Quatro Elementos: O Confronto escrita por Amanda Ferreira


Capítulo 27
Mudanças


Notas iniciais do capítulo

Volteeei!
Boa leitura!



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Bianca

O vapor quente escorria por baixo da porta de vidro. A fumaça esbranquiçada preenchia todo o ar e embaçava o espelho. Seu perfume doce começava a se misturar no ambiente, dando a impressão confiante e familiar.

Suspirei pesadamente passando a mão pelo boxe e deslizando a porta num ruído baixo recebendo uma onda de vapor.Meus lábios se curvaram num sorriso satisfeito. Coloquei o corpo para dentro sentindo uma eletrizante força ao tocar a agua quente. Me virei lentamente fechando a porta de vidro.

Dei dois passos hesitantes e estiquei os braços envolvendo a sua cintura. Encostei meu corpo no dele sentindo um arrepio imediato. Depositei um beijo no seu pescoço tendo a melhor sensação do mundo ao provar o gosto da sua pele e a agua quente, numa sincronia perfeita. Ele virou a cabeça lentamente encontrando o meu olhar e obtive um sorriso torto fazendo meu corpo responder com um calor aconchegante. Deixei um sorriso escapar e pude ver o verde dentro dos seus olhos brilharem. Ele se virou me fazendo afrouxar meus braços e ficou me olhando por longos segundos. Depois ergueu a mão direita tocando a minha bochecha. Fechei os olhos e respirei lentamente ouvindo o som da agua do chuveiro batendo nas minhas costas.

Sua mão desceu fazendo pequenos círculos pelo meu braço ate parar para segurar a minha própria mão. Abri os olhos encontrando os seus e prendi a respiração quando ele se aproximou com um sorriso doce. Uma onda elétrica passou em mim assim que nossos lábios se tocaram, num beijo lento e delicado. Seus lábios sugaram os meus e por fim, cedo demais, ele se afastou para me olhar de novo. Os olhos fixos na minha boca e então suas mãos se fecharam na minha cintura e ele nos girou tão rápido que mal me dei conta, apenas senti minhas costas tocarem a parede fria.

Joguei os braços em volta do seu pescoço enquanto seus lábios iam para os meus mais uma vez. Investi a língua tendo em resposta um aperto firme na cintura. Meu corpo já pedia por ar, quando mordi seu lábio inferior e ele soltou minha boca. Soltei o seu pescoço e desci as mãos pelas suas costas nua. Ele me encarou por um segundo e senti suas mãos na minhas coxas, peguei impulso travando as pernas a sua volta. Encarei-o mordendo os lábios e ele apenas deu um sorriso malicioso me pegando em outro beijo.

Entrelacei os dedos no seu cabelo me arrepiando ao sua língua tocar na minha. Suas mãos ainda apertavam as minhas coxas, ate ele subi-las para o meu pescoço tirando o cabelo molhado que grudava na minha pele. Largou minha boca para beijar meu pescoço exposto, subir e descer lentamente.

Gemi baixinho vendo sua mão deslizar pela lateral do meu corpo e a sua boca morder o lóbulo da minha orelha. Fechei os olhos travando as unhas na sua nuca ouvindo um gemido de reprovação. Abri os olhos e encontrei os seus com aquele brilho de desejo que faz meu corpo quere-lo ainda mais. Não era necessário palavras, nós nos entendíamos bem apenas pelo olhar. Sorri, meu melhor sorriso malicioso e afrouxei as pernas respirando pesadamente. Mordi os lábios prendendo um gemido alto demais enquanto seu corpo preenchia o meu. Mais uma vez gravei as unhas nos seus ombros.

Ele deslizou as suas mãos ate as minhas entrelaçando nossos dedos forçando meus braços a se erguerem ate encostá-los na parede me impossibilitando de arranha-lo de novo e lhe dando total controle. Na maioria das vezes ser dominada é bom, mas não é sempre assim. Me remexi tentando soltar os pulsos e a não prestar atenção na sua boca descendo do meu pescoço, mas sua força era maior que a minha e bom, muito mais agora.

Apertei mais as pernas em torno dele e soltei um gemido desejando fortemente que ele não me fizesse gritar, porque perco o controle e no banho, com toda essa agua... não seria muito seguro.

Tombei a cabeça para trás deixando a sensação de prazer me possuir. Gemi contorcendo as mãos, mas ele não estava se importando com isso. Minha respiração estava falha e o som da agua caindo no chão estava batendo nos meus ouvidos. Olhei para ele que deu um sorriso travesso mostrando seus dentes perfeitamente alinhados e brancos, o sorriso que as vezes ele escondia e que fazia eu me perguntar de onde tirei tanta sorte de tê-lo.

