As Cartas De Lana Parker escrita por Lixie Dixie


Capítulo 2
25 de maio de 1998




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Tive terapia, e etc., e por isso demorei alguns dias para escrever, mas tenho que te contar o que aconteceu quando meu pai chegou da viagem, pois não terminei essa história na carta passada. Ele chegou durante a tarde, um pouco antes do jantar, o que deu para minha mãe tempo suficiente para contar para ele sobre o meu incidente. Eu estava sentada na escada que dava para os quartos, brincando com a minha irmãzinha, e pude ouvir suas palavras, que soaram como lâminas em meus ouvidos:

“ – Ela fez o quê? Mas... Por quê? Eu podia jurar que ela não era louca...”

Minha mãe, indignada, o interrompeu:

“ – Ela não é louca! Como é que você pode pensar isso de sua própria filha? Ela está passando por um momento complicado da sua vida. Ano que vem ela vai começar a faculdade, ela não tem amigos, sua avó morreu a pouco tempo e ainda tem o nosso divórcio! Acho que você saberia disso se participasse mais da vida deles, não é? Que droga, Richard, o que custa dar um pouco mais de atenção para os seus filhos?”

Como era de se esperar, ela subiu as escadas correndo, passando por mim e Lili, aos prantos.

“ – Lili, por que você não vai para o seu quarto? Quando o jantar estiver pronto eu lhe chamo, tudo bem?”

Lili assentiu com a cabeça e assim como eu disse, foi para o quarto e pulou na cama. Fui para o meu quarto, lembrando de como eu arruinei minha vida, e a vida de toda a minha família. E isso me faz sentir uma culpa maior ainda. Maior porque falhei na tal tentativa e porque minha relação com a minha mãe não será a mesma.

Ah claro, esqueci de comentar que meu pai só está morando com a gente até agora porquê os papéis do divórcio ainda não saíram. Até fico feliz que eles estejam se divorciando. Não é porque não gosto de algum dos dois, mas acho que merecem coisas melhores. Meu pai vive viajando e não tem tempo para ninguém. Além do fato que eles não se dão bem, nunca se deram, na verdade. Sempre escutei minha mãe contando sobre suas brigas quando éramos pequenos, e como meu avô sempre ficava do seu lado. Sinto saudades dele, se quer saber. Ele acabou tendo acidente vascular cerebral e morreu alguns anos atrás. O que mais me aborrece é que eu não gostava do jeito dele. E agora, aqui estou, morrendo de saudade, e chorando, já que sempre que eu lembro de meus avós, é impossível segurar as lágrimas. E o pensamento da minha tentativa vem à tona, novamente. E eu sinto culpada, mais uma vez.

É possível ferir mais alguém com alguma atitude que tinha a intenção de ferir somente à você? Descobri da pior maneira que é possível, sim. Se Martha estivesse aqui... Martha foi minha amiga de infância. Eu a conhecia desde pequena, e crescemos juntas. Mas ela se mudou para a capital alguns anos atrás, e desde estão eu não a vejo. Ela me entenderia, com certeza. Sinto falta de sua companhia... Mas nesse momento, ela nem deve lembrar que eu existo. E nem passa pela sua cabeça que eu fiz algo terrível.

Como perdi metade do ano passado e o começo desse, vou refazer o terceiro ano do ensino médio. Vou começar a estudar depois das férias de julho e com isso vai dar tempo de fazer o vestibular de inverno, no próximo ano.

Estou escrevendo essa carta de noite, e acho que vou acabar acordando minha irmã com o barulho das teclas da máquina. Não sei se vou ter tempo para escrever, porque tenho que ajudar minha mãe com a mudança, já que eles decidiram vender a casa. Mas quando for possível, vou escrever, nem se for somente um “oi”.

Com amor, Lana.


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