Oitava escrita por Feliks
A primeira foto que vi dela
fez com que eu pensasse
que ela era Sherlock Holmes,
com cabelos escuros e cacheados
Ela estudava em um colégio
que parecia saído de filme
e estudava neurociência
e usava jalecos e óculos de proteção
Ela tinha dentes estranhos,
mas uma voz interessante
com a qual lia Neil Gaiman
e Edward Gorey
Ela tinha um crânio de mentira no dormitório
e uma colega a qual trancava para fora
e uma janela a qual pulava
quando estava apenas de roupão
Ela tinha cabelo escuro
mas já tivera cabelo cor-de-rosa
e branco,
mas era ruiva
Ela tinha uma namorada
chamada E.
E. desenhava com aquarela e traços tortos,
mas ela era assexuada
Ela postava fotos do dia a dia:
do laboratório de química,
da vista do dormitório,
das roupas que usava,
dos livros que pegava
Ela me indicou livros
e eu os comprei
até hoje não li,
mas um era sobre cadáveres
e outro sobre venenos
Ela desenhava;
o traço dela era diferente,
forte,
grotesco,
mas interessante.
Os ossos sempre a vista e os seios magros
E pêlos
Ela tinha sinestesia
ou algo parecido
Os números tinham personalidade;
o sete era o mais forte,
todos temiam o sete
Ela era o sete,
apesar de ter o som de oito
Um dia ela cortou o cabelo
Raspou.
E filmou
enquanto cortava cacho por cacho
Ela usava lenços agora
e qualquer maquiagem ficava quase forte demais
e ela parecia uma daquelas estátuas egípcias
Ela deixou crescer o cabelo
(ainda curto),
pintou de loiro,
não mostrou mais fotos do colégio,
não tinha mais o crânio
(quebrou),
mudou
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