dele era inconcebível.

Então, provavelmente eu estava apresentando sinais de cleptomania. Eu preferia esta hipótese e tantas outras mais, menos aquela que povoava um canto da minha mente, que declarava que eu me sentia segura com aquele casaco rasgado em mãos.


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