Uma Pitada De Amor E Sexo escrita por Lara Campos


Capítulo 1
Capítulo 1 - Intenções


Notas iniciais do capítulo

Espero que apreciem mais essa criação que partiu de uma conversa entre eu e minha namorada. A história terá apenas dois capítulos, uma short fic. Apenas um gostinho.



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Quarto ano de faculdade. Os rebeldes sem calça que não vestiam mais do que um shorts e uma camisa surrada, hoje apareciam engomadinhos. O mais belo modelo do determinismo social-trabalhista. Você tem de estar bem vestido, meu filho. Passe uma boa impressão, impressione bons olhos. Não vá com esse tênis velho! Toda aquela bobagem necessária.

A maioria de nós, estudantes, estávamos estagiando, trabalhando muito por pouco, ou seja, sendo um tanto explorados. Mas o preço pela experiência até que valia, no todo. Já não havia mais aquela inocência pura ou brilho nos olhos de muitos que, por estarem encantados ainda, viam a universidade como escape e local para encontrar os amigos, dentre uma matéria prática e teórica ou outra.

Acontece que eu estava até satisfeita. Meu quarto ano de Psicologia proporcionava um olhar totalmente mais amplo quanto à carreira, ao mundo que eu iria frequentar dali pra frente e também quanto ao que faria pelo resto da minha vida útil, supostamente. O problema, até então, não era a carreira, a vida pós-universidade ou algo do tipo, mas sim um pequeno entrave no campo pessoal.

_Estou te esperando num Civic preto em frente ao IP¹.

A voz um tanto grave da moça ao telefone parecia mais uma intimação.

Sai da sala de computadores onde resolvia alguns problemas de horário com meu chefe pela internet e fui em direção ao carro que via parado no local combinado. Eu estava nervosa e, curiosamente, parecia arrependida do que estava fazendo. Mas àquela altura do campeonato já não podia mais desistir ou dar para trás, ficaria feio para mim.

Entrei no carro ainda sem ver a tal mulher que me esperava e me sentei no banco do carona, só assim então virando o rosto para fita-la.

_Oi – disse-me e sorriu – Para onde vamos?

É verdade. Como bem parecia, eu estava contratando os serviços de uma garota de programa. Inaceitável, talvez para os moralistas, mas eu não estava me importando muito, parecia até que gostava daquela sensação de fora da lei que estava vivenciando. Não seria correto dizer que eu o estava fazendo por falta de sexo, por carência ou semelhante. Até algum tempo atrás via um homem em minha cama todos os dias e este mesmo homem esteve ali por dois anos, um pouco mais. Era meu ex-namorado.

_É, então – eu pestanejava como uma criancinha, que idiota! – você pode ir até o meu apartamento?

_Se você assinar um termo de responsabilidade, sim – respondeu-me e sorriu discretamente -.

Fiquei meio confusa, parei por um instante ao olhá-la sem ao menos me mexer ou responder sua pergunta. Que mulher...! Seus cabelos eram lisos levemente ondulados, castanhos e longos e seus olhos tão escuros que mal dava para distinguir a pupila do castanho quase negro. Sua pele branca era um tanto corada e seu corpo de mulher, muito atraente.

_Você vai querer assinar? – sua voz me acordou do transe -.

_Sim, sim – respondi de supetão – Mas porque preciso assinar isso?

_Digamos que é uma garantia contratual de que você não vai abusar de mim.

Ela sorriu depois de proferir a frase. Ela sorriu deliciosamente, com uma malícia notoriamente manjada.

_Não seria esse o intuito? – perguntei-lhe arqueando a sobrancelha direita -.

_Na verdade o intuito seria eu abusar de você.

Apenas acompanhei-a com um leve sorriso.

A tal garota de programa se chamava Isabela. Independente da duplicidade do L ou não, era um nome que me agradava, combinava com ela. Durante o caminho para minha casa, me mantive praticamente inerte enquanto ela dirigia seu carro. Era simplesmente excitante estar naquela situação em que uma mulher seria minha, ou melhor, seria feita minha por um dia.

Ao passo de um longo piscar de olhos, avistei de longe meu prédio. Meu bebê. Havia menos de um mês que alugara o imóvel e finalmente havia deixado a casa de minha avó, com quem estive desde o segundo ano de faculdade. Meu maior orgulho, naqueles dias, era poder dizer que eu estava começando a me impor e andar com minhas próprias pernas. Mas, por conseguinte, o que ganhei como ônus fora mais um pouquinho de solidão.

_É aqui.

Isabela esterçou o volante e pediu com um gesto de mãos que eu abrisse o portão. O fiz e adentramos a garagem, mas à medida que eu indicava para ela o caminho das pedras, meu coração se desenfreava, visto que estávamos mais perto de, enfim, concluir o que estávamos ali para fazer.

Ela parou o carro, respirou fundo com certo cansaço e se virou para mim, postando uma de suas mãos em minha coxa esquerda.

_E agora? – perguntou-me -.

_Subimos – respondi enquanto todas as minhas sinapses pareciam ter sido conectadas em prol da ciência de que sua mão se apossava de pequena parte da minha perna -.

