Querendo ou não, as palavras de Phileas retumbaram na cabeça de Annie. O que os outros oito Selecionados ainda estavam fazendo lá?

Meu Deus, que confusão. Ela não conseguia dar conta de todos eles! Além do mais, o Conselho adorava eliminações: encaravam como progressos, mas Annie via de um jeito totalmente contrário. Ficava mais confusa cada vez que mandava alguém para casa.

Então invadiu o jantar dos Selecionados e fez mais uma de suas ações drásticas e impulsivas.

— Haverá eliminações — disse ela ao fim do jantar. — É, no plural. Mas ainda não tenho certeza de quantas ou de quem. Então, quero passar um tempo com alguns de vocês. Vou deixar uma rosa vermelha com um bilhete se for o seu caso. Então, quando estiver indo para o encontro — ela desviou o olhar, não suportando olhar para eles. — Saiba que é sua última chance.

Charlie mexeu na própria orelha, mas Annie fingiu não ter visto. Não suportaria falar com ele naquele momento. Ele nunca a deixava pensar com clareza. Duas palavras ou um sorriso eram o suficiente para que a mente dela passasse vinte e quatro horas se resumindo em Charlie, Charlie, Charlie.

Tudo mudou quando Charlie encontrou uma rosa vermelha na porta do próprio quarto depois do jantar. Quase teve um ataque cardíaco antes de ler o bilhete:

Ha! Peguei você! ;)) Ainda está vivo aí? Espero que sim, porque ainda preciso de você aqui, ok? Então... Vou ficar meio ocupada nos próximos dias. Não sei se vou conseguir um tempo para ver você... Ah, quem estou tentando enganar? Vou te chamar de qualquer jeito. Mas, sério, a coisa está bem tensa aqui.

Obrigada por entender, você é o melhor.

— Não sei como assinar

Charlie soltou um longo suspiro e sorriu, deixando a rosa ali fora, mas pegou o bilhete. Só tirou-a depois de ter certeza de que todos os Selecionados já a haviam visto. Talvez assim saíssem do pé dele.

Ele mesmo foi andar pelos corredores, procurando flores. Surpreendeu-se ao constatar que estavam na maioria dos quartos, com exceção de Zack, Brad, Michael e — suspirou — Jasper.

* * *

O único Selecionado dentre os encontros que realmente surpreendeu Annie foi Leo Wadehim. Leo era um garoto alto e magro, com a pele levemente bronzeada e cabelos cacheados.

Sua voz era divina, e ele costumava trabalhar em uma confeitaria em casa. Fez um bolo para Annie enquanto cantava uma música sobre reis e bolos. Foi como se Zack e Charlie tivessem se juntado para fazer-lhe uma surpresa.

"Não pense em Charlie!", Annie censurou a si mesma. Que droga.

Eles se sentaram no telhado de um celeiro porque Leo jurava que ali tinha uma vista inesquecível.

E tinha. Dava para ver os cavalos correndo e o pôr-do-sol entre as árvores.

E o bolo estava muito bom.

— Não acredito que eu nunca tinha reparado em você — comentou Annie, antes que pudesse refrear-se.

— É, bem, acho que não lhe dei muitas chances. Já é tarde demais?

— O que quer dizer?

Leo hesitou, mas por fim resolveu dizer.

— Nós... percebemos o jeito que a senhorita olha para Charlie, Alteza. Todos os outros fingem que são cegos, mas dá para perceber.

Annie fitou-o por um momento, e depois sorriu.

— Reis que cegam a si mesmos em relação aos problemas do país. Está aí algo que eu não suporto. Então, acredite quando digo que fico feliz por você ter me dito o que pensa.

Ele pareceu bem surpreso.

— Sério? — ergueu uma sobrancelha.

Ela assentiu.

— E, considerando que eu ainda não mandei todos vocês para casa e escolhi Charlie — ela o fitou, levantando-se. — Eu diria que não é tarde demais. Ah, e Leo...

Ele levantou-se também.

— Sim?

Annie sorriu.