Tombei a cabeça de novo deixando um gemido alto sair da minha garganta. Apertei os olhos rapidamente e os abri a tempo de ver o teto branco úmido, linhas de agua descendo ate a parede, o vapor tomando conta, mas então uma gota fria caiu na minha testa fazendo meu corpo congelar na mesma hora. Tentei respirar e me negar de era o que estava pensando.

– Fe-Felipe! - tentei com uma voz abafada pelo som do chuveiro. Olhei para baixo. - Felipe!

Gemi mais uma vez tendo uma onda de prazer.

– Felipe! - falei mais alto que o som.

Ele me olhou com um sorrisinho, mas sua expressão logo mudou vendo a minha cara de susto. Balançou a cabeça numa pergunta silenciosa de: " O que foi?"

– Para! - falei olhando atordoada para o teto, vendo uma coberta vermelha se formar.

Ele me encarou confuso e por fim soltou os meus pulsos devagar. Agarrei-o com tanta força que achei desnecessário e enterrei a cabeça no seu pescoço. Ele abraçou minha cintura, soltei as pernas enquanto meus pés tocavam no chão quente. Senti as pernas fracas e com toda certeza se ele não estivesse me segurando, eu cairia.

– O que está acontecendo? - ouvi sua voz meio rouca no meu ouvido.

Me afastei e apontei para o teto. Ele olhou com atenção e eu fiz o mesmo. Acima de nós em meio ao vapor, no lugar onde deveria ter gotículas de agua, escorria um liquido vermelho trazendo seu cheiro ate as minhas narinas. Prendi a respiração vendo pingos caírem aos meus pés. Então um ruído, um trincado, um pequeno buraco e o teto cedeu trazendo com ele todo o liquido vermelho e um som horripilante da escuridão e o céu.

***

Felipe

Dei um pulo da cama e me sentei imediatamente com o seu grito. Olhei confuso para ela que parecia perdida. Estendi os braços tentando faze-la acordar de vez, mas ela tremia e sua respiração estava ofegante, o coração a mil por hora. Esfreguei os olhos.

– Ei, ei! - tentei, mas ela se desviou do meu abraço.

Me aproximei mais enquanto ela olhava em volta atordoada.

– Bianca? - puxei a levemente para mim. Ela se virou e me encarou de olhos arregalados. - Calma, calma.

– Lipe? - sua voz saiu baixa e assustada. Assenti tentando dar um sorriso.

– Tudo bem. - falei com mais calma que pude.

Ela me encarou no escuro por um tempo pequeno e depois se jogou em cima de mim me apertando com força. Abracei-a de volta e deslizei as mãos pelas suas costas a fim de acalma-la. Parece que resolveu, pois ela respirou fundo no meu pescoço e ficou em silencio.

Deixei um beijo no topo da sua cabeça e a afastei devagar para olha-la.

– Foi só um sonho B. - falei com uma voz doce.

– Não. - balançou a cabeça e olhou mais uma vez em volta, acho que para ter certeza de que o quarto estava normal.

– Bia. - levei a mão ate seu rosto a virando para me olhar. - Quer me contar o que você viu?

Ficou em silencio me olhando. Encarei seus traços no escuro, sendo iluminados pelo a luz da lua que entrava pela janela. Os olhos castanhos num brilho familiar, os cabelos caindo nos ombros e uma franja caindo sobre a testa.

– Não foi exatamente um sonho. - falou por fim. - Foi uma lembrança sendo atormentada.

– Que lembrança? - perguntei com calma.

– Uma lembrança de hoje a tarde. - ela olhou para o lençol como se estivesse com vergonha daquilo. Coloquei a mão no seu queixo e a fiz me olhar.

– Sabe que pode me contar o que quiser.

– Banheiro. - ela falou. - O nosso banho hoje.

– Isso? - sorri sentindo uma onda elétrica no meu corpo só de lembrar do "banho da tarde". Pelo o que me lembro e muito bem, foi um ótimo banho. - Não é tão ruim assim. Sonhos eróticos comigo? São normais.

Ela abaixou o olhar e tenho quase certeza que seu rosto ficou vermelho.

– Não a lembrança em si e sim o que acontece que não deveria estar ali. - sussurrou.

Limpei a garganta e me endireitei.

– O que era? - perguntei.

– Podemos... podemos falar disso amanha? - ela me olhou.

Assenti me sentindo incomodo por algum motivo e suspirei me deitando de novo. Ela fez o mesmo virando-se de costas. Me aproximei abraçando-a e beijando sua nuca.

– Odeio pesadelos. - sussurrei.