Saímos do carro sem mais rodeios, segui à sua frente evitando virar meus olhos para encará-la mais uma vez. Com toda a certeza do mundo, eu estava um tanto corada, àquela altura dos fatos. Tentei encarar minha tensão como algo normal e quando parecia estar voltando ao normal, senti suas duas mãos irem vasculhando o caminho iniciado em minha cintura, até que parassem pousadas em minha barriga e minha pequena pessoa colocada num abraço bom.

Isabela respirou mais forte perto do meu pescoço, o que causou em mim um arrepio generalizado.

_Para – afastei-a -.

Ela se soltou de mim e se afastou um pouco.

_Eu mando aqui, lembra?

Isabela murchou um pouco e pediu desculpas num tom quase inaudível. Temi ter sido um tanto grossa, mas o que eu queria mesmo era mostrar que eu não seria feita de mulherzinha, como sempre o era, por ela também.

Passada a porta, indiquei a ela o caminho do meu quarto. Isabela usava um robe roxo claro, uma cor ao mesmo tempo viva e triste. Caía bem nela. Aliás, caía era a mesmo a palavra certa.

Quando menos esperei, o mesmo robe que cobria seu corpo estava jogado, caído no chão. Surpreendi-me ao fitar seu corpo num minuto de silêncio interno para apreciá-lo bem. Ela tinha curvas lindas. Ao mesmo tempo em que seu corpo não era magro, também o era. O que dava esse contraste tão belo era sua cintura fina que, ao descer dos olhos, ia alargando-se até a junção com seu quadril volumoso e suas pernas fartas. E que pernas maravilhosas ela tinha.

Em contrapartida ao meu olhar dissecador, algo em mim repudiava aquele seu simples gesto.

_Coloque a roupa – pedi de forma ríspida, mais uma vez -.

_Mas não é isso que você quer?

_É o que você costuma fazer?

_É sim. O produto é esse, quer queira, quer não.

Sorri sarcástica, mas ainda com um tom sério em meio à descontração. Isabela complementou dizendo:

_Geralmente meus clientes são homens. É o que eles pedem.

Apenas assenti. Pedi que ela se sentasse na cama e mais uma vez ela pediu desculpas pelo que fizera. Sem saber o que fazer, ela se sentou e um silêncio agoniante pairou sob o ar.

_O que você quer de mim, afinal? – perguntou-me em sincera dúvida -.

_Deite-se na cama – limitei-me a dizer.

Fiquei, por alguns instantes, parada ali, apenas olhando para ela que refugiava seu olhar fixando-o num vácuo qualquer. Respirei fundo, procurando uma ruptura entre a minha vontade de simplesmente olhá-la e o nexo perceptível daquela situação, e quando a achei, quebrei o silêncio, forçando meus olhos a se desligarem dela.

_Fome? – perguntei -.

_Uhum.

_Cansada?

_Bastante.

_Você teve algum cliente antes de mim? – a pergunta saiu num tom possessivo, indesejado, mas verdadeiro -.

_Ontem, na verdade – ela se reclinou na cama enquanto falava – Um cliente de sempre, daqueles que se apaixonam pelo objeto de desejo.

_E você tem algum limite de horário pra ficar aqui?

_Posso até as 6 da tarde – limitou-se a dizer -.

Imaginei, pois, que outro cliente estaria à sua espera. Não quis lhe fazer mais a mesma pergunta, apenas saí do quarto e pedi que esperasse lá. Preparei um lanche para ela e levei na cama. Isabela parecia um tanto satisfeita com a forma pela qual eu estava tratando-a. Talvez a falta do hábito de ser bem tratada fazia com que um desses momentos de prazer simples, em seu caso, fosse muito maior do que o usual.

Após comer, Isabela desmaiou, praticamente. Revirei sua carteira num despudor quase libidinoso e procurei pelo número de sua agência. Pedi que reservassem seus horários do dia todos para mim e que desmarcassem seu horário com o próximo cliente, que teria de ceder aquela linda mulher para mim. Obtive sucesso.

Voltei para o quarto, então, e me sentei numa poltrona que ficava no canto esquerdo do quarto, referencialmente colocada em relação à porta. Fiquei ali por muito, muito tempo observando Isabela dormir. Era maravilhoso poder olhar para aquela cama e ver uma mulher ocupando-a. Uma mulher e não um homem qualquer.

Sempre costumei pensar que o homem poderia facilmente ser generalizado, independente de quanto ele ganhava, se tinha um Audi ou um Uno ou se era bom de cama ou não. A mulher, pelo contrário, configurava, a meu ver, um ser único em seu âmago e, de forma alguma, generalizável. Um homem rico em minha cama seria apenas mais um homem. Uma mulher em minha cama, independente de ser só mais uma puta, seria uma bela mulher. Digna, até.

Enquanto eu a observava divagando, seus olhos foram se abrindo lentamente. Ela se espreguiçou, parecendo um tanto envergonhada por ter sido paga para dormir e descansar e, numa virada de mão, pegou o travesseiro e o abraçou escondendo seu rosto.