— Você se salvou. Achei que deveria saber.

— Obrigado, não vou decepcioná-la — ele beijou levemente a mão dela e eles voltaram para o palácio.

* * *

— Aqui estão os Selecionados que permanecerão na competição — anunciou Annie depois de todos os encontros. — Jasper Blakewood. Leo Wadehim. Zack Woodsen. Michael Wayland. Brad Cavanaugh. E Charlie Hutton. Os outros, foi um prazer imenso conhecê-los. Estão dispensados.

Leo afundou a cara nas mãos, tentando manter a respiração constante. Ele fora o único a salvar-se! O único! Estava nos seis finalistas da Princesa.

Seis.

Apenas isso.

Quando os Selecionados mandados para casa se retiraram, Annie fitou cada um dos finalistas por um longo minuto.

— Agora as coisas vão ficar um pouco mais complicadas — ela abriu um leve sorriso. — Meu pai quer conhecer vocês.

Depois de ter um pequeno ataque de pânico com a ideia de conhecer o Rei Maxon, Charlie mexeu na orelha. Annie assentiu quase imperceptivelmente.

Ela saiu do salão e Charlie esperou algum tempo antes de sair atrás dela. Sentou-se ao lado da Princesa no jardim.

— Boas notícias, hein? — ele sorriu levemente.

— Hum?

— Seu pai querendo participar da Seleção. Ele não estava só ignorando a coisa toda até agora?

— É, ele veio falar comigo hoje. Minha mãe provavelmente deu um sermão nele e disse que ele não podia continuar fugindo disso. Então, ele decidiu que quer jantar com todos os Selecionados restantes para conhecê-los e provavelmente intimidá-los.

— Intimidá-los?

— É, aquela coisa paternal de "Fique longe da minha filha".

— Posso assentir e depois sair correndo do salão e beijar você?

Annie empurrou-o de leve.

— Foi uma pergunta honesta — Charlie defendeu.

Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ouviu uma voz grave atrás de si:

— Bom dia, Alteza.

Ela se virou e deparou-se com Jasper.

Charlie mordeu a própria bochecha para manter-se calado. Poderia censurar Jasper por atrapalhar, mas ele mesmo atrapalhara Jasper.

Duas vezes, por sinal. Então não disse nada.

Mas entrelaçou os dedos de Annie nos dele.

Annie fitou-o por um momento. Charlie beijou sua bochecha.

— Eu... vou indo — Jasper se distanciou, desconfortável.

— Tchau! — Charlie acenou e observou o louro desaparecer.

Annie voltou a fitá-lo com um leve sorriso entretido.

— O que diabos foi isso?

— Isso fui eu mostrando que ele vai ter que passar por cima de mim se quiser você. Isso fui eu botando ordem no barraco.

— Eu não faço ideia de o que raios essa última expressão quer dizer — ela semicerrou os olhos. — Mas gostei da confiança.

— E eu apenas, levianamente, beijei sua bochecha. Imagino o que teria acontecido se eu tivesse feito isso — ele encostou os lábios nos dela. — Ou isso — e depois aprofundou o beijo.

Depois de alguns minutos, Charlie sussurrou:

— Deveríamos tentar qualquer hora.

Annie riu.

— Não seja malvado com Jasper.

— Eu estou sendo malvado? Ele é quem tem uma escavadeira feita de ouro maciço ao invés de um caminhãozinho. Eu preciso de alguma vantagem.

— Dentre todos — ela ergueu uma sobrancelha. — VOCÊ está pedindo uma vantagem?

Charlie deu de ombros.

— Se sente ameaçado por ele — disse ela. — Não sente?

— Claro que não — ele soou tão fraco que não convenceu nem a si mesmo.

— Na primeira semana, você me disse que Jasper era um cara legal.

— Caras legais são o pior tipo.

— E você é o quê, Charles Hutton?

— Um mané provocador — ele abriu um sorriso torto.

— Tenho uma queda por manés — ela suspirou.

— Não parece muito decepcionada.

— Não estou.