– Eu também.

Fechei olhos respirando lentamente sentindo seu perfume entrar para o meu corpo, o cheiro familiar de brisa do mar.

– Lipe?

– Hm?

– Ela vai voltar, não vai?

Eu sabia exatamente de quem ela estava falando e sabia também a resposta. Ela se virou e ficou me olhando.

– Pode demorar ou não, mas sim. Ela vai. - respondi por fim.

– Eu só... não quero perder mais ninguém. Primeiro o João, depois a Lucy e agora... - ela respirou fundo como se quisesse chorar. - Agora o Rick.

– Ele só precisa de um tempo, Bia. Precisamos dar isso a ele.

– Todas as vezes que eu me encontro com ele, eu o sinto cada vez mais distante. Como se quisesse ir embora de vez, sabe? Até a Claire eu sinto assim as vezes. Longe.

– Acho que todos estamos assim de um jeito ou de outro.

– Talvez. - ela sussurrou se aproximando de mim e me abraçando pela cintura. - Sinto falta deles.

– Também sinto. - a abracei de volta beijando sua testa.

Fechei os olhos ouvindo o som dos nossos corações em sincronia, mas um efeito da conexão que por acaso me deixa cada vez mais ligado a ela. Como se eu não sobrevivesse mais se ela não estiver por perto e talvez eu não sobreviva.

***

Claire

Os sons de animais dentro da floresta densa me fizeram acreditar que algo perigoso se escondia ali. Mas o que? O que poderia me assustar depois de tudo o que houve?

De repente senti a presença dele e um arrepio surgiu na minha nuca. Estava sendo vigiada e lá estava eu: com a terra molhada aos meus pés olhando para a floresta escura. Ate a minha respiração era alta demais, cada movimento meu era demais. Eu queria fugir, algo que não me ocorreria se não fosso realmente necessário, mas agora, exatamente agora eu queria correr para longe, bem longe.

Ouvi um uivo vindo de longe, das montanhas ao sul, mas um som estranho veio de dentro da floresta, bem perto de mim. Tentei me virar para sair dali, mas meus pés estavam presos em alguma coisa no chão.

Engoli a saliva da boca e olhei para trás de repente me dando conta de não estava mais fora da floresta e sim dentro dela.

– Claire... - uma voz sombria me chamava. Por um instante quase a reconheci, quase deu vontade de ir, mas algo dentro de mim gritava para correr.

Olhei para o chão vendo o que segurava os meus pés e um súbito pavor percorreu meu corpo. Mãos. Mãos sujas de sangue, mãos saídas da terra, mãos de mortos. Estava presa a elas.

Tentei gritar, mas minha voz havia desaparecido. Tentei me soltar, mas nada adiantava. Então meu pesadelo só se tornou pior. As mãos apertaram meus calcanhares começando a me puxar, tentei ficar de pé, mas acabei caindo e quando já não tinha o que fazer, fui puxada para baixo, sem grito, somente vozes ao meu redor e o pavor dentro do peito.

Arregalei os olhos e fiquei rígida na cama. Estava suando e meu coração martelava sem parar. Respirei lentamente e me mantive ali sem me mover. O quarto pesadelo essa semana, a mesma coisa se repetindo e me causando o meu medo todas as vezes.

Engoli em seco, sentindo a garganta pedir por agua. Sentei-me tentando afastar da mente as imagens. Olhei o ambiente: paredes claras, as cortinas dançando na brisa que entrava, tudo em seu lugar. Joguei as pernas para baixo e calcei os chinelos pequenos demais para os meus pés 37. Suspirei me sentindo infeliz e andei ate o banheiro olhando meu rosto no espelho. Olheiras profundas se destacavam na minha pele pálida, os lábios secos, os cabelos embaraçados. Quem quer que me olhasse poderia afirmar que eu estava com uma infecção grave, mas era só noites mal dormidas.

Peguei a blusa fina de mangas compridas na cadeira e a vesti. Passei as mãos pelo cabelo e abri a porta do quarto me arrastando pelo pequeno corredor que já levava a sala de estar colada na cozinha e o outro banheiro.

Não posso reclamar, tenho que agradecer ao favor que a Claudia está me fazendo. Uma casa de campo que ela e o João construíram para passar ferias e que agora estava abandonada, então ela teve a excelente ideia de que eu ficasse para aliviar a cabeça o que obviamente não estava resolvendo nada. Não era uma casa grande, mas acolhedora. Ficava na fronteira da floresta, com uma vista para um rio. Agradavelmente boa. Eu estava dividindo com a Caroline, a irmã do Felipe e bom... um bando de lobos. Os lobos do Vicente. Na verdade eles ficam do lado de fora.