_Boa noite – disse a ela -.

_Noite? – perguntou-me no susto – Que horas são?

_São sete horas e não se preocupe, pago a você pela noite toda.

Ela apenas assentiu silenciosamente e deu um meio sorriso de leve.

_Você tá bem?

_Agora sim – sorriu para mim -.

Ela, ainda sim, tinha um olhar genuíno por trás daquela empáfia. Para uma mulher que vivera, supostamente, muita coisa, ainda tinha algo de infantil dentro de si e eu conseguia enxergar esse seu lado naquele instante.

Levantei-me da poltrona, fui mais uma vez à cozinha, agora para pegar duas canecas de chocolate quente. A noite estava começando a ficar fria e nada melhor do que aquilo. Voltei ao quarto e deitei-me ao lado de Isabela, entregando uma das canecas para ela. Agradeceu-me e me ajudou a entrar por debaixo da coberta ao levantá-la para que eu me sentasse. Ficamos um bom tempo a sorrir.

_Assopra, viu?

_Sim, pode deixar, madame – disse ela -.

Ao assoprar, Isabela não o fez com delicadeza e num descuido parte do chocolate caiu do copo, sujando o lençol.

_Meu Deus, me desculpe, olha que bagunça. Ah não, como sou idiota e...

_Ei, calma – disse sorrindo pelo desespero em que ela se encontrava -.

_Mas olha a bagunça que eu fiz, Fernanda.

_Já falei, não tem importância.

Ainda a me divertir com o desastre, deixei minha caneca na escrivaninha ao lado da cama e pedi que ela se levantasse para que eu pudesse trocar o lençol. Isabela foi até o guarda-roupa pegar um substituto, enquanto eu colocava o anterior na roupa de lavar. Quando voltei para o quarto, Isabela estava de costas para a porta e parada. Segurava algo em suas mãos que eu ainda não conseguia distinguir. Curiosa, fui até ela rapidamente e para minha surpresa ela tinha um dos livros que eu guardava secretamente atrás do espelho.

_O guia do sexo tântrico.

_É – limitei-me a dizer sem saber como reagir -.

_Interessante – ela sorriu -.

Ainda sem jeito, pedi que ela me entregasse o livro e guardei-o em seu devido local. Isabela sentou-se na cama já com o novo lençol e eu, segui para a poltrona que eu tanto amava e me encolhi por ali.

_Sabe – disse ela – eu sei um pouco sobre sexo tântrico.

_Já fez com alguém? – minha curiosidade me matava -.

_Sim, mas não foi tudo o que eu esperava. Homens.

Isabela revirou os olhos como quem mostrava um desprezo visível. Decidi não perguntar mais sobre. Mas ela continuou.

_Homens não sabem como levar uma mulher. Raras exceções a essa regra, viu. Ainda mais na minha profissão, só querem saber de enfiar o pau deles em qualquer coisa. Qualquer coisa. É ridículo.

Continuei calada.

_Tive uma experiência só com mulheres, uma que não me esqueço.

Isabela descreveu o dia em que uma menina em seus 20 anos contratou seus serviços, pois queria se descobrir sexualmente com uma mulher. Ambas sem experiência na prática, começaram cheias de pudor, mas logo já conseguiam um ritmo bom na cama. Segundo ela, aquela tinha sido uma das únicas vezes em que sentiu prazer de verdade com um cliente.

Ao fim da história, ela sorriu e disse É só isso, então ambas ficamos em silêncio. Não saía da minha cabeça o que ela havia dito anteriormente sobre saber um pouco sobre sexo tântrico. Curiosidade, essa era a palavra certa para definir o que eu estava sentindo.

Minutos longos se passaram, começamos por entre uma palavra e outra um jogo de sedução ainda tímido. Nem parecia, de fato, que eu havia contratado-a, mas, sim, que estava apenas trazendo-a a minha casa para iniciarmos um flerte, como duas mulheres que simplesmente se conheceram num bar e tiveram vontades conflitantes quanto ao desejo de uma pela outra.

Sentei-me na cama junto dela, mais perto e virei meu corpo para ficarmos de frente. Ela percebeu a aproximação mais nítida e, de alguma forma, mudou um pouco o tom da conversa.

_Seus olhos são muito bonitos – disse ela -.

_Obrigada.

_Assim, eles formam um contraste legal com a sua pele branquinha... e seu cabelo, que é fogo.

A última palavra fora dita num tom brincalhão e nós duas rimos num uníssono. Eu estava corada, com certeza. Como se fosse uma adolescentezinha medíocre. Céus!

Isabela se aproximou ainda mais, pousou uma das mãos na minha coxa novamente – ativando todas as sinapses para aquele local - e me beijou. Um beijo lento, macio... delicioso. Minhas mãos ficaram inquietas, sem saber onde pousá-las coloquei a direita em cima da sua e interrompi o beijo.

_Me ajuda a fazer isso.

Pedi baixinho e ela sorriu pelo canto da boca.

_Vai ser um prazer – respondeu-me -.


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Notas finais do capítulo

¹IP - Instituto de Psicologia



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