Enfim.

Me arrastei ate a porta da cozinha onde ia diretamente para um quintal gramado e logo a frente a vista para o rio que falei antes. Parei olhando a paisagem. Um sol ardendo no céu claro, pássaros voando para as arvores da floresta ao oeste e o barulho longe dos carros ao leste.

Deixei um meio sorriso se formar. Lá estava ele, sentado num toco de arvore, jogando pedrinhas no lago despreocupadamente. Passei pelo gramado e parei me sentando ao seu lado olhando o lago.

– Mais pesadelos? - perguntou sem me olhar jogando uma pedrinha redonda que saiu quicando na agua esverdeada.

– O mesmo de sempre. - respondi.

Ficamos em silencio só ouvindo o som da agua e as pedras batendo nela em quiques. Ele parou tudo e se virou para me olhar.

– Você não parece bem.

– Obrigado pela parte que me toca. - falei sarcástica.

– Claire, estou falando serio. O que está te atormentando assim?

Olhei dentro dos seus olhos bicolores. Ele sabia o que era e eu não ia responder. Olhei para o lago de novo.

– Vocês precisam conversar. - ele falou quando viu que eu não falaria. - Você não pode continuar assim.

– Quatro meses se passaram e eu não o vejo tem três. Só neste ultimo mês que eu o vi na semana passada e nós não trocamos nenhuma palavra. - engoli a sensação que se formava no peito. - O que eu posso fazer afinal? Ele não me quer mais.

Senti uma dor no peito. A dor familiar que só aumentou durante esses meses.

– Eu sinto muito. - ele resmungou.

– Tudo bem. Eu vou ficar bem. - olhei atentamente para o outro lado do lago, vendo o Vicente e seus seguidores ligando animados a van que seria o transporte deles em breve. Meu coração pulou. Me virei para o Daniel que mantinha um olhar distante.

– Vocês... vocês já vão? - perguntei com um nó na garganta.

– O Vicente quer partir amanha a noite. - suspirou parecendo cansado. - Vamos contornar o estado e depois seguir para norte. - ele apenas deu de ombros.

– Você não precisa, quer dizer, não precisa ir com eles. Sabe disso, não é? - falei na esperança de que ele dissesse que não iria.

– Não, mas eu fiz uma promessa e lobos não quebram promessas. - deu um meio sorriso.

Me senti completamente mal. O Daniel foi ótimo comigo durante esse tempo e agora ele simplesmente ia embora.

– Você... eu não consigo. - sussurrei. - Por favor.

Ele me lançou um olhar triste.

– Eu lamento Claire, mas... eu preciso. - ele se aproximou pegando minha mão.

Balancei a cabeça sentido meus olhos arderem e as lagrimas descerem sem permissão. Tenho que admitir que me tornei tão fraca desde... o que houve. Não consigo nem controlar mais as minhas emoções.

– As coisas vão melhorar. - falou limpando uma lagrima que escorria pela minha bochecha. - Você é mais forte do que isso.

– Não. - solucei tentando conter o choro que queria explodir. - Não mais.

Ele balançou a cabeça e se aproximou me envolvendo num abraço. Encostei a cabeça no seu ombro e respirei o mais profundo que meu corpo permitia. Senti a dor familiar se apoderar do meu peito. O Daniel era um bom amigo e quase tampava a falta que, bom... que o Rick fazia. Agora com o Daniel indo embora eu não sabia o que me restava. Eu ate poderia me submeter a atuar ou fingir que está tudo certo, mas não estava. Está tudo bagunçado, exatamente tudo que ate alguns meses atrás estava ótimo ou quase isso.

***

Rick

– Chocolate quente? - ela gritou da cozinha.

– Por favor. - respondi me afundando no sofá.

A casa da Kate estava do mesmo jeito rustico e moderno ao mesmo tempo. Não que isso me interessasse, tão pouco importava. Minha cabeça doía e não era primeira vez em meses.

Tudo o que queria era um dia, um diazinho sem nada estressante. Sem ninguém me ligando para saber se estou bem, sem que eu mentisse dizendo que preciso só de um tempo para pensar, sem ter que me lembrar e que sou um dominador e tenho tarefas a cumprir e mais blá blá blá.

– Aqui. - a Kate chamou minha atenção. Ergui a cabeça estendendo a mão e pegando a xicara branca. O cheiro de chocolate entrou pelas minhas narinas e imediatamente me senti melhor.

– Obrigado. - falei bebendo um gole, vendo que estava quente, mas não era incomodo.

– Então. - a Kate se sentou do meu lado colocando as pernas em cima do sofá e tomando um gole do seu chocolate também. - Fiquei feliz de saber que você queria vir aqui. Eu sei que todo mundo já fez essa pergunta, mas eu não sou todo mundo e me preocupo com você. O que você está pensando Rick? O que está sentindo?

Suspirei segurando a xicara no colo e olhei para ela. Estava bonita, parecia mais jovem com os cabelos picotados acima dos ombros, mais curtos do que a ultima vez em que a vira. A pele como uma porcelana e os olhos dourados expressivos. Uma regata básica e calça jeans apertada.

– Rick? - ela me olhou franzindo a testa.

– Eu não sei. - respondi por fim. - São tantas coisas que eu queria apagar, queria... esquecer.

– Eu sei o quanto está sendo difícil pra você. Não é fácil pra mim também, mas não é se afastando de todos que te amam que vai te fazer se sentir melhor. Estamos preocupados com você, já faz quatro meses desde... - ela bebeu alguns goles. - Seus sentimentos estão confusos até para mim.

As vezes eu me esqueço que a Kate tem um dom silencioso. Perceber suas emoções. As minhas ultimamente nem eu tenho entendido.

– Eu sinto muito Kate. De verdade. - dei um longo suspiro. - Eu só... só não consigo acreditar que acabou assim.

– Nós lutamos, mas agora não podemos fazer mais nada a respeito. - ela terminou seu chocolate colocando a xicara na mesinha de centro. - Tem uma coisa que é mais preocupante agora.

– Como o que? - olhei curioso ela passar as mãos pelos cabelos picotados.

– Eu andei lendo e... ouvi uma historia do Jonny. Você sabe o que matou o ultimo dominador do fogo?

Balancei a cabeça negativamente.

– Sempre começa com uma paixão. - ela olhou o tecido do sofá fazendo sua franja cair sobre os olhos. - Sabe Rick, os dominadores não foram criados para viver uma grande historia de amor, mas ainda assim uma parte de vocês é humana e como qualquer outro, alguns se perdem da sua verdadeira missão que é proteger a natureza. E a paixão é a maldição dos quatro elementos.

Não tinha como evitar, vocês foram criados para atrair as criaturas das sombras... - ela parou por um instante olhando as próprias mãos. - Como eu. E é por isso que nenhum dominador jamais se encontra, porque é inevitável. Tudo o que um tem o outro deseja. É de se esperar que vocês se apaixonem.

– Está dizendo que nós não devíamos nos conhecer, quer dizer, eu e os outros três?

– Seria fácil dizer isso. - ela suspirou tirando o cabelo do rosto. - Estão amaldiçoados a se amarem e a se matarem.

– Um ou outro? - tomei o restante do chocolate.

Ela me olhou por um tempo e depois balançou a cabeça.

– Não. Um seguido do outro. Por isso existe a conexão, ela foi feita para afastá-los, mas parece que não funciona com os atuais dominadores, não é?

Suspirei me sentindo mal ao me lembrar da Claire. Fazia quase uma semana em que eu não a via e fora os meses em que me isolei.

– O amor, a lapide, a conexão, a morte. Tudo isso veio dos dominadores passados Rick. Eles ativaram a maldição ou melhor, dois deles.

– Qual deles? O do fogo? - perguntei colocando o copo ao lado do dela.

– Não. Os antepassado da Bia e do Felipe. Se amaram e morreram por isso.

– Mas eles tiveram filhos juntos? Digo, dois dominadores...

– Não. O dominador da terra que morreu primeiro não teve filhos, apenas a dominadora da agua.

– Se ele não teve filhos... como o Felipe tem uma linhagem?

Ela deu de ombros e se levantou pegando os copos com cuidado.

– É um mistério. Acredita-se que existe um substituto e é essa a maldição. Os dominadores da agua e terra estão destinados desde então a se apaixonarem e um morrer pelo outro, o que morrer nem sempre vai deixar uma linhagem pronta e eu pergunto: Quem controla a natureza quando um dominador morre sem deixar um descendente?

Pensei nisso por um instante e me levantei a seguindo ate a cozinha.

– Isso é ruim, mas por que está falando isso comigo? Não devia falar para eles terminarem ou sei lá? - ergui uma sobrancelha.

– Acho que eles não precisam ouvir isso. - ela deixou as xicaras na pia. - Estou de falando isso porque ainda tem tempo de você não cometer o mesmo erro.

– Como assim?

Ela sorriu e se aproximou de mim.

– Ativar a maldição entre você a Claire. Selar um futuro de castigo e morte para os seus descentes, um futuro perigoso de uma paixão proibida.


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Notas finais do capítulo

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